Em um navio que a pouco saiu do porto, um de seus tripulantes, ao conferir os mantimentos, encontra uma garota escondida em meio às caixas no porão.
— Capitã, temos uma clandestina. — Grita o homem.
Ao som do grito, a garota corre para o convés e acaba por se esbarrar em uma figura de aparência inusitada. A mulher, de aparência jovial, usa um chapéu armado, que é decorado com uma, enorme, pena de basilisco, seu cabelo é curto e rente a cabeça, e seu sorriso mostra uma arcada dentária cheia de caninos e com, pelo menos, duas fileiras de dentes. O vento que sopra levanta seu sobretudo, o suficiente para serem percebidas as guelras nas laterais de seu corpo e uma cicatriz com várias marcas de dente em seu abdômen.
A mulher aproxima seu rosto do da garota, e seus olhos, que são mais similares a de bodes, penetram a alma da garota.
— Qual seu nome? — Pergunta a mulher, enquanto passa a língua dentre seus dentes.
— Âmbar — Diz a garota, de treze anos, que olha com admiração a mulher em sua frente.
— As temáticas dos nomes mudam tão depressa. — Diz ela enquanto passa a mão pela sua bochecha.
Quando ela leva a mão ao rosto, percebe-se que ela aparenta não ter unhas, mas a sua pele parece dobrar, de forma estranha, na ponta de seus dedos.
— Vou fazer uma pergunta um pouco mais difícil. Qual meu nome?
— Você é a capitã Megalodon.
A capitã leva a mão às costas da garota e a segura pela camisa. Com um leve arremesso, a garota voa pelo barco e cai no mar.
— Não invada o barco de alguém que você não sabe nem o nome! Volta pra Lauto, que vai ser melhor para você.
Ao ouvir as palavras da capitã, Âmbar começa a nadar em direção ao navio, que aos poucos se afasta da garota. Enquanto as energias da garota vão se esvaindo, a cada braçada, Megalodon assiste a cena do tombadilho, e somente quando a Âmbar não tem mais forças para se mexer, Megalodon volta ao convés.
Âmbar se encontra boiando pelo mar, na esperança da correnteza levá-la para terra, ou na espera da sua morte. Neste momento, ela percebe algo se aproximando, e ela fecha os olhos, pois ela sabe que neste momento, ela não é nada mais do que um petisco. A criatura se aproxima e o coração de Âmbar começa a bater mais rápido. Ela sente o seu corpo esfriar, enquanto ela é agarrada por braços mornos. Ao abrir os olhos, ela vê a capitã Megalodon, cruzando o mar, com uma nadadeira caudal, enquanto mantém Âmbar entre seus braços.
Quando elas voltam ao convés, a capitã coloca Âmbar no chão e veste o resto de suas roupas, que estavam sendo seguradas por um dos tripulantes.
— O que você acabou de fazer foi burrice. Todo mundo sabe que o oceano é o lugar mais perigoso do mundo. Você precisa ser muito burro para perseguir um barco na braçada.
A garota observa Megalodon com um olhar tristonho, enquanto tenta recuperar seu fôlego.
— Eu adorei isso! Arriscar a vida de forma tão estúpida me faz lembrar das coisas que eu fiz quando tinha a sua idade. Você queria uma vaga nesse barco? Então conseguiu. Se não se provar útil, ainda sim vai dar um bom “bichinho de estimação”.
A capitã leva Âmbar a seus aposentos, para descansar, sobre sua supervisão, e passado um certo tempo, a garota puxa conversa.
— Qual seu nome? — Diz a Âmbar, enquanto levanta a sua cabeça do travesseiro.
— Me chama de capitã Megalodon. Todo mundo me chama assim mesmo…
— Eu sou sua fã, desde pequena. Eu gostaria muito de saber o seu nome.
— Você, realmente, não é peixe qualquer. Meu nome é Granada Pue Megalodon… Falando nisso, você não tem família?
— Meu sobrenome é Nue, capitã Granda.
Granada levanta da cadeira onde estava sentada e dá algumas voltas pelo quarto.
— Tá explicada a sua burrice. Eu sei que você me respeita e tudo mais, mas entrar de penetra no barco para me conhecer…
— Não é só isso, eu e meu irmão sempre tivemos o sonho de explorar os mares. Essa era a nossa única oportunidade, então agarramos ela com unhas e dentes.
— Cadê seu irmão, pois no meu barco ele não está. — Diz ela depois de dar uma fungada.
— Ele entrou em outro barco faz um mês...
— Seu irmão não é problema meu e fim da história. — Diz Granada, interrompendo a garota.
Após terminar a sua frase ela volta a sentar na cadeira e começa a procurar algo dentre os papéis em sua mesa.
— Pode me falar mais sobre você? Eu gostaria de saber um pouco mais da história da famosa garota tubarão.
— Me chamar de garota tubarão, é querer reduzir imperador a peixe. Garota.
— Eu ainda sim quero saber mais sobre você. coisas como as suas aventuras, que tipos de magia você pode usar, se você é a capitã mais forte.
— Essa coisa de capitã mais forte, depende. Dentro ou fora d'água?
— Isso realmente faz tanta diferença?
— Isso difere como a noite e o dia, mas de qualquer jeito, dos capitães, as únicas na disputa somos eu e a Teuthan. Fora isso, dos outros quatro, os únicos que não tomariam uma surra, seriam a Leviathan e a Ucides.
— Não sabia que tinha uma diferença tão grande entre vocês.
— Porque, na prática, não tem. Eu estou usando de especulação, coisas que eu me lembro de uns cem anos atrás. Mas eu não acho que tenha mudado muito. Não é fácil superar o talento pujante da Teuthan. Fora isso, eu sou a única que sente a necessidade de evoluir.
— Eu gostaria de participar desse mundo que vocês vivem, mas ele parece tão distante.
As palavras da Âmbar, parecem acender a chama de um desejo em Granada, que interrompe o que está fazendo e senta na cama ao lado da garota. Ela aproxima seu rosto dela e dá uma fungada profunda, e ao terminar, ela solta o ar junto ao som de quem está a apreciar algo delicioso.
— Eu vou fazer com você, algo que eu nunca cogitei… — Diz Granada, enquanto se perde em seus deliciosos pensamentos. — Eu vou te ensinar tudo que eu sei sobre magia.
Enquanto Âmbar se perde na empolgação, de ser ensinada por um dos seis capitães, uma carta, aberta, se encontra na mesa, com o lacre do oito perfeito, recentemente rompido. Nela se lê: “Foi decidido que o encontro desta década será em 4 branco, no continente Barbatana esquerda. Estou ansiosa para me encontrar com vocês depois de tanto tempo. Bauxita manda lembranças”.
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