Depois do que passou em trindade e abandonar o manto da Ordem vagou por cidades da região realizando trabalhos mercenários. Sempre havia um grupo de bandidos que precisavam se levados a justiça, uma criatura que deveria desaparecer, uma caravana para escoltar ou algo para ser entregue. Sentia que havia se reconectado com uma parte do trabalho da qual sentia falta, ajudar os outros. Cada trabalho trazia novas pessoas cada qual com suas histórias, Carla adora saber mais e dar uma mão, ainda assim sentia que algo estava faltando. A satisfação de ajudar não preenchia um vazio que se abriu em seu peito da última que esteve com Ingrid, sentimentos que a deixavam confusa e insegura dali para frente. Muitas vezes se pegava questionando seu destino, sem saber qual o próximo passo de sua jornada, e se tinha feito a escolha certa.
Estava a caminho de uma nova cidade, sempre com esperança de que com um novo destino em sua jornada viriam novas respostas e perguntas que poderiam ajudar a se encontrar. Sempre ia a pé gostava de andar e conhecer os caminhos e trilhas que conectavam a região, assim podia acampar e observar as estrelas, pegar trilhas diferentes e inexploradas, para no meio do caminho e comtemplar o que tinha a sua volta. Todavia sempre pensava na cama confortável e no banho quente que poderia tomar assim que chegasse à próxima vila ou cidade, acima de tudo pensava na comida, não era uma exímia cozinheira, e poder comer algo que não tinha sempre o mesmo gosto sem graça era do que mais sentia falta na estrada.
Enquanto a luz do sol se apagava em suas costas podia ver as luzes da próxima parada se acenderem. Uma cidadezinha estava logo ali no horizonte, se apressasse o passo poderia chegar com o fim do crepúsculo e dormir confortavelmente pela noite. Não muito longe da cidade, foi abordado por companhia inesperado. Um grupo de homens vestindo retalhos e mal-encarados se esgueiravam na beira da estrada, estavam esperando para roubar viajantes. Carla não recebeu tratamento diferente, faziam elogios intimidadores e ameaças em tom passivo, portavam armas improvisadas, que para alguém que viajasse sozinho e não soubesse se cuidar representavam uma ameaça. Infelizmente para eles, Carla podia estar sozinha, mas sabia se cuidar muito bem.
Estavam em sete e começaram a cercá-la e tentar intimidar. As ameaças e o comportamento rude se tornaram mais direto. As vezes um grupo de hienas tenta atacar uma leoa.
- Ei princesa! Uma coisinha bonita como você não deveria ficar andando sozinha em estradas perigosas. – Disse um deles sorrindo de maneira pervertida enquanto sacou um canivete.
- Seria uma pena estragar um rosto bonito desses meu amor! – Falou outro enquanto mandava beijos e dava risada.
- Você podia fazer um favor pra todo mundo e abrir essas penar gostosas, assim geral sai ganhando.
-Uhul! Escuta o que ele disse gostosa, depois que eu terminar com você vai se apaixonar. – Falou outro que segurava um cano e o usava para imitar como se estivesse se masturbando.
Ter que ouvir e ver aquilo era tão vergonhoso e enfurecedor que ficou enjoada. Certamente não era a primeira a escutar tudo isso, quantos viajantes assediaram e machucaram? Fazendeiros deveriam passar por ali com suas esposas e filhos e filhas, torcia para que nunca tivessem tocado em uma garota, só essas ideias já a traziam desgosto e raiva suficiente para não deixar aquilo passar ileso. Enquanto a cercavam balançavam os canos e pedaços de paus, brincavam com as facas e canivetes como atacá-la a qualquer momento, um deles até mesmo portava um revólver que maneja de maneira inconsequente. Largou a mochila e a lança no chão estava prepara para ação, contudo não podia lutar com tudo, se exagerasse acabaria matando o grupo de bandidos.
Aproximaram-se fechando ainda mais o círculo a sua volta, avançavam, mas não chegavam a atacar, ainda estavam tentando intimidar e conseguir alguma coisa sem ter que tomar uma atitude real. Ela não recuou, ficou firme enquanto os olhava com desprezo, como havia largado a lança de Santa Lília seus movimentos podiam ser livres e assim assegurou que não a usaria contra os valores da esperança.
-Eu não tenho tanto tempo assim pra perder com vocês, se vão fazer algo façam de uma vez, é melhor que desistem e voltem para o buraco de onde saíram.
O bandido que carregava o cano de metal ficou irritado com o que ela disse e partiu para o ataque, ele levantou o cano pesado com as duas mãos e tentou acertar com um golpe horizontal mirando contra a cabeça da moça, porém o movimento foi lento e ela simplesmente saiu do caminho. O homem gordo e estabanado passou reto, perdeu o equilíbrio e esbarrou contra um de seus comparsas, em seguida foi empurrado pelo mesmo e levou um esporro.
-Caralho Roberto! Toda vez a mesma merda, seu puto! Fica bebendo e não faz nada direito. –Empurrou o gordo mais uma vez. – Agora que resolveu ir pra cima sozinho, vai lá! Faz alguma coisa porra!
O homem gordo ficou reprimido e ainda mais irritado, mais uma vez ele partiu com o cano em mãos para atacar, porém dessa vem um dos rapazes com canivete aproveitou a oportunidade e tentou apunhalar Carla pelas costas. Ela percebeu no mesmo instante a movimentação suspeita, eram muito desleixados e incompetentes. Resolveu que usar sua herança seria a melhor forma de conduzir a dança e não os matar. Quando o homem gordo correu em sua direção usou seus poderes para gerar uma força de atração entre o cano e o rosto do rapaz com a faca, só precisou sair do caminho mais uma vez e pronto à cena se formou de maneira natural. Quando o homem gordo desceu com o cano em direção ao rosto de Carla e ela deu um passo para o lado, a força mexeu com a trajetória e equilíbrio do oponente bêbado, que havia depositado muita força no golpe. O cano foi de encontro com o nariz do comparsa que foi pego desavisado, o metal grosso acertou precisamente e o estalo dos ossos se espatifando soou como música e em seguida o grito esganiçado do homem.
-Aaahhh! Seu porco desgraçado! – Sua voz saiu extremamente anormal mal dava para entender o que disse devido à quantidade de sangue na boca e o som extremamente nasal pelo nariz que agora era um só com resto da face, logo em seguida tossiu cuspindo sangue e dentes no chão. -Minha cara, você quebrou minha.
O homem gordo ficou sem reação assustado pelo que aconteceu, ele largou o cano no chão e começou a se desculpar com o amigo que não estava interessado no que ele falava. Assim que o cano acertou o chão e deu a primeira quicada, Carla se aproveitou para criar mais um campo de atração ligando à barra de metal a virilha do homem que disse para abrir as pernas. O cano pegou mais velocidade do que ela esperava e o impacto foi certeiro. O homem largou o revólver no chão e foi com as mãos em direção a genitália enquanto dobrava os joelhos os cruzando em dor, caiu ajoelhado e de testa no chão, gemendo de maneira abafada e sofrida. Ela usou sua herança para mantê-lo naquela posição e o tirar de combate.
O homem gordo ainda sem reação vendo seu amigo cuspir sangue e respirar pela boca tentando não se afogar entre grunhidos. Se aproveitando de sua falta de equilíbrio ela pegou o homem pelo braço e passou uma rasteira usando o peso dele para derrubá-lo. O homem cedeu com facilidade e caiu acertando as costas no chão de maneira tão brusca que expeliu todo ar em seus pulmões e ficou sem conseguir respirar, as respiradas fundas tentando recuperar o ar o fizeram soar como o porco que seu amigo dizia que era.
Os quatro que sobraram levantaram a guarda assustados, mas não se aproximaram. Claramente estavam com medo da moça que antes tentavam intimidar. Quando se deu conta pode ver uma única luz de farolete vindo em direção a eles e barulho de motor. Alguém se aproximava, As máquinas chamavam muita atenção nas estradas e atraem atenção de possíveis ameaças, não são muitos aqueles dispostos a correr esses riscos. Como não sabia se seria um aliado ou inimigo precisava se apressar e acabar com aquilo. Um dos homens largou o pedaço de pau que carregava e correu na direção pedindo por ajuda. Não se deixou distrair, lidaria com aquilo quando chegasse, agora deveria manter sua cabeça no que estava em sua frente.
Um dos bandidos começou a falar, em suas mãos segurava uma faca de açougueiro, tinha tamanho considerável, a lâmina começou a ficar vermelha e incandescente como se tivesse sido esquentada.
-Então você tem uma herança, e daí? Grandes merdas! Eu também tenho, eu posso esquentar metal, quando eu te furar você vai queimar por dentro e desejar nunca ter me encontrado.
Assim que terminou de falar correu em investida com a faca apontada em direção ao abdômen de Carla. Os outros dois se aproveitaram para tentar agarra-la e garantir que o amigo tivesse sucesso, ela não os impediu, deixou que o com faca chegasse bem perto, mas antes que a acertasse agarrou-o pelo pulso e usou a faca para queimar a cara de um dos que tentava imobiliza-la que a soltou imediatamente. Em seguida o chutou na lateral do joelho com o calcanhar, caiu no chão quase chorando pelo joelho que talvez tivesse se quebrado, largou a faca e já não conseguia mais agir devido à dor, estava desabilitado. O que teve o rosto queimado foi com as mãos em direção ao rosto buscando aliviar a dor de alguma forma. O que sobrou agarrou Carla por trás agarrando os braços da moça para imobilizá-los. Carla deu três cabeçadas para trás acertando o nariz do homem, ele ficou tonto e acabou soltando um pouco os braços, ela se aproveitou da oportunidade e agarrou os braços dele. A moça tirou os dois pés do chão e os acertou no peito do que tinha o rosto queimado, ele jogado em uma direção e ela usou do impulso para derrubar o que a segurava. O rapaz amorteceu sua queda e a soltou assim que caiu, também tinha perdido o ar te lutava para recuperá-lo assim como o gordo, ela por sua vez rolou por cima dele indo para longe. Usou do rolamento para ir em direção ao revólver que havia sido derrubado. Carla pegou a arma e se levantou apontando para o grupo de homens que mal conseguia se manter em pé e a olhava com medo. Não era boa com armas, mas eles não sabiam disso, se tivesse a atitude correta tudo aquilo acabaria ali.
-Apanharam o suficiente? Querem que eu abra um buraco em cada um de vocês? – Interrogou tentando parecer fria e cruel enquanto puxava o cão. - Quero ver as mãos para o alto e vocês quietos. O primeiro que abrir a maldita boca pra falar alguma merda pra mim não vai ver o sol nascer amanhã.
-Esse revólver não tem balas o suficiente pra todos nós. Vamos rapazes se atacarmos todos de uma vez...
Antes que ele terminasse a frase Carla arremessou a arma em direção a face do bandido que teve o nariz e dentes quebrados assim como seu amigo, ele cobriu o rosto e começou a gemer de dor. Ela respirou profundamente, definitivamente não sabia intimidar ninguém, pelo menos sabia lutar, agora tinha que entregar todos eles para a armada, contudo ainda sobrava um problema. Quando voltou sua atenção para a máquina viu que se tratava de uma motocicleta e o bandido que fugiu buscando ajuda estava sendo arrastado pela perna enrolado em uma corrente.
O piloto vestia luvas, botas, jaqueta, mas o que chamava a atenção de Carla era o capacete extremamente peculiar. O capacete estava mais para uma máscara, todo feito em metal cinza escuro e fosco, tinha forma estilizada como se fosse a face de um monstro, e feito de maneira como se destacasse que fosse uma máquina, havia engrenagens girando, enormes chifres que se uniam a cabeça com porcas, uma bocarra semiaberta com dentes pontiagudos e afiados. Uma voz veio de dentro da máscara, mas era diferente do que esperava era gentil e amistosa.
-Eu até ofereceria ajuda, mas acho que já conseguiu lidar com tudo aqui. –Não podia ver expressão da pessoa, contudo sua voz a trouxe calma e segurança. –Você precisa de alguma coisa? Não está ferida?
-Não, eles não me machucaram, só ofenderam um pouco. –Mesmo que foi surpreendida, não abaixou sua guarda, gentileza nem sempre significava que era um aliado. –Trouxe isso pra mim? –Disse apontando para o rapaz que era arrastado pela corrente.
-Ele disse que você estava atacando eles, e que precisavam de ajuda. Um grupo de homens armados sendo atacados por uma única pessoa no meio da estrada parecia algo estranho, então resolvi averiguar melhor o que acontecia.
-Obrigado por não se apressar em decidir quem estava certo ou errado, eu não gostaria de ter que machucar mais alguém. – Não conseguiu segurar uma pequena risada enquanto dizia aquelas palavras, não sabia intimidar, muito menos queria ser intimidadora.
-Esse mundo é muito confuso pra decidir quem está certo e errado de maneira precipitada. Quer uma carona até a cidade?
-Acho que sua moto não vai conseguir carregar todos eles então têm que recusar, alguém precisa levá-los até a Armada. –Carla se mantinha desconfiada, mesmo por trás de todo mistério ele parecia com alguém amigável, contudo, ainda não estava totalmente segura disso. –Eu vou levá-los para que a justiça seja feita, não saio simplesmente agredindo pessoas sem motivo por ai.
-Então você trabalha pra Armada, está certa justiça precisa ser levada aqueles que merecem. Vou deixá-la com seus prisioneiros, tenha uma boa noite.
Com a despedida ele deu partida no motor, desatou o homem das correntes e com um gesto de despedida partiu em direção à cidade. Carla por sua vez organizou para levar o grupo de bandidos para a Armada, certamente haveria um distrito da ramada na cidade, onde receberia uma recompensa pelo grupo. Foi um porco trabalhoso levar todos, mas com a ajuda de uma corda e com o medo de levarem uma surra mais uma vez facilmente se renderam e a seguiram. Ao entregá-los recebeu uma pequena recompensa que seria suficiente para pagar sua janta, uma diária e suprimentos para prosseguir sua jornada.
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