ANO: 2335/ MÊS: JULHO/ DIA: 08 — SEXTA-FEIRA — 03:32 PM
— Mônica, rua quatro, casa azul de madeira, sem número de identificação, última casa da rua, confere? — Perguntava Thálita descendo do carro. Estava em frente da casa que ela estava querendo visitar, a casa de Hadassa Pantavóit. Que ficava em um bairro bem afastado na Metrópole.
— Sim, senhorita.
"Certo, vamos começar então. Eu deveria ter vindo aqui muito tempo atrás mas o trabalho ocupava muito tempo", pensava Thálita enquanto ia em direção a porta da casa. Passava pelo gramado verde florido. A casa e o quintal estavam em ótimas condições.
— Senhorita, as probabilidades de encontrar algum registro relevante para sua pesquisa são nulas, pelo fato de que uma empresa de imóveis comprou a propriedade pela prefeitura, que deteve os direitos já que eles não possuiam nenhum parente vivo, como te expliquei anteriormente. Não seria mais viável visitarmos a casa dela na cidade do interior onde ela residiu até a sua morte? — Perguntava Mônica enquanto Thálita passava a mão no identificador da porta. A biometria de Thálita já estava cadastrada no sistema graças a Mônica, que resolveu a questão burocrática. O identificador resultava positivo, a porta se abria.
— É ridículo como a corporação tem tanta influência, me sinto mal podendo fazer isso, é a privacidade de quem já se foi, mas preciso descobrir algo.
— Mesmo que não encontre nada, senhorita?
— Mesmo que não encontre, Mônica. Você entendeu.
Thálita andava pelo chão de madeira que rangia com cada passo dela. A casa mesmo sendo numa era moderna foi construída com madeira, claro, madeira sintética, material criado em laboratório que trazia o mesmo resultado que a madeira, já que a original em espécie era extremamente limitada o uso para fins que não fosse destinado a preservação do meio ambiente. Essa casa tinha até a fechadura com chaves, foi trocada por protocolo da prefeitura quando adquiria o imóvel, por mais segurança. Era possível ver o local totalmente vazio. Thálita ia de cômodo em cômodo, mas tudo que tinha era o chão empoeirado e paredes com teias de aranhas.
— É, Mônica, talvez você esteja certa — Dizia Thálita se conformando com a situação enquanto olhava para os lados na esperança de estar errada.
Tentando descobrir algo implícito, ela começa a verificar o piso, a parede, para ver se encontrava algo oco, em falso, um lugar escondido onde se pudesse abrigar as informações que Thálita tanto ansiava em descobrir. Ela continuava se frustrando pois não encontrava nada. Ela encosta na parede e desce escorregando as costas até se sentar no chão.
— Talvez eu esteja procurando da maneira errada, Mônica. Se ninguém soube que ela tinha essa síndrome e só foram descobrir quando eu a oficializei como uma, e pela autópsia, concluíram que ela tinha e isso... e isso... — Thálita travava um pouco, ela estava entrando numa linha de raciocínio para provar seu ponto mas enquanto fazia isso, ela percebia que na verdade estava provando o contrário — Talvez, eu estivesse errada e equivocada com tudo isso.
— Me explique sua linha de raciocínio, senhorita, não consegui assimilar os fatos.
— A segunda autópsia do corpo dela foi feita com base nos dados da primeira. No caso, foi concluído que ela possuía a síndrome pois ela apresentava os sinais da mesma nos olhos dela na primeira autópsia, e eu sei que a nossa tecnologia foi capaz de simular eles, e só comprovar a conclusão pelos sintomas, mas e se mesmo tudo isso ter sido somente um grande equívoco, Mônica? E se na verdade mesmo tudo indicando que ela tivesse a síndrome, ela não tivesse nada? E se eu não conseguir avançar aqui? Os óculos não são o suficiente — Thálita colocava a mão no rosto, talvez o maior caso da história nem existisse, e se fosse o caso, ela não saberia onde continuar procurando informações para desenvolver uma cura ou um controle para essa "habilidade".
— Isso seria basicamente dizer que eu falhei, senhorita. A senhorita me desenvolveu com a taxa de obtenção de resultados em testes de cem porcento, meu sistema não era para te dizer um resultado equivocado. E mesmo que não encontre um tipo de controle, senhorita, as lentes e óculos continuam sendo de grande ajuda.
— Eu sei, mas não quero que as pessoas tenham que depender disso, é frustrante você precisar cuidar dos seus olhos o tempo todo pois se não você vai ver as pulgas do seu cachorrinho andando no chão, isso tem que ter o controle, óculos não são o suficiente, Mônica! — Thálita arregalava os olhos — É isso, se a minha dúvida era se a Hadassa tinha mesmo ou não essa síndrome, eu preciso pensar como alguém que tem ela, se ela tinha segredos, ela não ia deixar a mostra da empresa de imóveis ter acesso, eu preciso procurar algo vendo com essa visão aguçada! — Exclamava Thálita animada. — Eu sei que noventa e oito porcento pode ser invisível até para você, Mônica, mas vasculhe o local buscando símbolos ou palavras escritas microscopicamente. — Thálita Levantava o braço onde estava a pulseira, onde o sistema de Mônica ficava. Enquanto isso ela olhava de um lado para o outro.
Ela sabia que as lentes de regulagem que ela desenvolveu já eram de grande ajuda, diminuiu em larga escala a taxa de suicídio em quem possuía a síndrome, por exemplo. Mas ela queria uma liberdade disso, e o fato de uma cientista ter tido essa síndrome no mais alto nível sem nunca ter usado nenhum tipo de auxílio tecnológico, a fazia pensar que não era impossível, e que mesmo que ela não se convencesse disso, talvez fosse uma habilidade e não uma doença.
— Certo, senhorita, acredito que posso encontrar algo semelhante mas só a senhora poderá verificar, não foram inventadas lentes capazes de serem tão precisas quanto o nível de cinquenta e dois porcento da síndrome.
— Pois é, Mônica, infelizmente...
Thálita andava devagar se guiando com uma lente do óculos em um olho para ela poder ver normalmente enquanto no outro prestava atenção em cada detalhe da casa.
— Desse jeito vai demorar um ano e é difícil discernir isso, que saco!
— Senhorita, coloque seu óculos, achei rupturas desconhecidas no cômodo ao lado. — Thálita rapidamente colocava os óculos e se dirigia ao cômodo.
— Sinalize para mim Mônica — A pulseira emitia um raio laser no canto do cômodo, bem na diagonal, Thálita tirava os óculos
— "Aqui", é o que está escrito, mas como que ela conseguiu escrever isso? Ver uma coisa, agora escrever microscopicamente é outra! — Dizia Thálita, indignada. — Temos algum tipo de pinça para pressionar aquilo? — Dizia colocando os óculos novamente.
— Existe uma pinça médica que tem níveis de tamanho para cirurgias mais delicadas, o último nível deve ser capaz de pelo menos apertar isso, senhorita. — Argumentava Mônica. — Thálita abria uma tela holográfica de sua pulseira.
[Acesso aceito, bem vinda, Thálita Yollivister]
[Corporações Yollivister - Corpo Médico]
[Acervo de instrumentos médicos]
[Pinça microscópica T900]
[Sim, quero materializar no meu dispositivo móvel]
Do holograma de Thálita, a pinça se materializava, Thálita a agarrava. Era o sistema de teletransporte para casos de emergências, apenas um certo número de empresas e pessoas permitidas tinham acesso a essa tecnologia.
Thálita se deitava de bruços perto do canto do cômodo, acessava o último nível da pinça, tirava os óculos. Com muito cuidado e destreza, ela alinha a pinça bem no lugar onde estava escrito "aqui". Pressiona a pinça no lugar. Dele ejeta um cubinho.
— Nossa, eu jurava que não ia dar, isso aqui mesmo sendo o menor nível, ainda era gigante para onde pedia para apertar e bem, ejetou um cubinho, acho que dá pra pegar com a pinça... — Thálita, tenta agarrar o cubinho com a pinça. Ela consegue, em seguida ela aproxima bem de seus olhos, e percebe que tem algo escrito.
— "Aqui" , ê, droga! — Thálita abaixava a cabeça rindo. O cubo era menor que o lugar de onde ela tirou ele. — Aqui Mônica, armazene isso num recipiente maior. — Mônica materializava um cubo transparente e anexava o cubinho no centro dele, Thálita conseguia levar o cubo na mão. Após isso ela verificava se encontrava mais algo. Se levantava para continuar sua busca por informações.
— Senhorita, a base trinta e quatro mudou o status de tempo de requisição de moderado para emergencial em relação a análise do objeto desconhecido.
— Tá, reproduza o relatório, eu vou levar só esse cubinho, por ora. — Dizia Thálita olhando para o cubo transparente com o cubinho anexado em seu centro, enquanto dava passos rápidos para sair da casa.
Após ouvir todo o relatório, já em seu carro, Thálita pensava no que fazer a partir dali, ela ainda não tiha visitado Janita.
— Sério, eu vou ter que mandar isso para a minha mãe, ela vai saber como lidar, mas caramba, por que isso tá emitindo tanta energia? E qual a fonte? Poxa vida, nem visitei Janita para entregar um kit de lentes e óculos, droga! — Thálita encosta a cabeça no volante. — Mônica, envie o kit por mim.
— Certo senhorita. — Thálita colocava a caixa que estava no banco de trás em seu holograma logo acima de seu braço, a caixa cai para dentro do holograma como se ele fosse um portal. — Entregue ao sistema postal de Sagnara.
— Obrigado, Mônica, bem, vamos lá, vou ver minha mãe, esse problema é mundial. — Thálita ligava o carro e saía dali, estava de noite. Seguia caminho para sede da corporação Yollivister.
ANO: 2335/ MÊS: JULHO/ DIA: 09 — SÁBADO — CORPORAÇÃO YOLLIVSTER — 12:53 AM
— E bem, depois disso eu vim para cá. — Explicava Thálita para Lácia. Ela estava sentada ao lado da cama de Gapear que estava desacordado.
— Entendo, filha. Bem, o Levi sabe de alguma coisa, eu sei quando ele tá mentindo. — Respondia Lácia, ela estava novamente encostada na porta.
— Mãe, como a senhora conhece tão bem o Mago Moderno e só o chama pelo nome, diferente de todo mundo? — Questionava Thálita percebendo uma certa intimidade de Lácia. Kirby, Vamira e Jackes que estavam sentados no banco ao lado da porta, arregalam um pouco os olhos.
— Já te disse, Thálita, eu conheço ele de longa data, apenas. — Lácia coloca a mão no queixo — Quero saber do que ele queria me proteger... — Ela diz pensando alto. Thálita desconfia ainda mais.
— Tá, mãe, mas o que a senhora acha que possa ser essa mentira dele no meio dessa crise extremamente importante? Digo, até as outras cúpulas estão envolvidas.
— Que ele sabe o que aquele objeto é, ele sabe, e provavelmente sabe que não podemos fazer nada, e que ele queria evitar o máximo de mortes possíveis, mas o que me intriga, é como ele teve um pressentimento tão preciso? — Explicava Lácia.
— Mãe, precisa, é a sua linha de raciocínio, como assim? — Respondia Thálita incrédula.
Kirby acenava com uma cara de "A gente te entende". Thálita olhava perplexa para a sua mãe.
— Thálita, os exames que o Gapear fez não eram apenas exames rotineiros para ver como estava as sinapses dele. Ele viu eles Thálita, em lembranças, não só isso, ele viu eles no futuro, invadindo Sagnara.
— Mãe, como assim? Isso não faz o menor sentido! Como assim são "lembranças" do futuro?
— De duas uma, ou ele vem do futuro, ou algo mandou essas lembranças para ele.
— Mãe, a senhora tem noção do que tá dizendo?
Kirby fazia uma expressão de "Sim, ela tem". Vamira e Jackes concordavam com ele.
— Eu sei Thálita, é um absurdo, mas nunca senti tanta certeza em algo que eu faço como sinto agora e o mais irônico é que essa situação é a mais duvidosa e sem fatos que eu já estive.
— Antes dele desmaiar no contêiner, ele teve um colapso mental, fortes dores de cabeça, com certeza ele teve outra lembrança... — Argumentava Kirby para quebrar o silêncio que se estabeleceu após a fala de Lácia.
— É... E foi muito... Muito pior... — Gape acordava abrindo pouco os olhos e já tentando se levantar. Todos desviavam o olhar para ele rapidamente.
— Meu bem, calma, devagar — Thálita ajudava Gape a sentar na cama.
— Eles eram muitos, a defesa das Cúpulas não adiantavam de nada, eles possuíam uma força estrondosa, derrubavam e quebravam tudo sem esforço, eu via inúmeros humanos morrendo. Sagnara era totalmente devastada e o portal que se abria, cobria todo o céu com seu vermelho brilhante e dele saindo inúmeras naves como um enxame de abelhas. Era o que eu via, só que no sonho foi muito mais dolorido e complicado, mais desesperador... — Gape estava com um semblante preocupado.
— É, o Gapear está sendo nosso cronômetro até a invasão. Eu sei que é absurdo, mas se vocês confiam em mim, precisam aceitar que vamos ser invadidos como verdade absoluta, viveremos o que nossos antepassados viveram em Neo Kosmo. — Dizia Lácia olhando para todos ali.
— É, se previnir não custa nada, se for mesmo acontecer, se previnir pode evitar a morte de milhões. — Argumentava Kirby.
— Vou forçar contato com o Levi, já se passaram cerca de duas horas, se não houver resposta vamos iniciar o protocolo de defesa e alertar as outras Cúpulas. Eu confio no Gapear. Se eu estiver muito afobada com tudo isso, eu vou ser afastada do meu emprego e perderei a minha credibilidade no ramo científico, posso ser até presa por abuso de autoridade, de certa forma usarei minha influência para forçar atitudes dos Conselhos. Mas meus instintos não me enganam, sinto uma crise vindo.
Lácia estava muito séria quanto ao que falava, para muitos ela estaria louca, agindo como uma criança, confiando apenas em lembranças duvidosas de seu genro, ações de um velho amigo pois o conhece bem e uma teoria do que seria aquela forma de metal. Mas talvez naquele momento, com a possibilidade de uma crise, Lácia não se importaria de perder seu emprego e credibilidade, inclusive, ela preferiria estar errada quanto a todas aquelas suposições dela, mas com certeza ela não iria querer arriscar a vida de milhões só por causa disso.
— Mãe, estamos com você... Eu... Eu só estou muito incrédula com tudo. — Respondia Thálita.
— Estamos juntos nessa, doutora — Falavam Vamira, Jackes e Kirby.
— Prometo tentar parar de ser um peso morto para vocês. — Dizia Gape, ele estava muito decepcionado consigo mesmo.
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