Não muito depois das duas da tarde, o sol já brilha fracamente por entre as nuvens, a estrada está lamacenta e os direciona fundo por entre a floresta enquanto, exceto pelos sons de insetos e os eventuais roedores que cruzam a estrada, nenhuma presença se faz conhecida ao redor de vocês. Brutus permanece tão quieto quanto na vila e Erwin olha para tudo com um ar de curiosidade. Vendo que Diana não parece fazer nada também, você decide se atualizar sobre a sua história:
- Então... caçadora de recompensas hein?
- Verdade seja dita também não acreditei quando me disseram que você virou fazendeiro, estava começando a achar que não sabiam de quem eu estava falando. (ela responde com um leve sorriso em sua face).
- Às vezes nem mesmo eu consigo acreditar, mas até que não é tão mal, haha.
-Por favor... é terrível.
- Ok, talvez um pouco mas, ao menos, me permite continuar próximo de minha família.
- Quando perguntei aos moradores da vila sobre você, eles me contaram o que aconteceu...
- Não se preocupe, no final deu tudo certo. Mas então e a guerra? Desde que voltei não ouvi mais nada a respeito... Nós ganhamos? (não querendo revisitar más lembranças, a tua mente te persuade a mudar de assunto).
- Sim, porém... (Ela faz uma breve pausa apresentando uma leve expressão de confusão e medo em sua face).
- ...Não é só aqui que coisas estranhas vem acontecendo.
Um breve momento de silêncio após as suas palavras é interrompido pelo alto relinchar de um cavalo avançando abruptamente em tua direção, você tenta se esquivar mas o animal colide fortemente com o teu e foge cambaleando por entre as árvores à direita. Você retoma controle de teu cavalo enquanto já prontificando-se:
- Vamos investigar?!
Ela então simplesmente balança a cabeça – já carregando uma expressão séria e focada
em sua face - e aponta estrada à frente:
- Brutus, Erwin sigam em frente e vejam o que talvez tenha assustado aquele cavalo. Orion, ele parecia estar carregando algo em suas costas, seria possível alcançá-lo?
- Se formos a pé, sim.
Enquanto os outros dois seguem em frente, você e Diana largam os seus cavalos no meio da estrada e se venturam em meio a floresta. Os rastros “zigzagam” pela vegetação cada vez mais densa, após caminhar não muito mais de dez metros, as árvores atrás de você já ocultam por completo a estrada de onde vieram e, no chão à frente, gotas e poças de sangue destacam-se ainda mais do que os óbvios rastros deixados pelo animal.
Com suas armas em mãos, você e Diana chegam à um pequeno espaço aberto onde o cavalo anda de um lado para o outro quase perdendo a consciência. Ao avistar um corpo sobre as costas do animal, você silenciosamente gesticula para que Diana te dê cobertura, ela aponta a sua arma para o corpo e sinaliza, você então guarda o teu arco e começa a se aproximar vagarosamente, tentando não assustar o animal. Faltando apenas alguns passos para alcançálo, ele simplesmente tomba morto no chão, derrubando o corpo aos teus pés. Olhando para baixo, você congela como as Terras Além do Norte, sangue começa a se espalhar pelo chão e um odor quente exala do cadáver que agora é possível notar que está decapitado e com o topo da sua espinha à mostra.
Prendendo a tua respiração, você alcança a tua faca e começa a examiná-lo, os ferimentos no pescoço e tronco contraindicam a possibilidade de a decapitação ter sido feita por uma lâmina e, no cavalo, profundos arranhões espalham-se pelas pernas e tórax, tendo uma grande dilaceração no seu pescoço também... Como se algo tivesse tentado arrancar um pedaço.
- Então? (Diana pergunta).
- Fera.
Correndo de volta para a estrada temendo que a fera esteja por perto, você e Diana permanecem mudos, focados no possível perigo à frente. Ao chegar lá, vocês se deparam com o Brutus e o Erwin os aguardando de pés próximos aos cavalos. imediatamente o primeiro procede com um ton sério mas também quase indiferente:
- Nós temos um problema.
- O que foi?
- Melhor vocês verem com os seus próprios olhos.
Seguindo-os estrada abaixo, não leva muito tempo para encontrar uma pequena curva que ocultava o resto do caminho. Mais alguns paços e você se surpreende com o que vê: Uma pequena caravana de comerciantes mutilados como se tivessem sido atacados por vários ursos ou uma alcateia de lobos famintos.
- Os ferimentos são os mesmos dos soldados de algumas semanas atrás (Erwin nota).
- E a sequência de mortes também, primeiro os mais fracos do meio que vestiam apenas roupas e por último os mais fortes nas pontas que vestiam algumas peças de armadura.
- Eles estão mortos a muito tempo? (Diana pergunta abaixando-se para olhar de perto).
- Talvez alguns dias (Brutus então reponde, balançando os ombros).
Porém, ao abaixar-se também e estender a tua mão sobre o corpo que Diana olhava,
você o corrige:
- Não, esses corpos ainda estão muito quentes para isso, essas mortes aconteceram agora
pouco...
Todos olham para você com espanto exceto Diana, que te pergunta apontando para a garganta de um dos cadáveres em armadura:
- Como a fera poderia saber exatamente onde atacar?
- Geralmente predadores aproveitam o pânico das suas presas em uma emboscada para atacar suas gargantas, matando-as rapidamente...
- ... O estranho, é que todos os corpos estão com os seus tórax intocados...
- O que você quer dizer com isso, lad? (Brutus te questiona).
- Bom, um cenário de caça como esse geralmente é usado por predadores para se
alimentar, não se defender. Se o grupo de soldados que vocês acharam também estava desse
jeito, temo que não estamos caçando um mero animal selvagem...
Uma vez que as tuas palavras terminam, Brutus e Diana olham um para o outro com uma expressão que confirma a tua suposição. Rapidamente Diana levanta-se e começa a andar aceleradamente em direção onde os cavalos foram deixados, você a segue, curioso:
- Eu suponho que esse seja um sim. E agora, o que faremos?
- Nós pegamos os cavalos e seguimos rumo a outra vila, ela não está muito longe, se apressarmos talvez cheguemos antes do pôr-do-sol.
- E se não der certo?
- Então seguiremos os rastros da fera até descobrimos onde anda se escondendo.
Distraído questionando qual cenário seria pior, você continua andando enquanto Diana
subitamente para e agarra a sua arma mirando à distância. Em um reflexo instantâneo, você faz
o mesmo, percebendo que, onde supostamente deviam estar os cavalos há nada exceto uma
massa cacomórfica coberta em sangue agora. Junto a você, Diana aproxima-se silenciosamente
sinalizando para Brutus e Erwin tomarem cuidado com a densa vegetação em ambos os lados
da estrada, alguns passos depois ela sinaliza novamente, desta vez para que você e Erwin
foquem no lado esquerdo e Brutus foque-se junto dela no pequeno barranco no lado direito. O
silêncio é tão denso que mesmo tendo apenas Erwin em teu campo de visão, você é capaz de
dizer precisamente onde cada um se localiza, por apenas escutar seus os passos, mesmo assim
os teus ouvidos não conseguem captar nada que indicasse a presença da fera ou qualquer outro
animal que possa ter atacado as suas montarias.
A apenas alguns passos dos seus corpos, é possível perceber que eles estão completamente inertes, como se morreram antes mesmo de ver o que os atacou. Sem baixar a tua guarda, você procura por pegadas ou rastros pelo chão mas encontra nada além de uma bagunça de lama e sangue. Eventualmente o silêncio é interrompido por um fraco som de folhas se movendo por entre alguns arbustos à esquerda, sendo logo seguidos do som de Erwin engatilhando os seus revólveres. Ele olha para você sinalizando que vai investigar e enquanto se aproxima vagarosamente da fonte do barulho, você permanecia parado e em foco máximo. Por mais que Diana e Brutus permanecem voltados para o outro lado, é possível perceber que prestam atenção ao de vocês também.
Outro som ecoa da mesma direção e, em um efeito dominó, tiros são disparados freneticamente, seguidos por um tenso momento de silêncio. Erwin então se estica de um lado ao outro tentando ver por entre as árvores e, com um leve sorriso em sua face, desengatilha suas armas e segue descuidadamente para onde os tiros foram disparados. Depois ele olha para o chão rindo altamente e abaixa-se para levantar um coelho ainda vivo, quase chorando de rir:
- Alguém aí ta a fim de um ensopado de coelho? Hehehehee.
Todos relaxam e abaixam a suas armas enquanto Erwin solta o animal de volta à floresta e bate suas mãos ainda rindo. Observando proximamente os corpos dos cavalos, cortes profundos no tórax e dilacerações encobriam os pescoços. Por mais surpreendente que seja o fato de que vocês não ouviram nada, isso só colabora ainda mais para a óbvia verdade de que fora a fera quem fez isso. Perdido em pensamentos sem exatamente entender que tipo de animal ela talvez seja, você decide alertar o grupo:
- Foi a fe-
Antes que possa terminar as tuas palavras, Diana apressadamente pega a mochila que estava presa na cela do – cadáver do – seu cavalo e, apontando para o chão à direta, te interrompe:
- Rápido, peguem seus equipamentos, temos rastros!
- Orion, estas pegadas são da fera, seria possível rastreá-la se as seguirmos?
- Sim, vamos!
Quase como se fosse uma armadilha, em frente as pegadas no solo
lamacento da estrada há uma trilha de galhos quebrados e troncos com marcas de sangue que
guiam para dentro da floresta. O caminho que seguem é majoritariamente reto com eventuais
curvas, a cada passo a vegetação tornando-se mais densa, porém percebendo que os rastros se
apresentam suspeitamente mais óbvios, você de vez convence-se de que esta é uma armadilha.
A algumas dezenas de passos mais cautelosos após a última curva, vocês se deparam
com um espaço relativamente aberto, com o que parecem ser tufos de pelos acinzentados e
negros enroscados em alguns galhos, assim como pegadas espalhadas por todo o chão sem
fazer sentido algum.
- Em que direção agora?
Diana pergunta em um sussurro. Você, sem fazer sentido das pegadas, olha para a
vegetação e percebe um tronco de árvore quebrado ao meio também encoberto de tufos de
pelos cinza como se a fera tivesse se esbarrado nele.
- Eu não sei, parece que a fera esbarrou em uma árvore e ficou atordoada, é difícil dizer em qual direção ela foi.
- Nós nos separamos então, desse jeito cobriremos uma área maior.
- Má ideia... Estamos caminhando em uma armadilha, se nos separarmos agora só estaremos facilitando para que a fera nos abata um por um. Continuaremos juntos mas alertas.
- Entendido (ela imediatamente gesticula para que Brutus e Erwin tenham as suas armas
em mãos).
Sacando o teu arco, você começa a andar em direção à parte menos densa da floresta onde aparentemente encontram-se mais rastros. Por uma hora contínua vocês seguem pegadas que levam à lugar nenhum e então, percebendo que o sol está prestes a se pôr, vocês decidem montar um acampamento próximo de onde os rastros tornavam-se confusos, com o intuito de resumir a procura no dia seguinte.
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