Uma saveiro seguia pela estrada, fazia alguns minutos que eles haviam deixado o estacionamento.
- Vamos tentar ligar para eles de novo? – Disse Fernando tirando Fábio de seus pensamentos longínquos.
- Melhor não, aliás desliga o celular vamos em alguma loja e a gente compra um novo.
- Hein! Por quê?
- Só me escuta Fer, por favor.
- Ok.
Os dois rumaram para o centro comercial. O trânsito pesado os fez largar o carro em um estacionamento e andar a pé, tão logo saiu a luz do Sol Fábio colocou um óculos escuro e capuz da blusa.
- Já reparou nelas? – Perguntou o jovem?
- Nelas quem?
- Nas câmeras.
- Que tem?
- Eles instalaram muitas.
- Ahhhh impossível não notar, em parte a culpa é nossa... Os órgãos de segurança usaram elas para reprimir a guerra de gangues. Pera é por isso que você se encapuzou?
- Também... Na real o sol está me incomodando cada vez mais.
- Cê sabe que se eu me vestir desse jeito que você se veste eu viro “suspeito” e recebo uns 20 tiros de aviso antes de conseguir pegar meu RG na carteira, né?
- Bem você ao menos você é suspeito com causa. – Disse Fábio apontando para o próprio rosto.
- Ter começado andar com você no recreio deve ter sido um dos maiores erros que eu cometi na vida. – Disse o jovem rindo.
- Sim. – Respondeu Fábio em tom seco.
Fernando olhou para o amigo com curiosidade.
- Não me arrependo de ter feito isso.
Fábio não respondeu nada e os dois seguiram caminhando pelas ruas até uma viela onde entraram em uma loja de eletrônicos pequena e sem identificação clara.
- OI! – Perguntou o jovem negro de uns 13 anos e com o uniforme impecavelmente limpo.
O pátio da escola estava coalhado de crianças e adolescentes de todas as idades e até mesmo alguns jovens adultos que eram repetentes ou estavam tentando concluir os ensinos por via regular.
- Oi, Meu nome é Fernando, qual é o seu?
- Me deixa em paz.
- Nome estranho hein? Prefere ser chamado de “Paz” ou de “Me deixa”? – perguntou o garoto rindo da própria sacada.
- Meu nome é Fábio. Tá satisfeito? Agora pode me deixar ficar quieto no meu canto?
- Oi Fábio, tu é novo? Nunca te vi no pátio.
- Sou. – respondeu o rapaz quase grunhindo.
- Ahhhh bem que eu sabia! Meus pais falam que eu tenho memória foto- foto...
- Fotográfica.
- Isso, então eu lembro de tudo que vi e nunca tinha visto você aliás tu é EMO olha o tamanho dessa franja! – Disse o pequeno quase encostando no cabelo que cobria o lado esquerdo do rosto de Fábio.
- NÃO ENCOSTA EM MIM! – Gritou Fábio, afastando o garoto com um empurrão e fazendo ele cair no chão.
Parte do pátio se voltou em direção ao rugido e viu, o jovem Fernando caindo ao chão diante de um rapaz todo de preto e com cabelo longo caído no rosto.
- Briga! Briga! Briga! – Gritaram alguns, porém para frustração deles Fábio se levantou e se dirigiu para uma área arborizada da escola, enquanto Fernando simplesmente se levantou e foi comprar um lanche na cantina.
- Então é assim a porra de uma escola estadual? - Pensou o jovem olhando as cercas de arame farpado sobre o muro alto que ficava atrás das árvores. - Parece até um presídio.
- Acho que é para parecer mesmo. - Disse Fernando.
A resposta foi tão inesperada que Fábio deu um salto e ficou de frente para o garoto imediatamente...
- C-Como que...
- Eu leio pensam... naaaaaahhh você não é burro, tu tava pensando alto, tá tão estressado que não percebeu que tava falando, eu faço isso as vezes.
- Ah... – Fábio estava totalmente perdido, mas de fato ele estava completamente desorientado.
- Toma, pega um salgado pra você. Oferta de paz! – Disse o Jovem oferecendo um saco com três salgados fritos.
- Hein?
- Eu te incomodei demais no pátio está irritado, lugar novo e aposto que está com fome.
- Não tô com fome não.
- Bem, se não quer sobra mais pra mim, mas era meu pedido de desculpas por quase encostar em você.
- Ok, tá desculpado só não repete, por favor. – disse Fábio ainda tentando entender o que diabos estava acontecendo. Nunca ninguém se aproximou dele daquele jeito além do Daniel e isso porque eles se conheciam desde que nasceram.
- Não vai acontecer. Agora vou subir para as salas porque daqui a pouco toca o sinal.
- Sinal? Já? Mas não deu 15 minutos que eles liberaram para o lanche.
- Aqui é assim, 5 minutos entre as aulas e 10 no meio período, daqui a pouco você se acostuma.
- Que merda, dá pra fazer quase nada nesse tempo. – Resmungou Fábio olhando para a copa das árvores.
Ao longe um grupo de quatro pessoas observavam toda a interação dos dois jovens.
-Ei Paulo? Quem é aquele? – Perguntou um jovem com cabelo arrepiado e piercing na sobrancelha.
- Quem? O baixinho é o Fernando da sétima série não tá reconhecendo? Tá precisando de óculos por acaso?
- O Fernandinho eu conheço caraí! Eu tô falando do pau de virar tripa que tava conversando com ele.
- Fábio de alguma coisa. - Respondeu o rapaz com traços asiáticos e cabelo curto vestido como um skatista. - Aluno novo transferido de colégio particular pelo que a coordenadora disse na hora que apresentou ele na sala minha e da Valéria.
- Gente boa?
- Não faço ideia Cris, o cara parece um fantasma passou pela sala e se sentou no lugar com menos gente. - Respondeu Kay. - A princípio é na dele.
- Eu o vi dando um empurrão no Fernando a alguns minutos quando estava voltando do banheiro. – Disse a jovem de traços asiáticos, cabelos longos e super magra vestida de minissaia e top.
- Ué? Mas eles estavam conversando de boa pelo que vi. – Indagou Paulo.
- O Fernando é legal, mas muito é irritante as vezes. Deve ter sido só isso. - Disse Cris acendendo um cigarro. - Que horas são?
- Vai dar 10:30 já vamos ter que subir.
- Merda, não devia ter acendido o cigarro.
Mal o jovem terminou de falar o sinal tocou, ele então deu uma tragada longa seguida por uma baforada que parecia um dragão cuspindo fogo.
- Nunca vi alguém consumir um cigarro desse jeito. – Disse Paulo impressionado.
- Anos de prática. – respondeu o jovem. - Só não conta pra minha mãe.
Os quatros se dirigiram para a escada. Quando Cristiano observa Fábio subindo em uma árvore cujos galhos passavam por cima do muro e longe do arame farpado.
- Filho da puta. - Disse o jovem sorrindo. - Kay!
- Fala.
- Tenho um trampo pra você.
- Tu que manda.
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