ANO: 2010/MÊS: SETEMBRO/DIA: 29
A recusa do conselho científico à proposta do Dr. Cellib, causou grande comoção em fóruns da internet e em noticiários em todo o mundo, e várias críticas de outros profissionais da área, mas acabou não dando em nada, não afetou em nada o evento criado pelo Dr. Selúvico nem sua reputação. A Convenção Mundial de Ciência (CMC) era como os prêmios nobéis, mas com a diferença era que o "prêmio" era os cientistas poderem participar, só as melhores ideias de cientistas com um excelente histórico, de várias parte do mundo, eram aceitas na primeira votação, que acontecia online, e dessa forma, iam ao evento presencial, onde contavam com mais de mil cientistas fora os investidores, que também, eram de várias partes do mundo.
Washington DC – EUA
— Poxa! é realmente uma pena o que houve com a sua proposta José. (Em português, mas com sotaque americano) — Dizia Marcus Abraham ao telefone.
— É, Marcus, mas bem, eu já esperava algo assim, não que recusassem, claro, estava até que confiante, mas preparado para o pior. — Respondia José ao telefone.
— Mas pelo menos acataram seus sete projetos de máquinas bio sustentáveis, fora os outros vinte e dois projetos de outros cientistas, esse evento nem acata mais de um projeto por pessoa, por mais arrogante que o Jake possa ter sido, você saiu no lucro.
— De fato, eu sei que eu tenho sido um "queridinho" do Jake pelo meu histórico e competência, e dessa vez ele viu potencial novamente em meus projetos, mas só os aprovou pelo retorno lucrativo que teria, e entendo que os investidores precisam lucrar vendendo essas máquinas para outros países incluírem, mas ele ignorou totalmente meu apelo, Marcus, você sabe como esse meu plano só iria funcionar se executado em etapas específicas e claro, muita verba... Bem, não é todo mundo que entende como o planeta está a beira do colapso e que em breve estará inabitável para nós.
— Certamente, José, e por isso te liguei. Quero que você venha a Washington o quanto antes, tenho um assunto de extrema importância para discutir contigo, e preciso saber sua opinião, é algo grande José, descobrimos um planeta novo, bem, não posso dar detalhes, é ultra confidencial. E como amigo, e apoiador da sua teoria, eu sei o quanto você é mais que importante para essa nova descoberta.
— Caramba, Marcus! Certo, irei assim que puder, te dou mais detalhes no Chatapp.
— Agradeço, José, até breve. — Terminava Marcus finalizando a chamada.
Marcus Abraham era um amigo de José, se conheceram em uma conferência científica em Toronto, desde então se aproximaram bastante e continuaram mantendo contato, José até chegou a comentar sobre sua teoria da Extinção da Vida na Terra, e Marcus ajudou a fornecer dados para os estudos de José.
— Glup! Então o cara te chamou pra colar em Washington para discutir uma nova descoberta? Tá com a maior moral, hein, José?! — Dizia Jorge, engasgando um pouco com seu café com leite ao ouvir a notícia de José, estavam num café da tarde na lanchonete do Seu Zé.
— É, e eu tô' muito animado, mas com medo também, digo isso porque Marcus é que nem eu, louco das teorias, e um planeta novo, é algo grande, Jorge, muito grande. — Respondia José a Jorge.
— Bom, mas é só para discutir ideias, não é? Não é como se ele fosse te mandar pra esse novo planeta.
— É, você tá certo, vou me acalmar. Bem, preciso ir, prometi chegar a tempo para ajudar a Cristina no jantar hoje, valeu pelo papo, brother!
— Vai lá, maridão! — Risos — A gente se vê mano. — Jorge batia na mão de José enquanto ele saia do estabelecimento.
— Seu Zé, seus risoles estavam maravilhosos como sempre! — Dizia José apontando para o Seu Zé, agradecendo orgulhoso.
— Aoba! Valeu garotão! Volte sempre! — Respondia Seu Zé.
...
Era dia dois de outubro, 07:43 a.m, Washington, DC, o avião que José embarcou acabava de pousar.
"O que será que o Marcus quer de mim nessa reunião? Dicas para explorar esse planeta? Realmente me mandar pra lá como o Jorge disse? Eu sinceramente não sei...", pensava José um pouco preocupado descendo do avião.
De longe José conseguia ver Marcus acenando para ele, após buscá-lo no aeroporto, Marcus levou José para um café da manhã, antes de levá-lo a uma base da ASOS (American Study of Space) para discutir sobre esse novo planeta.
— Bem, de novo, fico feliz que tenha vindo em segurança e como acabamos de comer, vamos indo, certo? Temos um longo dia pela frente! — Dizia Marcus animado.
— Claro, vamos! — Respondia José animado também.
Enquanto o carro passava pelas avenidas estupidamente enormes comparadas as de Brasília, José olhava admirado, mesmo não sendo sua primeira vez em Washington. Ele estava realmente pensativo sobre o motivo de sua presença, não perguntou a Marcus em nenhum momento desde que chegou a cidade, achou que não seria profissional e nem apropriado, afinal, Marcus disse que era ultra confidencial, fora que estavam indo para um local seguro para conversar justamente disso, então era só aguardar.
"Será que ele vai me mandar mesmo para outro planeta? Não é impossível", pensava novamente, José ficava assutado com a possibilidade ao mesmo tempo que ficava animado.
A base da ASOS ficava na cidade mesmo, era uma pequena divisão de estudo astronômico, demoraria no máximo, alguns minutos para se chegar lá. A cada esquina que virava, José ficava mais nervoso, "Que diferença eu iria fazer? Eu sou apenas alguém que se preocupa com meu planeta, que influência, eu iria fazer comentando sobre outro?" era o que passava em sua mente. José era o tipo de pessoa que não confiava no próprio potencial mesmo tendo sido autor de grandes feitos, não se considerava alguém importante.
O carro virava em direção a uma calçada com um caminho até o portão do local, o caminho era marcado por belos arbustos devidamente podados e enfileirados. O portão era de um ferro robusto, arquitetado num estilo antigo para a época, bem, o local foi fundado há pelo menos noventa anos; o carro parou em frente ao portão, o motorista mostrava a identidade ao guarda que ficava na casa de recepção ali em frente também, a entrada ao local era autorizada, José ficou em silêncio o trajeto todo, ouviu apenas algumas perguntas e respostas entre Marcus e o motorista, vendo o carro entrar após o portão abrir, José repara na placa onde dizia o nome do local.
"A.S.O.S.: Scientific Division of Astrological Study"
— "Divisão científica de estudo astrológico", hum, meu inglês não está tão ruim pelo visto. — Pensava José lendo a placa.
— Meu amigo, ficou quieto o caminho todo, está tudo bem? — Perguntava Marcus olhando para o banco de trás do carro.
— Hah, claro, Marcus, não se preocupe! Estou um pouco indagado, mas em breve vamos conversar sobre isso.
Risos. — De fato. — Marcus, era uma pessoa séria e muito brilhante, com ideais diferentes dos de costume, mas tinha seus momentos de egocentrismo.
José descia do carro já admirando a estrutura do local, era como uma universidade, ou como uma determinada escola, com várias "casas" para seus fins específicos, gramados perdendo o verde, amarelando junto com as folhas das árvores, e não era por causa do outono, José sabia disso, afinal, fez uma teoria do que isso significava.
— Eu sei... o que você disse só se comprova a cada dia que passa... — Comentava Marcus ao lado de José, que estava com o olhar fixado na árvore.
— É preocupante, Marcus. Daqui alguns meses teremos que começar a utilizar máscaras para evitar respirar um ar tóxico que as queimadas estão causando, fora o oxigênio sumindo cada vez mais depressa da atmosfera. — José ficava com um semblante baixo só de lembrar as previsões de suas pesquisas.
Um vento passava entre os dois enquanto voava algumas folhas pelos seus pés.
— Marcus, será que, não vai acontecer isso? Será que eu estou delirando e só falando asneiras? Fazendo inúmeras mentes brilhantes ouvirem essas asneiras e ainda querer aprovação delas? Será que... — José olhava para o céu nublado e cinzento. — Eu perdi dois anos da minha vida nisso?
— Sua baixa auto-estima e desvalorização pelo próprio trabalho, sempre me surpreende, não importa se te conheço há alguns anos, nunca consigo realmente acreditar nisso. — Risos — José, as únicas asneiras que você fala são essas auto depreciações inseguras que você diz ocasionalmente, bem, vamos, você já vai entender o porquê de você estar aqui.
— Bem, me desculpe. — Risos. — Vamos.
Eles entram no prédio central, José repara no enorme saguão que tinha ali, haviam arbustos marcando o caminho até a recepção que ficava no centro no fundo do saguão, José começava a pensar que era um padrão de quem pensou no design do lugar, ele seguia Marcus que ia em direção a porta do elevador, naquele momento, indo em direção àquela porta, José pensava se realmente havia necessidade de um elevador ali, era um prédio de trê andares não muito alto, "Algumas escadas bastavam, não?", pensava consigo. Ao entrar no elevador e se escorar na parede, ele nota Marcus clicando nos botões.
"▼ 5x, ▶ 2x, ▼ 5x, ▶ 3x"
Ele havia clicado cinco vezes no botão que indicava a direção para baixo, duas vezes no botão que indicava a direção esquerda, cinco vezes novamente no que indicava direção para baixo e três vezes no que indicava a direção esqueda, novamente. Abaixo deles, só tinha o solo, pensava José, após isso, ele nota Marcus digitando uma senha que foi requisitada ao clicar aquela sequência. José estava começando se assustar, afinal, não era apenas sobre um planeta que iria ser conversado? Geralmente, notícias desse cunho, são imediatamente divulgadas ao mundo todo, "Vejam! A descoberta de um novo planeta!", e José pensava que só iria ter um privilégio de discutir algo a mais que logo seria revelado ao público, nada de mais. Ele permaneceu quieto. O elevador fez o trajeto, José sentia que estavam indo nas direções que Marcus havia clicado. Uns poucos minutos depois, a porta se abre.
José vislumbra uma luz muito forte, após alguns segundos, volta a enxergar normalmente, ele vê, eram algumas muitas pessoas indo para lá e para cá, levando papéis, outras em computadores, estava acontecendo algo grande ali, estavam se esforçando com tanta pressa que pareciam estar fazendo um trabalho com a data limite bem próxima e que deixaram muito em cima do cronograma.
— Venha, José, é por aqui. — Chama Marcus entrando em um corredor único.
José o seguiu até uma sala que o mesmo abriu a porta com a impressão digital da mão, José estava no ápice de seu nervosismo, era segurança demais para pouca coisa. Ele entrava atrás de Marcus em silêncio, passando pelo portal, José notava que a espessura da parede era de pelo menos uns quinze centímetros, Marcus fechava a porta. Ambos se sentavam.
A sala tinha uma mesa de metal e duas cadeiras, como se fosse uma sala de interrogatório, as paredes eram de almofadas, como se fosse o quarto de um paciente esquizofrênico, duas ventilações no teto, as únicas coisas que fazia José pensar que aquele lugar diferia desses outros, era o frigobar no canto da sala, a TV de oitenta polegadas em uma das paredes e dois cientistas, por mais que essa última condição não significava que eles não poderiam estar em algum daqueles lugares.
— Bom, estamos numa sala cujas paredes têm quinze centímetros de espessura, o caminho para essa ala subterrânea é um jogo de zigue-zague ativado por um código de segurança. Marcus, eu não consigo engolir nem um pouco que isso aqui é só uma conversa amigável para somente discutirmos sobre um planeta novo, e o motivo de eu estar aqui é o quê? Você vai me mandar para lá? Depois de sete planetas além da Terra, finalmente acharam um em que a humanidade possa migrar para ele? Ou nem sobre o planeta é? — Disparava José quebrando o silêncio.
Marcus ficava sério em silêncio olhando fixamente para os olhos de José. Isso perpetuou por pelo menos vinte segundos, o que naquela situação, parecia bem mais.
— Para começar, não existe sete planetas e um planeta anão para além da Terra, estima-se que nossa bola azul é o último planeta do sistema solar a pelo menos 68 milhões de anos — Revidava Marcus.
José arregalava os olhos.
Capítulo 03 - Fim.
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