O primeiro dia de aula foi uma porcaria. Como fiquei muitos dias sem sair de casa, senti um pouco de pânico enquanto me arrumava e quase desisti de ir pra Escola, na verdade, teria desistido se não fosse a encheção de saco da minha mãe.
Quando cheguei no ponto, o ônibus já tinha passado, tive que ir a pé. No caminho, claro, escorreguei em alguma coisa gosmenta enquanto descia uma rua e a blusa do uniforme sujou. Novamente pensei em voltar pra casa, mas só de lembrar da falação da minha mãe, apertei o passo pra não perder o horário da entrada.
Quando entrei na sala, a Paty já veio me receber na porta, falando sem parar... como se eu tivesse interesse em saber o que tava acontecendo no mundinho mágico da minha geração. Enquanto a Paty falava, coloquei minha mochila sobre a cadeira e sentei na mesa. Um grupinho nerd discutia a invasão alien.
— Não, não... eles são greys, tenho certeza! — Um garoto disse enquanto mostrava para os colegas, no holograma de seu relógio, a imagem da suposta raça alienígena.
Ah! Aquela conversa durou a aula inteira. O professor do primeiro horário também era fã dos aliens e todos ficaram discutindo sobre como seriam os visitantes. Cada um tinha uma teoria, até Elfos foram citados, mas o vencedor foi o Juninho, com seu Saci Cyborg. Como não aguentava mais aquela discussão, pedi pra ir beber água, o professor nem ouviu.
Fora da sala não estava muito diferente, todos só conversavam sobre os aliens. Fiquei imaginando que seria muito engraçado se a tal nave pousasse no jardim da Casa Branca e de lá saíssem humanos normais, dizendo que tudo não passou de uma campanha de marketing... Cheguei a comentar isso em um grupo, mas quase apanhei. Depois fui pega em uma discussão, me puxaram pelo braço, não tive como correr. Fiz umas brincadeiras, porque não queria dizer o que realmente pensava, mas eles insistiram em saber minha opinião.
— Falando sério... como você acha que os aliens se parecem? — Um garoto de óculos me perguntou, no corredor, perto dos bebedouros.
— Ah! Sei lá... pra mim tanto faz, eles vão destruir tudo mesmo. — Respondi com indiferença, mas vi que todos ficaram apreensivos, então tentei amenizar a situação. — Foi uma brincadeira. — Sorri e me afastei do grupo. Enquanto me afastava dos malucos, o Rafa passou por mim.
Por um instante, me esqueci da loucura do mundo e só existia ele, o meu Orixá. Quando meu crush abriu aquele sorrizão gostoso, um moleque do sexto ano tacou um balão cheio d’água na minha cabeça. Todos riram e fiquei ali, toda molhada, morrendo de raiva. O Rafa eu perdoei, mas os outros não. Ainda levei advertência por ter batido no pirralho. Como eu disse no início, devia ter ficado em casa naquele dia.
A semana demorou a passar e quanto mais demorava, mais ansiosas as pessoas ficavam. Muitos nem dormiam mais, passavam as noites em claro, olhando pro céu, tentando descobrir quais dos brilhos lá em cima eram as naves dos visitantes.
Na manhã de sábado, Marcos acordou toda a família com a música do plantão do jornal, quase no último volume. Corremos pra sala.
— O presidente dos Estados Unidos foi acordado pelo barulho da nave pousando no jardim da Casa Branca. Alguns curiosos, que faziam vigília no local desde segunda-feira, gravaram tudo. — Imagens da nave pousando, feitas por aparelhos pessoais, foram mostradas.
— Uau! Que nave irada!
— Deixa de ser retardado, Marcos, eles vão matar todo mundo.
— Não diga isso, minha filha, eles vieram em paz.
— Não, mãe... eles não vieram em paz. — Meu pai chegou à sala, espreguiçando.
— Como são os aliens? — Meu pai perguntou, bocejando.
— Ainda não saíram da nave. — Minha mãe falou. Uma movimentação começou ao redor da nave, na TV. — Olha! Vão sair. — Ficamos mais atentos. O presidente dos Estados Unidos apareceu, com uma comitiva. Vários soldados se posicionaram. A porta da nave se abriu e cinco visitantes saíram, um por um. Ao ver os aliens, as pessoas ficaram perplexas.
— Meu deus! — Marcos ficou pálido, meu pai se sentou no sofá.
A melhor parte daquele dia foi ver a expressão no rosto do presidente dos EUA... hahaha. Até hoje consigo rir disso.
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