-OI! – Disse a jovem se aproximando por trás do jovem de cabelos louros.
-Hein? - O jovem se virou rapidamente, aquela voz não lhe era estranha. - O que diabos você tá fazendo aqui?
- Bonjour. Eu sou sua nova colega de escola. – Respondeu Carol sorrindo. - Era pra eu ter começado semana passada, mas houve uns problemas com a adequação da minha grade do colégio que eu estudava na França e tiveram que adiar.
- Mas... Sua mãe... Ela não vai ficar puta com o fato de você estar estudando aqui? Eu já estudo aqui desde pequeno.
- Ihh relaxa, ela não lembra mais que vocês sequer existem, o trabalho ocupa demais a cabeça dela e só me matriculou na escola de período integral que ela viu que era mais conceituada na região para me manter ocupada e deixar ela em paz para trabalhar.
- Ahhhh, então tá.
- O Fábio, seu primo... Ele também estuda aqui né? Cadê ele? - Perguntou a jovem olhando para todos os lados. - Eu tentei encontrar vocês de manhã, mas só vi você de relance entrando na sala da 8ª Série daí eu vim procurar vocês na hora do intervalo.
- Pera, como assim procurando a gente? Cê já sabia que a gente estudava aqui?
- Vocês estavam de uniformes naquele dia, eu só li o nome no uniforme.
- Ahhh é, verdade eu tinha convencido o Fábio a matar aula aquele dia.
- Mas... Cadê ele? Ele não veio? Ou... ele não foi preso por conta daquela história daquele homem horrível?
- Não. Ele só não estuda mais aqui. Mas não foi preso, fica tranquila.
- Mas?
- Longa história, mas fica tranquila que assim que der eu dou um jeito de você falar com ele.
- Não, espera... Você não tá entendendo, eu só queria agradecer e bem... vocês são as únicas pessoas que eu conheço aqui.
- Alias você falou de confusão e tal..., mas, em que ano você tá? 8ª como a gente?
- Na verdade... Eu estou em todas.
- Espera? Como assim?
- Eu vou ter que estudar basicamente em todas as séries, como estou adiantada nas matérias de língua estrangeira, ciências e matemática eles decidiram que eu teria que fazer um intensivo de português e história regional pois eu nunca estudei as duas formalmente.
- Nossa.
- Tudo bem, vai ser legal aprender algumas coisas novas.
- Bem tem louco pra tudo. Bem, vem comigo que eu vou te apresentar uns amigos antes que o sinal bata, meu primo não tá aqui, mas tem uma galera legal que eu quero que você conheça.
- São 20 Reais!
- Porra, mas na gôndola fala 10!
- E o cartaz atrás de mim fala que não posso vender bebida alcoólica pra menor. É 20 reais ou vai tentar comprar em outro lugar pirralho.
- Merda, tá certo, mas me arranja um saco de papel então.
O jovem caminhava sob o sol escondendo a garrafa no saco de papel e tomando uns goles eventualmente.
- Esse bairro é muito zoado, nem parece que é grudado no centro, só casa velha caindo aos pedaços umas árvores esquisitas, uma escola que parece um presídio.
- Isso que você não viu os becos que tem aqui. - Disse um jovem que dobrava a esquina.
- Quem é você?
- Não importa e a propósito, tu fala sozinho com muita frequência. – Respondeu o rapaz tragando um cigarro.
- Muita frequ... Você é da escola?
- Bingo. Deem um prêmio para nosso amigo.
Nessa hora mais cinco jovens surgem da esquina.
- Por que você empurrou o Fernando? – Questionou Cristiano.
Fábio deu dois passos para trás. Alguns dos moleques que se aproximavam portavam correntes e pedaços de madeira.
- Espera. Foi só um mal-entendido, tá tudo certo entre a gente.
- Eu não vi você comendo o lanche que ele te ofereceu? Não aceitou a oferta de paz?
Fábio gelou.
- E- Eu não tava com fome, foi só isso. Não foi desfeita nem nada... – Em pensamento “Meu deus, eu vou ser linchado por conta de não ter comido uma coxinha! Que diabos de lugar é esse que eu vim parar?”
- Eu vou te avisar uma única vez. – Disse Cristiano com um olhar ameaçador. - EU NÃO ACEITO AGRESSORES NA MINHA ESCOLA.
- S- Sua?
- Sim, minha escola, quem controla aquela porra sou eu e meus amigos aqui. - Disse Cris apontando para os colegas. Um grupo bem heterogêneo, composto por jovens de diversas idades e portes físicos e inclusive uma garota.
- Cara, eu não quero confusão eu só queria ficar sozinho no meu canto.
- Não me importa. Tu agrediu um garoto que é de uma série abaixo e mais novo, isso é covardia e eu não aceito de jeito nenhum, se fosse alguém da sua sala eu não ligaria, mas não é o caso, além do que... o Fernando é nosso mascote, não é Fernandinho? – Disse Cristiano dando um passo para o lado permitindo que Fábio visse o pequeno entre aqueles brutamontes.
- Desculpa Fábio. Eles me perguntaram e eu tive que responder.
O coração de Fábio tava acelerado e seus músculos estavam tensos.
- O que vocês querem?
- Toda agressão que é relatada ao meu grupo é devolvida.
Nesse momento Fábio se preparou para a briga colocando os braços a frente do corpo.
- Olha, temos um boxeador aqui gente! Disse Valéria rindo.
- Cara, se você resistir será pior.
Fábio seguiu na posição ele não sabia lutar boxe, nunca teve interesse, mas não ia apanhar de graça, ele estava esperando ver qual deles iria partir pra cima dele primeiro quando um baque as suas costas o leva ao chão com garrafa e tudo
- Justiça feita. – Disse uma voz suave as suas costas.
- Boa Paulo.
Fábio virou-se para o jovem de pele bronzeada e corpo esguio que o empurrou, estava desorientado e por isso não percebeu que Cristiano já estava ao seu lado com a mão estendida em sua direção.
- Entendeu como a banda toca por esses lados?
Os dois jovens ficaram parados na mesma posição por alguns instantes.
- Sabe, é nessa hora que você pega minha mão e eu te ajudo a se levantar. – Disse Cristiano sorrindo.
- Tá... – Respondeu o jovem sem jeito.
- Vish quebrou a bebida dele! Disse um dos rapazes na gangue vendo a poça de vinho se formando do saco de pão que agora estava empapado.
- Opa! Valeu pelo toque Lucas, tô te devendo uma bebida, quer beber oque?
- Nada, fiquei sem sede de repente.
- Não seja tímido, vamos fazer o seguinte. Eu sei um lugar ótimo para comer, só acompanha a gente.
O grupo começou a caminhar com Fábio entre eles. Enquanto na escola Kay praguejava que tinha que assinar a lista de presença pra irmã e pra um maluco que nem conhecia.
- Capitã. – Disse o homem se levantando em posição de sentido. Quando a mulher de cabelos longos e olhos castanhos e terno entrou na sala.
- Não mais Danilo, e você já sabe! único oficial militar aqui agora é você e por pouco tempo então não precisa dessa cerimônia toda.
- Força do hábito.
- Eu sei, eu também estou me habituando a essa nova vida... é estranho usar essa roupa de paisana em serviço.
- Eu acho que foi precipitado a senhora aceitar esse cargo e largar o oficialato. Você nasceu para ser oficial.
- Duas coisas Danilo.
- O que?
- Eu não pedi sua opinião e o fato do que aconteceu outro dia não te dá direito de se meter nas minhas decisões, até onde eu sei seguimos somente como amigos.
- D-Desculpa eu não quis dizer isso nem nada... Eu só lembrei do nosso tempo de academia, é estranho ver você jogar tudo pro alto por um cargo burocrático sendo que de todos nós você era o exemplo a ser seguido.
- Às vezes, precisamos abandonar nossas convicções e metas em prol de um crescimento e um novo objetivo. – Disse a mulher olhando para a foto que se encontrava sob sua mesa. – Se reinventar, ou se redescobrir.
- Nossa, que papo de coach... tá faltando falar “mudar o mindset” para completar o texto. – Disse Danilo esperando tirar um sorriso da cara da velha amiga, porém somente recebeu um olhar furioso e fulminante em resposta.
- Cadê os currículos que eu te pedi? – Bufou a mulher.
- Estão aqui senhora! – Respondeu o oficial entregando uma pilha de papeis a sua superior.
A sala envidraçada ainda estava sendo adequada as necessidades do setor de inteligência no combate à guerrilha urbana, em breve estaria tudo em prontidão e eles poderiam começar a trabalhar.
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