Sábado era seu dia de descanso e Lari não tinha nenhuma intenção de sair de casa. Como Manuela tinha trazido Beatriz para passar o dia, ela decidiu ficar fechada no quarto o máximo que pudesse. Primeiro para dar privacidade para a irmã, segundo para usar o mínimo de glamour possível. Tentou tirar um pouco do atraso nos estudos, mas logo recebeu as primeiras mensagens de Lô.
As mensagens eram sempre acompanhadas de várias figurinhas e gifs, e Lari não pôde evitar pensar que isso correspondia bem ao entusiasmo que ela tinha na vida real. Ela mandou a foto de Lô, já editada com as devidas correções de cor e luz, acompanhada de mais algumas fotos de gato de brinde, e no segundo seguinte a foto de perfil no aplicativo de chat já havia mudado. A garota não tinha mentido sobre querer tanto usar aquela foto.
Quando percebeu, tinha passado a maior parte do dia conversando com Lô, enquanto esta tentava, com muito esforço, explicar a série que tinha começado a assistir recentemente. Alguma coisa sobre viagens no tempo, alguém que toma chifre do próprio pai e pessoas que não tomam banho. Ela desistiu de tentar entender depois de um tempo, mas deixou Lô falando sobre porque ela parecia se divertir em explicar. Eventualmente a conversa saiu das séries e Lô fez o convite:
“Tu tem planos pra sexta que vem? Um conhecido meu tava falando de uma festinha no campus, tipo uma calourada, o que tu acha de a gente ir junto?”
“Acho que vi alguém falando sobre. Admito que nunca fui pra uma calourada antes.”
“Por quê? Não gosta?”
“Não sei, é só que ninguém nunca me convidou.”
“Pois vamos! Se você não gostar, a gente pode sair de lá e ir pra um lugar mais tranquilo, comer um pastel ou algo assim.”
Lari hesitou um pouco. Realmente não estava acostumada com esse tipo de evento, e quando saía por lazer costumava ir acompanhada da irmã. Mas o pensamento de estar junto com Lô tornava o evento bastante atraente. Era estranho admitir, mas talvez estivesse gostando dela.
“Eu topo. E se eu não gostar você paga o meu pastel.”
“Vou pensar no seu caso, hehehe”
Só percebeu que já era noite quando sentiu seu estômago roncar. Hora de procurar o que comer na cozinha, ou talvez perguntar se Manu e Beatriz queriam rachar uma pizza. Saindo do quarto estranhou o silêncio, e ficou surpresa quando encontrou sua irmã sentada no chão da cozinha, abraçando os joelhos e chorando baixinho, a cauda enrolada ao redor das pernas.
- Manu! Aconteceu alguma coisa? Tá tudo bem? Cadê a Beatriz?
Manuela engoliu um pouco o choro e sussurrou, sem levantar o rosto:
- Ela tá no quarto. Eu hipnotizei ela pra dormir.
- Por quê? Vocês brigaram?
- Não… ela… - Manuela levantou o rosto devagar. - ...ela me pediu em namoro.
- Ei, isso não era pra ser bom? Por que você tá chorando? E por que você botou ela pra dormir? - Disse Lari enquanto sentava no chão de frente pra irmã.
- PORQUE NÓS SOMOS MONSTROS! - Gritou com o rosto vermelho, fazendo as lágrimas correrem novamente. - A gente existe pra usar e ser usada, não temos vez nesse lance de gostar de alguém…
- Mas Manu…
- Não tem “mas”, é isso que eu fiz com a Beatriz nesses meses, é isso que a gente faz com todo mundo. A gente usa eles como bateria e eles usam a gente como fantasia, essa é a relação de uma súcubo e um humano. Eu não tenho nenhum direito de deixar ela gostar de mim.
Lari queria negar a fala da irmã e dizer algo para confortá-la, mas não foi capaz de encontrar as palavras. Apenas a abraçou e deixou ela afundar o rosto em seus braços, encharcando-os de lágrimas.
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