O silêncio havia voltado. O garoto se sentindo mais seguro, devido as circunstâncias. Encostou a cabeça na parede atrás dele, fazendo um insignificante barulho. Por um instante, ele achou que a criatura não poderia mais ouvi-lo. Que estava livre daquele monstro estranho e sombrio.
Ele então ouviu um grunhido tão alto que poderia facilmente telo deixado surdo. A criatura estava bem do seu lado, esperando o menor deslize dele. O garoto simplesmente gelou, já não havia mais o que fazer.
— Será que posso correr? Será que realmente me ouviu? Será que vou sobreviver?
Perguntas que ele fazia em sua cabeça que não seriam de ajuda nenhuma. A tensão aumentava tanto a cada segundo que o garoto teve a reação apenas de fechar os olhos e esperar que fosse um sonho ou que, no pior dos casos, terminasse de um modo mais rápido possível.
Ele se segurou em suas pernas trêmulas e por um momento, parou de chorar. O garoto tinha aceitado seu destino, uma atitude madura para alguém tão jovem. Sem escapatória, sem planos, sem esperança, ele apenas esperou. Minutos inteiros escondido em uma casa desconhecida, de uma criatura estranha que quer matá-lo, por qual fosse a razão.
Enquanto esperava, algo se passava na cabeça do garoto. Ele não conseguia se lembrar de muita coisa, mas o bastante para fazer algumas lágrimas voltarem a cair, mesmo que sua expressão ainda fosse serena. Com seus olhos fechados, pacientemente esperou a criatura terminar com ele.
Um barulho de algo sendo esmagado deu para ser escutado. Não fazia muito sentido, mas algo teria acontecido.
— Será que foi tão rápido que eu ainda não entendi que morri?
Ele então sentiu um calafrio, como se um vento gelado estivesse passando por debaixo daquela casinha e atingindo seu corpo inteiro. Era frio tão intenso, e uma presença tão triste e solitária que chegava a ser estranho. O garoto então abriu os olhos, e percebeu que não estava morto. Ele ainda estava lá, dentro da casa do cachorro, e nada havia acontecido. Ele ouviu uma voz, grossa e calma, se direcionando para ele. Essa voz causava ainda mais calafrios a cada palavra dita por ele.
“Pode sair agora, está seguro. Por enquanto.”
O garoto não sabia quem era, e como poderia estar seguro? A criatura estava logo ali do seu lado. Seria um blefe? Talvez um truque do monstro, o menino pensava. Quanto mais ele pensava, mais a curiosidade batia e ele decidia se saia ou não. A demora foi curta, e o garoto saia engatinhando da casa, seguindo a sugestão daquela voz triste e fria.
Seus olhos não conseguiam compreender aquilo que estava bem na sua frente. Um ser grande, com longos vestes marrons que cobriam seus ombros e serviam de capuz, portando tipos leves de armadura em seu corpo e uma foice, junto a uma máscara que imitava um crânio com dentes afiados, quase escondido por causa do capuz. Ele estava rodeado de 5 crianças, todas diferentes umas das outras. A criatura estava de baixo da foice que a caveira empunhava, morta como se fosse papel. O garoto olhava e demorava para entender que o monstro foi morto com tanta facilidade.
“Mas, quem é você?” - Indagava o garoto, encarando sem nem mesmo piscar.
“Eu sou a Morte, é claro”
Ele riu. Os jovens se entreolhavam enquanto Lucio caia na gargalhada. “Você? A ‘Morte’?” A cada vez ele ria mais. Não dava para saber se ele tinha entendido o que estava acontecendo ou se era tão absurdo que a ficha não havia caído, e parecia tudo uma grande piada, ainda por cima de mau gosto.
“Eu sou a Morte, Lucio. Estou aqui para ajudar vocês a saírem desse lugar.”
“Espera, como você sabe o meu…”
“Só escuta ela, garoto” - Disse um dos meninos que vestia um casaco azul e guardava nas costas uma tampa de lixo de metal
A situação parecia estranha demais. Como aquele ser poderia ser a Morte? E como ela poderia saber o seu nome? Não entrava na cabeça de Lucio que, a pessoa em sua frente como face de esqueleto e enrolado em um pano velho marrom poderia ser, de fato, a Morte em “pessoa”. A informação parecia deixar aquela graça e alegria repentina menor a cada instante que ele cogitava a ideia de estar de frente com algo tão perturbador e gelado.
Sua presença ainda causava calafrios e um frio constante, ao ponto de apenas reparar depois que a grama onde a “Morte” pisava, estava congelada. Ele então olhava para os adolescentes em volta sem entender como podiam seguir ela, uma criatura tão nefasta a seus olhos. Elas pareciam tão tranquilas e, de certa forma, passavam segurança de estar com ela. A mente de Lucio dava mais voltas a cada segundo. A Ceifadora então, em seus passos lentos, se aproximou de Lucio e olhou diretamente para baixo, fazendo com que ele tivesse que inclinar a cabeça totalmente para cima para poder enxergar aquele ser tão grande.
“Imagino que você já tenha aceitado que eu sou a Morte e que precisa de minha ajuda, pelo menos eu espero”
— O que será que ela quer?
“Eu não tenho muito tempo para explicar. Você está aqui por causa de um erro meu, mas ainda há um jeito de sair”.
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