Uma ardente sensação de calor banha a tua face, te acordando. Instintivamente você olha para o lado buscando fugir da luminosidade que te cega, porém ao fazer isso, se depara com uma enorme poça de sangue no chão ainda fresca. Temendo o pior você se levanta mas rapidamente perde o equilíbrio e tomba de costas para a fonte de luz, a tua cabeça e corpo latejam; à tua frente há uma espécie de mesa na qual estava apoiado, a impressão de sangue no canto direito superior assimila-se muito com o formato de uma mão; tentando erguer-se novamente, você move o teu braço esquerdo para frente mas uma dor terrível te atinge causando-te a imediatamente usar o teu braço direito para aliviar o peso do teu corpo e finalmente levantar. Uma vez de pé, você olha para o teu ombro percebendo um curativo improvisado sobre onde a fera te mordeu, sentindo uma dificuldade para manter-se levantado você encontra outro curativo, desta vez em tua perna, percebendo também que a tua vista ainda não se adaptou à claridade do ambiente.
Sem perder tempo, você tenta descobrir onde está: As paredes são altas com janelas de vitral que se triangulam próximo ao teto; atrás da mesa há uma bagunça de tábuas e cadeiras de madeira quebradas e cobertas em poeira; entre você e a fonte de luz encontram-se bancos enfileirados também cobertos em poeira e os mais próximos da luz estão quebrados e apresentam espirros de sangue.
Curioso para saber o que aconteceu, você começa a caminhar, enquanto os teus olhos se adaptam à claridade, é possível agora distinguir três fontes de luz: A entrada e duas janelas, sendo que a janela esquerda está completamente quebrada e possui uma substância viscosa pingando dos pedaços de vidro que permanecem presos à moldura. Saindo pelas portas escancaradas algo perturbador então atrai a tua atenção: Em baixo da janela esquerda encontrase o corpo de uma das criaturas que ajudou vocês na última noite, aparentemente morta, você não consegue acreditar como o que vê pode existir: Ela possui em sua testa chifres curvados como os de um carneiro; as suas presas são grandes como as de um javali; em suas costas encontram-se grandes asas similares às de um morcego e o seu corpo é completamente coberto por escamas ósseas como as de um crocodilo, porém apresentam uma coloração cinzenta e textura rústica - assim por dizer - parecida com as paredes da estrutura.
- Que lugar no Mundo Abaixo é esse? (Você se pergunta).
Seguindo a trilha de perfurações que as criaturas deixaram na parede, você percebe que este edifício é de fato uma igreja abandonada. Lembrando ter visto lápides na noite passada, a tua atenção volta-se para o campo atrás de você, exatamente como o lembrava, exceto pelo corpo de outra criatura morta, com as suas asas arrancadas e o seu pescoço torcido como se tivesse sido quebrado. Eis o que a tua mente supõem ser um cemitério.
- O que são essas... coisas?
- Será que estou ficando louco?!
Milhares de perguntas correm pela tua cabeça, o teu coração começa a bater em desespero e as tuas mãos suam incontrolavelmente, porém apenas uma única pergunta já é o bastante para te causar desespero...
- Onde está a fera?!
No preciso momento em que você se pergunta isso, sons de paços se aproximam da tua direta. Olhando sobre o teu ombro, você pensa em correr mas devido as condições em que se encontra logo desiste, fechando as tuas mãos em punho e voltando-se para a igreja quase que um ataque cardíaco reivindica a tua vida se não fosse por ver que era apenas a Diana quem se aproximava. Ao te ver de pé, ela já corre em tua direção de forma protetora:
- Orion?! Você não deveria estar de pé, você está tremendo.
Enquanto ela te empurra para fora da sombra, você finalmente percebe que os teus curativos foram feitos com rasgos da tua camisa e que o teu sobretudo havia caído enquanto se movia. Diana rapidamente corre para pegá-lo e te cobrir, mas – ainda perdido quanto ao que acontecera na noite passada - você aponta para uma das criaturas:
- O... O que aconteceu enquanto eu estava inconsciente?
- É uma longa história, eu acho melhor nos sentarmos antes...
Vocês dois sentam-se então na grama onde o sol alcança e, em um tom sério, ela começa:
- Depois que nos escondemos na igreja as criaturas começaram a atacar a fera, não sabíamos o que eram ou quais suas intenções, mas também não tínhamos muito o que fazer. Enquanto Brutus barrava a porta, Erwin vigiava pela janela e eu tentava te manter vivo, as criaturas pareciam ter a vantagem devido os rugidos que ouvíamos, porém em um piscar de olhos, uma delas esbarra contra a janela e antes que pudesse se levantar, um alto som de ossos quebrando ecoaram enquanto a fera aparecia tentando entrar. Erwin atirou várias vezes e acho que uma das criaturas a puxou para longe...
- ... Depois disso, Erwin disse ter visto a fera matar outra criatura causando à última a
agarrá-la e voar para além da floresta atrás das lápides.
Ela fala apontando para o oeste. Depois você a indaga espantado, olhando para a criatura morta:
- Voar? Quer dizer que essas coisas voam?!
- Foi o que Erwin disse... Para ser honesta, depois de ontem não há muito mais que me
surpreenda...
Ela responde e, após uma breve pausa, continua:
- ... Nós pensamos em sair e procurar ajuda mas não sabíamos onde exatamente estamos e, devido suas condições, seríamos alvos fáceis para a fera ou até mesmo a criatura, logo passamos a noite circulando entre quem dormiria, quem ficaria de vigia e quem cuidaria de você. E isso é meio que tudo, Erwin e Brutus foram checar as redondezas enquanto eu mantia guarda aqui e provavelmente voltarão logo.
Finalmente parando de tremer e começando a se sentir melhor situado, você brinca:
- Bom... Ao menos não estou ficando louco sozinho, haha.
Enquanto vocês dois aguardam Brutus e Erwin retornarem, Diana parece inquieta e de momento a momento olha para os corpos das criaturas preocupadamente. No instante em que você decide perguntá-la se está tudo bem, os outros dois aparecem e enquanto se aproximam, ela te ajudava a se levantar. É possível perceber o Brutus olhar com uma expressão de desgosto para uma das criaturas mortas ao atravessarem o campo de lápides, Erwin, te vendo de pé celebra:
- Ae! Você está vivo, parça!
- ... De boa, você não vai acreditar no que perdeu ontem, foi épico! (Ele adiciona, com os seus olhos brilhando de entusiasmo para te contar).
- A Diana já me contou tudo, é bom ver que vocês sobreviveram também.
Mesmo após você terminar a tua fala, Diana e Brutus ainda olham para o Erwin abismados pelo seu bom humor e a maneira como age, só pelos seus olhares já é possível perceber que se questionam como que alguém consegue ser tão “casual” após ter experiênciado algo tão terrível quanto o ocorrido na noite passada. Diana, ainda conflitada, indaga com a sua voz séria:
- Então, vocês acharam alguma coisa?
- Nenhum sinal da fera ou da criatura, mas...
Brutus pausa por uma fração de segundo olhando para você, causando-te a temer o que
estava por vir.
- ... À menos de dois quilômetros nessa mesma direção está a tua vila, Orion.
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