No caminho para o apartamento o trânsito estava mais intenso e, por isso, ela demorou para chegar a seu destino. Talvez, por isso, Giulia esbarrou com Stevan na entrada do prédio. Ele estava acompanhado por uma mulher que parecia ter uns 20 anos, mas se tirassem a grossa camada de maquiagem, ela deveria envelhecer alguns bons anos (talvez décadas); cabelo tingido de vermelho curto e roupas curtas que o avô de Giulia mataria a neta se ela aparecesse vestindo-as. A mulher estava colada no professor e sua mão deslizava para a beirada da calça dele, mais especificamente para o meio das pernas dele.
-Aconteceu alguma coisa com a Lilian? - disse ele retirando a mão da mulher de sua trajetória.
O elevador chegou, dando tempo para a mais nova pensar em até que ponto contar.
-Ela se machucou, mas, como ela non escuta ninguém, segunda ela deve ir a aula. - disse após apertar o botão indicando o andar.
-Aluna sua? - disse a mulher sem realmente se importar.
-Felizmente non. - respondeu ela sem dar tempo para o homem falar - Estou na faculdade e só vim para o Brasil, para... resolver alguns assuntos inacabados.
-Sério?! Cê é de onde? - curiosidade ou interesse? Giulia não sabia dizer.
-Daqui. Mas meus pais são italianos, e desde o ano passado eu e meu irmão fomos morar com o nosso nonno.
O elevador parou e a porta se abriu, Giulia saiu sem olhar para trás ou mesmo pensar sobre os dois que ficaram.
Giulia encontrou a amiga na sala com alguns livros abertos, concentrada no que quer que estivesse lendo.
Seu primeiro impulso foi perturbá-la e mandar que a outra se deitasse para poder descansar, todavia, antes que pudesse abrir a boca para se expressar, compreensão a atingiu: sem família ou amigos, estudar era a única coisa que lhe restara, que lhe fora deixado como legado. Por isso a menina apenas suspirou e seguiu para a cozinha. Ela pegou um copo d’água e seguiu para onde a outra se encontrava.
-Scusa, mas seus remédios chegaram!
-Giulia?! - disse tirando os olhos do material, sem realmente soltá-los - Aonde você foi?
-Comprar os remédios… e chá. - ela se sentou ao lado da mais nova com o copo cheio d’água e a sacola com medicamentos - A propósito, io encontrei su professor. Talvez você queira faltar e evitar ele. Non sei dizer se ele é curioso ou realmente se preocupa…
-Acho que ele é apenas enxerido… - a menina tomou os remédios do jeito que entendera o que estava escrito na receita, depois olhou o cartão da farmácia com um número escrito a mão, que Giulia tomou de sua mão e o amassou - Acredite em mim quando digo que por mim, eu nunca mais olharia pra ele.
- Certo, mas descanse mais no final de semana. Dá pra ver na sua cara que está morrendo de dor.
-... - ela não queria, mas Lilian desejava menos ainda as falsas preocupações de terceiros. - okay… - disse meio a contra gosto.
-E vai me deixar te dar carona para a escola enquanto eu estiver aqui!
Dolorida demais para revidar, Lilian apenas disse:
-Pensei que não soubesse dirigir.
-Io?! Dirigir? Acordar cedo? Nah! É pra isso que o nonno paga seus homens. - disse com um sorriso. - Mas é sério. Você non pode fazer esforço, então deixe-me ajudar ao menos com isso.
-Obrigado, você é uma ótima amiga! - disse abraçando a mais velha.
-Por favor, repita isso para o nonno e o idiota do Lucca. - as duas riram um pouco, mas cada uma tomou seu rumo quando a mais velha recebeu uma ligação da Itália.
Giulia foi atender o telefonema na varanda, era o irmão que estava preocupado com a ex-namorada. A garota não o deixou falar com a amiga, mas lhe assegurou de que a menina estava melhor e que Rafael não iria mais incomodá-la. Depois de receber notícias animadoras, o jovem mafioso deu a má notícia: o avô de Giulia a queria de volta o mais rápido possível. Estando em sua posição, com um aperto no peito, a garota disse que compraria passagens para a próxima sexta-feira.
Ao encerrar a ligação, Giulia se virou para a sala e viu que a menina tinha voltado a estudar. Ela iria embora em menos de uma semana e já havia se livrado de uma grande pedra na vida de sua amada, mas agora faltava se certificar de que, mesmo em situações ruins, Lilian não estaria sozinha. Porém, antes disso, ela precisava contar sobre a ligação, dizer que precisava ir embora logo.
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