Você abre os teus olhos gemendo em dor enquanto o teu corpo espasma descontroladamente, quase como se tivesse sido acertado por um raio. Previsivelmente você cai da cama, batendo no chão com força o suficiente para parar os espasmos, porém eles são logo substituídos por uma dor agonizante que pulsa por todos os músculos, juntas e ossos do teu corpo.
– N-Não… N-Não é ver-verdade… NÃO É VERDADE!
–... Fo-Foi tu-tudo apenas um pe-pesadelo- ISSO! U-Um mero pesadelo…
Por mais que a dor pelo teu corpo é enlouquecedora, a que a tua mente e alma experienciam é exponencialmente pior, ao ponto que a negação te conforta com o seu maligno abraço.
– E-Eu nunca conheci aquelas pessoas… E-Elas são só estranhos que vi em algum lugar. Isso, isso…
Com cada palavra, cada mentira, a dor pelo teu corpo parece reduzir a ponto que – por mais que continue um pouco incapacitante – torna-se tolerável o bastante para você se levantar do chão e sentar-se na cama.
– O que disseram é bobagem! E-Eu nem me lembro de meu passado, haha… Por que essas coisas me incomodariam tan-
Antes que possa terminar a tua pergunta, um alto som de tiro te interrompe. Subitamente, um silêncio afiado se estabelece no ar e algo para fora da janela parece chamar pela tua atenção. Cuidadosamente – e um pouco dolorosamente também – você se aproxima dela, primeiro vendo apenas o céu sem estrelas e a neve caindo, mas logo a mansão Cœur D'Argent torna-se visível à distância e, em frente dela, uma multidão preocupada.
Por um instante você permanece parado, esperando para ver se algo acontece, mas de novo, a sensação de algo chamando por você invade a tua mente, te apressando para ir lá, quase como se um instinto primitivo ou animalístico dentro de você sabe que algo está muito errado.
Movendo-se para longe da janela – agora com uma mente um pouco mais calma – você fecha os teus olhos e começa a pensar no que fazer, mas a resposta chega muito mais rápida do que esperado pois sussurros de puro ódio e desgraça ecoam assim que as tuas pálpebras se encontram. Eles praguejam o teu nome, satirizam o teu passado, você não os aguenta por nem mesmo um único segundo e então, agarrando o teu casaco e apresando-se para fora do quarto, apenas um pensamento continua na tua mente enquanto os outros se reduzem a meras vozes incompreensíveis à distância:
– Eu não fiz nada, eu não fiz nada, eu não fiz nada, eu não fiz nada…
Assim que você termina de descer as escadas e então alcança o salão principal da taverna, você vê um dos guardas da vila impedindo a saída do Jorge e da Thaís, em frente à porta principal:
– Désolé mas eu não posso permitir que vocês vão lá, não é seguro.
– O que você quer dizer com não é seguro?! Nós fazemos parte do grupo de caça, seja o que for que entrou na mansão nós podemos ajudar!
– Eu sei mas… Não acreditamos que seja a Besta…
Mesmo escutando a conversa à distância despercebido, a preocupação em suas vozes é quase que palpável e então, você cuidadosamente sai pela porta dos fundos intento em investigar.
Comments (0)
See all