às vezes eu penso neste quarto.
coisas que eu não deveria pensar.
será que existe uma jornada sem rumo?
sem partida, sem fim.
não pode ser.
tudo começa e termina.
ao menos era o que eu pensava antes.
antes de descobrir a chocante verdade ficcional que víamos em quadrinhos e filmes de vampiro.
eu não tenho fim.
imortalidade, talvez?
talvez minha jornada seja uma dessas.
dessas que nunca acabam.
deve existir muitas por ai.
mas acho que nem todos tem essa verdade.
talvez deus estavam entediado em criar o mundo.
e fez um rascunho que nunca foi acabado.
começando pela capa e o texto ainda desenvolvendo.
textos sem fim ou começo.
vidas.
histórias sem sentido?
a morte entrega o propósito da vida.
em ambos os quartos das pessoas.
em ambas de seus textos.
suas histórias.
será que deus lembra destas pessoas?
destes textos.
destas histórias.
de mim.
rezo pra ele todo dia.
minha mãe dizia que estaria tudo bem.
que era pra eu ter fé.
mas no fim.
acho que foi ela que perdeu a fé.
deus me ajuda.
deus me ajuda.
deus me ajuda.
eu suplico.
por que você não vêem me salvar?
você não quer o bem dos seus filhos.
tudo no seu tempo.
no tempo de deus.
acho que deus tá com preguiça.
preguiça de salvar um esquecido sem fim como eu.
talvez ele esteja cheio de trabalho.
papeladas do céu.
até porquê ele é literalmente o pai de todos.
todos os anjos.
todos os santos.
dono do paraíso.
e sou seu filho.
então por que?
por que não me trás esperança?
talvez você seja.
a esperança que eu quero.
a mamãe sempre falava isso.
mesmo que não houver mais esperanças.
deus está lá.
orando por ti.
por mim ela diz.
do que adianta eu estar em profunda situação de desespero e não ter nenhuma resposta.
e a única.
que eu tenho.
é a possibilidade de orar por uma.
por uma esperança.
por uma resposta.
só o fato dele existir.
já é uma esperança.
pra mamãe.
mas.
senão houver respostas.
como sei que ele está orando por mim?
por que não ajes, pai?
por que não faz nada?
você é onisciente.
todos dizem.
então.
papeladas não estão na sua mesa celestial.
você pode resolve-los todos de uma vez.
você não tem mais desculpas pra não me ajudar.
se bem que.
se eu morrer.
eu viraria um anjinho.
para deus.
nosso senhor.
não posso ir contra ele.
irá me castigar.
me mandando praquele lugar.
eu não posso morrer.
eu tenho que ver a mamãe.
deus, está me ouvindo?
me RESPONDE!
AGORA!
O QUE EU TENHO DE ERRADO?
A MAMÃE OU VOCÊ?
IRÁ ME CASTIGAR POR PREFERIR FICAR COM MINHA MAMÃE QUE COM CERTEZA VAI ME DAR ALGUMA RESPOSTA E ESPERANÇA.
E ME ABRAÇAR!?
às vezes eu penso.
você é um péssimo pai.
deus.
você é igual à ele.
nunca me ajudou.
nunca ligou pra mim.
esquecido.
sem fim.
e com rumo.
eu não quero mais ver você.
da mesma forma que não quero ver ele.
se irá me castigar.
que seja agora.
irei dar uma resposta.
uma esperança.
pela mamãe pelo menos.
irei fazer o que você não fez.
não sei ser um herói.
muito menos um pai.
eu tenho medo de morrer.
e se a mamãe morrer.
do que adianta?
viúva de pai.
órfão de mãe.
talvez deus me acolhe no céu.
sem a mamãe.
não vale à pena viver.
não viverei por deus.
ele está morto.
igual meu pai.
mas talvez ele conte.
o porquê de estar morto.
o único pai que eu chegarei.
encontrarei.
talvez.
talvez nem a morte.
me faça chegar ao meu pai.
eu odeio ele.
não me da resposta.
vamo lá.
salva a mamãe.
onde quer que ela esteja.
[...]
barulho de chuva.
lá fora.
parece que viajei pra muito longe.
mas.
na minha mente foi assim.
às vezes eu queria saber.
como tudo isso começou?
talvez eu não lembre.
mas o barulho da chuva.
me lembra de algo.
de algo distante.
talvez uma partida.
partida em um fliperama.
onde você.
paga algo para começar.
uma ficha.
distante.
mas.
ao mesmo tempo.
perto.
[...]
dentro de casa.
querendo esperança.
rezando pro pai.
mas ele está morto.
junto com nossa raça pintando de sangue.
o quadro em branco deles.
um demônio.
uma história de demônios.
que os heróis precisavam derrotar.
ai começou a chover.
era forte.
ela doía.
era cruel.
e uma gota fria e impiedosa.
acertou minha irmã.
o frio era forte.
ela também era.
mas até os mais fortes.
são frágeis.
tem medo.
e o frio dos nossos corações.
se tornou assim como a gota.
impiedosos.
eu pensei em chorar.
em produzir uma chuva tão fria quanto essa.
era a única coisa que me restava.
qualquer outro ato.
seria impossível.
não pensava em correr.
pois o frio me congelava.
não pensava em matar.
pois o frio congelava meus sentimentos mais quentes.
o frio.
era cruel.
foi ai.
que minha jornada não teria fim.
ela não tinha partida.
nem início.
pois o frio.
me congelou.
eu não pude salvar a mamãe.
o frio não deixava.
não tenho mais motivos pra viver.
mas sou eterno.
pois minha jornada não tem fim.
eles não me acharam.
quero ser acolhido.
pai.
mas você está morto.
como.
a mamãe.
e a nossa colina.
que antes era verde e ensolarada.
virou um grande inverno.
sem começo.
e sem fim.
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