Eu ainda me pego
Fantasiando sobre
Quando serei a musa de alguém,
Quando serei sua inspiração
Para desenhos, pinturas,
Músicas ou poemas.
Fantasio sobre quando me dirão:
“Você não se vê pelos meus olhos,
Não vê como sorri quando está feliz,
Não vê o qual confortável você fica
Quando está com seus amigos,
O quanto sua voz aumenta
Quando não consegue conter sua felicidade.
Não vê o quão feliz me faz”.
E isso é errado, eu sei.
Eu deveria ser minha própria musa,
Eu deveria me endeusar,
Eu deveria me colocar
Sobre um pedestal,
Não deveria esperar
Que outros o fizessem por mim.
Não, eu não me vejo
Como me veem.
Não vejo meu sorriso sincero,
Não vejo minha feição quando gargalho
Nem quando estou feliz.
Mas, incrivelmente,
Eu sei que sou bela
Com minhas sardas quase invisíveis,
Minhas estrias e pintinhas
Marcando meu corpo
Como se fossem x’s
Num mapa do tesouro
Porque, sim...
Talvez...?
Meu corpo seja um tesouro.
Talvez eu seja um tesouro.
E apesar das cicatrizes,
Das lágrimas e de tudo
Que se esconde em baixo de um sorriso,
Eu ainda me amo e, sim,
Sou belíssima.
Alguns dias isso pode parecer
A maior mentira do mundo.
Alguns dias seu cérebro distorcido
Faz você odiar o que vê no espelho.
Alguns dias, porém,
Você não se importa com isso
Porque sabe que são mentiras
E que, por fora ou por dentro,
Há beleza em você,
Uma beleza que nenhum
Desenho, pintura
Música ou poema
Seria capaz de descrever.
Ainda assim,
Me pego fantasiando
Sobre quando serei a musa de alguém.
Quando dirão que a beleza das estrelas
Nem se compara à minha,
Que a Lua sente inveja de mim
Ou que ainda não inventaram
Uma palavra boa o suficiente
Para me descrever.
Às vezes sou minha própria
Musa inspiradora.
Mas só às vezes.
Sei que sou bela,
Mas é inevitável
Quere ouvir essas palavras
Saindo por outros lábios,
Com outros olhos me observando,
Com outra pessoa me convencendo
Que sou bela e, assim como todo mudo,
Apesar de tudo, mereço ser amada.
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