Greneva afastou sua cadeira da mesa, sentindo-se sem ar. Percebeu que havia segurado sua respiração em algum momento. Deixou-se expirar, seguido de uma longa e profunda inspiração. Ela olhou o texto ao longe, percebendo o espaçamento entre palavras tornando-se variável e alguns rabiscos encobrindo palavras, embora a letra permanecesse ajeitada.
Ela sentia que não deveria ter lido.
Ao mesmo tempo, sentia-se privilegiada de Lurani ter-lhe oferecido seu diário.
Fechou o diário.
Quanto tempo gastara lendo-o?
Levantou-se, segurando-o.
Ainda assim, não sentia-se sonolenta…
Guardou-o
Somente sentia que precisava encontrar-se com Lurani.
Dessa forma, contra todo bom senso que possuía, chegou no costão alguns minutos depois. Ao que seu sapato afundava na areia, percebeu que não havia planejado a visita direito. Ela não estaria dormindo? Como a chamaria, mesmo se ela não estivesse? Não ficaria irritada com a visita sem aviso prévio?
O dia em que ficou bêbada surgiu em sua mente, dando-lhe uma ideia. Ela gritou na água o que talvez pudesse ser ouvido como “Lurani”, e planejava sair se não houvesse respostas. Dois, não, talvez apenas um minuto e meio depois a sereia surgiu, corpo virando um completo 360 graus em tempo recorde até que seus olhos arregalados encontraram Greneva, suas feições relaxando por um momento até que franziu os cenhos.
– O-o que foi?! Pensei que você estava se afogando de novo! Não me dê um susto desses.
– É muito cedo para mais um dia de diversões. - riu.
– É? - Lurani apoiou-se contra as rochas, sorriso espalhando-se em seu rosto - E eu estava aqui esperando que a festa dessa vez fosse em algum lugar que eu pudesse me mexer.
– Nem me diga! Eu também quero ir a algum lugar para me mexer! Dançar! Mas estamos muito ocupados.
– Por quê? - espreguiçou-se.
Greneva hesitou por um momento, o que fez com que Lurani ajeitasse sua postura e olhasse em seus olhos. Lurani… tecnicamente está dentro do território de Agnao. Agnao faz parte do continente Estor, e os monstros de Estor estão todos sob Reinha… teoricamente. Então, teoricamente, Lurani está sob a liderança de Reinha e tem direito às informações. Ou pelo menos essa era a desculpa que formulara para permitir que continuasse a conversa sem cortar a comunicação.
– Nós estamos procurando a pedra astral local, mas, urgh. Aparentemente ela está na água em um dos cenotes há sabe-se lá quantos anos! Então tem chances de ter sido completamente soterrada… Ou até mesmo carregada, se os cenotes todos têm conexões como se acredita. É tanto trabalho.
– Oh… Não acho que seria carregada, ninguém por aí poderia movê-la, mas… Cenotes?
– É um fenômeno local. É como que cavernas com lagos enormes. As vezes ficam a céu aberto.
– Lagos conectados aqui perto… Ei, talvez eu possa ajudar.
– Não. - Greneva fez um único abano com a mão, dispensando-a - Não tem nada a ver com você, não se preocupe.
– Mas eu estou entedia-da. - sua cauda começou a bater contra a superfície da água - Não tenho nada melhor para fazer. Exceto escrever no novo diário; ele é super legal. Obrigada novamente.
– Sobre isso… Eu vim exatamente por isso. Eu li o seu diário.
A cauda de Lurani parou imediatamente, sumindo então sob a maré. Vermelho espalhava-se pelo seu rosto, começando a encobrir seu pescoço também. Seu olhar caiu, observando sem foco as pedras sob suas garras.
– A-ah. E… E então?
Greneva esticou uma mão em direção a Lurani, pondo uma mecha preta em seu rosto atrás de sua barbatana facial, para então repousar sua mão sobre a bochecha de Lurani
– Eu acho que você é linda, Lurani.
Lurani estava completamente paralisada, esquecendo até de respirar.
– Essa… Essa é a sua resposta? - Lurani perguntou.
– Hã? - Greneva retraiu sua mão.
– “Hã?”?! Espera… Você leu tudo?
– Claro que não! Aquilo é enorme, eu só li as primeiras páginas. E eu queria te dizer que você é bonita e não ligue para quem te irrita ou agride. E eu estou muito contente e orgulhosa que você está deixando sua boca natural aparecer.
– Greneva… - ela soltou um suspiro, enfim relaxando seu corpo.
– O quê?! E-eu não sou boa nesse tipo de conversa, estou tentando!
– Eu não— - ela balançou a cabeça - Quero dizer. Obrigada pelo apoio. - sorriu - Mas… Você não deveria estar dormindo?
– Eu… Talvez. Mas amanhã é meu exame médico e o grupo inteiro vai ser liberado das obrigações. Então posso passar a noite em claro sem levar ao extermínio da cidade!
– Eu tenho certeza que não funciona desse jeito! Vai dormir!
– Você não acabou de reclamar que está entedia-da? - imitou-a - Eu também estou entendia-——da. Você também parece estar sem sono, vamos conversar mais um pouquinho.
– Hmm… Ok, ok, mas eu vou mergulhar assim que me der sono.
– Negócio feito!
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