No planeta Barkar, os videntes eram uma classe muito respeitada, pois faziam parte de um Conselho que tratava de todo assunto importante para o desenvolvimento do nosso povo. Várias guerras foram evitadas pelos videntes e todos tinham uma vida muito próspera, graças às orientações deles.
Mas quando o Conselho informou aos líderes barkarians que os dias em nosso planeta estavam contados, os videntes foram tratados como traidores. Houve uma perseguição insana a eles e a classe foi quase extinta. Somente um casal de videntes sobreviveu, com a ajuda de um general que acreditava na profecia e os escondeu para que pudessem orientá-lo a encontrar a salvação para alguns da nossa raça.
Pouco tempo depois, esse general deixou o planeta em uma nave, levando o casal de videntes e centenas de barkarians, a maioria militares e seus familiares. Após alguns meses, o planeta entrou em colapso.
Da nave que deixou Barkar, antes da destruição, surgiu a frota dos nômades barkarians, e as tradições definidas pelo primeiro grupo de treze comandantes vêm sendo mantidas até o nosso tempo.
Nosso povo é dividido em classes, que são definidas no nascimento. Todo vidente nasce com os olhos brancos, assim como todos os comandantes nascem com os olhos zaruk, uma cor desconhecia pelos terráqueos, até que nos viram pela primeira vez. Por algumas gerações nenhum bebê de olhos brancos nasceu, mas a última geração nos presenteou com o nascimento de Órion, que ainda é muito jovem. Se fosse um terráqueo, teria pouco mais que vinte anos.
A falta de um vidente em nosso meio por tanto tempo, somada à pouca idade de Órion, fez com que as previsões dele não fossem levadas muito a sério pelos comandantes barkarians, mas sempre respeitei os videntes, por isso, quando os comandantes se dividiram fiquei neutra.
Me lembro até hoje da reunião que decidiu nosso destino. Os comandantes estavam fazendo piadas sobre como atacariam o próximo planeta, e Drokar, que analisava o mapa no centro da sala, encontrou uma curiosidade na rota que seguíamos.
— Parece que os antigos deuses desse Sistema estão nos dando um presente. — Olhei para Drokar e o vi sorrindo diante do mapa.
— O que você achou aí, Drokar? — Utar perguntou, rindo.
— Um pequeno planeta habitado. — Todos correram para ver o mapa.
— Não há planetas habitados nessa rota. — Zaira comentou.
— Vejam... — Drokar ampliou o pequeno ponto no Espaço. Um planeta azul, com água e muita terra firme, brilhou diante dos nosso olhos. O sistema indicava vida humana nele. Órion entrou na sala. — Já viajamos há muito tempo sem parar pra uma festinha. Esse planeta fica na metade do caminho até o nosso próximo destino. Podemos parar um pouco, fazer uns reparos nas naves, abastecer nossos estoques de suprimentos... e, é claro, testar nossos exércitos. — Os generais se animaram.
— Ei, podem esquecer isso. — Todos olharam para Órion. — Esse pequeno planeta será o fim dos barkarians, se formos para lá.
— Hahahaha... Agora é que quero mesmo conhecer esse planeta. — Utar falou.
— Órion é um vidente, acho que devíamos ouvi-lo. — Falei, preocupada. Órion olhou pra mim, me agradecendo pelo apoio.
— Besteira, vamos pro planetinha azul, pegamos tudo que precisamos por lá e depois seguimos pra pilhagem de verdade, no próximo Sistema. — Drokar insistiu. — Quem me apoia? — Todos apoiaram Drokar, exceto Tyran e eu.
— Não acho que esse planeta minúsculo possa derrotar os barkarians, como sugere nosso vidente. — Órion ficou irritado com o comentário de Tyran. — Mas acho que será uma perda de tempo irmos até ele. — Os comandantes começaram a falar, todos ao mesmo tempo. — Silêncio. — Os comandantes se calaram. — Tudo bem, se é isso que a maioria quer, vamos até o tal planeta. — Órion encarou Tyran e saiu da sala.
Tyran era um líder que raramente se opunha às decisões da maioria, então, mesmo sendo contra, a frota seguiu para a Terra. Enfim, parece que o destino dos barkarians é sempre pagar caro pelo erro de não ouvir nossos videntes.
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