Larissa acordou cedo, muito mais cedo do que precisava. O despertador ainda não havia tocado e ela decidiu não desativar. Vai que ela caía no sono de novo e perdia o horário. Depois de matar alguns minutos na cama ela decidiu levantar para começar o dia. Sua irmã Manuela tinha ido dormir na casa de um peguete e deveria estar voltando para casa em breve, ambas tinham aula pela manhã e nenhuma delas era de faltar.
Tomou seu tempo lavando o rosto e avaliou seu reflexo. A súcubo no espelho lhe retribuía uma cara de sono, com seus chifres surgindo em meio aos cabelos bagunçados e a cauda balançando lentamente atrás de si, sempre erguida. Tentou usar seu glamour para ocultá-los, mas estava mais difícil que o normal. Há quanto tempo não transava? Já devia ser quase dois meses. Não era de se surpreender que estava ficando sem energia. Talvez depois que tomasse um café bem forte e acordasse por completo ela conseguiria. Uma coisa de cada vez.
Ela estava terminando sua caneca de café com bastante açúcar quando Manuela entrou no pequeno apartamento jogando a bolsa num canto e passando para dar um beijo na bochecha da irmã.
- Po Lari, tu tá com uma cara péssima.
- Bom dia pra tu também - respondeu depois de dar um grande e último gole do café.
- Oh, foi mal, bom dia - disse Manuela sentando na mesa e servindo sua própria caneca. - Mas sério, tô preocupada, tu parece meio abatida esses dias. Qual foi a última vez que tu transou? Quer que eu arranje alguém pra ti?
- Eu to bem Manu, eu arranjo alguém essa semana, se preocupe não.
- Tua última foi com um cara né? Talvez com uma mina tu aproveite mais, ou talvez...
- Manu! Não é isso, eu já te disse, eu só...não gosto.
- É, mas uma súcubo que não gosta de sexo é preocupante! Se passar tempo demais sem transar isso pode começar a pesar na tua saúde.
Sempre assim. Apesar de serem gêmeas, Manuela tinha essa mania de irmã mais velha. E ela era dez minutos mais nova! Lari levantou da cadeira, fechou os olhos e se concentrou com todas as forças. Num breve instante os chifres e a cauda desapareceram completamente de vista, deixando apenas uma aparência indiscutivelmente humana.
-Viu? - disse Lari - Consigo usar glamour normalmente. Eu. Tô. Bem.
Ela não estava tão bem assim. Passou o dia sentindo aquela letargia tomar conta do seu corpo e mal conseguiu focar nas aulas da manhã. Ela não gostava de todo o trabalho que envolvia uma transa e achava o ato mais incômodo do que prazeroso, mas se não fizesse esse sacrifício de tempos em tempos acabava ficando muito fraca para seguir com sua rotina normalmente.
Depois do almoço ela teria cerca de duas horas até a próxima aula e decidiu se ocupar tirando fotos dos animais que passeavam pelo campus. Sua câmera era um modelo bem simples, mas dava pro gasto. Talvez quando fosse uma grande diretora de cinema ela poderia ter as melhores câmeras com as melhores lentes. Preocupações para a Lari do futuro. Achou um gatinho rajado passeando pelo pátio perto de uns bancos e começou a seguí-lo com o maior zoom que sua lente permitia.
- Sorria gatinho, agora você é um astro! - Murmurava para si mesma.
Já estava na décima fotografia quando o gato subiu num banco e deitou no colo de alguém. Lari subiu um pouco sua visão com a câmera para identificar a pessoa, era uma moça que folheava anotações num fichário com uma mão enquanto acariciava o gatinho com a outra. Ela tinha o cabelo raspado bem curtinho e os brincos de argola dourados contrastavam com sua pele, um pouquinho mais escura que a da própria Lari. Lari não a reconheceu, o que significava que ela deveria ser de outro curso ou transferida, visto que era muito boa em lembrar de rostos.
Algo sobre a novata misteriosa capturou sua atenção, e Lari só percebeu que tirou uma foto dela depois de ouvir o clique da câmera. Isso de tirar a foto de uma desconhecida sem permissão era mancada, pensou. Ela teria que apagar a foto, ou falaria com ela pessoalmente para pedir permissão. Mais tarde talvez. Ou amanhã. Com o cansaço acumulado, não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada da aula de Ética Profissional, e sua mente não ajudava, sempre voltando para a moça dos brincos de argola. Ao fim das aulas, acabou chegando em casa antes de sua irmã e não a esperou para a janta. Apenas tirou os tênis, derrubou a mochila no chão e foi de encontro à sua cama.
- Acorda mulher, já são quase oito! - Disse Manuela enquanto abria a cortina do quarto de Lari. - Eu vou saindo logo, mas hoje eu volto pra casa com o Yuri, então me liga se tu quiser carona lá pelas cinco.
Quando Lari finalmente abriu os olhos sua irmã já estava saindo do apartamento. Ela sabia que já ia perder a primeira aula, então nem se apressou no banho e no café da manhã. Estava tão distraída que só quando já estava vestida para sair lembrou da cauda e dos chifres. Humanos não sabiam a sorte que tinham. Ela convocou todas as suas energias para realizar sua mágica e ocultar sua forma verdadeira. Um minuto se passou, depois cinco, dez minutos. Perdeu a conta do tempo. Não importa o quanto ela tentasse, não conseguia assumir a aparência humana.
Estava presa em casa. Talvez pudesse esconder a cauda numa saia longa, mas não havia chapéu que ocultasse os longos chifres. Ela se sentia esgotada, devia ter aproveitado o tempo livre no dia anterior para procurar um candidato para recarregar suas energias.
Tirou a manhã para editar algumas das fotos que estavam na memória da câmera e deparou-se de novo com a imagem daquela moça misteriosa. Não conseguiu se convencer a apagar a foto, a expressão leve da modelo acidental agarrava o seu interesse de uma forma que não sabia descrever. Ela era bonita, claro, mas isso nunca tinha sido um critério tão importante para Lari.
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