- MÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAEEEEEEEE! – Gritou Cristiano ao se aproximar do pequeno quiosque. - Ohhhh mãe!
- Uma mulher com rede de cabelo colocou a cabeça para fora da área de atendimento.
- O que você tá fazendo aqui Cris? Não tá em horário de aula?
- Faltou professor, daí a gente trouxe um amigo novo da escola para conhecer o melhor lanche da cidade! – Disse Cristiano batendo no ombro de Fábio.
- Sei, olha se tiver uma única falta no boletim desse bimestre eu vou te comer no couro rapaz. – Gritou a senhora sacodindo uma espátula na mão como se fosse uma palmatória.
- Fica tranquila que não vai ter mãe! cadê o Tom?
- Tá com a vizinha, ele tava meio doentinho hoje daí ela ficou cuidando dele.
- Ahhh, bem... faz um lanche pra mim e pros meus amigos? Pode pedir qualquer coisa Fábio é de graça.
- De graça o escambau moleque! Vocês todos podem pagando adiantado que aqui não é caridade, inclusive você seu porco espinho, aliás... Aproveita que tá liberado mais cedo e entra pra me ajudar.
- Droga, não foi exatamente um plano perfeito. – Disse Cristiano se levantando da mesa de plástico e vestindo um avental.
Minutos depois todos estavam comendo cada qual seu lanche e conversando, com exceção de Fábio que observava tudo ao redor e não havia tocado no x-tudo que mandaram pra ele mesmo sob protestos de que ele não estava com fome.
- Que é mano? – Perguntou um Rapaz corpulento. - Tu tá praticamente mudo desde que a gente te convidou a vir pra cá.
- Não foi exatamente um convite. – Pensou Fábio, se assegurando desta vez que não tinha falado.
- Olha, vamos tentar desfazer qualquer mal-estar da nossa primeira impressão. Meu nome é Pedro, mas meus amigos me chamam de montanha.
- Mentiroso! Ninguém te chama assim. – Gritou um jovem baixinho e também bem gordo.
- Me chamariam se vocês não me sabotassem.
- Montanha! Só se for de banha! Respondeu o baixinho.
- Hahahaha! O Sujo falando do Mal lavado. – Gritou Valéria enquanto inclinava a cadeira.
- EI VAL EU NÃO SOU SUJO NÃO!!!
- Meu deus Miguel tu é burro assim ou tá fazendo graça? Falou um jovem da mesma altura que Fábio, porém com cabelos platinados e traços que lembravam os da Coronel Carla.
- Meu nome é Thiago, eu estudo na mesma sala do Cris.
- Prazer. Posso perguntar uma coisa?
- Fique à vontade.
- Quem diabos são vocês?
- Bem... Nós somos o grêmio estudantil.
- O grêmio estudantil? Eu jurava que vocês eram uma gangue.
- Qual é a diferença? – Perguntou Valéria se aproximando dos três jovens e se sentando com a cadeira entre as pernas encarando Fábio.
Fábio ficou tenso com a aproximação da jovem e a posição que ela estava tornava ainda mais tensa a situação.
- Que foi garotão? Tá com medo de um par de coxas? – Falou a jovem se divertindo com o nervosismo do rapaz e abrindo ainda mais as pernas e se aproximando do garoto.
O coração de Fábio disparou.
- Ei mocinha! Pode parar com essa safadeza! Deixa o menino em paz.
- Desculpa Dona Maria, eu só tava brincando com o menininho.
- Sei, brincando. Essa brincadeira que tu tá fazendo eu sou campeã olímpica.
- MÃE! – gritou Cristiano horrorizado.
- Que é? Você acha que veio na cegonha?
-Lálálálálálá eu não vou escutar isso, não preciso ter essa imagem mental.
O grupo inteiro caiu na gargalhada, dessa vez incluindo Fábio que inclusive lacrimejou.
- Ei, você tá sangrando. - Disse Valéria recuando o corpo ao ver um filete de sangue escorrendo pelo rosto de Fábio.
- Que?
- Porra! Paulo não era pra machucar ele.- Gritou Thiago.
- Mas eu não fiz nada. Respondeu Paulo.
- Calma...é só... – Fábio tentou explicar, porém de repente Maria, mãe de Cristiano estava diante dele. A mulher alta e forte, mas de feições gentis parecia uma parede diante do jovem.
-Deixe-me ver esse machuc...
- Não faz isso tia! – Gritou Fernando lembrando a reação do Fábio ao ver ele levando a mão na direção do rosto dele.
Fábio imediatamente cobriu o rosto com a mão.
- Por favor, não faz isso. É normal eu juro, ninguém me machucou.
- O que você tem menino?
- Eu juro que não é nada.
- Vamos fazer o seguinte, vem comigo que de qualquer forma você precisa limpar isso eu te dou a chave do banheiro.
Maria segurou o pulso do jovem e o conduziu até a porta do banheiro aos fundos do quiosque.
- O que houve criança? Perguntou a mulher basicamente se ajoelhando para ficar na altura de Fábio e tentar olhar ele nos olhos.
- Não é nada, não precisa se preocupar, acontece quando eu rio ou choro é um problema no meu olho, nada demais.
- Isso não é normal, você já procurou um médico?
- Já, é que...
- É um machucado?
- Sim, antigo.
- Por isso a franja e o cabelo comprido?
- Sim. As pessoas assumem que eu sou gótico, emo, metaleiro ou qualquer coisa ao invés de olhar para minha cara.
- Bem, eu te entendo. - disse a mulher arregaçando as mangasdo uniforme e exibindo uma série de cicatrizes de queimaduras. - Todo mundo tem cicatrizes, as minhas são de trabalho, cozinhas são locais perigosos uma distração e você pode se machucar feio. Não sei como nem a origem dos seus machucados, então não irei me envolver mais. Mas posso te dar um conselho de alguém que sofreu com machucados e ainda sofre quase todos os dias?
- Claro.
- Esconder algumas coisas só atrai mais atenção sobre elas.
- É que...
- Eu não tô falando para você entrar no banheiro e mudar o penteado mostrando seja lá o que estiver embaixo dessa cabeleira, mas para você pensar como vai fazer no futuro.
- Como assim no futuro?
- Não é em qualquer lugar que você pode entrar cobrindo o rosto, quando você for trabalhar como que você fará se o lugar pedir, por exemplo, para usar uma rede de cabelo. – Disse a mulher apontando pra própria cabeça e exibindo a rede de cabelo que prendia o longo cabelo preto.
- Eu realmente nunca pensei nisso.
- Você me conhece há pouco tempo, eu não deveria estar me metendo, mas eu sou mãe de um garoto que nem você e é meu trabalho como mãe me preocupar com esse tipo de coisa, acho que sua mãe deve estar pensando o mesmo que eu, mas ainda não falou por algum moti...
Nesse momento Fábio caiu de joelho e começou a chorar copiosamente sendo abraçado por Maria
- Desculpa querido! Mil perdões, meus sentimentos. -Disse a senhora abraçando fortemente o jovem. As lagrimas e o sangue vertiam dos olhos do jovem manchando o avental da doce cozinheira.
Do lado de dentro do quiosque, Cristiano via pela janela seus amigos se divertindo e questionando a situação enquanto escutava a conversa de sua mãe ao fundo do quiosque.
- Pesado. – Falou o jovem antes de virar mais um pedaço de hambúrguer na chapa.
Havia passado algum tempo, após se recompor Fábio começara a se entrosar com aquele grupo maluco e diverso e composto por desajustados.
Cristiano era uma espécie de líder, todos se espelhavam nele mesmo não sendo o mais velho e vivia ajudando o pessoal além de ter a mãe mais bacana de todos eles.
Valéria era uma formiga disfarçada de humano ela e o irmão eram filhos de norte coreanos que fugiram, nasceram em São Miguel e ensinam português e sobre a cultura para os pais, infelizmente parece que eles têm uma dívida enorme, pois foram contrabandeados para fora da Ásia então quase todo o dinheiro que eles ganham em uma pequena lojinha de presentes é usado para saldar essa dívida.
Fernando era um jovem prodígio, tão inteligente que assustava, era o mais novo embora estivesse quase na mesma série que eles, segundo o que falavam ele “pulou” a primeira série então era um garoto de 12 anos na sétima série cercado por jovens de14 a 16 anos, de fato o mascote da turma.
Pedro e Rafael eram um dos mais velhos da turma, um com 15 e outro com 16 eram também os mais pesados um era um gigante inteligente e gentil e o outro um anão grosseiro e meio limitado, mas superengraçado.
Paulo é reservado e discreto. É tão silencioso que parece até um ninja, chegando ao ponto de se esquecer que ele está ali, é grudado no Lucas, Se comportam como se fossem irmãos, mas a diferença física depõe contra isso, uma vez que a pele morena e o cabelo ondulado de um em nada combinava com o outro uma vez que Lucas era um jovem ruivo, lembra um pouco o Daniel no tipo físico porém mais alto, Tem uma cicatriz enorme no pescoço o que fez com que Fábio sentisse uma certa afinidade com ele.
- Ahhh isso? Foi uma linha com cerol que enroscou no meu pescoço quando eu andava de bicicleta. Tenho sorte de estar vivo. – Falou o jovem, quando comentaram sobre machucados.
Quase todos ali tinham algum nível de machucados, muitos devidos a brincadeiras perigosas ou acidentes envolvendo carros.
- Você não gosta de mostrar o rosto por causa de um machucado também né? – Perguntou Lucas.
- Sim é que eu sofri um acidente de carro quando criança.
- A gente imaginou que era algo do tipo quando é em um lugar visível as vezes a gente demora pra ficar legal...Eu usava gola alta, cachecol e o escambau... Imagina que ridículo um moleque de cachecol no calor do verão. Esse cara era eu.
- Era isso ou você é completamente demente. -Disse Cristiano. - Felizmente, já sabemos que não é o segundo caso então dá pra entender sua situação.
- Seja bem-vindo ao nosso grêmio, estávamos precisando de gente como você aqui.
Fábio estava cada vez mais confuso.
- Mas eu não tenho interesse em me envolver com esse tipo de coisa, embora tenham me assustado inicialmente vocês são legais e tal, mas se envolver em atividade de grêmio está longe das minhas intenções.
- Fica tranquilo, você não vai ficar ocupado com as reuniões.
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