Alguns dias se passaram, Ada já havia se recuperado e resolveu que deveria passar mais tempo agora com seus colegas de trabalho para entender melhor que tinha se enfiado. Ainda não havia se acostumado com a maneira que Ada a tratava. Mesmo que tivesse o ajudado com a caçadora de recompensas, sentia que deveria existir algum rancor por ela ter atacado ele e Bruce. Contudo o pivete nunca demonstrava qualquer tipo de antipatia, sempre era muito gentil e atencioso, não estava acostumada a ser tratada assim por ninguém além de Thomas e Carla. Sua família sempre a antagonizou e guardava rancor por coisas insignificantes comparado ao que tinha feito ali, Ada no entanto se esforçava para tentar ser seu amigo mesmo depois de tudo.
Em um dos dias que estava fazendo companhia a ele o ficou observando enquanto ele praticava exercícios e treinava para se recuperar dos ferimentos. Ela não havia se preparado para ficar tempo na vila, teria trazido livros para se entreter, sempre gostou de ler, era uma boa maneira de tirar a mente daquela realidade cruel. Trindade tinha apenas uma livraria e o acervo de livros não era muito rico, então acompanhava Ada ou Bruce em suas rotinas.
O garoto se recuperou extremamente rápido, pelo que ela sabia fora a herança Ada era normal, mas seus ferimentos se curaram de maneira sobre humana. Não sabia se deveria tocar no assunto ou não, sua herança de linhagem a fazia se recuperar extremamente rápido, e costuma irritar aqueles mais frágil que ela.
- Ou! - Tentou chamar a atenção dele, mas estava bem concentrado em seu treino. - Ada - Tentou falar alto, só que acabou saindo baixinho, ficou com vergonha e isso comeu o volume de sua voz.
Ada treinava uma Arte marcial que nunca tinha visto. Nenhum dos movimentos parecia ser ofensivo, todos seus movimentos eram esquivas e posturas de defesa, ele não dava um soco, nem um chute. Ela estava achando entediante.
- Ou caralho! - Saiu bem mais alto do que esperava, quis se enterrar e desaparecer. Ada se assustou, estava muito concentrado e foi pego desprevenido, nem deveria se lembrar que ela estava ali. -Ada vem cá, quero te perguntar um negócio!
Ele se aproximou, parecia nervoso, sempre era gentil, mas sabia que ela o intimidava. O grito o deixou preocupado.
-Ada a sua herança, ela não é uma herança com propriedades de aprimoramento corporal né?
-Nop. Eu não sei bem que tipo de herança é, não é uma herança elemental disso eu sei. Mas não, não da nenhum tipo de aprimoramento corporal. Por quê?
- É que você se recuperou de um jeito meio absurdo pra quem tem um corpo normal. Aí sei lá, fiquei curiosa. Já que vou trabalhar com vocês é bom saber sobre do que são capazes.
- Eu me recupero rápido por causa do meu treinamento. Eu consigo acelerar minha recuperação, mas é tipo super exaustivo. Por isso to comendo e dormindo tanto.
- Treinamento? – Fez uma cara de deboche – Tá falando da tua dancinha que você anda praticando? – Disse com ironia segurando a risada.
- Não é uma dancinha! – Disse irritado. Logo em seguida fez uma pausa pensativo. - É uma dancinha né? Hehehe – Expressou frustrado, mas começou a rir da situação. - É uma dancinha. - Ingrid começou a rir junto. – Okay, okay. Em minha defesa a dancinha é um estilo de arte marcial que meu pai criou.
- Tá... – Já tinha ouvido falar sobre artes marciais que permitiam você superar seus limites físicos. Se Solomon desenvolveu uma arte marcial deveria ser algo do tipo, estava interessada em saber mais. - Mas você não treina socos, nem chutes? Isso não é meio que uma parte importante de um estilo de luta?
- O estilo tem formas, três formas básicas pra ser mais exato. Uma dessas formas básicas e totalmente ofensiva, mas eu não treino mais ela. Meu pai desenvolveu o estilo de luta pra lidar com as coisas que ele enfrenta como cruzado. Então a forma ofensiva sempre ataca para desabilitar pra inimigo, ou seja, os golpes são todos letais.
A confirmação de que precisava sobre o pai de Ada, eles não tinham nada em comum, o garoto não lembrava em nada aquele maníaco - Você sabe que em algum momento vai ter que lutar para atacar também. Principalmente se quer fazer parte de um guilda, nem tudo é só sobre se defender. – Existem limites para gentileza, a ingenuidade de Ada podia ser perigosa e autodestrutiva.
-Eu sei, mas eu não quero matar ninguém. – Ficou quieto e com olhar perdido. - Uma coisa são bestas e monstros, agora pessoas. Eu não quero ter que fazer isso. Então estou treinando as duas formas defensivas, assim posso derrotar meus inimigos sem matar.
- Nem sempre você vai ter esse privilégio de não ferir outros. Seguir esse caminha do guilda que o Bruce quer pode te levar a fazer escolhas das quais não vai se orgulhar. – Não sabia o que dizer, mas sentia que precisava dar uma dose de realidade a Ada. – Pense no que teria acontecido eu não tivesse parado, se eu machucasse a Carla e se eu matasse o Bruce?
-Eu faria tudo que pudesse pra proteger eles, não importa o preço. Eu iria te parar, mas não te mataria. Eu sei lutar a forma ofensiva. Mas a questão não é essa. Não matar não é um privilégio é um fardo. Um fardo que estou disposto a carregar. Meu treino não é só algo físico treinar a forma defensiva também é algo mental. Treino esse estilo de luta pelo jeito que eu penso. Estou treinando pra proteger as pessoas do mal, não para me tornar uma arma contra ele.
- Se é assim que você quer viver eu respeito isso e vou me esforçar pra ser a espada e você não deixar de ser um escudo.
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