- Nós precisamos ter uma conversa muito importante com você, minha filha.

- Certo, pai. - Disse com um sorriso, ainda que o sorriso fosse bem mais “nervoso” do que um verdadeiro. 

Será que havia chegado a hora de me casar? 

Mas eu nem havia sido apresentada à sociedade ainda!

Meu vestido para o baile ainda estava sendo feito e...

- Como você sabe, seu irmão mais novo acabou de ser aceito pela Academia...

Eu ri.

Entrar para a academia era tão difícil, poucas famílias conseguiam que seus filhos entrassem e mesmo assim não só um dos meus irmãos haviam conseguido, mas os dois!

Marcel, Morgan… VOCÊS SÃO DEMAIS!

- Mas ele falhou em conseguir o auxílio da família real.

Hã?

É... e o que isso tem a ver comigo?

- Ainda assim não há como não ficarmos orgulhosos de seu irmão, o que ele alcançou é uma benção para nossa família.

Sim...? Nunca duvidei disso?

Na verdade, sempre mostrei meu orgulho por aquelas duas criaturas que chamo de irmãos. 

- Eu concordo mãe! - Disse, apenas porque senti que devia falar alguma coisa.

- Eu também concordo com vocês, mas... - Meu pai tossiu. - É complicado para uma família pequena como a nossa sustentar dois filhos na Academia ao mesmo tempo...

Isso não está cheirando bem… Nada bem.

Odeio pensar em dinheiro. Tenho trauma. 

- E os empréstimos que pegamos. - Minha mãe disse em suspiro.

Meu pai balançou a cabeça.

Certo. O que isso tem a ver comigo? Eu sou apenas a filha de vocês, sabe...

- O Rei recentemente começou a busca para achar as Pretendentes a Rainhas do Príncipe Herdeiro, como você bem sabe. Uma das tradições nessa busca é que pelo menos uma venha de uma família mais... Modesta...

Eles não... Eles não fariam isso... Fariam?

Tipo... Sim, claro, era uma tradição que o Rei compensasse as famílias que enviassem noivas para o Príncipe, mas...

Não. Não. Não. Não.

Eles não me venderiam para a Família Real, não é? Eles me amam!

Eu... Eu sou a filha deles. Eu sou...

- E como seu querido irmão conseguiu entrar com ótimas notas na Academia e das poucas famílias nobres que tem filhos na Academia, apenas você e mais duas outras moças de outra família tem a idade certa para a união....

Hahahahahahahaha.

Eu to fudida.

Isso só pode ser brincadeira.

Esses caras... Esses caras não se importam comigo?

Eu realmente achei que depois de morrer de uma forma tão cruel eu finalmente iria conseguir uma vida calma e quase sem estresse....

MAS NÃO! ESSES IDIOTAS QUEREM ME VENDER DIRETO PARA O LUGAR QUE TEM MAIS ESTRESSE, TRANSTORNOS EMOCIONAIS E PRESSÃO!

Né como se eu ainda não lembrassem dos seriados de época e todo os dramas da família real britânica da minha antiga vida! 

- ...essa é uma chance incrível para nossa família, minha filha. Ainda que você não seja selecionada, apenas a  honra de estar entre a Seleção é imensa!

- O prestígio que isso irá trazer para nossa família... É uma benção, minha querida.

Uma benção financeira para vocês, só se for!

São apenas três pessoas. Duas outras garotas além de mim. Então... É basicamente 33% de chance de eu ser escolhida!

Ah... Não. Calma. Não é um sorteio.

- Quem.... - Respirei fundo. - Quem são as outras duas?

Meus pais trocaram um olhar, mas minha mãe foi quem falou.

- A filha mais nova do Barão Andredus e a única filha do Conde Porrosho.

Certo.

A filha mais nova do Barão Andredus teve seu Baile de Debutante no início da estação, junto com outras de título semelhante. Ainda assim ela recebeu grande atenção por sua elegância e grande carisma…

Tanta atenção quanto a filha de um barão poderia receber.

E ela era bonita, não? Loira, olhos violetas, um pouco baixa e delicada.

Sim. Ela era popular por sua aparência, quase tão popular quanto a filha do Marquês Porrosho.

Se eu me lembro bem, a família dela é bem abastada e começou a fazer certos investimentos bem inteligentes nesses últimos anos. 

Além disso, ela foi estudar por dois anos em Agrimar e voltou sendo reconhecida como "um talento único para música".

Sim, sim! Comparada a mim, ela era bem mais “esguia e bonita”!

Isso não é um sorteio!

É uma competição (que eu não quero participar) e que eu sou a azarada!

Primeira vez que fico feliz em ser a azarada.

Eu não sou considerada exatamente atraente nesse mundo. Meu cabelo é encaracolado e preto. Meus olhos são castanhos. Minha pele morena. E graças aos meus treinos, eu tenho músculos um tanto quanto visíveis nos braços e calos na mão!

Nenhum príncipe com o mínimo de sanidade me escolheria! Talvez meus pais tenham pensado nisso, né?

Olhei para eles.

...

Ok, não sei.

- A escolha será feita na próxima segunda. - Minha mãe disse em um suspiro. - Como a carta de admissão do seu irmão chegou um pouco tarde, nós só tivemos conhecimento de tudo isso hoje. Então não há como lhe preparar direito, minha filha... - Outro suspiro. - Terei que implorar para a Madame Conzaques finalizar seu vestido a tempo... Não será ideal pois ele foi feito para seu baile de debutante, mas será melhor que qualquer outro que você tem...

Ah... Aquele vestido.

Estou ainda mais feliz por ter lutado para conseguir o vestido que eu queria!

Era uma peça simples, sem muitos laços ou babados, ao contrário do que a moda atual pede. Além de ser de uma cor tão clara que parecia quase se apagar.

É o vestido perfeito para não ser notada!

No final, meus pais falaram mais sobre como aquela escolha era difícil, mas que era a certa para a nossa família. Apenas fingi escutar e sai de lá na primeira oportunidade.

Eu estava com raiva e me sentia traída, mas não havia o que eu podia fazer...

Ou havia?

Eu ri.

Essa seria a semana que eu mais pegaria pesado no meu treinamento! Farei meus músculos pularem do tecido e...

Bom. Foi isso que pensei.

Só que meus pais me proibiram de treinar e todo meu tempo foi cuidadosamente planejado para ensino de etiqueta e "conversas cordiais".

Merda!