Não que ela se importasse com a opinião do síndico, mas por como ele reagiu a Giulia, o homem parecia ser preconceituoso ao extremo e tudo que Igor não precisava no momento eram pessoas como o síndico… por isso ela se apressou. Só evitou correr no caminho de volta, por medo da sacola arrebentar.
Simplesmente porque o elevador parecia estar demorando bastante para chegar ao térreo, a menina subiu de escadas até o seu andar. E, assim que saiu delas, a jovem pôde ouvir In The End vindo de seu apartamento, juntamente com uma voz levemente desafinada e familiar. Dadas as circunstâncias, ela não se importou, mas quando estava prestes a colocar a chave na fechadura, José brotou de algum lugar com a mão no ombro de Lilian com um sorriso amarelo no rosto.
-Desculpa atrapalhar, mas você pode pedir para sua namorada - ele parecia incomodado com a palavra - para abaixar o som? Alguns dos moradores estão incomodados com a barulheira.
Lilian olhou para o homem à sua frente sem o menor respeito, muito pelo contrário. Seus olhos o percorreu da cabeça aos pés julgando-o e ressaltando pontos para criticar. E, mesmo assim, ela se conteve ao dizer com uma voz vazia:
-Giulia foi embora.
-Oh, ela terminou com você? - alguma coisa dentro de Lilian disse para ela responder dando-lhe um soco no nariz. Felizmente, antes que pudesse fazer ou falar algo de que se arrependeria, ela percebeu o porquê: ele estava feliz com a notícia e não se esforçava para esconder o sentimento - Não se preocupe, Deus sabe o que faz. Ele vai mandar alguém mais… certo para você. - o sorriso dele era exatamente igual ao dos pastores e padres que pregavam que sua melhor amiga iria para o inferno se ela não se curasse.
Ela estava seriamente a ponto de estourar.
José já estava se virando para ir embora, quando voltou para Lilian, sorrindo, e pediu mais uma vez:
-Você pode desligar o som? Não faz bem ficar ouvindo esse tipo de música a essa hora e, por favor, não deixe nada ligado quando sair de casa. Pode causar problemas.
Sem saber se era pela atitude preconceituosa, por criticar a música que Igor havia colocado para ouvir e cantar seus temores para fora ou, simplesmente, por ter sido tratada feito uma criança retardada, Lilian sentiu o coração bater em ódio, fazendo a pressão em seus ouvidos crescerem e sua atenção focar ainda mais no ser a sua frente. Seus instintos gritavam para ela atacar - chega de esperar o ataque do inimigo como um João-Bobo!
Em verdade, ela até chegou a dar um passo em direção à criatura gorda e fétida de colônia, mas uma mão pousou no ombro dela, seguida pela voz que parecia persegui-la:
-Desculpa a demora. Vamos entrar?
-Stevan? Vai fazer suas festas na casa dela agora?
-É uma ocasião especial, hoje. A menos que isso te incomode?...
-Ah, não, se é assim, boas festas. - o síndico foi embora pelas escadas.
-Isso é muito injusto. - comentou virando para o professor.
-Isso é a vida adulta. - respondeu ele num dar de ombros. - Igor está aí?
-Como você sabe? - um milhão de teorias, uma mais absurda que a outra, passou na mente da mais nova.
-Ouvi algumas garotas falando sobre isso e queria ver se ele está bem. - a aluna o encarou medindo as palavras dele - Eu trouxe sorvete! - disse levantando o braço com a sacola do supermercado com dois potes de sorvetes.
-Entre. - na cabeça de Lilian era óbvio que assim que a escola descobrisse sobre a situação, à instituição iria tentar alguma coisa.
Se a escola tivesse ouvido falar sobre isso, havia grandes chances de Stevan se predispor a falar com Igor. E levando em consideração o tanto de despesas o aluno teria que lidar, eles fariam isso o mais rápido possível - se realmente se importassem com ele; senão, eles iriam procurá-lo na época de pagar a mensalidade. Por tanto ela já iria deixar o professor entrar, depois de torrar um tempo com ele do lado de fora, contudo se ela o fizesse o sorvete iria derreter e comida era sempre bem-vinda.
Igor estava na sala, fazendo a escumadeira de microfone. Assim que ele viu a dona da casa, ele apertou pause na música e se dirigiu a ela:
-Desculpa por usar o seu computador… - ele perdeu a linha de raciocínio assim que viu o professor de matemática logo atrás dela.
-Ele trouxe sorvete. - disse como explicação.
Stevan levantou a sacola com os dois potes de sobremesa, enquanto a aluna de dirigia a cozinha para pegar vasilhas e colheres, e guardar as compras da padaria.
-Tá, mas… como?
-Ouvi seus colegas comentando sobre você vir pra cá… - isso explicava metade das coisas - e moro no andar de cima.
-Ah. - Igor fingiu entender.
Cada um se serviu do sabor de sorvete que mais lhe agradava e Stevan conversou com ambos os seus alunos, assegurando-os de que os ajudaria no que fosse possível.
Depois de duas colheradas de sorvete, Lilian recebeu uma chamada de vídeo chat. Ela pensou em ignorar a chamada, mas ao ver quem ligava a moça involuntariamente olhou para os convidados que a incentivaram a atender.
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