A praça principal já está preenchida ao máximo da sua capacidade, é difícil de acreditar que todos moram aqui devido o quão deserta e morta a vila têm estado desde que você chegou; há um palco ao centro, onde um quarteto de cordas junto com um harpiscórdio tocam músicas de celebração, junto de um grupo – até que grande – de pessoas dançando em frente alegremente; à esquerda do palco localiza-se o banquete, luxuosamente apresentado em uma série de mesas longas e cobertas por toalhas de tecelagem complexa, aparentemente organizado em cursos, cada mesa os tendo em suas – igualmente finas – bandejas e pratos de prata, com ajudantes continuamente levando as vazias para logo e depois retornando-as preenchidas com mais comidas deliciosas.
Porém, de forma demasiadamente contrastante, à mesma distância do palco – mas à direita – há um altar, com a cabeça da Besta na ponta de uma lança firmemente plantada no chão e com um – quase que literal – mar de flores abaixo em memória às vítimas. Por mais que as tuas experiências passadas e as flores te suplicam para continuar odiando a Besta, para vê-la como um mero demônio sem mente própria cujo único propósito era matar e trazer dor ao mundo, algo nas profundezas do teu subconsciente sente-se extremamente desconfortável, bravo até... Com a maneira que a cabeça dela é meramente apresentada como um troféu, um objeto.
– Hmm… Orion?
– Orion?!
Jorge balança a sua mão em frente dos teus olhos te puxando para fora dos teus pensamentos. E então, procede a brincar, tentando mascarar a sua preocupação – por mais que sem muito sucesso –:
– Você tá bem? Não vai me dizer que você tem medo de multidões, Hahaha.
– O quê? Não não… Eu estou bem.
– Ó! A Senhora Marie já vai começar o discurso dela, vamos chegar mais perto.
Thaís nota após a música pausar e todos começarem a se aproximar do palco, resultando em vocês três fazerem o mesmo.
Entre a multidão – de alguma forma – vocês acabam encontrando o Lord Édouard. Após cumprimentar a Thaís e o Jorge, as palavras dele são direcionadas a você:
– Depois disto, há algo que precisamos conversar.
– O-Ok…
Você responde balançando a tua cabeça vagarosamente em afirmação, também achando estranho ele estar entre a multidão invés de ao lado da sua mãe, no palco:
– É… Vo-Você não deveria estar lá em cima também?
– Não há necessidade para isso.
O tom da sua voz te traz a impressão de que ele preferiria fazer qualquer outra coisa em vez de atender a esta feira, como se houvesse coisas mais importantes, mais problemáticas a resolver. Isso te faz querer dizer algo a mais, mas no exato momento em que você abre a tua boca, a Lady Marie começa o seu discurso:
– Alguns meses atrás…
Por mais interessante que o discurso dela venha a ser, toda a tua atenção é inesperadamente tomada por um salto abrupto do teu batimento cardíaco, um salto muito similar à quando você está em perigo iminente. Você tenta não causar uma cena, controlando-se para não perder a tua compostura, porém o ar tornando-se difícil de respirar; a luz das tochas do palco, cegantes; o mais miúdo dos sons, alto ao ponto de quase estilhaçar vidro e, um buraco sem fundo cria-se dentro do teu estômago.
Escalonando a tua infelicidade, essas coisas se revelam ser meros sintomas assim que uma “vontade” alcança o seu pico uma vez que você percebe ser observado: Em torno de três ou quatro metros ao sudeste de você, Maebh olha em tua direção de forma preocupada, como se soubesse o que está te acontecendo, porém quando os seus olhares se encontram, a sua preocupação transforma-se em maldade com a formação de um sorriso malicioso em seus lábios, os seus olhos parecem despir a tua alma de toda proteção, mentira e supressão, finalmente revelando algo… Algo estranho, uma parte de você que fora uma vez esquecida… Não! Uma parte de você que fora – e ainda está, até certo ponto – dormente.
Quando você está prestes a descobrir o que ela vê, outro salto em teu coração te provoca a desviar o olhar por uma fração de segundo e então ela desaparece, invisível dentre a multidão como um fantasma dentre o nevoeiro.
– ... Graças a mon fils, a Thaís, o Jorge, o Orion e ao Sigmundo, assim como todos os outros que perderam as suas vidas para matar a Besta, nós podemos viver em paz novamente. Que O Deus Sem Nome abençoe as suas almas e nossa vila, amén. Aproveitem a feira, todos!
Logo quando você estava prestes a procurar pela Maebh, a voz da Lady Cœur D'Argent ecoa mais alto e todas as pessoas começam a aplaudir em celebração, te dispersando novamente mas não o bastante, de forma que – ao menos – você se lembra de perguntar ao Lord Édouard sobre ela mais tarde.
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