O sol estava a pino, Carol observava a movimentação das turmas no pátio e quadras, era tudo tão diferente, nas escolas em que ela havia estudado os comportamentos dos estudantes era menos caótico do que ela observava e isso que ela estava em um colégio particular conceituado, “como seriam os colégios públicos que a mãe dela considerava um inferno? Pensava a jovem.
- Senhorita Caroline?
- Sim professora. – Respondeu a adolescente saindo de seu transe e retomando a atenção nas aulas de português.
- Algum problema? Está bem? - Perguntou a senhora que deveria estar com 50 anos só de licenciatura.
- Não, cochilei um pouco. Ainda não me acostumei completamente com o fuso.
- Bem, horário de dormir é fora da escola, aqui preciso que você tenha foco para que possamos avançá-la nas matérias, vá ao banheiro e lave o rosto e depois volte para cá, se quiser pode pegar um copo de café na sala dos professores.
- Obrigado Senhora Lucia. Irei fazer isso e já volto.
- Aproveite e me traga um copo de café também.
- Sim senhora.
A jovem começou a andar pelos corredores, uma mistura de estilos bizarra, parte do prédio era novo e moderno, porém outra parte era um velho Liceu como os que ela havia estudado na Europa, porém nunca ela frequentou um que foi tão mal e porcamente reformado. As portas enormes de madeira contrastavam grotescamente com divisórias com portas de trancas eletrônicas em salas que pareciam aquários, tamanha a quantidade de vidro utilizada.
- É tudo muito estranho.
- EI! Gritou uma voz.
- Daniel?
- Tá indo pra onde?
- Estou indo no banheiro lavar o rosto e pegar um café para a professora de português.
- Lucia?
- Sim.
- Ela adora escravizar aluno, dá chance pra ela não.
- Escravizar?
- Ela é folgada e pede para os alunos puxa-saco ou trouxas para ficarem fazendo coisas pra ela. Não dá bobeira.
- Mas, não devemos ajudar o professor?
- Bem, aí é contigo eu prefiro não manter contato.
- E você está fazendo o que no corredor?
- Tô indo embora quer vir junto? – Disse o jovem mostrando a mochila nas costas.
- Mas você não estuda em período integral?
- Sim, as aulas terminam as 17, mas hoje é só educação física e artística a tarde, eu consigo assinar depois então estou indo pra casa jogar videogameantes que meus pais cheguem.
A jovem ficou chocada com a falta de responsabilidade do garoto.
- Você vem? Acho que o Fábio vai pra lá agora ele não estuda em período integral já deve estar rodeando minha casa se bobear.
- E- Eu adoraria, mas minhas coisas ficaram todas na sala.
- Bem, paciência. Fica para a próxima, beijo. Tchau!
O jovem seguiu correndo pelo corredor sob o olhar atônito da garota.
- Totalmente maluco. - Pensou Carol, porém as palavras “o Fábio vai pra lá” ficaram ecoando em sua cabeça.
De repente a jovem, disparou no encalço do jovem louro.
- ME ESPERA DANIEL!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!!!!!
O grito do jovem pode ser ouvido por toda a escola.
- Tudo bem Fábio? - Perguntou a professora com um tom que misturava preocupação e incomodo.
- Eu, eu...
- O senhor teve um pesadelo? Minha aula não é para dormir jovenzinho.
- Vissssssssssssssssssshhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh - fez a sala de aula em uníssono.
- Todos calados! - Gritou a professora. - Vai lavar o rosto e se recomponha! Te dou 10 minutos para estar de volta ou tirarei sua presença da aula!
- T- tá... tá... Já volto. - O Jovem saiu quase cambaleando da mesa e foi em direção da porta.
- Professora!
- Sim, Valéria.
- Posso acompanhar o Fábio? Ele não tá legal eu posso ajudar ele...
- Negativo mocinha! Ou você pretende entrar no banheiro com ele?
A sala se encheu de risadinhas.
- Bem que se ele quisesse eu entrava... - Falou a jovem timidamente de forma que ninguém pudesse escutar.
No entanto sem ninguém perceber um segundo aluno saiu da sala.
- Fábio! Fábio!!! - O jovem asiático falava em tom baixo, porém o Fábio parecia estar desnorteado. - OH CICATRIZ!!!! QUER FAZER O FAVOR DE ME EXPLICAR O QUE DIABOS FOI AQUILO?
Fábio estacou e subitamentevirou em direção a Kay com a mão fechada pronto para desferir um soco potente no rosto do jovem.
- OAAHHHH CALMA AÍ CAMPEÃO! - Disse uma voz suave e firme.
De repente Fábio viu que seu pulso havia sido coberto por uma blusa que estava sendo usada para deter seu punho a poucos centímetros de acertar Kay.
- O que a gente combinou em relação a apelidos Kay? - Disse outra voz mais áspera, e rouca.
- Nada de chamar ele dessa forma! Mas porra! Eu tava tentando fazer ele parar de agir como um zumbi. O cara quase caiu antes de sair da sala.
- Bem, pela força que eu tive que fazer pra segurar o braço dele quem ia cambalear e virar um zumbi seria você. - Disse Paulo retirando a blusa do punho de Fábio e vestindo-a.
- Vocês de novo!
- É, nós de novo... se acostuma! Ou já se esqueceu da parte que a gente falou outro dia que essa escola é NOSSA!
- ....
- Isso mesmo, fica quietinho, melhor pra todo mundo. – Disse Cristiano tirando um cigarro do maço e colocando na boca.
- O que vocês tão fazendo aqui fora? - Perguntou Paulo
- O Antissocial aí teve um siricutico enquanto dormia e eu vim ver se ele tava bem.
- Siricutico? –indagou Paulo.
- Dormi durante a aula e tive um pesadelo... Nada que seja da sua conta. - Disse Fábio em tom incomodado.
- Eu decido o que é da minha conta ou não. – Disse Cristiano acendendo o cigarro e soltando uma baforada na cara de Fábio.
Os dois jovens ficaram se encarando por alguns instantes. a tensão entre eles estava tão palpável que parecia que eletricidade estava percorrendo o ar.
- O sinal vai tocar em alguns minutos, vai lavar seu rosto e volta pra sala. Temos que tratar de alguns assuntos depois da aula e quero vocês dois conosco.
- Que?
- Isso que você ouviu! Além de cego é surdo também?
Cristiano mal terminou a falar e um soco passou triscando em seu rosto fazendo voar fagulhas de seu cigarro. Fábio ao perceber que o golpe não tinha acertado com o mesmo impulso faz um movimento para dar outro soco no jovem de cabelos arrepiados e piercing, porém Cristiano esquiva novamente e dessa vez tomando uma posição ofensiva desfere um potente soco no estomago de Fábio.
O jovem se curva de dor, porém antes de terminar de assimilar o golpe a mão de Cristiano envolve seu pescoço e o arrasta em direção a parede levantando-o em alguns centímetros do chão.
- Você agora tem uns 4 minutos para voltar pra aula, depois do intervalo final você vai encontrar comigo o Paulo e o Kay no Trailer da minha mãe. Você entendeu?
- V- Você não manda em mim! Disse Fábio fazendo força para respirar.
- Não, eu não mando... disse Cristiano soltando Fábio de repente.
O jovem colocou a mão no pescoço como se estivesse conferindo se o pescoço estava inteiro.
- Mas acho que você vai querer dar o troco no filho da puta responsável pela morte dos seus pais.
Fábio ficou olhando para Cris atônito.
- A menos que você não queira. - Disse o jovem se afastando junto com Paulo.
- O Cris é foda. - Disse Kay esticando a mão para Fábio, - Então quer dizer que você também se envolveu nessa merda por conta dos seus pais?
- Espera... como assim?
- Nada, desculpa por te irritar! Vamos! Você tem que lavar o rosto e voltar pra aula e eu também antes que percebam que eu saí.
- Mas que caralho que está acontecendo aqui?
- Só se levanta e fica de boa...
Fábio pegou na mão de Kay para se levantar e os dois jovens seguiram em direções opostas no corredor, o jovem de origem asiática retornando à sala como se nada tivesse ocorrido e Fábio em direção as escadas e terminando sua caminhada em um grande bebedouro no meio do pátio.
- Como ele sabe dos meus pais? - Questionava-se Fábio enquanto a água escorria pelo rosto.
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