– Achamos que o desequilíbrio dos conens é por causa de irregularidades no fornecimento de… recursos. - Naon explicou - Nosso plano atual é achar a pedra astral local para podermos reforçar a teia aqui, por onde nós compartilhamos tais recursos, e isso deve ser o suficiente para acalmá-los. Porém, não conseguimos achá-la até agora, então eu estou aqui para discutir novas estratégias. Eu vou ser franco: eu acho que o maior problema é a falta de comunicação. - ele folheou seus papéis - Eu até entendo vocês evitarem fadas ou chiimis, mas vocês nem mesmo falaram com as dríades?
As guerreiras se entreolharam, uma sobrancelha cada levantada. Alseri perguntou:
– Dríades? Que dríades?
A boca de Naon abriu-se, mãos paradas entre uma página e outra. Ele piscou por alguns segundos. Então, apontou com os papéis em uma linha reta diretamente à sua frente:
– “Que dríades?” Tem uma bem atrás de vocês!
Um tremor e o barulho de folhas balançando as atingiu antes que pudessem reagir. Virando-se, mãos treinadas em suas armas, viram a árvore atrás de si, movimentando-se, galhos metamorfoseando-se em braços e uma face vaga formando-se no tronco. Um braço balançava em suas direções, algo que supunham ser um sorriso espalhando-se pelo rosto recém-formado. Um ser distintamente humanoide com traços femininos, entretanto com não mais do que 40 centímetros, asas como as de uma libélula liberando um pó brilhante que desfazia-se no ar, desceu dentre as folhas, flutuando, e pousou sobre a mão que acenava.
– Oh! - Greneva exclamou, mais alto do que ela queria, percebendo todos os olhares tornando-se para ela - Ahn, d-desculpe, não é nada.
Seu rosto avermelhou-se. Ela não podia dizer que ela já tinha visto isso antes. Que ela já tinha visto e rido sobre o quão... alterada estava naquele dia. Espera… Na floresta, ela e seu ex não… Ah, não. Não. Ela sentiu como se estivessem forçada e rapidamente virando as páginas do livro que era sua memória. Essa era a mesma dríade? Dríades não tem uma rede de comunicação forte? Isso significa que todas já…
Um novo tremor a retornou ao presente. A dríade se aproximava, escorregando, não, andando em sua direção. Naon, o qual em algum momento levantou-se, falava algo sobre comunicação e informação serem vitais, terminando com um sorriso e um movimento de mão como se empurrasse o ar em direção à dríade. Greneva seguiu quando seu grupo cumprimentou-a, deixando que Alseri desse um passo à frente:
– Você— Não, primeiro, qual o seu nome? Eu imagino que você ouviu nossas apresentações.
Ela não respondeu, o fada apenas apontou para si mesmo e a dríade, então cobrindo sua própria boca e fazendo um movimento de corte com sua outra mão, por fim olhando para Naon.
– Ah, desculpe, esqueci de avisar. - Naon disse - Muitas dríades não conseguem falar, mas aparentemente aqui as fadas também não. Eu mal conheço o dialeto local, mas posso tentar—
Meila levantou um braço em sua direção, sorrindo e fazendo algum sinal que o fez conter um riso e recuar. Seus olhos, brilhando, encontraram-se com os de Alseri, a qual deu dois passos para trás, deixando que Meila desse um passo à frente. Seu cajado começava a brilhar enquanto trocava sinais com o fada.
“Meu nome é Billia”, Meila escreveu com fogo, “e essa é Calna”.
– Prazer, - Alseri disse, seguida por mais movimentos das mãos de Meila - vocês poderiam nos ajudar? Espera, eles sequer sabem a situação?
“Sim, nós temos observado. E queremos resolver também, nossos Raio, Leão e Casca começaram agindo agressivamente e agora nem mesmo voltam para casa…”
– Hã? - Alseri inquiriu.
– Acho q’são conens d’estimação deles.
– É? Então por que não ajudaram antes? - Greneva cruzou os braços.
Gwenny e Alseri prontificaram-se para acotovelá-la, entretanto desistiram.
– Ne… - Gwenny balançava a cabeça, deixando um suspiro escapar.
– Não sinalize isso. - Alseri pediu.
Meila parou com suas mãos, olhou para Alseri, e então para Calna, a qual estava com os olhos fixos nos seus.
“Não, isso seria errado. E ela provavelmente conseguiu entender pelo menos uma parte.”, escreveu com água e comunicou-se com os outros.
A dríade e o fada se entreolharam antes de continuar a sinalizar.
“Nós estávamos com medo. Não sabíamos se vocês poderiam acabar nos atacando também.”
Um simples “oh” escorregou das bocas das mulheres.
– B-bem, - Alseri quebrou a atmosfera silenciosa que começava a formar-se - o que queremos saber é… Tem uma pedra astral por aqui?
As mãos do fada brilharam e ele encostou suas mãos na mão da dríade. Uma luz verde incandescente desceu dos dedos da dríade até suas raízes, desaparecendo sob o solo. Momentos depois, uma iluminação similar voltou às suas raízes, seguindo o mesmo caminho, retrógrado, por seu corpo.
“Havia uma pedra há centenas de anos por aqui. Porém, ela foi movida. Como não mais a vimos, achamos que ela deve estar dentro da água.”
– Movida?!
A voz masculina as surpreendeu.
“Sim.” Meila reforçou.
– Qu— - ele começou, no entanto seus olhos arregalaram-se por um milésimo de segundo, sua mão então dispensou-a - Não, não importa. Obrigado pela informação.
“Tudo para os nossos animaizinhos voltarem ser como antes.” Meila escreveu. A dríade e o fada acenaram, recolhendo-se para o seu local original e camuflaram-se novamente entre as outras árvores.
– Vejamos, - Naon dizia distraidamente ao que escrevia em um de seus papéis - isso significa que devemos nos focar nos cenotes agora. Mas se foi há tanto tempo, então deve estar enterrado… Bem, eu vou ter que falar com seus superiores.
– Vamos precisar d’roupas d’nado? - Gwenny perguntou retoricamente - Não sei s’eu tenh’uma dessas…
– Eu vou discutir sobre isso com os líderes… - ele guardou suas anotações em um bolso - Bem, por enquanto é isso. Continuem com o plano para hoje. Obrigado, grupo—
“ESPERA!” formou-se com fogo, entre as mulheres e o felino, fazendo com que todos dessem um pulo para trás. “Ah, desculpe, eu não queria assustar ninguém!” Meila escreveu, rosto avermelhado, “Eu só… Se você não se impor— Se não tiver problema você falar, o que vocês estavam fazendo perto do deserto? Vocês se reuniram perto de Icem e minha família ficou… preocupada.”
Ele começara a sinalizar quando Alseri o interrompeu:
– Espere. Eu quero saber também.
– Ah, sim, claro. Bem, nós queremos ir para o outro continente, Lefren. É uma história longa, mas achamos documentos ancestrais importantes, porém estão incompletos e suas traduções são um desafio. Esperamos que o outro continente possa nos ajudar — e esperamos poder ajudá-los também, claro, em seu processo de paz. Pensamos que o Deserto Central seria nossa melhor opção, mas… os habitantes de lá continuam isolados e recusando-se a nos ajudar a cruzar o deserto de qualquer forma. Então não avançamos muito.
– É um plano ambicioso. - Alseri comentou.
– Com tod’respeito, não faz mais sentido resolver os… requerimentos nutricionais d’monstros antes? - Gwenny sugeriu.
– Do nosso ponto de vista, sim. Porém, isso seria dar poder para nós: ganharíamos o recurso que mais nos restringe. Se nós decidirmos atacar humanos mesmo sem precisar… Entende como humanos podem não confiar o suficiente para nos ajudar a pesquisar isso? E sem magos trabalhando nisso demorará dezenas, se não centenas de anos para descobrimos uma resposta. - ele suspirou, cauda balançando - Estamos esperando que paz em ambos continentes seja um voto de confiança bom o suficiente.
“Faz sentido”, Meila escreveu, uma mão em seu próprio queixo.
– Ah, antes que eu vá, vocês estão com algum outro problema? Talvez… Problemas com monstros marinhos?
– Não! Por quê?
Greneva reconhecia que sua reação havia sido exagerada e, no mínimo, suspeita. Em sua defesa, ela havia sido pega de surpresa. Quando aquele homem havia começado a falar sobre paz em outro continente, ela imediatamente começou a pensar em Lurani. Ela não sabia muito sobre o outro continente, embora esperava que a situação não fosse tão violenta quanto no mar, entretanto talvez eles pudessem ajudar o oceano também. Ela ouviu-o comentar algo sobre magos, e ponderou o quão interessante seria, um humano explorando o oceano e ajudando a sereia. Quer dizer, os tritões. E, assim que ela começara a perder-se pensando sobre as águas, ele mencionara sem aviso o alvo de suas divagações. Logicamente, qualquer um se surpreenderia. Entretanto, suas amigas pareciam discordar, olhando-a torto mais uma das diversas vezes na mesma noite e com certeza aprontando seus cotovelos. Até mesmo Meila não parecia perdoá-la dessa vez, e Greneva perguntou-se se ela descobriria o quão doloroso uma cajadada do Semaf realmente era.
– “Por quê”? Porquê… Não importa o quanto eu pense em como dizer isso, não tem como não soar errado. É por causa do cheiro de vocês, ele está bem aquático, de peixe.
Greneva agradeceu aos céus que os olhares tortos tornaram-se contra Naon.
– Desculpe, eu não controlo isso! - os olhares das mulheres tornou-se mais sombrio - B-bem, eu preciso seguir em frente! Até mais, grupo 1!
– “Grupo 1”? Nós não somos o grupo 1. Nós não estamos nem perto do grupo 1. - Alseri interviu antes que ele partisse.
– Hã? A-ah, Einz realmente me faz falta… - Naon desdobrou um mapa - Onde nós estamos?
– J40.
Ele virou para uma direção, agradecendo:
– Obrigado! Eu vou in—
– Onde você está indo? - Alseri interrompeu.
– E-eu… Preciso me desculpar para o grupo 1.
– Direção errada. Vire 30 graus para a esquerda, siga em frente e então vire à esquerda quando chegar em uma área com flores azuis.
– Vou confiar em você. - sua cauda contorcia-se violentamente - Continuem suas rotas normais por hoje.
Qualquer vestígio do monstro sumira segundos depois que ele disparou na direção aconselhada.
– Bem, Gwenny, espero que isso tenha sido tempo o suficiente para você lembrar as posições. - Greneva provocou.
– Argh! Por que’cê lembrou?! Eu esperava q’Al-Al foss’esquecer!
– Eu não esqueceria. Mas, além disso… - ela olhou fuzilante para Greneva.
“Você só disse isso para nos distrair do fato que você é péssima em guardar segredos, não?”, Meila completou.
– Urgh. - Greneva suspirou.
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