— ICHIRO — agarro da manga do uniforme dele — O QUE VAMOS FAZER?
— Não se preocupa — ele põe a sua mão em cima da minha que agarrava o seu braço — só não saia perto de mim, por favor.
— A gente precisa correr, Ichiro.
— Não dá mais tempo, Mizuki — ele fala de um jeito firme, olhando para mim — você sabe o que ia acontecer quando decidiu não subir no ônibus.
— Não pensei realmente que fosse morrer — baixo os olhos.
— Por isso que estou contigo, mas precisamos correr, Mizu.
Fico surpresa pela sua resposta, mas ainda assim não podia deixar de sentir medo e incerteza pelo que ia acontecer, pois a única coisa que podia focar era naquela onda que a cada segunda ficava maior. Ainda tinha aquela pessoa e ela simplesmente sumiu num piscar de olhos, será que estava começando a ficar louca? Deixar me levar por esses pensamentos, principalmente a preocupação em relação à Butterfly que tenho nutrido nesses últimos tempos, não iria me ajudar em nada, embora eu vá estar morta dentre poucos minutos.
Enfim, volto a realidade.
— Vamos sair daqui rá... pi... do... — olho novamente para a praia sem água e avisto a pessoa novamente perto da onda que se formava lentamente cada vez mais ao fundo da paisagem — ICHIRO A PESSOA.
Ele olha e a vê pela primeira vez.
— Que merda é essa?! Você confia em mim? — Ele olha para mim.
— Sim... Mas por quê..?
— Sem tempo para explicar, vem!
Antes que pudesse pensar, Ichiro pega da minha mão e começamos a correr, só que ao invés de ser fugirmos vamos direto para onde o tsunami está se formando.
— ICHIRO, QUE PORRA É ESSA?
— Vamos! Não fala, precisamos salvar aquela pessoa.
— MAS VAMOS MORRER!
Olho de novo para onde a pessoa estava e o tsunami já está começando a sair do lugar, quando pisco a pessoa é engolida pela água. É tudo muito rápido, tento me desvencilhar e gritar com o Ichiro dizendo que o nosso tempo acabou, que não íamos conseguir salvar quem fosse o suicida que estivesse lá, mas ele continuou correndo contra aquela onda que em poucos segundos ia nos engolir.
10s
Estamos mais perto da onda ou ela está mais perto da gente?
9s
8s
Eu não sinto o meu corpo.
7s
A pessoa...
6s
5s
... parece que está...
4s
3s
2s
1s
Fecho os meus olhos e me sinto anestesiada. Não há dor, meus pulmões não clamam por oxigênio e estou paralisada. Será que morri? Por que não senti nada? Será que o impacto e a pressão da água foram tantas que tudo o que aconteceu foi quase instantâneo?
Mas... O que é isso?
Consegui mover a minha mão até o rosto — a dúvida consome os meus pensamentos — está...
Molhado?
Havia pingos no meu rosto, como isso?
Resolvo abrir os meus olhos e não podia acreditar no que vi.
A adrenalina que antes corria nas minhas veias se dissipou e perco as minhas forças, mal consigo respirar e a minha visão fica turva...
— MIZUKI — escuto a voz do Ichiro, ele gritava, mas parecia tão longe — SE MANTENHA FIRME, NÃO POSSO...
Não sei como, mas é como se ele estivesse segurando uma barreira que nos protegia do fluxo da da onda. Sento no chão para tentar assimilar tudo e sinto os seus braços vacilarem, a água que antes escorria em pequenas gotas, agora formava uma corrente que vazava ferozmente.
— AGUENTAR POR MUITO TEMPO — ele termina a sua fala.
— E-eu — vacilo com as palavras — não sei o que fazer.
Como... Era a única coisa que vinha a minha mente: Como ele conseguiu fazer isso? Como é possível ter poderes? Então, ele é um herói? Não estou entendendo nada e a minha cabeça parece que vai explodir por todos esses pensamentos.
Fico parada olhando para Ichiro, enquanto me afundava no meu próprio consciente e começo a observar que é possível notar as coisas que eram levadas pela água, já que a sua barreira era invisível. Posso apenas dizer que é curioso e amedrontador ver e estar na posição que nos encontramos, pois era Ichiro que estava me salvando e eu não podia fazer nada.
Novamente não posso fazer nada.
De repente uma rede de pesca atravessa a nossa barreira e sinto a água me engolir, Ichiro tenta me proteger, mas somos afastados.
Não consigo abrir os olhos para procurar Ichiro, pois a água era muito salgada.
Perdi ele...
A força da água era tanta que tenho que manter o ar ao máximo nos meus pulmões, contudo a correnteza não me permitia lutar para sobreviver e começo a sentir uma cãibra na barriga. A dor era tanta que acabo perdendo o meu último fôlego e só sinto o meu corpo afundar.
Não há mais tempo.
A luz que ainda chegava no meu rosto não tem mais e a água salgada congela a minha pele. A minha cabeça vai explodir pela falta de oxigenação e só consigo sentir o meu corpo pesado, até que não sinto mais nada e a minha mente vai se desligando aos poucos.
Estou me afogando.
Tudo se escurece num preto absoluto e aos poucos vai se formando uma imagem monocromática que aos poucos vai se colorindo. Vejo a Youko... Antes dela matar os nossos avós, ela sorri para mim estendendo a sua mão e vou com a minha ao encontra da sua...
SSGHNN
Meu corpo suga todo o ar que poderia conter nos meus pulmões e fico tonta pelo súbito que sinto. Abro os meus olhos e olho para tudo. Onde estou? Cadê Ichiro? Procuro por ele e quando olho a minha frente...
— Bom dia, Mizuki. — vejo o seu sorriso.
(fim do terceiro capítulo)
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