eu gozei no banheiro da escola. olhando para o teto do seu próprio quarto, a menina quieta, bem comportada e erudita coloca isso nos termos mais vulgares possíveis. um delicioso sorriso de escárnio sobe e se sustenta em seus lábios porque o que mais poderia ela fazer? a vida é vulgar, as pessoas também o são.
ela entende que tudo é tão efêmero, tudo é conversa jogada fora, e não se preocupa por um segundo com isso. e ela odeia conversa jogada fora, os parentes perguntando como vai a escola, os amigos perguntando como vai a família, por isso apenas acena, diz “sim” ou “bem” a título de etiqueta.
e foi aí que nasceu sua fama de boa moça. quando as mulheres não dizem muito sobre si, um dos escassos estereótipos femininos reconhecidos e utilizados é o que preenche as lacunas para seu interlocutor. ela era a boa moça, tímida e virgem, que gozava nos banheiros da escola.
e o seu estereótipo perfeito encara o teto do quarto. e o que ele vê é uma menina mandona, muito pouco inclinada a aceitar menos que tudo e absolutamente tudo. ela olha sua pequena vida com seus nadas especiais e entende que muitas vezes revolução dentro de si não quer dizer nada, pelo menos não num primeiro momento.
ela olha seu relacionamento minguante, sem sal e sem ousadias e se pergunta se ela o fez assim, ou se o relacionamento já veio na forma para atender ao seu estereótipo perfeito. onde é que eu estava com a cabeça? às vezes mesmo as meninas mais espertas não pensam muito, apenas aceitam aquilo que lhes convém.
mas agora é muito tarde, ela já escolheu a conveniência, a facilidade de uma vida que se encaixa para ela, e é muito difícil sair de algo assim. mas a sós, ela não deve nada a ninguém. com os cabelos bagunçados como se um vento forte os desordenasse, ela olha para o teto como se fosse o céu claro na beira de um abismo.
um pé se finca, firme e irredutível, no chão. o outro balança querendo que seu peso puxe todo o resto. o que aconteceria se eu rompesse? como uma cobra fria ela considera as opções, as vantagens e desvantagens de um relacionamento mais frio que café depois de 12 horas. e isso talvez seja um absurdo, quem poderia pensar nas relações humanas de forma tão fria para beneficiar apenas a si própria além de alguém extremamente cínico?
mas em seu cinismo ela não se importa. dezoito anos de servidão aos desejos alheios talvez tenham sido apenas o estritamente suficiente para compensar toda a vida que está por vir. cumpri minha quota, agora me deixe gozar nos banheiros da escola em paz.
na sua cama, ela ouve o barulho distante da tv na sala de estar, entende que ainda há gente acordada em casa, um rude irmão ou uma invasiva mãe ou talvez um relapso pai. ela sabe que a porta do quarto não está trancada, não há permissão para que ela o faça. mas quem se importa? seria muito fácil disfarçar, fácil o suficiente para valer correr o risco.
ela desliza sua mão direita com unhas roídas para dentro do pijama quase infantil, e com um único minguado dedo ela faz um dos poucos movimentos que conhece, de balançar aquela pelinha doce para um lado e para o outro, até que ela fique um pouco mais temperada, até que arda um pouquinho.
e sua mente se esvazia para coisas completamente aleatórias, imaginando se as pessoas que conhece têm o prazer o tempo todo na mente, se elas se sentem tão sujas quanto a menina. e em como gostaria de ser arrastada para dentro disso, observada, descoberta. completamente exposta. seu medo parece coisa de criança perto do show de fogos que isso deve ser.
e isso é apenas o pequeno empurrãozinho, o sopro de brisa que ela precisava para mergulhar com os dois pés no abismo, com sua boca aberta em um grande “0”, uma prece para que o som nunca saia. ela mergulha por exatos 12 segundos, e nesse breve instante ela jura que pode identificar cada veia do seu corpo, pois o sangue corre rápido e consciente.
nessa pequena viagem no tempo, ela começa a entender porque os franceses chamam o orgasmo de la petite mort, pela sensação etérea e intensa de sair e voltar de um corpo que arde em chamas, que por muito pouco não se consome inteiro.
depois de sua pequena morte, ela nota seu pijama quase infantil um pouco molhado. dá de ombros mentalmente e se vira para para dormir. agora eu também gozei num imaculado lar em que os pais não falam sobre sexo com as filhas. seu riso cínico é a única e derradeira resposta.
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