ANO: 2320/ MÊS: JANEIRO/ DIA: 13 — SÁBADO — 09:45 AM
Orfanto Saint Hope, 23KM da Metrópole de Sagnara.
O orfanato ficava numa área rural, claro, com todos os recursos, médicos, alimentícios e logísticos também, foi fundado por um homem há 60 anos. O lugar era, primeiramente, uma escola, mas o homem rabugento porém de bom coração, acabou adotando muitas crianças sem lar em sua instituição, onde mais tarde viria se tornar um lugar não só de estudo, mas também de abrigo. O homem era uma família que falava inglês, língua essa que não é tão usada quanto o português é atualmente, e acreditava que o lugar era e seria mais ainda de uma Santa Esperança.
— Hyra, chame as crianças e brinque na neve um pouco com elas, se precisar, as irmãs Rita e Ester estarão de prontidão — Dizia uma voz meiga, era a Diretora do orfanato, a irmã Rute, estava na escada para subir o andar de cima. Rute era uma mulher alta, de cabelos castanhos claros e longos, olhos castanhos escuro, tinha uma verruga pequena ao lado de seu pequeno nariz.
— Certo, irmã, mas não se preocupe eu cuido de tudo, não quero incomodá-las — Respondia a irmã Hyra, uma jovem baixa e magra, de cabelos loiros e olhos azuis, vestes longas de cor cinza claro, assim como a de todas as irmãs do orfanato. Hyra foi resgatada das ruas com vício em álcool, onde ainda trabalha nisso para não prejudicar sua vida, mas é dependente da bebida.
— Certo, querida. Qualquer coisa, nos alerte.
— Claro, irmã! — Hyra sorria.
Hyra apertava um botão, as imensas portas do salão se abria, era possível ver a neve caindo calmamente em seus campos nevados, onde não era mais possível ver o verde da grama. Hyra ia até a sala de recreação chamar as crianças.
— Fofuras, vamos brincar um pouco na neve, vamos? — Falava ela ao aparecer na porta repentinamente. As crianças que tinham da faixa dos 6 aos 12 anos, gritavam "Ebaaaa!" animadas, largavam os brinquedos que seguravam nas mãos e saiam correndo em direção a irmã.
— Certo, mas com cuidado, sem correr, vamos com calma — Hyra advertia as crianças e as guiava organizadamente para fora do orfanato.
"Ha! Toma essa!", dizia uma criança atirando uma bola de neve, "Argh!", exclamava outra caindo pelo impacto da mesma. Hyra ria. "Queria ter tido algo assim quando mais nova", pensava ela, puxando uma garrafa de seu manto, a garrafa claramente era de bebida, mas estava enrolada em um manto com a logo do lugar.
— Deus que me perdoe, mas preciso começar o dia bem, hehe! — Dizia ela dando um gole.
— Tia Hyra, você está bebendo água? — Chegava uma menininha muito meiga perto de Hyra.
— Digamos que sim, Sofia.
— Eu quero um pouco!
— Porém... — Hyra levantava o dedo indicador de uma mão. — Está com um remédio muito ruim — Ela fazia uma careta. — Então pegue do bebedouro logo ali.
— Tabom, tia! Melhoras.
"Que coisinha mais fofa, hein?!" Pensava Hyra morrendo de amores pela criança. Num reflexo, ela dava outro gole, um mais longo dessa vez.
— Iha! 'Tá pega' parceiro! — Exclamava ela, meio baixo, com a garganta ardendo.
"Tabom, Hyra, por hoje basta, amanhã continuamos com isso, vamos cuidar das crianças", pensava ela consigo mesma guardando a garrafa em seu manto.
— Ai, ai, ai, ai! — Exclamava um garotinho caído no chão sentindo dor.
— Não dá pra gente nem tomar um gole que um já se machuca, fala sério. — Dizia Hyra enquanto levantava e ia em direção ao garotinho.
— Calma, Pedro, onde machucou? — Hyra chegava para socorrer o garotinho.
— Meu rosto, tia, o Hieck me deu um soco, só porque peguei a neve na neve, e ele disse que era dele, porque estava perto dele, me vê se faz sentido? — Dizia o garoto com voz trêmula.
— Fala sério, Hieck, olha o campo nevado que está aqui, peça desculpas para o Pedro e vá para o seu quarto, perdeu sua chance de brincar aqui hoje! — Falava Hyra, séria. Hieck ficou furioso, mas obedeceu e se encaminhou para a entrada do salão.
"AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!", Hyra escutava de repente, um grito desesperado, mas estava longe, bem longe, ela podia sentir, ela olhava para todos os lados, mas vê em um, pássaros voando das árvores, a pelo menos uns 200 metros dali. Ela olhava para as crianças, via que nenhuma tinha escutado, ela se preocupou no mesmo instante, não pensou em ver se todas as crianças estavam ali, só considerou que uma poderia ter ido longe demais e ela não cuidou. Então ela puxou a manga comprida de seu braço, clicou na sua pulseira, abriu uma tela holográfica. Ela levantava e amarrava até a cintura seu manto para que pudesse ter liberdade correndo. Mirava a tela perto de sua boca e saia disparada na direção de onde veio o grito.
— Ester, desça rápido para cuidar das crianças, eu acho que deixei uma escapar e ela está a uns duzentos metros daqui, escutei um grito, vou lá ver.
— Céus, Hyra, você estava bebendo de novo? Como deixou uma sair assim? Estou descendo.
— Muito obrigada irmãzona.
— Ai, ai, ai, hein!
Hyra corria o máximo que podia, a neve atrapalhava um pouco, mas ela estava agoniada, queria chegar e ver logo a todo custo. Passava e desviava das árvores, pulava pelas pedras, "Meu Deus eu nunca vou me perdoar se algo acontecer com alguma dessas crianças, essas fofuras e as irmãs são as únicas pessoas que eu tenho!", era o que ela pensava enquanto corria. De repente ela vê uma criança deitada no chão enquanto ela passava reto da mesma. Ela derrapava parando, ia em direção da criança.
— Meu Deus, você tá sangrando muito, Jesus amado! — Exclamava Hyra enquanto olhava tentando reagir ao ver a criança que estava caída no chão, sangrando muito pelos ouvidos, com o corpo todo machucado, velhos trapos como roupa, estava deitada de bruços. — ESTER, CHAMA A RITA E A DIRETORA, TEM UM MULEQUE SAGRANDO MUITO AQUI, NÃO É DOS NOSSOS, MAS PRECISA DE AJUDA URGENTEMENTE! — Gritava Hyra com o braço mirado na boca.
Após avisar, ela virava a criança de cabelos prateados, via o rostinho todo machucado, o nariz, boca e olhos, sagrando muito, fora todas as contusões no rosto. Colocava sua cabeça no peito da criança, o coração ainda estava batendo. Ela pega a criança no colo e começa a andar rapidamente com cuidado para não cair com ela.
O garoto foi socorrido no orfanato, após os primeiros socorros, o levaram para o hospital, pois continuava inconsciente. Ele teve que passar por uma cirurgia de risco mesmo para a época, havia se encontrado um nódulo desconhecido em baixo do cerébro, entre o mesencéfalo e o lobo temporal, que estava atrapalhando o cerébro funcionar corretamente. Cirurgias, mesmo as de grande porte, não se era cobrada de nenhum cidadão, a medicina e cuidados era gratuita a todos, mas certos casos, onde se exigia não só a ajuda das máquinas, mas também uma imensa habilidade dos médicos, era cobrada, e nesses casos o Conselho da Cúpula avaliava se custeava ou se deixava os responsáveis arcar com os custos, e nessa cirurgia delicada, a inseção de pagamento foi negada, e o orfanato não tinha recursos para pagar, iriam entrar numa imensa dívida por uma criança que nem mesmo conheciam.
— Hyra, e agora? O que faremos? Eles não encontraram ninguém responsável por esse garoto, ele não tem nenhum registro, a conta irá cair para nós, mesmo nós não sendo as responsáveis por ele, pois o Conselho decidiu. O orfananto não tem verba para isso. — Explicava Rute preocupada para Hyra.
— Eu sei, Rute, eu sei, mas o que podíamos fazer? Falar para eles não fazerem a cirurgia e deixar o garoto morrer? — Rebatia Hyra séria.
— Teremos que parcelar em vários anos e pedir um aumento de verba, mas eu nem sei se o Conselho vai conceder, eles já negaram a isenção de pagamento e colocou a responsabilidade em nós! O que se esperar deles? — As duas continuavam discutindo, e de repente um homem se aproximava, ele era novo, no máximo seus 25 anos ali; cabelos ruivos curtos, cortado com um degradê dos lados, olhos azuis claros.
— Irmã, Rute, certo? — Ele dizia, as duas paravam de falar e olhavam para ele.
— Sim, e quem seria o senhor? — Respondia Rute, Hyra olhava desconfiada.
— Bem, eu sou um bom crente na palavra de Deus, apenas. Eu senti em custear a cirurgia do garoto, escutei a conversa das irmãs de longe, peço desculpas. E antes de qualquer resistência eu insisto, não aceiterei não como resposta.
— Mas senhor, nem nos conhecemos. — Dizia Rute.
— Eu me chamo Levi, mas lembre do apóstolo, por favor. — Se apresentava o homem rindo.
— Se é da vontade de Deus e o senhor sentiu, não impediremos, mas aviso que não teremos como retribuir.
— Imagina, não se preocupe com isso.
Hyra sentava no banco ali perto, tirava a garrafa do seu manto, que estava manchado de sangue. Ela toma o resto da bebida duma vez. Quando termina ela faz uma careta, "Urgh!", exclamava ela. Logo em seguida ela tira outra da mochila em que trouxe e estava ao seu lado. Começava a beber desenfreadamente, mas dessa vez, ela não sentia mais a ardência na garganta, Hyra, depois de uma certa quantidade ingerida, não sentia esses incovenientes até acordar no outro dia, onde levantava extremamente mal.
— Céus, Hyra! De novo, não! Pare com isso, estamos em um hospital! Escute, nós vamos adotar o garoto, mas teremos que gerar registros e tudo. — Rute sentava do lado de Hyra tomando a garrafa dela. — Teremos que gerar, pois, não existe nenhum. E eu quero que você registre ele, o doutor disse que ele não se lembrará de nada, apresenta sérios sinais de amnésia e sem previsão de recuperar, ele explicou algo de sinapses e neurônios que não entendi muito bem, nos orientou a manter um tratamento com estímulos para ver se ele recupera de pouco em pouco. Ele terá alta em dois dias.
— "Zerto!" — Respondia Hyra dormindo, Rute colocava a mão no rosto.
As duas, dois dias depois, retornaram ao hospital, como o médico havia orientado. Hyra estava bebendo escondida de Rute de novo, segundo ela, estava muito estressada desde que encontrou o garoto e precisava se desestressar.
— Me sigam, senhoritas. Ele já está acordado, o doutor fez os primeiros exames e ele já pode receber visitas, ele só se lembra como fala, como aprendeu ou qualquer lembrança ele não se lembra. — Explicava a enfermeira orientando Rute e Hyra. — Bem, se precisarem de algo, é só chamar. — Ela mostrava o garoto, ele estava sentado olhando para a janela.
— Nossa, ele é muito "banitinhu", digo, bonitinho, glup! Não se importe Rute, tô bem, é sério. — Dizia Hyra fazendo uma rápida expressão séria e sinalizando um joinha com a mão. Rute nem falava nada, só olhava séria para Hyra.
— Q- Quem, são vo...cês? — Dizia o garoto de cabelo prateados com olhos dourados flamejantes.
— Oh, meu bem, desculpa a tia, eu me chamo Rute e ela se chamava Hyra, seremos suas tutoras daqui em diante. — Rute se sentava num banco ao lado da maca onde o garoto estava, Hyra ficava em pé ao lado dela. — Você lembra seu nome?
— Não... tia, eu disse... ao doutor... isso... ele me perguntou tam... bém, não lem... bro de nada. — Era notória a dificuldade do garoto ao falar, devido as suas capacidades motoras estarem voltando ainda, e que, sua única lembrança é de como falar, foi algo instintivo que ficou.
— Tudo bem, então me diga, você se importa em ir morar conosco? — Perguntava Rute.
— Não... tia... eu não tenho lu...gar para ir mesmo... — Rute fazia uma expressão de pena, estava muito comovida com tudo aquilo.
— Consegue andar tranquilamente? — O garoto acenava com a cabeça respondendo a pergunta de Rute. — Ajude ele a descer, Hyra. — E então Hyra ajudava o garoto a descer.
— Olha, me dê essa bebida. — Rute pegava a garrafa pequena que Hyra escondia. — E vá registrar ele, coloque o nome de Gabriel, como o do anjo, você sabe as regras, sem o sobrenome, tradição do orfanato, já expliquei ao diretor do hospital e agora só vou terminar a papelada e saíremos daqui, estou te confiando essa tarefa para irmos mais rápido.
— Não 'esqueeenta', Rute, tá tranquilo.
— Tia, você... tá bem? — Perguntava o garoto segurando a mão de Hyra enquanto chegavam ao local para registros.
— Tô supimpa "demaiser", garoto. — Respondia Hyra puxando outra garrafa de seu manto, afinal, como ela conseguia esconder tantas garrafas nesses mantos?
— Senhorita, como vai registrar a criança? — Perguntava a enfermeira olhando Hyra.
— Ga-Gabiar... — Hyra estava só com metade dos olhos abertos.
— Gapear?
— "I-izo"
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