Os três se deslocaram até o
estacionamento coberto do hospital, Ligia olhava para todos os lados como se
estivesse sob a mira de dezenas de metralhadoras embora soubesse que nenhum
deles portava qualquer arma, ao menos nenhuma arma convencional.
– Do jeito que você nos olha nem parece que fomos amigos por tanto tempo. –Disse Paula com uma expressão triste.
– Ou que somos parentes. –Completou Daniel com tom sarcástico.
– Eu tenho minhas razões para isso e todos vocês sabem muito bem disso. Foi extremamente difícil jogar toda aquela merda para baixo do tapete.
– Ninguém te pediu para fazer isso! – Disse Cristiano acendendo um cigarro.
– Ninguém me pediu muitas coisas, mas todos aproveitaram a paz que eu consegui proporcionar fazendo isso. – Respondeu Ligia se aproximando do jovem de cabelo cumprido e tomando o cigarro da boca dele e jogando longe. – E aqui ainda é área do hospital.
– Sempre um bastião da moral, da justiça e da lei!
– Eu ao menos tento.
Os dois se encararam como se fogo saísse dos olhos sem perceber que ao longe uma dupla observava o grupo se confrontando de dentro de uma caminhonete de pequeno porte.
– E aí, vamos lá? –perguntou Fernando no volante observando o rosto do seu carona.
Fábio segurava o celular na mão, na tela a notificação.
De: DAN
MSG: Sua maninja tá aqui! Não vai descer e dar um oi?
Um segundo se passou o rosto de Fábio havia se transformado, a tranquilidade de até pouco tempo atrás desaparecera como se um milhão de lembranças ruins estivessem passando em sua mente como em um filme.
– Eu não vou. Fique à vontade. –Disse o jovem em tom irritado e digitando rapidamente na tela de toque do aparelho.
– Não precisa falar duas vezes.
O carro se moveu em silêncio sem chamar a atenção de ninguém somente o som dos pneus rolando sobre o asfalto podia ser ouvido.
O telefone de Daniel tocou notificando uma nova mensagem, o jovem louro pegou o celular no bolso de trás da calça e observou a mensagem com um sorriso.
De: “Cicatriz”
MSG: VAI PRO INFERNO!
Era melhor assim, aquilo não era pra ser uma reunião de colegas de infância, tão pouco uma reunião de família, ele já tinha que lidar com muito stress por conta da zica que estava diante deles, nada contra a prima, mas.
– Por que diabos você veio aqui? – Perguntou Cris.
– Eu já disse! Quero saber o que está acontecendo? – Respondeu a policial.
– Não tem nada acontecendo! Meu irmão foi alvejado por um maluco que achou que praça é stand de tiro, de repente algum amigo seu!
O desconforto de Ligia se tornou palpável.
– Vocês não me querem aqui, eu sei só me responde... Vocês têm algo a ver com o desaparecimento da célula no residencial Xangai?
– Tu que é a detetive porque não descobre? –disse Daniel sorrindo para a prima.
Ligia olhou para o primo com ar emputecido. – Daniel, eu juro que se você sorrir desse jeito de novo para mim eu esqueço que somos primos, esqueço do carinho que tinha pelos seus pais e juro pela minha alma que arranco cada um dos seus dentes no soco. – O sorriso no rosto de Daniel desapareceu.
– Eles têm a lista. –Disse Paula.
Cristiano baixou a cabeça e suspirou.
– A LISTA?! ELES QUEM?
– Lembra do Douglas? Alto, magro, jeitinho de playboy que nem teu primo, mas ainda mais insuportável que ficava bajulando todo mundo? –Perguntou Paula.
– Lembro... Não fazia mal a uma mosca, mas dizia que era o fodão.
– Então... Esse bosta tá tentando ferrar a gente! Descobriu onde estava a lista vendeu e tão caçando cada uma das caixas e...
– Eu não quero saber mais! –interrompeu Ligia colocando as mãos no ouvido. – A última vez que vocês mexeram com essas malditas caixas o inferno caiu sobre a gente, por que diabos vocês não se livraram dessas desgraças? Tem muito graúdo que ainda não engoliu essa parada!
– Você melhor que ninguém sabe que algumas coisas acabam não sendo tão simples de se livrar. – As duas mulheres se entre olharam.
–Era um risco, mas também servia de apólice de seguro pra quem ainda estava aqui. –Disse Daniel de forma séria. Fora que, tinha coisa lá dentro que ninguém aqui saberia nem como se livrar.
– Jogassem no mar! Agora você tem só a parte do risco e a possibilidade de arrastar todo mundo junto.
– Diz uma coisa que a gente não saiba ohhh Sherlock Holmes! –Falou Cristiano levando as mãos aos céus! –Meu irmão tá na cirurgia porque um dos nomes naquela lista era o meu! O seu não aparece, você não quis se envolver na época, preferiu juntar seus trapos de bunda e ir pra sombra da sua amada comandante, meteu teu irmão em uma jaula acolchoada, tentou arrancar a guarda do meu irmão antes do corpo da minha mãe esfriar, tá de bom tamanho ou quer que eu continue?
– Eu entendo a sua dor! Mas tudo que eu fiz foi para tentar preservar seu irmão e em respeito à sua mãe, eu achei que tu não fosse sobreviver e principalmente não sabia se ia conseguir manter qualquer um de vocês fora da prisão! E NÃO ENVOLVA A INTERNAÇÃO DO FÁBIO NESSA CONVERSA! TODOS NÓS SABEMOS QUE ELE ERA UM RISCO PARA TODOS NÓS E PARA ELE PRÓPRIO! VOCÊS LEMBRAM O QUE ACONTECEU COM A CAROL!!!
– Você e a Paula a convenceram de ir para o mais longe possível dele. – Uma voz suave se aproximava do grupo.
– E não investigou nada, ótima detetive você! -Disse uma voz um pouco mais grossa, mas bastante parecida.
– Oi Valéria, oi Kay, demoraram. –Disse Cristiano acenando para a dupla de jovens asiáticos.
– Você pediu para verificar na recepção se tinha saído algum informativo do Tom antes de descer, achei que teria mais gente aqui! –Disse o rapaz.
– Ele tá bem, acabou a cirurgia, foi pra UTI, vão precisar de doadores de sangue. –Disse Valéria.
As palavras de Valéria jogaram Ligia por um instante de volta a recepção do hospital 15 anos antes, quando ela tinha só 19 anos, aquilo tudo parecia um ciclo repetido e aquilo a incomodava, a história parecia que nunca acabava.
– Me desculpa.
Todos olharam para a policial que não apresentava mais um olhar arrogante, lembrando a jovem que anos antes havia sido membro não oficial do grupo, mas mesmo para ela pedir desculpas seria algo anormal.
– Foi mal Cristiano, eu deveria ter respeitado a sua situação.
– Finalmente um lampejo de bom senso. –Resmungou Cristiano de forma quase inaudível.
– Porém, é meu dever... Vocês estão presos!
Nesse momento Danilo e mais três oficiais da GOE–TG surgem do meio dos carros que estavam parados ali.
– Tu é uma grande filha da puta! – Grita Valéria enquanto se ajoelha e cruza os dedos atrás da cabeça.
– Vocês estão presos por associação criminosa, homicídio e tráfico de drogas.
– Quê!? Cê tá louca!? –gritou Cristiano em choque.
Um camburão surge na rampa de acesso do estacionamento, o veículo preto sem identificação era um pesadelo se tornando real.
Em uma luxuosa sala de estar do outro lado da cidade um homem observava um monitor irritado.
–O que está acontecendo Claudio?
– Peço para aguardar senhor.
– Eu não estou pagando caro para aguardar! Trate de me responder imediatamente!
O homem de pele escura e terno alinhado ignorou os gritos, estava acostumado já com contratantes inconvenientes, mas esse cara já estava dando nos nervos.
– Coelho branco interferiu!
– Aquela maldita desgraçada.
– Achamos que ela iria procurar os membros da gangue sem apoio, não percebemos o deslocamento dos agentes, tivemos que abortar a missão visando não correr risco de exposição da operação.
O homem de voz rouca e pesada bufou. – Terceira vez que essa família de bosta atrapalha meus planos.
– Somente um contratempo, faremos a extração em outro momento, de qualquer precisamos minar as forças deles, somente avistamos cinco alvos dos treze que temos... ao menos dessa forma facilitaram nosso acesso a estes. – disse o homem desligando o telefone. – Odeio clientes impacientes. - Se virando para o motorista de seu carro, um senhor de barba branca e olhar bondoso, contrastante com o enorme número de armas que possuía em seu colete tático.
– Faremos o que agora senhor? – Perguntou o motorista.
– Ficaremos em silêncio, quando eles concluírem a prisão segue o camburão com discrição, não podemos perder eles de vista!
– Sim senhor.
No meio do estacionamento alguns curiosos acompanham a movimentação daquela equipe tática.
– Circulando! Sem filmagens! – Grita um oficial de ascendência japonesa, isso aqui é uma ação da GOE-TG nenhuma filmagem é permitida de acordo com a lei federal 19.454 qualquer um que seja pego filmando ou transmitindo conteúdo de ações táticas da força tarefa antiguerrilha poderá ter seu aparelho confiscado e será conduzido para delegacia como testemunha para interrogatório!
As pessoas ao ouvirem se retraem, guardando celulares e evitando encarar os oficiais.
– De onde você tirou isso Oda? – questionou cochichando a oficial enquanto algemava Valéria.
– E isso importa Aline? Pessoal debandou esse era objetivo!
– Seus covardes! Bando de porcos sujos! – Gritou Valéria!
– Apaga ela! – falou Aline com rosto contrariado.
– OQUE VOCÊS VÃO FAAAAAAAAAAAAAAAAAAHG...– Nesse momento Oda sacou um objeto parecido com uma lanterna e posicionou junto ao pescoço da jovem que após um grito de dor imediatamente amoleceu e começou a babar!
– OQUE VOCÊS FIZERAM COM MINHA IRMÃ SEUS FILHOS DA PUTA! – Gritou Kay ao ouvir o grito da irmã enquanto era algemado no chão por Danilo.
– Fica na tua que tu é o próximo japa!
– Japa é seu namorado ali! Eu sou coreano seu imbecil!
– Tanto faz! – disse Danilo antes de também dar um choque no pescoço de Kay que se debateu e tal como tua irmã também desmaiou.
Paula, Cristiano e Daniel encontravam - se com as armas de Ligia, Carlos e Matias apontadas para eles.
– Vai desmaiar a gente também? – disse Cristiano com as mãos para cima encarando Ligia.
– Deveria, mas eu não gosto de usar taser! E preciso que vocês respondam algumas perguntas já que as três gracinhas sempre sabem de tudo!
– Não sabíamos que você era uma calhorda nesse nível! – disse Daniel sorrindo sarcasticamente.
– Sabe primo!
– O que?
– Eu disse que ia arrancar seus dentes se você sorrisse de novo.
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