Como o motor de uma locomotiva a todo o vapor, o teu coração dispara e flashbacks do teu retorno da guerra inundam a tua mente.
- Vamos!
Apoiando-se no ombro da Diana, você segue rumo à vila mancando, a dor em tua perna acentua-se a cada passo mas não é o bastante para te distrair do medo de que a ferra possa chegar lá antes de vocês. O caminho é difícil, não possui estradas ou trilhas, apenas mato e árvores, o sol que antes te aquecia, agora esconde-se atrás de uma densa camada de nuvens cinzentas. Todos fazem silêncio, até mesmo o Erwin que agora carrega a mesma expressão de preocupação que os outros.
Ao alcançar a parede da vila, o teu corpo já treme de exaustão, porém outro problema
se apresenta: O ar está ocupado por um silêncio mórbido e não há uma entrada do lado em que
vocês estão. Largando-se da Diana e correndo em busca de uma entrada, o desespero toma
posse de você enquanto os outros gritam para que espere, tropeçando e quase caindo você vira
bruscamente à direita encontrando o muro frontal em paralelo à você, mais uma direita e em
segundos os pesados portões de ferro, ainda retorcidos, tornam-se sombras atrás da tuas costas.
Correndo para todas as direções, tudo o que vê são janelas e portas fechadas, algumas até
barradas. Pelo canto do teu olho você percebe uma delas abrindo e, usando toda a energia
restante em teu corpo para parar e olhar, você consegue manter-se de pé o bastante para
reconhecer que era a Irene saindo de uma delas e então, você subitamente desmaia.
De forma vagarosa, familiares sons de cigarras cantando à distância alcançam os teus ouvidos, junto com a dor que volta a latejar por todo o teu corpo. Uma sensação de conforto te indica estar em algum lugar seguro e rapidamente o cheiro de comida confirma que este lugar é – de fato – a tua casa.
Ao tentar abrir os teus olhos, você escuta a voz da Mélanie chamar pela Irene, ela se aproxima entregando o bebê para a sua irmã e pondo a mão em tua testa como se fosse checar pela tua temperatura:
- Calma amor, você está com febre, tente não se levantar.
- Onde... onde estão Diana e os outros? E a fera?!
Com essa última parte você sente o teu coração disparar e ao tentar se levantar percebe o quão enfraquecido está. Irene, ajeitando as cobertas sobre o eu corpo, te conforta:
- Não se preocupe, eles estão na vila e desde que vocês saíram ninguém avistou a fera
novamente.
Enquanto você se acalma, Mélanie entrega o bebê para Irene informando-a de forma animada:
- Eu vou avisar o Jean que o Orion acordou.
Com o bebê em seus braços, Irene senta-se ao teu lado e segura a tua mão carinhosamente. Você olha para ela e o teu filho sentindo uma grande felicidade inundar o teu coração e, por um momento, completamente esquece do resto do mundo. Olhando agora aos teus arredores você percebe estar no sofá da sala de tua casa, percebendo cestas espalhados por todos os cantos, você então pergunta enquanto apontando para uma delas:
- O que é isso?
- Hoje de manhã eu e a Mélanie fomos distribuir o excesso das nossas colheitas para as
famílias dos fazendeiros que morreram na noite do ataque. Soubemos que por causa de barulhos
estranhos vindos do bosque próximo das suas fazendas, elas tiveram que fugir para dentro da
vila e então decidimos ajudar.
Uma leve dor começa a latejar em tua cabeça causando-te sono, mas preocupado pelo que Irene disse, você tenta manter-se acordado e a pergunta:
- Barulhos?
- Sim, alguns dos guardas acham que eram apenas animais brigando, mas por
preocupação avisaram todos os moradores para barrar as suas portas e janelas e ficarem em
alerta. Eles até vieram aqui pedindo que ficássemos na vila até vocês retornarem e nós até
tínhamos planejado de ir hoje de manhã, porém você apareceu e...
Enquanto Irene fala, você sente-se mais e mais exausto, como se finalmente teu corpo percebesse que não está bem. Você tenta manter-se acordado e prestando atenção em tua mulher mas logo todos os teus sentidos misturam-se em um void absoluto e então a tua mente se desliga.
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