Na manhã seguinte, você acorda ainda mais cedo do que o usual. Por toda a noite o conflito em tua mente não te deixava dormir, logo e como em todos os dias, ao sentar-se na beira da cama para calcar os teus calçados, debaixo dela a caixa de madeixa com a insígnia prateada atrai o teu olhar. Por mais tempo que você a encara, mais você questiona a tua decisão de negar a proposta da Diana, porém sem tempo a perder, você pega o teu agasalho e segue caminho em direção à vila.
Lá, caminhando pelos portões principais - que agora você pode claramente ver que estão retorcidos e cobertos de sangue - os teus olhos são abertos à realidade: Casas e estruturas estão altamente danificados; corpos formam pilhas em carretas prontas para levá-los ao cemitério e incontáveis pessoas choram por todo o lugar. Com cada passo que você dá, mais altas se tornam as vozes abismadas:
- Você viu aquela criatura de ontem anoite? Era igual ao demônio do incêndio!
- Sem chance! O do incêndio era bem menor, se ele fosse o mesmo não teriam sobreviventes daquela vez... Ontem, quase metade vila foi morta. (Dois fazendeiros passam por você conversando).
- Meu filho! Não! (Uma senhora, segurando a mão de um cadáver chorava desesperadamente). - Foi ele, o músico! Sua música amaldiçoada invocou o demônio de volta à nossa vila! (Um padre desesperado esbraveja para um guarda, o qual questiona as pessoas quanto ao ataque).
- BUUU!
Você pula para trás, fechado teus os punhos pronto para lutar... Porém, logo vê que é
apenas o Jean.
- Haha! Te assustei!
- Agora não é uma boa hora...
- Eu sei, eu sei... Só estava brincando, o ar aqui está pesado demais.
- Você está bem? Você parece como alguém que está prestes a fazer uma má escolha (ele adiciona).
- Eu estou bem, só não consegui dormir muito ontem.
- Depois do que aconteceu, eu não te culpo... Nem mesmo um louco conseguiria dormir depois do que houve.
- Os guardas do reino conseguiram descobrir algo novo sobre o ataque? (Você indaga, curioso quanto a reação real).
- Dificilmente, eles mal conseguem manter as pessoas sob controle... Digo, olha o padre lá! Que tipo de “demônio” ou seja lá o que for que atacou a vila ontem é invocado por música?!... Por música?!
- Vamos torcer para que na próxima vez que esse “demônio” apareça, eles sejam capazes de fazer um trabalho melhor em proteger a vila.
- Você acha que é possível? O demônio voltar?
- Se as pessoas continuarem agindo como um rebanho de ovelhas, sim.
- Bom... Sorte que aqueles caçadores de recompensas ainda estão aqui então.
- Caçadores de recompensas?
- Sim, os que salvaram a tua vida. A moça que os lidera parecia te conhecer, ela estava
perguntando onde podia te encontrar. Você a conhece?
Com todo o caos que se apresenta ao teu redor, você havia completamente se esquecido
do motivo pelo qual veio.
- Você sabe onde ela está?
- Última vez que a vi, ela estava na taverna junto com os outros... Por quê?
- Eu preciso ir!
- Ir onde?!
Antes mesmo de começar a se mover, você olha ao teu redor e pede ao teu amigo:
- Você poderia me fazer um grande favor?
- Eu acho que sim... O que é?
- Eu ficarei longe por um tempo, você poderia ver se a minha família está bem de vez em quando? Só para garantir se nada os acontece?
- Sem problemas, onde você vai?
- Longa história, eu preciso ir agora.
Com um ar frio de determinação você começa a se direcionar à taverna. Pelo caminho, você observa que há tufos de pelos negros como a noite sem lua ou estrelas e poças de sangue espesso como óleo espalhados pelo chão, o caminho pelo qual segue agora mesmo intersecta com o que você e a Irene fizeram quando fugindo do demônio na noite do ataque, apenas uma coisa não faz sentido em tua mente... Demônios não são cobertos de pelos.
Uma vez alcançado a frente da taverna, você vê Diana se aproximar:
- Então, já se decidiu, chéri? (Ela fala em um tom quase vitorioso, de quem já sabe a resposta).
- Se formos fazer isso, faremos do meu jeito.
- Você é o especialista, é só apontar onde ir que nós seguimos.
- Certo. Logo que acharmos a fera, nós a matamos.
- Esse é o objetivo. (Ela responde com um sorriso no rosto).
- Quando saímos?
- Os outros estão em patrulha agora mas reagruparemos à uma da tarde, em frente dos portões principais.
- Entendido, eu estarei lá.
Antes que você comece a andar, Diana te chama:
- Orion!
- Eu.
- É bom tê-lo de volta ~.
Chegando em casa, você silenciosamente dirige-se ao teu quarto, onde, com todo o cuidado para não acordar a Irene pega duas mochilas e imediatamente volta para a sala. Lá com ambas as mochilas abertas, você começa a preenchê-las com roupas, comida, equipamentos para acampar, dentre outras comodidades. Como você não sabe quanto tempo levaria para abater a fera, tua mente te convence a levar o suficiente para duas semanas, porém algo te instiga a levar um arco extra e algumas flechas a mais só por precaução.
Em teu cinto jaz uma faca de caça, cuja lâmina é afiada o bastante para cortar a mais densa das couraças como se fosse manteiga, e, em tuas costas, encontram-se tua aljava preenchida de flechas e o teu confiável arco, coberto em arranhões os quais contam demasiadas histórias de glória e encontros desagradavelmente próximos com a morte. Tendo ambas as mochilas fechadas e ao lado da porta, ressentindo que se houvesse um momento de despedida esse poderia muito bem ser o último, você alcança pela maçaneta no intuito de partir sem dizer adeus, mas, o lento ranger de uma porta se abrindo e um delicado bocejo alcançam teus ouvidos....
Voltando-se para o corredor que leva aos quartos, você se depara com a tua mulher, de pé, ainda esfregando os seus olhos sonolentamente. Ao te encontrar pronto para sair, uma expressão de confusão ocupa a sua face brevemente, logo sendo substituída por uma de preocupação:
- Você... concordou em ir?
Suas palavras são lentas mas diretas. Antes que você possa abrir a tua boca para responder, ela se aproxima, segurando astuas mãos e te olhando como se já soubesse a resposta. Ela prossegue em um tom de conformação e carinho:
- Mas é claro que sim, você é o Orion, mesmo que te pedissem para caçar o guardião
do Mundo Abaixo você toparia.... Com um grande sorriso até, ehe~.
Com um pesado suspiro e apertando as tuas mãos como se não quisesse te perder, ela continua:
- Prometa-me que se as coisas derem errado e a fera provar-se muito perigosa você desistirá e voltará vivo para cá.
- Sim, eu prometo.
Você responde instintivamente sem hesitar, mas Irene puxa o teu rosto para próximo
do dela reprimindo-te preocupada:
- Eu estou falando sério, Orion. Sei que você sente falta da caça mas essa não é a hora
de bancar o herói, deixe que a Guarda do Reino cuide disso. Se não por mim então ao menos
pelo nosso filho.
O teu orgulho ofende-se com as palavras da Irene. Claro que faz tempo que você não caça e que essa fera difere de qualquer outro animal que tenha encontrado, mas as tuas conquistas passadas não são ignoráveis: Ursos, leões, leopardos... Todos já caíram aos teus pés e se não fosse pela guerra contra o Império Dourado, o Grande Espírito Rajado do Oriente também teria....
Mas esses olhos da tua mulher, azuis como o céu de verão e reluzentes como o sol te despem do teu orgulho tão facilmente... Maldito seja o dia em que você os cause a derrubar lágrimas! Logo, relutante porém ciente de que faz a escolha certa, você a beija longamente e permite o teu coração a verbalizar-se:
- Eu prometo.
Deixando-a com um leve sorriso em sua face, você pega as tuas coisas e parte em direção à vila.
Já a distância é possível ver Diana ajustando a cela de um cavalo junto de outros três em frente os portões. Ao se aproximar um pouco mais, ela te percebe e em um tom de provocação descontrai:
- Já estava começando a achar que não viria, haha.
Antes que possa responder, dois homens com mochilas em suas costas se aproximam jogando-as nas celas dos outros dois cavalos. Diana te apresenta então:
- Erwin, Brutus! Este é o Orion, ele nos ajudará a rastrear a fera.
Os dois se aproximam e Diana prossegue apontando para o mais alto primeiro:
- Este é o Brutus, ele vem caçando “demônios” como a fera de ontem já faz um tempo.
Sua construção é forte, possuí uma face de quem já viu o inimaginável e carrega em suas costas o que parece ser um machado de guerra. Você estende a tua mão para cumprimentálo mas ele te olha de cima para baixo sem dizer nada, apenas apresentando uma expressão ranzinza e seguindo para ajustar a cela do seu cavalo. Você e a Diana olham um para o outro mas antes que qualquer um possa dizer algo, o segundo homem interrompe, cumprimentandote:
- Não se preocupa com o parça ali, desde que se juntou com a gente ele não falou mais
de cinco palavras.
- Este é o Erwin, ele é provavelmente um dos melhores atirados que já conheci até
então. (Diana o apresenta).
Ele veste um sobretudo bege, chapéu de mesma cor e carrega dois revólveres em seu cinto. Sem tempo a desperdiçar Diana já passa uma breve explicação do plano:
- Certo, escutem. Os rastros de ontem acabam em meio ao nada apenas algumas horas a cavalo da vila vizinha, é provável que ela seja o próximo alvo da fera. Seguiremos a estrada que a liga à esta vila e provavelmente chegaremos antes do nascer do sol de amanhã. Lá armaremos uma emboscada e com sorte será o fim. Partimos em cinco minutos.
- Orion, aquele é o teu cavalo (Ela aponta para o segundo da esquerda para a direita).
Tão rápido quanto as saudações, todos vocês já se apresentam prontos e assim a jornada começa.
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