"Eu sinceramente não sei, eu não sei as circunstâncias que levaram a isso, eu não faço a mínima idéia, como?...Como que acabou assim? Por que terminou dessa maneira? Por que ela teve que morrer? Por que não eu? Eu que era frágil, que era fraco, e nem um pouco brilhante como ela era. Ela era forte, ela me inspirava a ser uma pessoa melhor. Não sei o que fazer a seguir daqui, eu tenho esse monstro na minha mente, em cada célula do meu corpo e uma briga constante para ele não tomar posse de mim, e me usar para cometer mais atrocidades... Thálita... Eu só queria que você tivesse aqui... Não... Como que eu posso ser egoísta assim? Eu que tirei sua vida"
ANO: 2335/MÊS:JULHO/DIA: 05.
Sons de teclado.
Thálita, uma moça de cabelos claros e esverdeados, pálida, óculos espelhado, estava digitando, terminando de escrever seu relatório de sua pesquisa, a mão encosta no relógio enquanto procurava a tecla "A", eram 05:49 p.m.
— Droga, vou me atrasar.
Ela salva o arquivo de texto, pega suas coisas com pressa, e sai correndo, notavelmente correndo com salto alto, ela estava acostumada a chegar nos seus compromissos no horário em ponto, nunca a mais, porém nunca a menos.
Em sua corrida, no corredor esbarra com o pai, derrubando todos os documentos que carregava.
— Céus, Thálita!
— Desculpa pai, eu 'tô atrasada pro encontro com o Gape, quer dizer, quase, eu nunca me atraso.
— Mas também nunca chega com antecedência!
— Isso não vem ao caso, beijo, te amo!
Corporação Yollivister é uma renomada companhia de tecnologia que está a frente de qualquer outra na cidade, ajuda lado a lado as pesquisas governamentais.
— Saco, onde está minhas chaves? Ahhhhhhhh, droga! — exclama Thálita descendo as escadas da entrada da corporação.
— Aqui!
Beep Beep.
Thálita entra no carro.
— Vamos ver se me atraso pela primeira vez, meu bem. — Diz animada com um sorriso determinado no rosto.
Esquina entre duas ruas.
— Putz, Cinco e cinquenta e oito, eu vou me atrasar...de novo, droga! — Diz Gape, um rapaz de cabelos prateados, moreno, olhos dourados reluzentes, correndo virando a esquina.
— A Cafeteria é na próxima quadra, dá tempo, tem que dar!
Ele corre mais rápido, o rapaz estava determinado.
— Ah... Ah... eita pega... cansei! — Diz Gape em frente a cafeteria.
— Misericórdia! Ah... ah... por que diabos tinha tanto carro aqui? Eu tive que estacionar na outra quadra! — Diz Thálita, em frente a cafeteria e... na frente de Gape, estavam frente a frente um do outro.
06:00 PM
— Milagre, não se atrasou! — Diz Thálita rindo ironicamente, também cansada.
— Haha! muito engraçada, e você ainda invicta na arte de inexplicavelmente nunca se atrasar porém também não chegar mais cedo — Diz Gape recuperando o fôlego.
— Eu chego mais cedo quando você se atrasa, meu amor. — Diz Thálita num tom provocativo.
— Tsc. — Exclama Gape olhando pro lado
— Mas o que posso dizer, é um dom, sabe — Diz Thálita se gabando.
— Sei não, você já tem dons demais, mais esse é exagero.
— Ah é? E quais dons a mais eu tenho - Diz Thálita esperando Gape elogiá-la...
— De ser o amor da minha vida, fora que é linda, e ainda por cima é um gênio, meu Deus! Eu namoro você mesmo? Quero dizer, você existe mesmo?
... mas ela nunca se acostuma com os elogios, suas bochechas coram e seu semblante abre de forma alegre.
— Seu bobo! Vamos logo, temos assuntos para colocar em dia.
Gape sorri.
— Como foi a sua última excursão definitiva fora da Cúpula? Digo, você se forma semana que vem! — Pergunta Thálita animada a Gape.
— O jeito que você se empolga com tudo que eu me envolvo me anima muito — Ele ri — enfim, foi ótima, tivemos avanços, as espécies que criamos em laboratório se multiplicaram bastante, descobrimos algumas bactérias que conseguiram sobreviver as extremas condições que a Terra ficou, e mutaram, se tornaram seres complexos, estão evoluindo, isso me assusta, podemos ter predadores no futuro — Ele ri de novo. — Eu duvido muito, é surreal demais e ei! Pare de me olhar assim... — Gape olha pro lado sem jeito.
Thálita estava olhando com olhar de apaixonada para Gape enquanto ele falava. Ela o admira quando se empolga falando de algo que gosta e seus olhos brilham de entusiasmo, principalmente quando esse algo é ela, por mais que ela não saiba lidar muito bem com isso.
— Mas e você, como vai a pesquisa? — Pergunta Gape.
— Progredimos, mas, não muito, estou começando a achar que essa doença é incurável, e só possamos regular com lentes mesmo...
— Querida, olha seus Ph.D. em física e em bioquímica avançada, logo você descobre.
"...ou pode ser uma habilidade que precisa de controle" Diz Thálita olhando pro vidro, perdida nesse pensamento.
— Ei, eeeei, o café chegou. — Diz Gape acenando pra Thálita.
— Oh, me desculpe... ah! Eu pedi o meu cremoso. Gosto tanto do cremoso daqui — Diz Thálita um pouco desapontada com o pedido que chegava a ela.
— Pega, e passa esse pra cá. — Diz Gape empurrando sua xícara para Thálita e pegando a dela.
— Obrigada. — Diz Thálita grata.
— Você vai dormir lá em casa? — Pergunta Thálita
— Não tem problema pra você? Eu dormi a semana passada inteira lá. E por falar nisso, creio que minha casa esteja uma bagunça. — Finaliza Gape com semblante de preocupado com a limpeza de sua casa.
— Verdade né, a gente tem que começar a morar juntos logo, não tem nada que nos impede. —Responde Thálita tomando um gole do café e olhando fixamente para Gape.
Gape fica corado.
— B-Bo-Bom, se você não vê problema, eu acho que seria ótimo, de forma alguma recusaria, sabe? Meu sonho morar contigo e tudo mais, 'cê sabe — Argumenta Gape com muita vergonha e como se tivesse mandando lábia para conseguir algo.
— Gapear Saint Hope, você quer vir morar comigo? — Diz Thálita dando uma chave do apartamento dela a Gape.
Gape mantém a calma, olha sério com um pequeno sorriso.
— Adoraria, Thálita Yollivister. — Responde pegando a chave.
— Cara, eu devia ter feito todo esse clima e a pergunta, mas o apê é seu, então, é, é isso, 'vamo que 'vamo, né? — Diz Gape rindo e quebrando totalmente aquele clima que Thálita havia estabelecido.
...
Cratera de Chicxulub, uma cratera que fica hoje, abaixo do mar, nos livros atuais de história conta que pertence ao território de Goglocko e de Epanastatio. Já que se localiza entre ambos.
— Senhor, os detectores de ruídos... estão apitando em altas frequências. — Informa um marinheiro ao seu superior, eram a patrulha marítima noturna.
— Em qual local?
— Um pouco da península, pegando uma região de Epanastatio, a região Sufixon e continuando no mar.
— Estranho, o que tem debaixo do mar e da cidade? É um local turístico.
— Bom, senhor, é superstição, mas, é confirmado que ali soterrada, abaixo da península, é a cratera do meteoro que matou os dinossauros.
O comandante do barco militar costeiro olha em silêncio para o rapaz, e ri.
— Você tá brincando comigo? Está dizendo que possa ter relação? O quê? Os dinossauros vão reviver e escavar e depois de chegarem ao mar, vão emergir e destruir a cidade? Garoto, isso deve estar com defeito e só isso, nunca usamos os detectores de ruídos.
— Sim, me desculpe senhor.
Uma caverna, uma imensa caverna, abaixo do mar, abaixo do barco desses soldados, escura, mas algo ali, parecia ser uma rocha, de fato estava entre rochas, mas por dentro, parecia ser algo metálico e essa aí, era a causa dos ruídos.
Estava tremendo, tremendo muito e forte, as rochas que estavam atreladas a ela, que se fundiram ao decorrer dos milhões de anos que se passaram, começam a se dissolver, então era mais nítido, um metal brilhante, um metal que ao se soltar das rochas, parecia ser novo, como se milhões de anos de mudanças rochosas fossem nada perante àquele material.
Ele tinha uma forma pouco geométrica, minimalista, não tinha muitos detalhes além da esfera brilhante no seu meio, que de repente começa a brilhar mais, dessa esfera começa a sobrevir um laser, como se fosse um escâner, analisando toda a caverna ali. O processo termina, o laser se dissipa.
Aquela forma então, aponta sua esfera em direção ao "teto" da caverna, e libera um estrondoso laser, imenso e destrutivo. O laser destrói toda a camada de rochas que estava acima da forma até chegar ao mar, que ao chegar, emerge de uma forma magnifica sobre a superfície, destruindo os navios e barcos ali próximos e alcançando os céus.
— Mãe, esses são os fogos que você me contou outro dia? — Pergunta uma garotinha a sua mãe.
— Nossa, sim filha, são assim, mas estão maiores e mais brilhantes que o normal... — Responde a mãe. Ambas estavam no centro da Metrópole de Epanastatio.
— ...Ainda não se sabe o que causou os gigantescos fogos de artifício em uma das regiões da Cúpula de Epanastatio, mas causou destruições também, barcos e navios foram encontrados destroçados nas regiões costeiras, por conta das unidades investigativas locais, acredita-se que esses "fogos" tenham vindo do fundo do oceano e náufragos destes mesmos navios, foram resgatados também, estima-se várias mortes, ainda não foram encontrados os corpos, o incidente aconteceu na madrugada desta quarta-feira, estão investigando o local, voltamos quando houver mais informações. — A jornalista noticiava no jornal matinal.
— Caramba, que loucura, como que uma explosão dessa saiu do fundo do mar? — Comenta Gape carregando uma caixa para o cômodo de cima.
Era Quarta-Feira, Gapear finalmente estava se mudando para casa de sua namorada, como combinaram.
— Meu bem, coloca aqui, depois do expediente é só a gente organizar, é a última? — Pergunta Thálita fitando Gape subir as escadas.
— Sim, é a última.
Terminaram de levar as coisas de Gape ao apartamento de Thálita, estavam prontos, ambos indo para seus compromissos, Thálita levava Gape à faculdade sempre que ele dormia lá e agora que ele mora lá, iria ser rotina.
— Entre minha dama. — Diz Gape imitando um modo cavalheiro abrindo a porta do motorista para Thálita.
— Eu acho tão fofo isso, mas não precisa, você sabe. — Fala Thálita dentro do carro, ligando-o.
— Eu sei, mas é o mínimo, vou ter dinheiro para tirar a licença só quando começar a atuar como biólogo, meu estágio me paga bem, mas ainda não dá pra juntar pra isso. — Diz Gape num tom conformado, mas que queria poder fazer mais.
Gapear cresceu num orfanato, foi encontrado por uma das irmãs em uma floresta gélida, sangrando e desacordado, recebeu ajuda e foi criado por elas, não se lembrava de nada, de como chegou lá, nem de seu próprio nome, não tinha nenhum registro com as digitais dele nem com o rosto, mas ele ganhou um nome: Gapear, tal que deixou a irmã responsável por tudo, irada, era para ser Gabriel, como o do anjo, mas a irmã que foi registrar, estava bêbada, ela tinha alguns problemas com bebidas. Gape nunca foi adotado, seus cabelos brancos e olhos dourados flamejantes espantavam quem visitava, ao completar 18 anos, ele tinha que seguir sua vida, o orfanato o ajudava até ali, não tinha custos para cuidar mais, desde então Gape tem lutado bastante e foi superando muitos obstáculos, sempre muito inteligente, entrou numas das melhores faculdades da cúpula e de graça, conseguiu um estágio como assistente de um explorador biólogo e nesse meio tempo conheceu Thálita. Antes de sair do orfanato, ele podia decidir se aceitava o sobrenome do orfanato, que é o nome do local também: Saint Hope, pois as crianças que não tinham um sobrenome, elas não o teriam até serem adotadas e assim receber o mesmo de sua família adotiva, mas como Gape nunca foi adotado, ele quis o sobrenome, de certa forma, era uma maneira de sempre manter um vínculo com todos ali, afinal, eram sua única família.
— Senhorita, como vai registrar a criança?
— Ga-Gabiar...
— Gapear?
— "I-Izo".
A enfermeira olha para a moça que claramente estava bêbada.
— Senhorita, tem certeza que esse é o nome mesmo? A senhorita não me parece muito bem.
— Tá me "jamando" de louca, é? "É CRARO" que eu tenho certeza!
Risos.
— O que foi? Assim do nada, rindo. — Comenta Thálita.
— Nada, só lembrei do dia que a irmã Hyra foi registrar meu nome, "é 'craro' que eu tenho certeza".
— Ah sim. — risos — Você me contou essa, que sorte, hein, Gabriel.
— Nem me fale, Tábata.
— Ó, 'cê não começa.
— Claro, claro. — Gape ri.
Havia acontecido algo semelhante para o nome de Thálita, mas antes dela nascer, contara uma vez a Gapear, seus pais estavam decidindo ainda.
Eles chegam na faculdade de Gape.
— Vai lá meu bem, você é incrível. — Diz Thálita colocando sua testa com a de Gape.
Gape a beija.
Fica admirando o rosto dela.
— Sério, você é a coisa mais importante da minha vida.
— Vai logo, seu bobo. — Diz Thálita envergonhada.
Gape desce do carro, olha ele desaparecer no horizonte.
— Certo, vamos lá, tá acabando.
...
Um deserto, várias dunas de areia, um vento muito forte, algumas poças de água. Uma visão da forma de metal, começa a tremer, começa a se transformar, se expande. Gapear sente, ele vê uma cena um tanto icônica em sua mente, como se fosse uma lembrança mesmo que ele sentisse que nunca tivesse vivido aquilo, uma imagem clara de um grande portal e criaturas estranhamente familiares saindo dele, muitas delas, mais a fundo era possível ver uma criatura muito maior que as outras, com quatro braços. Gape estava passando pelo portal de entrada da universidade, ele encosta o ombro na parede, suas pernas estavam tremendo.
— M-Ma-Mas o que foi isso? Parecia tão real...
Capítulo Um - Fim
Matheus Rufino - Julho 2020©
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