ANO: 2335/ MÊS: JULHO/ DIA: 08 — SEXTA-FEIRA — 02:43 PM
— Mônica, veja para mim os resultados dos exames das trinta duas crianças e compare com os resultados dos noventa e dois adultos.
— Certo senhorita Thálita, analisando e comparando os suspeitos da síndrome de visão extremamente aguçada, resultado pronto em exatamente três minutos e doze segundos. — Respondia uma voz humana comum mas vinda da I.A Mônica, era uma voz única, então ser igual a de um humano, por ser realista a ponto de parecer que ela possuía cordas vocais, não traria confusões.
— Em segundo plano, analise também os registros que a base trinta e quatro mandou para nós.
— Certo.
Thálita estava digitando freneticamente e fazendo muitas coisas ao mesmo tempo.
— Ah! E claro, por favor também analise em todos os âmbitos possíveis, a região do triângulo das bermudas, tem umas ondas sísmicas estranhas vindas de lá.
— Claro, senhorita Thálita.
"Certo, considerando essa minha teoria, se essa síndrome não for uma doença e sim uma habilidade, precisamos de controle... mas como considerar isso uma habilidade, Thálita?! Isso literalmente faz você ver os grãos do concreto no chão, é agoniante, você não enxerga o mundo sem os óculos para reprimir esse aumento exponencial da sua visão!" era o que Thálita pensava enquanto continuava freneticamente digitando em seu teclado.
Síndrome da Visão Extremamente Aguçada, nome esse dado por Thálita, que desenvolveu lentes capazes de ajustar a visão dos pacientes que sofrem com isso, os fazendo ver o mundo de maneira normal e não como um microscópio, como descrevia a própria Thálita. Não se sabe como essa síndrome surgiu, mas é extremamente rara, estima-se que a cada um milhão, somente um possui, o que para a nossa época é muito pouco, claramente contando com o fato de que a população mundial é de apenas aproximados setecentos milhões de pessoas.
— Análise completa, deseja ouvir o relatório? — Perguntava Mônica a Thálita.
— Claro, inicie. — Thálita girava na cadeira, olhando para a imensa tela holográfica que antes estava atrás dela. O escritório de Thálita era num dos andares mais altos da sede das corporações Yollivister. Tinha uma bela vista para apreciar da cidade demasiada tecnológica.
— As trinta e duas crianças de diferentes locais do planeta, possuem estágio tênue seguido por um padrão, mas dentre elas, uma está com o estágio avançado se comparada as outras e continua aumentando segundo as amostras de sangue. Seu nome é Janita, de doze anos, sexo feminino, vive no orfanato Saint Hope, cidade de Sagnara, Cúpula de Sagnara. — No painel onde mostrava o espectro da voz de Mônica e informações estatísticas, surgia inúmeras páginas com informações da criança, Janita. — Com exceção da garota, todas as outras trinta e uma crianças seguem somente com um pequeno distúrbio da síndrome, não chegará a afetar suas vivências. Meu diagnóstico é que não há necessidade dos seus óculos, por enquanto senhorita.
— Certo, entendi... e quanto aos adultos?
— Os testes apontam resultados mais baixos que das crianças, níveis menores que tênue, nenhum há um estágio como o de Janita, que segue evoluindo, e nem como o do restante das crianças que paralizado, ainda segue no tênue. — As estatísticas seguiam aparecendo na tela.
— Então é isso, não tem mais o que duvidar, essa síndrome ataca mais crianças, despertares adultos são basicamente inúteis de tão fracos. Janita... foi igual a mim, na faixa da pré-adolescência, e segue aumentando, como foi comigo, até hoje, que está num nível desesperador, se não fosse por essas lentes... — Dizia Thálita pensando alto — Mônica!
— Sim, senhorita?
— Abra o registro daquela cientista, Hadassa Pantávoit, que me inspirou a estudar a fundo tudo isso. O maior registro da história, quero rever.
— Certo, senhorita. Gostaria de ouvir informações principais?
— Sim e não poupe a história dela.
— Hadassa é a diagnosticada com o despertar mais alto da história, de noventa e oito porcento, que ocorreu ainda muito nova, aos sete anos, abaixo dela, somente o seu, senhorita, com sessenta e sete porcento. Não se sabe como ela viveu até os trinta e três anos sem que a síndrome a atrapalhasse, afinal, descobrimos que ela possuía a síndrome, na segunda autópsia do corpo dela, que foi feita com base nos dados da primeira, onde de fato olharam o seu corpo, já que a segunda não seria possível, pois o mesmo já se encontrava enterrado. E desde a primeira autópsia, não se encontrava nenhum tipo de lente ou auxiliar tecnológico na mesma, se ela viveu sem um, não sabemos o que levou ela a não cometer suicídio, como os demais casos dos despertares altos sem auxílio. Ela morreu aos anteriormente citados, trinta e três anos, vítima de assassinato, ela e o marido foram perseguidos e mortos pela máfia de farmácias que residia numa cidade do interior de Sagnara, onde a mesma barrava os recursos medicinais e monetários enviado pelo governo e abafava tudo subornando as autoridades locais. Hadassa e seu marido, Sbar, foram para a cidade produzindo remédios para a população, que por sinal, era extremamente carente. Deixando três filhos jovens, órfãos, que assim como o corpo do pai, estão desaparecidos. A morte de Sbar só foi confirmada devido ao número de testemunhas.
— Meu Deus, isso é triste demais. Bem, compare a minha evolução com o quadro de Janita, eu vou ver novamente os registros da autópsia dessa doutora, posso ter deixado algo passar, não é possível. E também, qual foi o último endereço dela, ou qualquer vestígio da mesma? Preciso desenvolver um controle, Mônica, óculos não são a solução permanente para isso. Hoje finalmente vou atrás disso.
— Dois endereços, a casa que ela viveu aqui na metrópole com o marido, até ir para o interior, e a casa lá, além disso, somente registros de escola e cursos. Sbar, idem.
— Certo, prepare documentos necessários caso eu precise entrar em áreas restritas. — Thálita andava em direção a porta. — E, ah, marque um horário de visita no orfanato Saint Hope, vou ver Janita.
— Ok, senhorita. A análise dos registros da base trinta e quatro foi finalizada, referente ao triângulo das bermudas, também. — Muitas e muitas pequenas telas repleta de informações aparecia em frente a grande tela holográfica.
— Arquive, lembre-me quando eu voltar, até porquê, hoje o Gape vai fazer os exames com a minha mãe, tenho tempo de sobra.
— Bon voyage, senhorita.
Os resultados das análises que apareciam eram um tanto curiosos, "Energia do objeto desconhecido é extremamente densa e poderosa, capaz de iluminar todas as cúpulas caso fosse a fonte, não se sabe se possui consciência ou um piloto, mas é extremamente perigoso", "As placas tectônicas da região estão se movendo causando um certo terremoto, o diferencial é que é muito mais potente do que qualquer um já registrado, se compara aos estudos das placas que separaram a Pangeia, essa é a estimativa se continuar aumentando no ritmo que está"
...
— Como você sabe, desde da era Pré Neo Kosmo, quando ainda os humanos viviam aqui, dois mil e seis, já era o ápice dos estudos para recuperar memórias e tratar alzheimer, então em Neo Kosmo aperfeiçoaram e de fato melhoraram em níveis sem prescedentes a medicina, mas diferente do câncer hoje, o estágio importa, sim, pois se os neurônios morrem, a memória morre junto, porém, se ele só desconecta da sinapse, é possível reconectar e assim ter a memória novamente, que no caso, nunca morreu. Mas no seu caso, Gapear, você infelizmente teve acesso ao tratamento tarde demais, considerando que talvez que o catalizador do sua perda, possa ter sido muito tempo antes dos seus oito anos, pois quando te encontraram na floresta e o levaram ao hospital, você já não tinha os neurônios que guardavam as memórias de longo prazo e ainda tinha um tumor em baixo do seu cerébro, foi uma cirurgia bastante complicada mesmo com os conhecimentos da época, enfim, seus neurônios já não estavam mais lá, mas mesmo assim, os médicos quiseram manter um acompanhamento para estimular esses neurônios a reaparecer, pois eles haviam sumido, não morrido, poderiam estar em outras regiões, adormecidos. — Lácia estava andando com Gapear pelo corredor da instituição, em direção a saída.
— Realmente, doutora, bem, por isso, desde muito cedo aceitei e tentei viver uma vida normal, havia perdido as esperanças nesses acompanhamentos, mesmo com... — Gape mexia as mãos. — Meus diversos problemas mentais e emocionais, e tudo veio se estabilizando de pouco a pouco, conhecer a Thálita... ajudou muito, de uma forma inimaginável, sabe, foi surreal para mim, está sendo ainda, mas digo, quando tudo está se estabilizando e ficando bem, começo a ter esses sonhos, com essas sensações realistas, que volta a afetar minha cabeça, e eu não quero incomodar ela, entende?
— Eu sei bem como você se sente, eu vivi na sombra do Skurt por muito tempo, "a garota pobre que casou com o gênio filantropo", claro, conquistei meu lugar, meu legado, digo, hoje lidero uma das maiores pesquisas históricas e científicas, tenho uma série de doutorados e graduações e nunca deixo de me esforçar, ter a Thálita não me atrapalhou em nada, fui mãe e continuei me esforçando pois mesmo que em Neo Kosmo, pela maioria da sociedade, tivesse estabelecido que o fato de ser homem ou mulher não significasse mais nada, eu sofri demais na minha adolescência. — Dizia Lácia determinada afiando os olhos.
"Olha como é fraca, pelo amor de Deus, eu falei que precisava de um menino, um homem, Fuzy!"
"Como pode ser inútil desse jeito, igual a sua mãe, só serviu para te ter mesmo, é tão evidente a minha superioridade, céus, Lácia, nem para você ter vindo um pouco mais úti-"
Puf!
— Doutora? — Chamava Gape, segurando o braço de Lácia, que estava indo em direção a um pilar. Ela estava perdida em suas lembranças.
— Ah, me perdoe, Gapear. Viajei um pouco agora.
— Sem problemas, doutora.
Eles saiam pela entrada da instituição, caminhavam até o carro de Lácia, ambos entravam.
— Mônica, trace a rota mais curta para a sede. — Pedia Lácia para a I.A.
— Certo, senhora.
A sede era trinta minutos da instituição.
— Tá, então a senhora quer uma análise sináptica do senhor Gapear, para saber como ele viu imagens semelhantes as nossas pesquisas? — Perguntava um homem baixo, cabelos loiros, de jaleco e óculos. No laboratório de Lácia.
— Isso Kirby. Vamira e Jackes, auxilie o Kirby, quando acabarem, tragam os resultados para mim, estarei na minha sala.
Vamira era uma menina alta, cabelos longos num roxo bem vívido, pintado até a altura das orelhas que daí para cima seguia preto bem brilhante até a raiz. Usava batom roxo. Olhos verdes. Muito bonita do nariz fino.
Jackes já era uma menina mais baixa, da mesma altura que Kirby, cabelo curto e verde pintado também, um verde fluorescente. Usava batom preto. Olhos puxados de pupila cor castanho claro. Nariz redondinho.
Gapear estava deitado num leito, com o que parecia uma coroa, anexada a sua cabeça, era para leitura e estímulo mental. Estava dormindo, ajudaria a ficar num estado de relaxamento mais profundo.
— Certo, iniciando revisão mental. — Dizia Kirby
Uma transmissão aparecia nas telas holográficas flutuantes de Vamira e Jackes.
— Wow! Ele sabe mesmo como ele é, bem, quer dizer, pode saber... então quer dizer que acertamos nas nossas simulações? — Falava Vamira animada.
— É, é coincidência demais para ser mentira, bem, não tiramos aquelas simulações do nada, foram das hipóteses de como eles viviam e invadiam planetas, de como o corpo deles precisaria ser para ter a resistência e poder que eles tinham e claro, como o suposto líder era... — Argumentava Jackes olhando para a figura do cujo líder que aparecia em sua tela, da mente de Gape.
— É, galera, e o mais interessante é que é uma reconexão de neurônios, ou seja, memórias perdidas que voltaram. Então ele finalmente conseguiu? Mesmo sem passar por um estímulo, neurônios dados como desaparecidos, voltaram e se conectaram, incrível! Mas por quê justo agora, recentemente, e não nos acompanhamentos que ele teve? — Dizia Kirby, perplexo.
— Você sabe como é isso Kirby, casos raros acontecem. — Acrescentava Vamira.
Essas eram reações ao assistirem as memórias que eram dadas como impossíveis de voltar, pois desde criança até aquele momento, nenhum estímulo havia feito as memórias de Gape voltar.
— Nossa, o que é isso?! Você tá estimulando o cerébro dele? — Perguntava Vamira vendo mais uma memória de Gape que começou a transmitir naquele instante.
— Sim, ele tá sonhando, mas sonhos decorrentes de momentos já vividos, no caso, ele tá lembrando de mais uma coisa, mais sinapses se reconectando, como que justo agora os estímulos estão fazendo efeito? Qual é o catalizador disso? — Explicava Kirby para Vamira e Jackes, apontando para a tela holográfica enquanto se questionava. As duas ficavam espantadas com o que viam.
Era possível ver claramente o rosto da criatura, não possuía olhos, no lugar tinha o que se parece com guelras, boca grande, dentes serrilhados, utilizava o crânio de um animal não identificado, mas com quatro chifres e dentes extremamente longos, tinha uma pele esverdeada, o semelhante do lado possuía uma pele vermelha. Havia inúmeros deles correndo pela Metrópole de Sagnara, era possível ver a visão em primeira pessoa olhar para todos os cantos em desespero. A criatura agarrava alguém e levantava no alto. Num instante não estavam mais nas ruas e sim num laboratório desconhecido, a criatura tinha dobrado de tamanho. Ela cortava no meio a pessoa que agarrava, Gape gritava pulando do leito.
— PARAAAAAAAAAAAAAAAAA! — Gape caia no chão, a coroa lançada no outro lado do laboratório.
— JACKES, SEDATIVO! — Gritava Vamira. Gape estava gritando e se contorcendo no chão.
Jackes imobilizou Gape e aplicou o sedativo. Vamira o pegou pelos ombros e se encaminhava para levá-lo a um quarto.
— Eu imagino que as coisas não andaram muito bem. — Dizia Lácia vindo do corredor após escutar os gritos de Gape.
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