– Eu tenh’uma ideia d’onde ela pod’estar, mas vamos nos separar.
Era a manhã do dia seguinte em que Gwennylyna, Meila e Alseri haviam ido para a cidade juntas, enquanto Greneva ficara por motivos que ela não havia especificado. Quando voltaram, o colégio estava em comoção por terem sido visitados por um nobre, portanto era óbvio qual era o motivo dela ter recusado a oferta. Seu ex-namorado.
Entretanto, ela ainda não havia retornado. Preocupada, o primeiro instinto de Alseri foi visitar o quarto de Gwenny e pedir sua ajuda, o que acabou envolvendo Meila, que insistiu em cooperar. Gwenny, então, propôs que se separassem, enquanto Alseri deveria esperar em seu quarto caso Greneva retornasse. Gwenny lembrava-se que Greneva havia comentado que gostava de visitar a costa e decidiu investigar aquele local primeiro. Pegou seu cavalo e dirigiu-se à costa.
– Mergulha logo!
Gwenny ouviu de uma voz que parecia ser Greneva ao que se aproximava das escadas. Mergulhar? Parecia-lhe uma má ideia, mesmo sem conseguir ver a situação. Apressou-se em descer do cavalo e amarrá-lo a um poste, correndo em direção às escadas. Olhando adiante, conseguia ver Greneva de costas, suas roupas encharcadas, algo desaparecendo sob a superfície da água e… Aquilo era uma garrafa?
– Ne? - chamou, descendo as escadas - Não esqueça de coletar seu lixo.
– Gweeenny? - virou-se, rosto vermelho e voz alterada - O que você… Está fazendo aqui? - riu.
– Eu que te pergunto! - caminhou até a garrafa, que estava na parte rochosa da praia, e leu suas inscrições - Álcool? Você passou a noite bebendo? Literalmente?
– Euu? Hahaha! Sim! Porquê… Como eu estava dizendo pra Luurani… Eu apenas faço decisões ruins!
– Do que você’stá falando? - segurou Greneva, que tropeçou ao tentar caminhar em sua direção - E quem é “Luurani”? Acho melhor voltarmos—
– Eei Grenevaaa, não faz sentido você mandar eu mergulhar e depois falar iiisso!
Gwenny procurou pela origem da voz desconhecida. Olhando para o mar, ela viu apenas cabelos pretos, uma testa e um par de olhos sobre as ondas calmas, com bochechas avermelhadas parcialmente à vista. Ela tinha certeza que não havia visto aquela mulher antes entre os guerreiros. Se ela fosse uma civil comum, ela não poderia levá-la aos dormitórios, mas… Bem, primeiro devia focar-se no que poderia fazer.
– Ei, moça, voc’stá bêbada também? - tentou estabilizar Greneva de pé, mas falhou e a outra apenas caiu sobre si novamente - Não sei como vou te levar d’volta, mas primeiro saia d’água, é perigoso.
– Lurani, sua idi—
– Eei, p-por que você está segurando ela assim?! Não abuse dela!
Gritando, a mulher no oceano avançou contra as rochas e tentou subir-las sem sucesso, escorregando novamente para as águas. Gwenny deixou um barulho surpreso escapar de seus lábios. O mais marcante na mulher era sua mandíbula projetada para frente e presas afiadas. Além disso, ela também percebeu que ao invés de orelhas ela possuía algo como barbatanas, e o seu pescoço era coberto por escamas prateadas, que continuavam até onde seus olhos podiam ver. Conseguindo ver apenas por alguns segundos suas mãos antes que desaparecessem no mar novamente, percebeu que eram garras, também prateadas.
– Sua idiota! Agora ela sabe que você é uma sereia. Eu só disse um nome! - Greneva reclamou, levando uma mão à testa.
– Ah, uma sereia? - Gwenny confirmou - Jurava qu’era um monstro.
– Não diga isso! Ela é sensíível a comentários assim. - Greneva empurrou-a fracamente.
– Ah, desculpe, hã, “Luurani”, certo?
– S-sim… Quer dizer… Não, é só “Luurani” mesmo! - respondeu, levantando-se novamente contra as pedras - T-tudo beeem! Você está parcialmente ceerta mesmo! Haha!
Gwenny sentiu-se perder os sentidos e o controle de seu corpo por alguns segundos. Quando percebeu, ela e Greneva estavam alguns passos mais próximas da água.
– Lurani, cale a boca! E não! Ria! Ugh! - Greneva sentou-se, mão tentando cobrindo o seu rosto por inteiro.
– Hã, ok, eu acho qu’eu vou chamar a Meila…
Ao que tentou buscar algo em seu bolso, Greneva fortemente puxou-a pelo pulso:
– Não! Ela não é má! - insistiu.
– Hã? Eu não tenho como ajudar vocês duas sozinha. - explicou - Você’spere parada, e Lurani não fuja, enquant’eu chamo a Meila.
– … Quê? - Greneva soltou o pulso da outra e tentou levantar-se, mas Gwenny fez um gesto para que continuasse sentada - … Você oouviu o que ela disse?
– O que tem? - Gwenny levou para perto de sua boca um objeto circular cinza, que brilhou dourado quando ela fez um símbolo com um dedo na parte traseira - Ei, Mei, você pode vir p’ra costa? Traga seu cavalo e água. E tente não ficar surpresa quan’chegar.
– Ela disse que é— - Greneva conseguiu impedir-se - E-esquece.
– Você’stava tendo uma festa com uma sereia e nem nos convidou? - sorriu.
Greneva olhou para Gwenny sem reação. Ela parecia estranhamente calma, mesmo se pensasse que Lurani era apenas uma sereia, mas era difícil raciocinar com o álcool.
– Ei, ei. - Lurani interviu - Você não teem… Medo de mim? E… Minha boca?
– Não. - sentou-se ao lado de Greneva, de frente para o mar - Por que eu teria?
– Porquee… - Lurani tentou explicar, mas apenas um soluço escapou.
– Ah, com’estou sendo rude! Meu nom’é Gwennylyna Cobre. Mas pode me chamar de Gwenny.
– Praazer. Sou - soluçou - Lurani do Centro-Leste Vermelho.
– Centro-Leste? Então não é muito longe daqui.
– Nãão. - Greneva cortou - Você está… Pensando no nosso mapa.
– Ah, verdade. - olhou para o céu, focando-se em seus pensamentos internos, e em seguida continuou - Então é longe, não? Como’cê— - parou repentinamente, porém tentou continuar casualmente - —cês se conheceram? Há quanto tempo?
– Alguns dias. - Lurani respondeu.
– Dias?! - tentou conter uma risada, virando-se para Greneva - Viu, você pode fazer amizades rápido quand’quer!
Greneva respondeu com um barulho irritado. Como esperado, beber não resolveu seus problemas. Já havia passado do estágio feliz-e-saltitante para o deprimido-e-irritado. Havia vindo até a costa muito antes do horário que costumava encontrar Lurani esperando ter paz. Entretanto, tropeçou nas pedras, derrubando sua cerveja na água e começava a se afogar quando Lurani surgiu e trouxe-a para a terra. E, aparentemente, a quantidade derrubada havia sido o suficiente para embebedá-la acidentalmente. Além disso, quase morreu algumas vezes pois Lurani não conseguia segurar seu riso. Gwenny agora havia aparecido, e ela estava ainda tentando processar se isso poderia ser um problema a mais. E Meila estava vindo por algum motivo.
– Por que Meila está vindo?
– Preciso levar vocês d’volta. - então apontou para Lurani - Principalmente sua amiga, ela não parece estar muito bem.
Virando-se para Lurani, percebeu que as fracas ondas estavam sendo o suficiente para carregá-la e ela estava com dificuldade de se segurar nas rochas.
– Você pretende levar ela?! Como?!
– Não sei, estava esperando que Mei pensasse nisso quando chegasse.
– Ela… - respirou fundo - Você acha que eles vão… Simplesmente aceitar uma sereia nos dormitórios? Ninguém pode! Descobrir! Sobre ela!
– Mei vai saber o que fazer. - afirmou - … Eu acho.
– “Eu acho”?! - Greneva riu, dobrando ambas as pernas e apoiando seu rosto nelas - Só me prometa que ninguém vai descobrir sobre ela.
– Não se preocupe. A gente só precisa garantir qu’ela vai ficar bem.
Greneva assentiu com a cabeça, uma pequena ponta de culpa por tê-las envolvido em seus próprios problemas começando a surgir em sua mente.
– Espeera. - Lurani falou - Vocês vão me tirar daqui?
– Sim, precisamos tomar conta d’ocês e aqui não é ideal.
– Não! - exclamou, cobrindo sua face com as garras - Não! E-eu não consigoo esconder. - alguma luz saía de seus dedos, mas logo desaparecia - Não quero que me vejam assiim! Greneva, me ajuude. - olhou para Greneva, lágrimas começando a se formar nos cantos de seus olhos.
– Hã?! Gwenny que quer nos arrastar pra longe daqui! - tentou argumentar, mas o olhar suplicante da outra não a deixava, fazendo sua ponta de culpa expandir-se - O-ok! Você só vai ter que aguentar mais a Meila te ver assim! - então olhou para Gwenny, tentando parecer séria apesar de seu rosto ainda estar rosado - E ninguém mais vai vê-la!
– Sim, sim, tu’bem. - Gwenny sorriu - Só quero garantir a segurança dela. Apesar d’eu não entender o qu’ela quer esconder. Você não a avisou qu’estamos em paz com os monstros?
– Sim, mas… Vamos lá… Não me faça explicar tudo! Oceano é complicado ee… Nossa cidade em crise!
– Verdade, mas… - Gwenny parou para raciocinar argumentos, porém apenas concluiu - Sim, você tem razão. - virou-se para Lurani - Ainda’ssim, devo dizer que não me incomodo.
– O-obrigada. - Lurani sorriu.
– E, Ne, por que você disse que apenas faz decisões ruins? Não pense que vai escapar de falar disso.
– Urgh. - passou a desenhar formas na areia, sem olhar para a outra.
– Vamos lá, o qu’aconteceu ontem? Foi seu ex?
– Sim, eu dei um tapa nele. - ouviu um som ao seu lado - Ei, você está segurando o riso?!
– Iss’é a sua cara. - admitiu - Por quê?
Responder isso era algo que requeria cuidado e meias-verdades, um nível de raciocínio que Greneva não queria ter nesse momento. Seu time sabia que ela e seu grupo de amigos estavam presentes quando os conens se tornaram agressivos. A história pública era algo que os três sobreviventes haviam combinado em contar… Ou pelo menos era o que ela pensava.
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