— Parado! — Me interrompeu um guarda da cidade.
Acho que ele não iria me ajudar de qualquer forma, esses caras são os porcos da cidade que só vivem usufruindo dos fracos e judiando das mulheres.
— Não se mova, se entregue antes que você morra — disse o guarda.
Sinceramente, não estava com saco para perder tempo com eles, mas eu estava muito cansado e enfraquecido.
Eu estava encurralado, consigo ver no mínimo oito guardas, não importa o que eu fizesse eu não escaparia dali vivo, não no meu estado atual, melhor eu me entregar e tentar fugir depois, mas se bem que eu poderia usar o monstro ao meu favor.
— Tem um monstro atrás de mim! — Gritei para tentar distrai-los.
— Encontrou um dos nossos ghouls[1]? — Disse o guarda rindo de uma forma má.
1 -[Notas do autor: Preferimos manter o nome em inglês, não vai impactar nada na história mas acho bem mais modesto deixar o nome ghoul do que carniçal. Ghoul é um tipo de zumbi que é controlado por uma força de um nível mais elevado, Ghoul - Vampiro, entre outras espécies mais fortes.]
Minha mente naquela hora se embolou completamente.
— Do que vocês estão falando? Vocês domaram aquela coisa?! — Perguntei aos guardas.
— Olha rapazes, esse daí não sabe mesmo quem nós somos — disse o guarda com seus amigos, em seguida começaram a rir de mim.
Esses filhos das putas, estavam rindo de mim, eu não estou para nenhuma graça.
Não parei para reparar mas eles não tinham um brasão que eu fosse reconhecer, acho que não é de nenhuma família real desse continente, os reinos estão atualmente em paz, não teria nenhum motivo para eles invadirem um vilarejo como o nosso, esses caras queriam me levar até algum comandante deles.
— Se aproxime, devemos te levar ao nosso comandante. — Disse um dos guardas.
Me aproximei indo em direção dos guardas, chegando próximo a eles eu escuto atras de mim.
— Agora!! — Escutei nos fundos.
Minha vista fica escura e sinto meu corpo pesado… indo em direção ao chão.
— Raynard acorde, acorde Raynard!! — Por trás uma voz feminina estava me chamando.
Após reconhecer a voz eu me desperto acordado e assustado… percebo estar com uma faixa cobrindo meus olhos, minhas mãos estão atadas bem atrás das minhas costas… me coloco de joelhos, para tirar meu rosto da lama... Lá estava a Celestia, mas tinha alguém desconhecido com ela.
— Finalmente acordou, hein?! Eu vim de muito longe para te encontrar — disse a silhueta de alguém que eu conhecia.
O cara ao lado da Celestia, parece que já tinha visto ele em algum lugar, ele não me parece uma boa pessoa.
— O que você está fazendo?! Quem é você? — Perguntei desconfiado do desconhecido.
— Desculpe a minha indecência, não me apresentei a você ainda não é mesmo? Me chamam de Tulites, mas prefiro que me chame de Tulius — se apresentou Tulius.
— Você parece machucado Ray, você está bem? — Me perguntou Evon preocupado.
Me desculpe Evon, estão passando muitas coisas pela minha cabeça, está tudo confuso, eu estou quebrado por dentro com muita angústia, minha mãe morreu... Antes de me dar conta, lágrimas desceram do meu rosto novamente, vou precisar mentir para você meu amigo, em seguida enxuguei meu rosto.
— Sim eu estou bem não se preocupe, fico feliz de estar escutando a voz de vocês — eu menti.
— Ray faça o que ele pede, não estamos em posição de escolhas — me disse Celestia confiante.
A Celestia parecia confiar muito nesse cara...
— Melhor seguir o que ela fala, não queremos arrependimentos, não é? — Me pressionou Tulius.
De novo ele com esse tom sarcástico dele...
Realmente não podemos arriscar, embora eu esteja rangido os dentes para socar esse cara, eu não vou poder, pelo bem das pessoas.
— Mas vamos logo ao assunto, você se chama Raynard Lionhearth IV, estou certo? — Me perguntou Tulius.
— Não sei do que está falando... — eu disse confuso sobre meu sobrenome.
— Do que ele está falando Ray? — Me perguntou Celestia.
— Como isso é possível? — Se perguntou Evon.
Por que meus amigos também estão espantados pelo meu nome?
Eu estou começando a ficar com medo, ele sabe de alguma coisa sobre mim e por que eu sou tão importante para ele? Pelo que eu entendi isso tudo ocorreu por causa de mim.
— Agora que o drama e suspense está no ar... vamos direto ao que interessa — disse Tulius convicto de que vai tramar alguma coisa.
Os guardas me levantaram e tiraram a venda que cobria meus olhos, finalmente pude enxergar o rosto demoníaco dele, era pálido acinzentado, careca e tinha uma cicatriz que vinha da sobrancelha esquerda até próximo a sua boca. Sem contar os olhos negros que eu quase podia enxergar a sua alma.
— Você já me tem, agora solta eles e deixem que eles fujam — eu disse.
Merda, mais um problema, já basta o ataque que aconteceu lá em casa, eu sabia que ele não era coisa boa.
— Tem razão… não não tive uma ideia melhor, matem os dois! — Comandou Tulius impiedosamente
— O que pensa que está fazendo?! — Me perguntei me sentindo traído.
— Não por favor! Ray! — Diz Celestia apavorada.
Eu não podia colocar meus amigos em risco, mas era inevitável, Celestia estava com muito medo.
Eu chuto o joelho do soldado que estava me segurando e corro na direção dela...
— Não encoste nel- — eu falei, logo sendo interrompido.
Eu não pude nem ver ele me acertando com uma lâmina, seus movimentos foram mais rápidos que o vento… Quem diabos ele é?
— Ray, você sabe que eu não queria estar fazendo isso, mas a ordem sempre vem de cima — citou Tulius sarcasticamente — Você precisa saber o seu lugar! Matem ela bem lentamente para que ele veja bem — comandou Tulius em seguida, não tendo nenhuma misericórdia.
— Ray… me desculp- — disse ela —, entretanto ela não conseguiu terminar a palavra.
— Não… Pare! — Implorei para não fazerem isso.
Eu estava com tanto ódio, mas não sabia o que fazer em tal situação, podendo custar a vida de meus amigos, mas escuto alguém lá trás.
— Me levem no lugar deles! — Disse Evon ofegante.
— Humm… Evon é? Levem esse garoto! — Comandou Tulius sem pensar duas vezes.
Se eles levassem o Evon o que será que iria acontecer com ele? Com certeza irão tortura-lo, não… como isso foi acontecer, como eu deixei chegar nessa situação?
— Parem… por favor!... — Implorou Celestia.
Celestia implora para parar com a luta, mas é inevitável.
Ele levanta meu rosto contra minha vontade, enquanto força o punhal contra meu abdômen… Eu não consigo nem respirar normalmente.
— Olhe bem Ray, isso é culpa sua e da sua família — disse Tulius me fazendo me sentir culpado.
Ofegante eu olho na direção dela… A garota que eu amo nesse estado, eu não posso fazer nada para que isso acabe, nem mesmo eu disse o que sentia pra ela.
— Acho que já foi o suficiente, podem acabar com isso logo — ordenou Tulius.
— Raynard...— Celestia chorando chamou pelo meu nome.
A Celestia estava chamando pelo meu nome, mas eu estava com tanta dor que quase não chega aos meus ouvidos.
Eu pude ver o vazio em seus olhos, pude ver e escutar os últimos suspiros dela enquanto ela caia lentamente no chão.
— Eu vou te matar custe o que custar! — Falei furioso com Tulius.
Ele gira o punhal no meu abdômen e sorri enquanto olha para mim, um olhar frio e assustador, em seguida ele retira a lâmina e me empurra contra o chão.
— Ray, fique no chão nos seus últimos momentos ao lado de sua infeliz "amiga" — disse Tulius sarcasticamente comigo, em seguida ele comandou: — Vamos rapazes! Temos muito o que fazer, afinal, já acabamos por aqui.
Eles viraram em direção ao portão principal e foram embora, eu vi Evon sendo levado por eles e não pude ajudar ninguém no final.
Logo após a retirada deles começou a chover uma chuva fina e leve, pequenas gotas caiam no rosto delicado dela, eu me aproximo arrastando meus joelhos e apertando minhas mãos contra meus ferimentos no estômago, estou ficando com frio… me sinto tão fraco, com uma das minhas mãos coloco-a no rosto dela que aos poucos vai perdendo o calor e se tornando tão frio quanto a chuva.
— Me desculpe… eu fui fraco, eu só queria poder dizer o quanto a amo — eu disse com um tom triste e frustrado com a morte de Celestia.
Me deito ao lado dela, já que não tenho forças pra suportar meu corpo de joelhos… a chuva começa a ganhar força e logo começo a perder a consciência, talvez eu tenha chegado ao meu fim… fecho meus olhos e respiro lentamente.
— Não espera! Que som é esse? — Me perguntei.
Ao abrir meus olhos novamente, eu estou em pé diante de um salão imenso, parece até que estou caminhando nos céus, mais a frente eu vejo estátuas enormes de guerreiros e criaturas que estão esculpidas, parecem bem antigas com detalhes que parecem feitas à mão.
No centro desse salão, vejo um espectro com uma enorme aura e energia vital, não sei exatamente... Não sei se é uma boa ideia eu me aproximar, mas que seja!
— Esses livros não podem ficar por aqui, acho melhor arquivá-los — logo disse um senhor desconhecido cuidando de seus livros.
— Olá!? Quem é você e onde estou!? — Perguntei para o senhor meio trêmulo.
Não vou mentir, estou com medo, não consigo dar sequer um passo adiante.
— Se passaram quantos anos? Já estou esperando o próximo a mais tempo do que deveria — disse o velho sem me escutar.
Pelo jeito ele não me escutou, acho melhor eu me aproximar... vou dar passos bem curtos e devagar. Não quero chamar atenção desnecessária.
Só um pouco mais perto.
— Pare onde está! — Disse o senhor desconhecido do nada.
Ham? Como ele me sentiu a esta distância?
— Eu não sei o que está acontecendo… eu estava pra morrer e não era em um salão, espera aí eu... não estou machucado! Estou completamente vivo e sem nenhum arranhão — me perguntei sem saber de nada.
— Quem é você? — Perguntou uma voz misteriosa do fundo do salão —, sem me deixar responder perguntou novamente — O que você está fazendo aqui? Será que você é... — Afirmou ele.
— Oh, você chegou bem mais cedo do que eu esperava — disse o senhor desconhecido.
— Eu cheguei o que? — Refutei.
Minha mente está muito embolada agora, não faço ideia de quem é esse cara.
— Se aproxime! — Pediu o desconhecido.
No mesmo instante eu apareci próximo a ele, ele era alto e tinha uma aura misteriosa, porém relaxante. O manto dele e sua grande barba se destacava acima de tudo.
— Humm… Isso mesmo você finalmente chegou, tem tanto tempo desde a última era, seja bem vindo de volta, aspecto da Paz! — Disse o desconhecido para mim.
Após ele dizer isso uma das estátuas começa a brilhar intensamente, emitindo sons, energia e magia! A energia parece tomar conta de mim é como se sempre fosse parte de mim.
— O que significa isso? E quem é você? — Perguntei confuso de onde estava.
Eu estou realmente confuso, por que esse cara tá me chamando de aspecto da paz, que lugar é esse?
— Desculpe a minha falta de comprimentos, eu sou Izigon portador do aspecto da mente, responsável por esse templo e por guardar os tesouros do tempo das criaturas viventes. Você foi escolhido para portar a paz que o mundo precisa, abrace o destino e cumpra a sua missão na balança da vida Raynard Lionheart! — se apresentou Izigon para mim que estava completamente confuso.
— Agora transcenda! — Gritou Izigon com um tom de voz poderoso.
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