Os pássaros cantam e o ar cheira a café da manhã. Ainda em um estado de sono, você sente alguém te beijar na bochecha e te sacudir levemente dizendo:
- Amor, é hora de acordar ~.
Abrindo os teus olhos e fechando-os quase que imediatamente, o teu cérebro não consegue formar imagens compreensíveis, mas mais uma vez a voz te chama:
- Vamos comer ~.
Lentamente acordando, você escuta passos seguindo em direção à cozinha, uma terceira vez a voz te chama permitindo-te identificá-la como a da tua mulher, Irene:
- Venha antes que esfrie, haha.
Com o barulho de uma cadeira sendo puxada seguido da risada do bebê, você finalmente acorda, abrindo os teus olhos só um pouco... A luminosidade que vem de fora quase te cega causando-te a descobrir-se e se sentar, balbuciando:
- Já vou...
Esfregando os teus olhos, você se levanta mas não sente dor alguma vinda da tua perna ou ombro, você olha para o teu corpo e vê que está com novos curativos sobre os teus ferimentos. Após se vestir, você se direciona à mesa mas no meio do caminho Irene te pede:
- Amor, você fecha a cortina? O sol está pegando nos olhos do bebê.
Você olha para ela junto do bebê ainda meio sonolento e depois dirige-se à janela que
está a alguns passos à tua esquerda, agarrando uma das cortinas você olha pela janela antes de
fechá-la e percebe o reflexo de dois olhos amarelos atrás de você no vidro. Virando-se
rapidamente você se depara apenas com a vista da Irene e do teu filho à mesa então, pensando
ser o stress, você fecha a cortina e senta-se junto deles.
Durante toda a refeição você permanece quieto e incomodado, como se algo estivesse
errado, Irene percebendo isso, te pergunta:
- Amor, você está bem? Quer desabafar?
- Sim, não...
Antes que possa terminar de pensar em que palavras usar, você escuta o som de tiros sendo disparados na varanda, seguidos por gritos dos quais não consegue entender mas ao se levantar e abrir a cortina para olhar pela janela, você vê nada. As palavras da Irene logo toma um forte ton de preocupação:
- O que foi?
Novamente tiros são disparados, desta vez mais próximos e seguidos pelo som da porta sendo aberta e fechada abruptamente, um grito de horror e vidro sendo quebrado ecoam em seguida. Você olha para todos os lados mas não vê nada, as paredes começam a tremer, o som de passos em direção os quartos é imediatamente interrompido pela sensação de algo estar te sacudindo pelo braço, os teus ouvidos captam um som que o teu cérebro pode apenas definir como uma explosão em frente da porta e o chão agora treme enquanto, em uma fração de segundo, você sente algo puxar teu o braço e largá-lo subitamente.
Um breve momento de silêncio segue até que o som da porta do quarto do bebê sendo trancada desencadeia uma caótica sequência: Rosnados e rugidos; a porta sendo derrubada; gritos e choros; mais impacto e, finalmente, vidro sendo quebrado. Você olha para Irene pensando que talvez ela também esteja escutando tais sons, mas uma dor aguda em teu pé te acorda imediatamente.
Saltando para fora do sofá você vê que ainda está de noite e que a casa está em chamas. No lugar da porta da frente há um buraco enorme como se um animal tivesse invado a casa e percebendo o que isso talvez signifique você corre para a cozinha onde estava no teu pesadelo mas lá encontra Jean morto jogado contra a parede. Após um momento de shock e hesitação, você pega a tua escopeta e corre em direção aos quartos. Vendo que, o que derrubou a porta de entrada fez o mesmo com a porta e janela do quarto do bebê você segue em direção ao quarto mas logo ao entrar, algo te agarra pelo tornozelo, você aponta a arma para baixo mas logo vê que é a Mélanie, ela está deitada no chão com um grande ferimento em seu pescoço. Ao se abaixar para socorrê-la, ela te interrompe:
- A... A fera, el-ela fo-foi atrás d-da min-minha irmã... (Ela suplica com o seu último
suspiro e apontando para fora).
Pulando pela janela, ou melhor, o espaço vazio onde a janela costumava estar, você cai logo atrás da casa e um alto rugido te atrai para a estrada que leva à vila. À distância, você vê a fera parada em frente Irene – que está segurando o bebê em seus braços –. Você grita apontando sua arma para a fera:
- Abaixe-se Irene! Abaixe-se!
Porém, quando Irene olha para você, a fera, arranca o
bebê dos seus braços com um único golpe, jogando-o no chão e avança pisoteando-o para
morder Irene entre o pescoço e ombro, logo sacudindo-a para um lado e o outro como um
animal selvagem faria. A fera então a solta e te encara até que você comece a atirar enquanto
correndo em sua direção, causando--a à escapar para dentro do bosque às margens da estrada.
Ao alcançar Irene, você imediatamente ajoelha-se levantando-a em teu colo e tenta parar o sangramento dosseus ferimentos. Ao ver que ela está tentando virar o seu rosto à direita, você percebe o corpo do teu filho... Obliterado à um ou dois paços em frente de vocês, reduzido a uma massa cacomórfica de carne e sangue. Chorando ainda mais, você vira o rosto da Irene para você balançando tua cabeça com grande desespero e lástima:
-Me desculpa, me desculpa... Isso é culpa minha, nós deveríamos ter partido como você disse.
Ela então segura o teu braço fortemente, derramando lágrimas e tendo dificuldades para
respirar. Você, vendo a vida da tua mulher se extinguir enquanto a segura sem poder fazer
nada, reduz-se a implorar, ainda mais desolado:
- Não, não, não... NÃO! Por favor! Irene, não me deixe... Você não pode morrer assim...
Com os últimos segundos de vida que a restam, ela alcança pelo teu rosto, secando uma das tuas lágrimas e aponta para o céu. Você olha e vê a constelação de Kynigós, ao olhar de novo para ela, ela te abraça fortemente e te beija até que o seu corpo sucumbi e a sua vida se extingue. Ao perceber o fim do amor da tua vida, você grita aos céus com toda a tua raiva e permanece lá, chorando... E em plena realização do teu pior pesadelo.
Fin... (?)
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