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"A falta de amor em um indíviduo causa um estado de carência preocupante, onde esse indíviduo abandona sua vontade na busca de ser amado, mas e quando, esse indíviduo cresceu frio o suficiente para nunca precisar do amor? Isso é possível? Crescer sem a presença do amor e conseguir se conciliar com a vida psicologicamente?", era o que estava escrito num papel impresso.
"Quem precisa disso? Olha eu aqui, só preciso mostrar para aqueles desgraçados arrogantes que quem é brilhante de fato sou eu", era a frase que estava escrita a mão, logo abaixo do pequeno texto impresso, a letra não era muito bonita.
Uns sons de pingos de um líquido ecoava no que parecia ser um grande laboratório. Havia duas pessoas ali, um grande breu, com pequenas piscadas das falhas lâmpadas futuristas, a imagem desenhada naquele escuro era de uma criança na frente de um adulto que estava curvado com a mão da cabeça da criança.
— Por que você me fez, pai? — Perguntava a criança olhando extremamente incrédula chorando lágrimas finas, ao homem.
— Uma ambição que agora está inalcançável — Dizia o homem cuspindo sangue.
— Então é isso que eu sempre fui, não é? Só um objeto que você queria transformar no troféu para sair do seu fracasso.
— É, Zeus, eu nunca te vi como um filho, se é o que você quer saber quando me perguntava daqueles pais imbecis brincando com seus filhos catarrentos.
As lágrimas daquela criança começava a sair mais de maneira mais constante.
— Você, de todas as habilidades espetaculares que concedeu a mim, não foi capaz de me privar desse sofrimento que as emoções causam? Quem sabe sendo só uma máquina sem vontade eu não fosse mais útil pra você?
— De fato, mas, eu queria aprender junto com você o que é essa droga de amor que o mundo tanto fala, e pela forma que te tratei, o que me levou a esse momento, eu só percebo o quanto eu sou incapaz de amar, o quanto eu sou incapaz de ter empatia ou qualquer dessas merdas afetivas que todos pregam. — Ele cuspia sangue de novo. — Foi por isso que simplesmente não fiz um ciborgue, eu fiz um humano sintético, eu fiz alguém que poderia pensar por si mesmo, e você pensou, você queria ser amado e tudo que te dei foi ódio e sofrimento, eu reconheço, mas, Zeus, eu só vou poder te oferecer isso.
A criança coloca o homem sentado no chão escorando na parede, tira o braço que ele havia fincado no estômago do homem, abrindo um buraco dos dois lados, estava sangrando muito, órgãos saíam. A criança expressava um imenso ódio a situação. Agora abaixo de uma das lâmpadas, mesmo piscando era possível ver a aparência de ambos, a criança era um garotinho de curtos cabelos escuros, nariz, boca e olhos pequeneninhos; o homem era um velho magro dos cabelo brancos, com um bigode volumoso que escondia sua boca, e tinha olhos e orelhas grandes.
O homem logo em seguida morreu, a criança escutou sons de passos e saiu correndo do local.
Enquanto corria soltando as lágrimas no ar, gritou:
— QUE DROGA QUE EU FAÇO AGORA?!!
— Que tal começando me deixando dormir, falta uma hora ainda para podermos levantar, seu maldito. — Dizia Thálita irritada respondendo ao grito que Gape acabava de dar.
— Quê? Hã? Mas o que houve aqui? Eu tava lá com o velho, e foi tão real e...
— Meu bem, vem cá. — Dizia Thálita bocejando, enquanto pegava o braço de Gape, colocava em seu ombro, e deitava em conchinha com ele. — Você deve ter tido um pesadelo, fica quietinho e dorme, daqui a pouco conversamos, mas vamos aproveitar essa uma hora primeiro.
— Claro, descupe meu bem, vamos voltar a dormir. — Gape aceitava a situação sem ter voltado a realidade completamente, para ele tinha sido muito real.
ANO: 2335/ MÊS: JULHO/ DIA: 07 - QUINTA-FEIRA
— Então lá no sonho, você tinha matado aquele velho que aparentemente era seu pai? — Perguntava Thálita tirando a jarra de café da cafeteira, Gape havia acabado de contar todo o sonho pertubado que teve.
— É, esse sonho é estranho, é como a mais velha lembrança que eu tenho, aquela de eu estar andando num inverno tempestuoso e cair, logo depois ser achado pelas irmãs, é a mesma sensação, isso começou depois de ontem a tarde, onde tive tipo uma visão, era a mesma sensação que esse sonho e da lembrança do inverno, não sei Thálita, vai acontecer algo, eu posso estar recuperando minhas memórias, mas se esse sonho for verdade... — Gape afia os olhos com um semblante baixo. — Eu matei meu pai?
BAM! — Thálita bate a jarra na mesa, Gape se assusta.
— Gapear, você tem noção do que você tá falando? É claro que você nunca faria isso, você não é assim! — Dizia Thálita irritada.
— Bem, eu sei, agora claramente não, mas será que quando pequeno eu fui assim? — Gape olhava para a janela da cozinha com o rosto um pouco preocupado, mas respirava fundo logo depois.
— Meu bem... — Thálita olhava com um olhar preocupada e de que se importava muito com o que Gape estava sentindo naquele momento.
— "Meu bem" digo eu, olha você tá certa, é meio absurdo, e pode ser só alguns sonhos bobos e estou te deixando preocupada atoa. — Dizia Gape num tom calmo de arrependimento e de desculpas. Ele levantava da cadeira para sair da cozinha.
— Gapear Saint Hope, senta nessa cadeira, não ouse me estressar logo de manhã! — Dizia Thálita num tom de imposição.
Gape parava de andar, fazia uma feição de "sim, senhora" e voltava e sentava na cadeira.
— Céus, Gapear, por que você é assim? Não tenha medo de contar seus problemas pra mim, estar num relacionamento é isso, enfrentar os maus e bons momentos, você sempre me escuta quando eu te conto algo e melhora meu astral lá em cima. — Ela diz levantando as mãos para sinalizar o que estava dizendo. — Você não tá sozinho para se doar sem receber de mim em troca, eu te namoro também, droga!
Gape sorria.
— É... você tá certa, o que eu tenho que parar de fazer é achar que você vai agir que nem a Sabrina, você é incrível e sempre está aqui para mim quando preciso, nunca me diminui ou me humilha mesmo a gente tendo um contraste de vida tão grande.
Gape namorou durante dois anos uma mulher chamada Sabrina, foi um relacionamento difícil onde só ele se doava, e quando descobriu que não era recíproco, mesmo doendo e não querendo, ele terminou, amadureceu com tudo que houve, e pouco mais de um ano depois conheceu Thálita.
— É, você tem mesmo que parar de me comparar com ela, mas eu querendo ou não ela foi parte da sua vida, tenho que respeitar isso, porém não suporto o que aquela mulher fez contigo, eu vou estar aqui para te ajudar e não vou diminuir seus problemas, e é claro que nunca vou fazer algo assim com você, pelo amor de Deus, Gapear, é muito mau-caratismo.
Gape sorria de novo.
— Eu tenho medo de ter ter matado meu próprio pai... — Gape ficava com um semblante triste de novo. — mas dessa vez eu acho que foi só um sonho.
— É claro meu amor, eu também sonho matando os malditos do escritório que ficam me enchendo o saco diariamente. — Dizia Thálita com brilho nos olhos.
— Meu bem, na verdade isso é meio preocupante. — Dizia Gape rindo.
— É brincadeira, bobo, o que quero dizer é que pode não ser nada.
— É verdade, vamos tomar logo o café, você tem que ir ao trabalho, deixa eu pegar as torradas. — Dizia Gape levantando e indo em direção ao balcão.
"Ele mais uma vez me colocando acima dele, como se o estudo dele não fosse importante, ele não se sente digno de estar comigo", pensava Thálita com um semblante preocupada vendo Gape. Ela coloca testa com testa e as mãos na cabeça dele.
— Não é só eu que tenho coisas importantes para fazer hoje, você também tem! Para de me colocar num pedestal, estamos em pé de igualdade.
"O quê diabos eu tô pensando? Eu já havia prometido para mim mesmo que pararia de me auto depreciar assim na frente dela, mas dessa vez foi tão natural que eu nem percebi, eu não quero que ela tenha que falar isso sempre, nem comparar ela com outra, isso é desgastante num relacionamento, eu tenho que entender que se ela está comigo, eu fiz por merecer e tenho que usufruir disso!", pensava Gapear consigo mesmo.
— Mas é perfeita mesmo, né? Uma deusa mesmo, né? Dona do meu coração mesmo, né? Olha isso, tabom, tabom, tá certo, vou parar com essas auto depreciações, mas coisa linda, quero um beijo então, hein! — Diz Gape num tom de encher o saco.
— Seu bobo, vamos comer logo. — Thálita vira e vai em direção a mesa, estava rindo mas corada. Ela senta e vai mexer no celular.
"Você sabe o quanto auto flagelo torna um relacionamento cansativo e desgastante para o companheiro, se alinhe Gapear, se alinhe!", se motivava Gape em pensamentos, lavando as mãos enquanto olhava o brilho do sol refletindo em seu rosto.
...
Numa grande tempestade de areia, a forma de metal continuava se expandindo. Estava esbanjando muita energia, mudando o clima ao redor.
Base Militar 34 - Território de Sagnara.
— Sir, olhe aqui
— O que foi?
— Olha a quantidade de energia vindo da área dois do Deserto de Sagnara.
— Mas isso não faz sentido, como que um deserto está emitindo tanta energia? Tem pessoas na região?
— Não, está a pelo menos cem quilômetros quadrados longe de qualquer coisa, é só essa coisa e o deserto.
— Ontem recebemos informações da marinha de Epanastatio, afirmaram ver uma espécie de esfera saindo do mar no momento dos "fogos" onde matou alguns marinheiros. — O comandante ficava relutante, o jovem responsável pelas atividades metereológicas estava suando frio.
— Precisamos averiguar isso. Prepare a equipe.
— Certo, Sir.
...
— Bem, após Epanastatio, Sagnara e Goglocko chegarem na Terra com um pequeno grupo de pessoas, iniciaram imediatamente o Projeto Cúpula, instalando assim as Cúpulas onde parte da população vive hoje. Em ordem de necessidade foram instaladas respectivamente, a Cúpula de Epanastatio na América do Sul, ocupando a conhecida antigamente como região amazônica e suas bacias ao redores, graças aos recursos que ainda restavam, que eram a bacia amazônica e diversas florestas, o processo de regeneração do continente foi muito mais rápido do que teria sido em outras partes do planeta; Cúpula de Goglocko, na antiga América do Norte, foi escolhida por ser a região mais próxima da Cúpula da qual estavam os humanos; Cúpula de Sagnara, entre a antiga Rússia e China, cúpula essa que sozinha reconstituiu atmosfera e toda flora dos quatro continetes: Europa, Ásia, África e Oceania. A Cúpula de Sagnara foi desenvolvida para casos extremos, de opções péssimas, onde recursos fossem extremamente escassos, então possuindo poderio de regeneração muito mais avantajado que de Epanastatio e Goglocko, o processo foi muito mais rápido do que seria se fosse um dos dois que tivesse tomado essa difícil tarefa, mesmo que, claro, tendo demorado três anos a mais que os dois. — Explicava uma professora a sua turma.
— Mas professora, por que eles não colocaram mais cúpulas nessa região toda? Não teria sido mais rápido? — Perguntava um garotinho de olhos castanhos escuro e de volumosos cabelos cacheados.
— De fato Samir, teria sido, mas não tinham, como disse, vieram um pequeno grupo de humanos, em uma fuga era difícil se organizar bem para esses casos, mesmo que tivessem um protocolo de fuga do planeta, o Projeto Cúpula era experimental ainda, e os que tiveram mais sucesso foram as versões de Epanastatio, Goglocko e Sagnara, que inclusive, foram as tentativas oitenta e oito, oitenta e nove e noventa, dos experimentos de criação das cúpulas, respectivamente.
Uau! — Exclamava Samir, admirado.
— Professora... eles estavam fugindo do quê? — Perguntava uma garotinha dos olhos azuis claros e de longos cabelos loiros. Ela estava meio ressabiada e essa dúvida parecia estar a incomodando.
— Bem, até hoje não se sabe o que eram aquelas criaturas que forçaram a humanidade a retornar a Terra, mas sabemos que eles não são capazes de viajar pelo espaço livremente como nós somos e éramos na época, e isso que nos conforta que talvez nunca mais vejamos eles, afinal já se passaram duzentos e dezoito anos desde o ocorrido. — Respondia a professora num tom sério.
— Professora, professora! — Chamava animado um garoto de determinados olhos castanhos claro e cabelo curto. Ele estava tão animado que o fato da professora ter acabado de responder uma pergunta sobre algo provavelmente assustador para sua idade, não lhe importava nem um pouco.
— Diga, Doguio, se acalme. — Respondia a professora rindo com a reação do garoto.
— A senhorita disse que cada cúpula tem o tamanho de uma Argélia basicamente, então, como eles trouxeram essas cúpulas para cá nas naves que a senhorita nos mostrou? Não caberiam nela. — Perguntava Doguio animado com sua dúvida e ansioso por uma resposta.
— Fico feliz que vocês se interessem tanto por história... bem, Doguio, Sagnara aperfeiçoou a tecnologia de encolhimento, quando eles trouxeram as Cúpulas, elas eram do tamanho de um sanduíche e quando ativadas tinham todo um processo cronológico até ficarem gigantes.
— E como a regeneração chegava até as ilhas e territórios afastados do continente, professora?
— As cúpulas tinham essa capacidade, mesmo não sendo por terra, ela continuava enviando os nutrientes necessário para todo o planeta, tanto que a regeneração dedicada a América do Sul e Norte, acabava indo um pouco para a Europa e África. Mas por algum motivo, no período que os humanos estiveram fora, os continentes e ilhas ao redor se uniram um pouco, tanto que hoje em dia só temos quatro continentes, que são os das cúpulas, e para ficar bem explicado, a antiga Antártica, pertence ao território de Goglocko. Ele foi primeiro a conhecer e estabeleceu como seu. — Explicava a professora com o dedo indicador para cima.
O sino toca, a aula termina.
— Bem classe, estão dispensados, na próxima aula estudaremos o desenvolvimento político dos humanos em Neo Kosmo, de volta a Terra na Era da Regeneração e na Era da Restauração Limpa, atividades nas páginas trezentos e dois e trezentos e três de seus holo tablets.
Uns acenavam apontando um "sim!", outros respondiam "Certo!", outros faziam caretas de preguiça e assim todos deixavam a sala. Na saída as crianças passavam por um homem que estava ali parado na porta olhando para elas saindo, era um homem baixo comparado a média, magro, de cabelos prateados e brilhantes olhos dourados, era Gapear.
— Eles realmente gostam de história, não é, doutora Yollivister?
— Bem, sempre há aqueles que gostam e outros que não. — Respondia rindo a professora arrumando suas coisas.
— E o que te traz no bloco juvenil, Gapear?
— A sua especialidade em estudar história constantemente, dona Lácia.
Gape começa a andar e se senta em uma cadeira olhando fixamente para a professora.
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