Já havia se passando alguns dias desde que Carla partiu e Ingrid claramente sentia sua falta. Com a convivência Ada pode a conhecer melhor não era alguém de má índole, no fundo tinha um bom coração, porém estava constantemente perdida em seus sentimentos e inseguranças. A forma como agia sendo rude não passava de uma maneira para evitar proximidade dos outros para não se machucar mais. Mesmo assim, Ada queria achar uma forma de ajudá-la. Carla confiou que eles a ajudariam, então precisava encontrar uma maneira de se aproximar de dela e ganhar sua confiança.
Como não sabia o que fazer, resolveu dar um passeio para esmaecer as ideias. Desde que Carla foi embora ficou pensando no que ela disse sobre ele ir ver seu pai e resolver as coisas. Contudo, não tinha a coragem para estar frente a ele depois de tudo que aconteceu. Mesmo que ele entendesse a situação, não iria amenizar a culpa que sentia. O que aconteceu foi resultado de suas ações, foi resultado de sua fraqueza.
As ruas da cidade estavam movimentadas. Era época de colheita, pessoas se reuniram para fazer negócios, trocar produtos e aproveitar o entretenimento que vinha a cidade durante essa época. Pelas ruas muita gritaria e aglomeração, mesmo em toda aquela bagunça havia ordem, as pessoas se entendiam tornavam tudo aquilo orgânico. Começou a andar pelo mercado, observando os diversos produtos, algumas pessoas de fora trouxeram coisas diferentes para a vila como autômatos, homúnculos, e equipamentos diferentes. Também veio um parque itinerante, trazendo diversas atrações. Ia cumprimentando os habitantes da vila enquanto andava pela enorme feira que tomou o centro da cidade. Ganhou uma fama junto a Bruce, gostava de retribuir a atenção que as pessoas davam a eles, afinal, se tornaram responsáveis por aquelas pessoas e faziam questão de exercer essa função. Beto de começo ficou frustrado por ter escondido suas habilidades, mas entendeu seus motivos e deixou serem águas passadas. Ada tinha medo de que as coisas não se resolvessem tão bem, porém viu que estava errado em não confiar no amigo.
Uma banca chamou sua atenção. Tratava-se de uma carroça que tinha vindo de fora da cidade, se expandia abrindo mesa para exposição com uma tenda. Podia ver que por dentro a carroça era maior que fisicamente aparentava, dentro havia uma bancada onde eram feitos os arranjos, também tinham vários vasos e pequenas estufas onde cresciam plantas diferentes. Talvez um mago boticário, que deveria trabalhar com plantas exóticas para fazer remédios. Na banca de exposição várias flores bonitas e belos arranjos. Ao se aproximar foi atendido por uma moça gentil, cabelos loiros, olhos grandes lilases e um rosto muito bonito de lábios pequenos e delicados, mas não finos. Bochechas rosadas na pele levemente parda como se tivesse sido pintada em tela. Pode ver as emendas que saiu por de trás das orelhas e desciam pela lateral do pescoço, que por sua vez seguiam os ombros e os braços a te se emendar nas pontas dos dedos. Um homúnculo, feito com muito esmero. Claramente algo feito sobre encomenda, não era como os modelos industriais, padronizados e simplistas.
-Bom dia meu jovem, seja bem-vindo a loja de “Maravilhas Monte Negro”! –Ela estendeu os braços e girou no próprio eixo exibindo o mostruário. –Se achar algo que lhe agrada me avise.
-Obrigado moça. São tantas coisas e flores tão bonitas que é difícil escolher. -Sorriu gentilmente como fazia de costume. Era comum as pessoas tratarem homúnculos e autômatos como animais ou propriedade, mas eles eram expressivos e tinham suas próprias personalidades. O sorriso que ia de orelha e fazia as bochechas oprimirem os olhos fez com que a garota retribuísse de maneira sincera, ficando genuinamente feliz. -Estou procurando algo para alegrar uma amiga, para motivá-la a se empolgar mais com a vida. Pode deixar que se eu escolher algo a avisarei.
Viu algumas flores que sua irmã adorava, ainda que na maior parte do tempo ela tentasse parecer indiferente com tudo que não tinha a ver com seus objetivos. Vanessa gostava de se mostras distante e madura. Ela sempre queria se parecer mais com seu pai. Mas Ada a conhecia melhor que ninguém, sabia que ela era muito gentil e protetora, mas nunca deixava isso escapar. Sentia sua falta. Era tão sabia, poderia ajudá-lo e seus amigos a encontrarem seus caminhos. Queria comprar aquelas flores para ela, todavia quando chegasse a seu túmulo já estariam murchas. Sua casa estava a dias de viagem e não podia retornar, ou melhor, não queria. Como sentia falta da irmã, sentiu um aperto no coração, se fechasse os olhos podia ver toda a cena como um filme em sua mente. Suas últimas palavras foram encravadas em sua alma tal qual em um livro que ela tivesse escrito em suas páginas.
Repentinamente sentiu uma mão em seu ombro o que o assustou, estava muito distraído olhando as flores e lembrando-se da irmã para reparar o que acontecia a sua volta. Ao se virar tomou foi surpreendido, não era ninguém que esperava, muito menos conhecia aquela pessoa. Uma garota de cabelos pretos usando uma jaqueta marrom segurou seu braço e o prendeu com uma algema
-Adael Solomon você está preso sobre minha custódia como caçadora de recompensas. Não resista, eu tenho poder delegado pelo governo de Constela. Torne isso mais fácil e venha comigo para...
Antes que pudesse prender o outro braço ou terminar o que estava dizendo ele saiu em disparada no meio da multidão. Não podia lutar com ela ali, ia acabar ferindo algum inocente. Devido ao acúmulo de pessoas, ninguém notou o que estava acontecendo. Enquanto correu olhava para trás e viu a garota o seguindo, ela sacou um revólver e o apontou em sua direção, contudo não disparou. Ada precisava atrai-la para um lugar onde não fosse prejudicado. Correu por entre as tendas e barracas com lojistas gritando os preços de seus produtos e tendo discussões acaloradas com clientes. Precisava sair do meio da multidão, aquilo estava atrapalhando sua fuga. Correu para um beco e ela o seguiu, não havia saída.
-Não há para onde correr senhor Solomon, desista! Você deve ser julgado pelos seus crimes. Teve coragem suficiente para cometê-los tenha também para enfrentar as consequências.
Ada nem se deu ao trabalho de responder. Correu em direção à parede no fim do beco. Ela apontou a arma e fez um disparo, mas não o acertou. Ada pode ouvir a bala passando perto de seu ouvido cortando o ar e acertando a parede. Engoliu seco pensando que tinha sido por pouco. Ao chegar ao fim do beco usou seus poderes para criar uma entrada pela parede. Deu de encontro cozinha de uma casa, uma mulher preparava o almoço e se assustou com a cena.
-Mil perdões senhora. Prometo que depois eu conserto a parede.
Pulou por cima da mesa e correu pela casa procurando uma saída, mas acabou indo pro lado errado, o desespero estava acumulando, suava frio e tremia de ansiedade. Pode ouvir vozes que vinham da cozinha.
-Onde ele está? Se escondeu aqui? Tem mais alguém na casa com você? Vamos responda!
-Ele correu lá para dentro eu estou sozinha. Por favor, não me machuque.
Mais barulhos de disparos, um dos projéteis atravessou as paredes e chegou até o corredor acertando um vaso com uma samambaia que estava na prateleira a sua frente. Não podia hesitar ou ia morrer. Continuou correndo e encontrou a saída. Deu para uma rua que conhecia bem, não longe dali há um terreno baldio onde podia resolver a peleja. Correu o mais rápido na direção do destino, logo atrás vinha a algoz. Sentia o estomago ferver em ansiedade, não conseguia raciocinar direito. Ela não parava de atirar e assim que esvaziava o tambor recarregava e prosseguia. Nunca foi tão grato por alguém tem uma péssima mira.
Chegando perto do terreno ela conseguiu o acertar. Um projetil varou seu ombro causando grande dor. Rangeu os dentes e contraiu todos os músculos do corpo, como levar um tiro doía, mas não parou precisava chegar ao terreno baldio. Quando chegou se esforçou para pular a cerca de madeira que arrodeia o lote. A dor do ombro o atrapalhou. Caiu do outro lado de maneira atrapalhada e nem se deu ao trabalho de tentar levantar. Esborrachou-se no chão e foi onde ficou. Ouviu ela se aproximar. Fez um esforço para ficar de joelhos para poder ter uma resposta melhor em combate. Sangue escorria pelo ombro e suor pela testa. O estomago estava embrulhado em ansiedade. Fazia tempo que não sentia real medo de morrer ou das consequências daquele combate. Não teve tempo para focar naqueles sentimentos a garota pulou pela cerca e andou até ficar a alguns metros a sua frente.
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