Com um gentil chute em teu pé, você acorda, agora é a tua vez de patrulhar. Levantado e mais ou menos acordado, você pega o teu arco e aljava e se dirige à Erwin, quem estava dando uma última olhada ao redor do acampamento enquanto você se preparava. Ao se aproximar, ele brinca, apontando para teu arco:
- Diga parça, quando eu acordar, não terei sido janta da fera não né?
- Haha, esse arco já se provou inúmeras vezes o bastante para derrubar qualquer animal, não vai ser hoje que ele me falhará.
- Bom... ainda bem que comi bastante hoje, ao menos não morrerei de barriga vazia. Hehehee!
Ele comenta comicamente dirigindo-se ao seu saco de dormir. Sem perder tempo, você
inicia uma pequena caminhada ao redor do acampamento prestando grande atenção em
possíveis rotas de fuga caso a fera os encontre, percebendo que às margens da lagoa ao lado do
acampamento parecem ser um bom ponto de vantagem, você senta-se em uma pedra colocando
o teu lampião ao teu lado.
O tempo passa e, além dos cantos das cigarras e os estranhos sons de sapos, a floresta
está serenamente quieta, tão quieta que você se distrai: Sem nuvens ou lua, o infinito canvas
azulado possuí apenas as estrelas para se iluminar, observando as constelações, o teu cérebro
te recorda de uma noite a um bom tempo atrás em que você e Irene foram jantar na casa da
família dela. Após a refeição enquanto todos encontravam-se na varanda conversando, você e
Irene escaparam para os campos e lá, deitados na grama, ela te contava a história por trás de
cada constelação, cada estrala até. Você não entendia como um monte de pontos no céu
formavam as imagens que ela dizia que formavam, mas a maneira como os seus olhos
brilhavam e o entusiasmo no qual falava fazia com que até a pessoa mais desinteressada parasse
e escutasse.
Dentre todas as constelações, a sua favorita era a de Kynigós que se localiza próxima às de Gemini e Taurus e, não bastava essa ser uma constelação muito fácil de se encontrar, mas ela possui várias histórias de origem. Desde a de um caçador que jurou caçar todas os animais da terra e por causa disso foi amaldiçoado a ser perseguido por um escorpião gigante nos céus por toda a eternidade, a até uma em que esse mesmo caçador teve a sua alma imortalizada como essa constelação pelo próprio Colecionador de Nuvens... Uma escolha um tanto trágica para uma constelação favorita mas o motivo pelo qual Irene gostava tanto dela era que a lembrava de você, ela dizia que toda vez que você saía para caçar e demorava para voltar, ela podia sempre olhar para essa constelação de noite e saber que assim como o caçador das lendas, você era astuto e audacioso, mas diferente dele você era pior, muito pior, que se mesmo colocassem um escorpião gigante para te caçar por toda a eternidade, você o lutaria e não descansaria até abatê-lo. Ela até costumava brincar que você nem precisaria de armas se utilizasse apenas a tua cabeça, de tão cabeça dura que você é.
Ainda olhando para as estrelas, você rí. Não é por causa da guerra contra o Império Dourado; não é por causa do que aconteceu quando voltou ou até mesmo por ter trocado o arco pela foice... O motivo pelo qual você não mais caça como antes, são Irene e o teu filho. Você teme se ferir severamente ou até mesmo morrer nesta campanha pois sabe que isso os trará grande tristeza, a tua ansiedade não é pela fama e glória de matar a misteriosa fera, a tua ansiedade é por garantir a segurança daqueles que ama.
Perdido em pensamentos você se esquece completamente dos teus arredores até que o som de folhas e gravetos sendo pisados te surpreende:
-Haha, Eu também quero rir~.
Diana permite que palavras descontraídas – mas melancólicas – saiam da sua boca. enquanto você abaixa o teu arco ela continua a se aproximar:
- Já faz um tempo que você está aqui, pensei em talvez vir dar uma olhada.
- Está tudo bem, eu só me distraí.
Você responde guardando a flecha que segurava enquanto ela rí outra vez:
- A última vez que estávamos juntos você não costumava se distrair...
- É... Todo esse tempo no campo provavelmente me deixou enferrujado, haha.
- Ha! Até a minha mãe mente melhor do que você, chéri, e ela não é do tipo de se policiar... até demais.
-... Você está preocupado com a tua família... Eu não te culpo, com o que vem acontecendo até eu estou começando a questionar se já não é hora de voltar para casa.
- Nossa, nunca pensei que te ouviria dizer isso. E o projeto de escrever o teu nome na história? Sabe, a Dama de San-Eorl não desistiu tão facilmente assim. (Você brinca).
- Sim, e como ela acabou? Com sua cabeça rolando pelo chão. Se alguém forte como ela teve um fim tão trágico, eu só posso imaginar como será o meu...
- Não, não diga isso... Se ser como os teus ídolos não é o bastante então sej-
Enquanto falava com Diana, olhando sobre o seu ombro, você avista na vegetação atrás
dela, dois pontos amarelos reluzentes quase imperceptíveis. Apresentando-se como olhos eles
aproximam-se de vocês aceleradamente, junto de um bravo rosnado.
Com um movimento de puro instinto, você empurra a Diana bruscamente para longe
do ataque da fera ao teu próprio custo - sendo quase esmagado no chão pelo peso da criatura
misteriosa -, você desesperadamente saca tua faca então e, com os dentes dela prestes a serem
cravados em tua jugular, começa a esfaqueá-la freneticamente até que ela se ergue sobre duas
patas e rugi em frustração. Seguindo o som de tiros, você rola para o lado agarrando o teu arco
e se levanta agilmente distanciando-se da fera, ela se volta para Diana e com um único ataque
das suas garras a desarma. Atirando flecha após flecha e atraindo a atenção da fera você grita:
- Diana, eu distrairei a fera! Corra, avise Erwin!
Em seu modo “séria” novamente, Diana segue em direção ao acampamento dispersando a atenção da fera, porém, com alguns tiros certeiros, torna-se óbvio para você que esse é um terrível plano. Nunca que as tuas pernas correram tão rápido quanto agora. Com a fera logo atrás e se aproximando, a sensação de que você poderia tropeçar a qualquer momento aumentava exponencialmente a cada segundo, guiar a fera para longe do acampamento em meio a escuridão quase que plena entre as árvores te faz desejar pelo lampião que esquecera lá atrás, no entanto, os troncos cada vez mais numerosos dificultam o avanço da criatura misteriosa e subitamente o chão sob os teus pés desaparece enquanto o mundo parece te envolver, agredindo-te por todas as direções enquanto uma sombra te ultrapassa pelo ar e aterrissa ao pé da colina em que você rola abaixo.
Com extremo esforço, você consegue mudar a tua trajetória desviando dela e, quase que imediatamente levantando-se, retorna a correr. Ignorando a dor que se alastra pelo teu corpo, você percebe uma escassez de “obstáculos” que possam retardar a fera, então faz uma curva ao norte onde o solo parece mais mais íngreme. Com cada segundo os sons dos seus passos aproximam-se mais e mais, novamente você vira a direta entrando em um denso trecho de árvores, finalmente causando a fera a ficar para trás. Ao alcançar o topo da colina, teus pulmões estão prestes a explodir mas você continua correndo, logo avistando uma grande pedra a qual poderia usar como cobertura enquanto recupera o fôlego.
Ali e abaixado, silenciosamente você tenta determinar a direção do acampamento, controlando a tua respiração para não ser encontrado. Os sons de movimento à distância tornam-se perceptíveis, respiração pesada e passos fortes, a fera parece se aproximar sem muita noção de onde você está, ela então parece começar a farejar o ar sobre a pedra em que você se esconde por trás. Um silêncio perfurante ocupa o ar quase como se a fera desapareceu... Até que sons extremamente estranhos ecoam de algum lugar demasiadamente próximo, flechas quebradas e ensanguentadas caem ao chão em frente de você provocando calafrios a percorrerem a tua coluna, você olha para cima e depara com a fera, sobre a pedra, te encarando e rosnando assustadoramente.
Você saca a tua faca outra vez e acerta um corte perfeito no meio do seu rosto, atordoando-a e permitindo-te a continuar correndo. Rugidos raivosos se aproximavam mais e mais, completamente te distraindo dos galhos em teu caminho, correndo cegamente sem certeza se este é o caminho certo você avista um ponto de luz à distância.
- Poderia ser o acampamento?! Ou seriam Diana e Erwin?!
Apressando até mesmo os teus pensamentos você dispara em direção à luminosidade
com a fera à apenas um ou dois metros atrás, ao enxergar as duas silhuetas você grita:
- Atirem! Atirem!
Jogando-se ao chão e deslizando para entre as duas figuras, balas voam sobre você e
acertam a fera, espirrando sangue para todos os lados. Agilmente ela esconde-se na escuridão
por entre as árvores, causando a Diana aproveitar o momento para te entregar a tua mochila –
mas ainda atenta aos arredores - e te apressar:
- Pelo amor do Sem Nome, diga-me que você trouxe uma arma!
Sem desperdiçar um segundo se quer, você saca da tua mochila um corpo de arco, cordas e uma aljava com mais flechas. A fera começa a rodeá-los por entre as sombras, Erwin e Diana abrem fogo enquanto você monta o teu arco e, no exato momento em que eles precisam recarregar, você remove uma flecha da aljava e a prende à corda em um movimento único.
Pronto para atirar e com os dois já recarregando, a tua atenção volta-se para o baixo som de passos que ecoam por entre as árvores, eles parecem circular vocês cada vez mais lentos, quando, de repente as nuvens movimentam-se no céu permitindo que a luz das estrelas reflitam nos olhos da fera, revelando a sua posição. Rapidamente você atira acertando-a no ombro enquanto ela avança, Erwin e Diana abrem fogo novamente, porém – cobrindo a sua face com um dos seus braços – a fera persiste e te empurra uma árvore, quase te prensando.
Com sorte você a chuta fortemente no joelho logo durante o impacto, causando-a a hesitar atordoada e te lançar para longe. Ao tentar se levantar, uma dor aguda preenche o teu pulmão direito e o ar torna-se escasso, a fera percebe a tua fraqueza e levanta-se pronta para matá-lo mas Erwin inesperadamente corre e a acerta na cabeça com um lampião, quebrando-o e encharcando a fera em óleo flamejante. Rugindo com dor e raiva, ela corre abruptamente para a escuridão por entre as árvores. Diana é rápida em perceber a tua condição e te ajuda a se levantar:
- Erwin ajude-me, o Orion está ferido!
Contanto, você rapidamente protesta:
- Não! Se partirmos agora talvez nunca mais consigamos chegar tão perto de capturar a fera novamente.
- Parça, eu não acho que essa seja uma boa idéia... (Erwin protesta).
Você, já de pé, persiste confiante e Diana e Erwin olham um para o outro com preocupação até que você começa a seguir os rastros da fera.
- Pera aí, é melhor que você tenha uma arma então. (Erwin te entrega um de seus revólveres).
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