Ada tinha sumido de forma repentina, ficou curiosa para saber onde o pivete se enfiou. Quando foi procurá-lo na feira, logo soube que ele iria precisar de ajuda. A garota da barraca de flores disse o que aconteceu, explicou como ele foi abordado, que ele estava em perigo por estar sendo perseguido. Seguiu seu cheiro, mesmo com toda aquela gente, mesmo com tantos aromas e odores no ar devido ao evento seu olfato não a enganaria. Já tinha passado tanto tempo tendo que aguentá-lo era fácil distinguir a fragrância. Ao encontrar os dois viu toda a cena por um espaço onde faltavam algumas tabuas da cerca. Foi impressionante de assistir. A determinação de Ada não parava de surpreendê-la, era segunda vez que podia presenciar como era teimoso e apegado a seus princípios, mas ele estava ferido demais para prosseguir, chegou a hora de intervir.
Assim que o pivete caiu no chão passou pela fresta da cerca. A caçadora de recompensas estava parecia confusa com tudo que havia acontecido. Ela reparou em Ingrid se aproximando e correu para reaver o chicote que tinha voado para longe. A garota pegou o chicote e se preparou para enfrentar Ingrid.
-Eu deixaria o chicote no chão se fosse você. Ele não queria te machucar e eu vou respeitar isso. Contudo, não sou tão benevolente, só vou me esforçar pra te manter viva e inteira. Desista agora! Não posso deixar você seguir com isso, ele é importante para alguém que amo.
-Ele é um criminoso procurado em Constela. Eu vou levá-lo a justiça! Você não tem nada com isso, se afaste e não vou feri-la.
Uma pequena satisfação tomou conta de si, o que a impediu de não abrir um pequeno sorriso no canto de sua boca. Sentia-se muito frustrada desde a batalha com Bruce e a partida de Carla, estava precisando extravasar e tinha achado a oportunidade perfeita.
Adael não era nenhuma das coisas que a caçadora de recompensa dizia. Ele ter se contido para não a atacar era prova suficiente disso. Mesmo sabendo que ele não aprovou como Ingrid agiu com Bruce ele nunca a isolou ou maltratou, sempre foi gentil e tentava melhorar seu humor o tempo todo. Não tinha qualquer intenção de um abutre qualquer o levar. Andou até ficar ente Ada e a caçadora. O pivete estava bem ferido, precisava acabar com aquilo de maneira rápida e o levar para o velho Martinez.
Estava se enfurecendo com a caçadora. Sempre achou caçadores de recompensas um tipo bem escoria. Os vendo como “abutres da justiça”. Bem diferentes dos aventureiros, que também eram uma espécie de mercenários, mas que fazia trabalhos variados, até mesmo ajudando as pessoas muitas vezes. Caçadores de recompensas são egoístas só pensam em ter um corpo para trocar por pagamentos. Assassinos delegados pela Armada. Covardes com poder. Resolveu intimidá-la
-Meu bem, eu abaixaria essa linha de pesca com anzol que você pensa que é um chicote antes que acabe se arranhando. –Disse em tom cínico zombando da garota. -Você é a única pessoa que vai conseguir se ferir com isso.
A caçadora não deu ouvidos. Balançou o chicote lançando a ponta na direção de Ingrid, depois deu um tranco puxando a corda. Assim mudou a trajetória do chicote fazendo com que se enrolasse assim que acertar um alvo. Por sua vez Ingrid esticou o braço de encontro ao chicote fazendo com que fosse laçado. O braço foi atado, mas o anzol foi ineficaz em penetrar pela carne. Ela não podia usar as explosões contra a caçadora, afinal, poderia acabar a matando, Ada tinha se esforçado bastante para evitar feri-la. Então, resolveu usar a maldição que seu pai lhe concedeu por sangue. Antes que a abutre pudesse reagir segurou firme o chicote e o puxou o mais forte que pode. A caçadora veio com tudo em sua direção. Sua força sobrenatural não deu a ela oportunidade de tentar se prender ao solo. Enquanto ela ainda estava em pleno ar Ingrid a agarrou pelos cabelos e a puxou para baixo acertando-a com o joelho na barriga.
A caçadora caiu de joelhos no chão. Perdeu o folego e colocou tudo que tinha comido nos últimos dois dias para fora instantaneamente. Logo, começou a se desesperar tentando respirar sem se afogar no próprio vomito. Ingrid a agarrou pelos cabelos e a levantou até que pudesse olhá-la nos olhos.
-Teria sido mais fácil se você tivesse apagado logo no primeiro golpe. –Manteve-se cínica por dentro se divertia muito em poder descontar as frustrações em alguém que tinha motivos. –Já passamos do ponto onde você podia simplesmente desistir e ir embora. Já que você resolveu ficar acordada vou ter que insistir.
A abutre buscou cobrir o rosto com os braços. Todavia, não queria acertar o rosto dela, assim, facilitando o trabalho de Ingrid. Arremessou-a contra o chão a garota nem teve tempo de reação. Enquanto ela tentou se levantar pisou-lhe nas costas de uma só vez. Ela expeliu todo ar que havia em seus pulmões de uma vez, ficou desesperada tentando voltar a respirar. Ingrid aproveitou a oportunidade e pisou no pescoço para que não recuperasse o ar e assim perdesse a consciência.
-Eu não sou boa nesse negócio de manter meus alvos vivos. Geralmente eu mato meus inimigos, são corrompidos e podres mesmo! Porém, como o pivete claramente tentou não te machucar e só evitar seus ataques, enquanto você, como uma covarde, ficou atacando-o sem deixar que se explicasse. Me coloca em uma posição onde eu estou aqui, me esforçando em te manter viva, então, faça-me o favor e apagar de uma vez.
Quando a caçadora perdeu a consciência pegou os dois e os carregou até o escritório do velho médico para ajudá-los.
-------------------------------------------------------------------------
Ficou sentada ao lado de Adael até que ele recobrou a consciência. Comprou flores que a atendente disse que ele havia gostado e as deixou em um pequeno vaso ao lado da maca. Ficou em silencio encarando o copo em sua mão. Estava tomando uma dose de alguma bebida quente que Dr. Martinez havia servido. O velho estava na sala ao lado tratando a caçadora. Bruce havia passado pelo consultório mais cedo, mas após checar que Ada não corria risco e que ela já o fazia companhia os deixou a sós. Disse que tinha algum compromisso com o prefeito.
Ada acordou olhou para as flores e abriu um pequeno sorriso, depois se virou e a viu ao seu lado e ficou surpreso até mesmo assustado recuando na cama. Ficaria irritada, mas como logo em seguida ele gemeu de dor devido aos ferimentos riu de como ele era idiota.
-Finalmente você acordou pivete! Já está tudo resolvido com a caçadora de recompensas. Assim que você se recuperar ela vai te jogar na cadeia, que é onde um sociopatinha feito você merece estar. –Manteve a expressão mais seria possível e falou com tom autoritário.
-O que? Não, eu não fiz nada... –Ele ficou extremamente assustado e começou a gaguejar sem saber o que dizer.
-Matou sua própria irmã. Você é escoria da escoria Adael. Vai passar o resto de sua vida dentro de uma jaula de concreto sem ver a luz do sol de novo.
-Não foi isso que aconteceu. Foi minha culpa, mas eu nunca a machucaria.
Ele tinha ficado desesperado. Os olhos estavam escancarados com as pupilas pequenas, ficou completamente pálido e estava suado frio. Não conseguiu mais se segurar e riu dele até a barriga doer. A cara de desespero foi substituída por um tom sério e irritado. Nitidamente frustrado por ter sido enganado.
-Muito engraçado Ingrid, muito engraçado. Tu é muito babaca.
-Eu sei que você não matou sua irmã pivete. Você não consegue fazer mal pra nada nem pra ninguém. Quem dirá matar sua irmã. Sinto muito por ter alguém fazendo você passar por toda essa situação como se fosse sua culpa. Não é fácil perder alguém importante.
-Meio que foi minha culpa. Eu acabei criando a situação que fez ela morrer, mas eu não tinha intenção. Só que foi o único jeito.
-O que quer dizer? O que foi que aconteceu?
-De maneira resumida. Um corrompido invadiu nossa casa. Eu hesitei na hora e ela me protegeu, mas isso veio com um custo. Ela acabou sendo contaminada e lidamos com a situação da única forma que podíamos na hora. Tirando a vida dela antes que o processo a fizesse deixar de ser ela.
-Deve ter sido difícil. Entendo o motivo de você se culpar. É comum na ordem alguém hesitar e outro se ferir por isso. Muitos abandonam o manto quando isso acontece, sentem que não estão aptos pra servir. Como lidou com isso?
-Eu vaguei por aí procurando o melhor amigo dela pra matar ele.
-Vai se foder pirralho.
-Não é tão engraçado quando é com os outros né? Eu fugi. A situação não era melhor, todos onde morávamos acreditaram que eu enlouqueci em uma noite matei ela e incendei a casa. Colocaram uma recompensa por mim e eu tentei por um tempo não chamar atenção. Só que desde que comecei a ajudar essa vila isso não foi mais uma opção.
-Você lidou bem com o que aconteceu. Pelo menos da melhor forma que pode. Deveria se orgulhar de si mesmo e não ficar se culpando. Você foi o dobro da pessoa que eu fui quando perdi meu irmão.
-Quando você não tá tomada por sede de sangue e raciocina. Você até que é legal Ingrid. Obrigado por me proteger. Foi bem legal da sua parte.
-Valeu garoto. Eu tomei muitas atitudes erradas, tenho que me esforçar muito pra me tornar alguém decente. Eu conversei com a caçadora. Acho que ela vai ouvir o que você tem a dizer dessa vez.
-Você não a matou?
-Não! Eu me esforcei pra isso, ok? Ela tá bem, na verdade ela vai ficar bem, Dr. Martinez disse que eu posso ter fraturado algumas costelas dela. Eu vi que você tentou resolver aquela situação sem machucá-la, mas nem tudo se resolve de maneira pacífica. Mesmo assim, fiz o meu melhor pra não machucar... muito.
-Eu tava procurando um jeito de me aproximar de você. Fazer você sentir que não te julgava pelo que tinha feito e que é bem-vinda aqui. Que é podia contar comigo. Você fez isso antes de mim pelo jeito. Obrigado por respeitar minha escolha.
- Vai ser uma jornada meio longa, mas Carla está certa, vocês podem ser exatamente o que eu preciso pra me tornar quem eu quero. Se puder me ajudar Ada, eu prometo tentar não ser chata.
-Tá tudo bem, Carla me falou sobre teus perrengues. As coisas não foram faveis pra nenhum de nós. Agora pra frente, vamos buscar o melhor e ver no que vai dar. Fora isso é só esperança.
-Valeu garoto. Até que você é legal.
Comments (0)
See all