ANO: 2010/MÊS: SETEMBRO/DIA: 22
— Droga, perdi a carona com o Jorge porque me atrasei de novo, ai ai, aquele cara deve estar começando a me odiar. — Diz José para si mesmo rindo.
Ele com sua maleta na cabeça na tentativa de alguma forma não se molhar tanto, corria pelas calçadas de Brasília em direção ao Palácio Científico Brasileiro numa grande chuva, onde estava acontecendo a Convenção Mundial de Ciência, tal que ocorria de 10 em 10 anos, em diferentes países, onde cientistas apresentavam ideias para auxilio e solução de problemas atuais e por meio de votação, a melhor ideia era investida financeiramente.
Ao passar por uma esquina, ele nota uma estátua na praça de uma igreja, estava deteriorada, mais do que o habitual.
— Cara, as chuvas ácidas estão cada dia mais preocupantes, mas também não é pra menos, registraram o menor número de PH da história, 3,2 é muita acidez, e infelizmente isso só tende a piorar... — Dizia olhando a estátua, sob uma chuva normal. — E eita! Foco José, foco! — Incentivava a si mesmo voltando a correr.
Após muito esforço e chuva, ele chega na instalação.
— Senhor José, o senhor está ensopado! — Exclamava o segurança ao ver o cientista chegando no recinto.
— Nem reparei Bruno, obrigado por lembrar — Respondia o doutor com sarcasmo, o segurança ria.
— Tinha que se atrasar para eu te dar carona, né, Cellib? — Perguntava Jorge chegando perto de José e do segurança, na entrada da instalação.
— Tá, eu mereci essa Jorge, agora me arruma aquelas roupas de moletom e um jaleco. — Respondeu José rindo.
— Francamente, José.
Jorge era amigo de José desde os 15 anos, se conheceram no primeiro ano do ensino médio e nunca mais se separaram, fizeram as mesmas faculdades juntos e também moraram juntos até José se casar.
— Estou muito atrasado?
— Nada, só perdeu o discurso de abertura e as homenagens que o renomado cientista Jake Selúvico, vulgo cientista que a gente babava ovo no colégio, fazia a meros mortais como a gente. — Falava Jorge num tom sarcástico caminhando em direção da sala da convenção junto a José.
— É, eu estou muito atrasado.
José com a maior sutilidade tenta abrir a porta sem fazer muito barulho. Mas não adiantou muito.
— Oh, sejas bem-vindo, doutor Cellib, vejo que se empenha em seus horários! (Em português de Portugal).
— Claro, você tinha que ser a primeira pessoa que eu tinha que ver nessa convenção. —Respondia José a Marcos, um cientista português no qual ele não se dava muito bem.
José se sentou em sua cadeira, alguns cientistas de outros países no local olhavam com cara feia e de desprezo a ele. E por incrível que pareça não é por acharem que José não cumpria com seus horários, mas sim porque ele era um cientista brasileiro, não respeitavam e consideravam cientistas brasileiros, eles sofriam grande discriminação no ramo científico, mas José calou muitas bocas em suas duas convenções a qual participou.
— ... E é por isso que eu acredito que minha ideia deveria ser considerada fortemente em suas votações meus senhores. (Em inglês americano) — Finalizava um cientista estadunidense após apresentar sua ideia de combate à poluição industrial.
— Certo, recebam agora o cientista brasileiro, com dois prêmios e uma proposta aprovada e investida, o doutor José Cellib! (Em russo) — Anunciava Jake Selúvico, anfitrião do evento.
José levanta de sua cadeira, estava nervoso, e com um grande pé atrás com sua proposta esse ano, tal que seria transmitida ao mundo todo, como de costume, algo como essa convenção com poderio financeiro de mudar o mundo, não ficaria só entre quatro paredes.
— Primeiramente, gostaria de agradecer pela oportunidade de mais uma vez, estar aqui. Agradeço por aprovarem minha ideia a chegar ser votada aqui. Não vim apresentar o projeto de um carro sustentável, ao qual propus, que sei que investiriam pois daria um retorno muito lucrativo para os nossos investidores, fora que seria um pequeno passo para ajudar o nosso planeta, mas sim, vim para mostrá-los, a Teoria da Extinção da Vida na Terra, e trago possivelmente a solução.
"Droga, José, você não se lembra do que conversamos mesmo, não é? Não, você se lembra e mesmo assim quer apostar nessa ideia, você sabe como são esses caras, eu sei sua intenção de ajudar o planeta, mas eles querem algo que venda, que dê retorno ao que eles estão investindo, você tinha que ir com calma, seu burro!", pensava Jorge um pouco irritado com o discurso de José.
— Doutor Cellib, eu estava disposto a considerar sua proposta mesmo você conhecendo as regras, as melhores propostas selecionadas no sistema virtual, vem para pauta de votação presencialmente, e não podem ser alteradas, mas mesmo assim você quer apresentar uma ideia longínqua quase fantasiosa na qual não precisamos ouvir agora, nossos planos são de longo prazo, um pé de cada vez, pois temos muito tempo. (Em russo) — Argumentava Jake Selúvico.
— ...são de longo prazo, um pé de cada vez. — Falava o tradutor por meio de chamada em fones de ouvido a José. A cada língua falada tinha um tradutor responsável para traduzir aos cientistas.
— Compreendo perfeitamente senhor, mas se nada for feito agora, pode ser tarde demais, corremos um risco real! — Respondia José com uma grande determinação.
— Muito bem... — Jake fechava os olhos, respirava fundo. — Eu, os demais cientistas e a corte científica ouviremos, em respeito à sua reputação, doutor Cellib.
— Obrigado, doutor Selúvico! – Agradecia José.
— Bom, não vou tomar muito tempo dos senhores... Há dois anos, em 2008, mais precisamente em setembro, o índice de queimadas em pelo menos vinte e dois países, começaram a aumentar e muito, ao mesmo tempo, florestas inteiras viraram cinzas, durou alguns dias, parou, alguns meses voltava ao fogo novamente, continuou nesse ciclo, e bom, vocês sabem o que queimadas causam a nós e é... não ocorreu bem, inúmeras pessoas hospitalizadas por problemas respiratórios, queimaram muitas florestas pertos de metrópoles e cidades, poluição severa à atmosfera, comprometendo a qualidade do ar, não foi fácil, e nesses dois anos o número de países só aumentou. A poluição industrial aumentou 87%, poluição marítima 92%, a acidez da chuva 74%, com 3,2 aqui no Brasil, menor índice da história! — José dizia este fato mais determinado do que os quais ele citou anteriormente. — O desmatamento 89%, a temperatura térmica "padrão" por assim dizer, de muitos países tropicais aumentou pelo menos 60%, aqui no Brasil mesmo, em plenas oito horas da manhã, está fazendo 42°C, a tarde nem se fala e tudo isso, uma média mundial. Bem, todos aqui sabemos o que queimadas resultam: poluição no ar, aumentando a toxidade no tal, a poluição industrial do mesmo jeito e esses dois só estão acelerando o processo para uma hora romper a camada de ozônio, e o aquecimento global só ajuda a comprovar ainda mais isso; as ações antrópicas estão acelerando um processo que era para acontecer no mínimo daqui uns milênios, pois, o planeta vai sim continuar aqui como sempre esteve, mas nós não, como é de conhecimento geral, o planeta passou por extremos nesses bilhões de anos de existência dele, um inferno escaldante, um inverno devastador até acalmar e manter um equilíbrio para surgir vida, o que quero dizer, é que o planeta vai chegar nesse extremo de novo, não em mil ou dois mil anos, mas em dez anos, em dez anos meus senhores. — José parava para olhar a reação dos presentes no local.
— Não estou dizendo da boca pra fora, tenho estudado nesses dois anos, tenho todas as pesquisas com dados detalhados bem aqui! — Dizia José levantando a mão com papéis para cima.
— Todos os índices que citei, só tendem a aumentar como aumentaram em apenas dois anos, e minha estimativa para o planeta não ser mais habitável para nós é de dez anos, não para começarmos a fazer algo, não para pensarmos em longo prazo, mas sim que em dez anos não haverá como nós fazermos nada, em dez anos, o ar vai estar tão poluído que precisaremos de equipamentos respiratórios para sairmos de casa, logo entraríamos numa crise econômica, que depois resultaria na morte de milhões, nem todos teriam amparo financeiro para manter e abastecer um tanque de oxigênio, a chuva ácida nos causaria danos gravíssimos a pele, nos deixaria vulneráveis a doenças, fora os dejetos tóxicos nos oceanos matando inúmeras algas e o alto índice de desmatamento mundial vai jogar no ralo a estimativa de 21% de oxigênio na atmosfera para 2020, o que pode causar, e se causar da camada de ozônio se dissipar completamente como estimo que vai, aí podemos desistir, levará com sorte e otimismo, alguns dias, para nós e qualquer ser vivo morrer e a Terra se tornará um seco deserto inabitável até outro ciclo evolutivo se iniciar; o planeta leva milhões e milhões de anos para ir de um extremo ao outro e nós em o quê? Aproximado quinze mil anos da existência humana e conseguimos acelerar esse processo, sugamos nossos recursos até o caroço; conversei com um cientista da ASOS, ele disse que a possibilidade de sairmos da Terra para montar colônias em outros planetas é nula, Marte, a Lua, e os planetas no nosso sistema solar são impossíveis de se viver, fora que para levar a humanidade com toda certeza não ia ser imparcialmente, pobres e menos favorecidos com toda certeza ficariam, morreriam pouco a pouco em favelas e no que sobrasse aqui, não se trata de diminuir a população para outra viver, as condições e recursos já estão escassos o bastante, o que será das pessoas que ficarem quando eles acabarem? Até quando se trata de uma viagem entre planetas, a ganância está envolvida e nesse contexto, o dinheiro traria a salvação. — Completava José com um olhar aguado. Muitos cientistas ali olhavam atentos para José. Os cameraman's nos locais, que transmitiam as falas de José ao mundo todo, também olhavam.
— Mas eu trouxe medidas senhores, medidas que se aprovadas aqui hoje e se iniciadas ainda esse ano, farão toda diferença, conseguiremos atrasar o processo que citei, e talvez em vinte anos consigamos normalizar tudo, aqui, olha só, inúmeros projetos de máquinas com combustíveis sustentáveis, para limpeza especializada nos oceanos, em terra e ar, aeronaves especializadas em velocidade e apagar incêndios, materiais que poderíamos usar no lugar da madeira diminuindo o máximo o seu uso para assim evitar o desmatamento, troca de combustíveis usados em fábricas e em grandes indústrias, combustíveis sustentáveis para veículos, agricultura sintética, para erradicar de vez a fome no mundo, sim, isso é possível! Instalação de saneamento básico para favelas e periferias de diversos países é crucial se queremos evitar uma nova doença de eclodir, além de ser uma vergonha para o governo deixar que seu povo viva assim e entre muitos outros, e sem querer ser prepotente, algumas leis que se sancionadas ajudariam no processo, eu sei que simplesmente dizer para parar de usar navios ou até mesmo parar as indústrias está fora de cogitação, então vamos substituir o que poluem nelas; sei que parece uma loucura mas conversei com muitos cientistas que compartilham o mesmo pensamento que o meu, e creio que com o apoio da mídia que está nos vendo agora e com toda certeza nossos investidores, isso será possível! — Finalizava José.
Uma chuva de aplausos surgiu de muitos cientistas, mas nenhuma dos investidores, nem mesmo dos investidores novatos que estavam entendendo ainda como funcionava, pois sabiam que custariam horrores e talvez não desse nenhum retorno, é um enorme passo financeiro que José havia proposto, um passo eficiente, porém caro. Após conversar com os cientistas chefes do local, Jake Selúvico iria falar, daria a reposta que significaria a felicidade dos cientistas que apoiavam a ideia de José, como também mudaria o mundo.
— Doutor Cellib, decidimos como iremos prosseguir, uma proposta interessante a que apresentou, mas negamos. — um silêncio se instalava na sala. — Acredito na boa fé que teve, acredito nos seus suados estudos, mas não acredito em sua teoria, são conclusões precipitadas tiradas sem embasamento algum, e não digo isso desacreditando que o nosso planeta não terá esse fim, é algo que todos sabem, é o que ensinam para as crianças nas escolas, onde elas fazem redações sobre o assunto com ideias meigas para resolver o problema, como a sua. Sim, doutor Cellib, o planeta pode acabar assim, mas não em dez anos, creio que possa ter faltado um zero em sua estimativa, e temos tempo sim para dar um passo de cada vez, porque a cada vez dessa, temos poderio financeiro suficiente para instigar inúmeros países adotarem suas propostas, e não somente um país desenvolvido, todo mundo sempre pensou em carros sustentáveis, mas ninguém nunca trouxe como fazê-lo e mesmo se tivesse trazido, sem o poder que nós temos, como o mundo todo usaria? Que nem tem sido suas últimas propostas, o mundo todo adotou o que aprovamos aqui e se sabemos então que eles vão aderir, vamos dar um passo de cada vez, vamos dar um retorno lucrativo aos nossos investidores que estão fazendo isso acontecer, estou desapontado contigo, filho, você superou minhas expectativas duas vezes, mas dessa vez, me apresentou uma redação infantil. (Em russo) — Finalizou Selúvico.
— Claro, peço desculpas, e muitíssimo obrigado por me ouvirem até aqui, caso quiserem considerar meu projeto do Golksmagem F7000K2 mandarei completo em um HD e impresso ao escritório da sede em Moscou, senhor. — José descia desolado do palco, enquanto passava pelos corredores, os cientistas que apoiaram ele, ficavam com uma expressão de "como puderam ser tão injustos após essa apresentação e essa proposta extremamente importante?" e bem, não sabemos, talvez a ganância humana mais tarde custaria a moradia por sua avareza.
O discurso de José não havia sido um completo fracasso, o conselho resolveu investir em todos os veículos de limpeza e de combustíveis sustentáveis dele, pois é o que daria para vender, e lucrar de volta com isso, mas José sabia que isso não seria o suficiente, é como se fosse três peças cruciais que separadas de nada adiantaria estar funcionando, todos os métodos para diminuir isso e aquilo que José propôs, tinham que ser executados.
Capítulo 02 – Fim.
Matheus Rufino - 04 de Outubro de 2020 ©
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