Se a mera lembrança de suas vidas pudesse diminuir a chance de voltar para casa, era melhor que as memórias ficassem como já estavam. Lucio estava determinado a sair daquele lugar de uma vez, e talvez tivesse que liderar aqueles garotos para fora.
“Anda garoto, tá na hora de escolher sua arma.”
“Minha arma? Como assim?”
“Nós protegemos uns aos outros, mas não quer dizer que seremos sua babá. Os bichos não podem tocar na gente por muito tempo, mas podemos usar coisas pra nos proteger e matar eles. Bom, pelo menos achamos que podemos.”
“Pensei que esse papel de matar eles eram da Ceifadora, não achei que….”
“Você não prestou atenção em nada que ela disse, não foi? Ela fica fora por um tempo, volta 30 minutos depois. Não podemos depender dela o tempo todo, ela mesmo já disse isso pra gente.” Mikaela se mostrava inconformada com a regra dos 30 minutos, mas sua determinação e força falavam mais alto. Mesmo sem ajuda da Ceifadora, eles tinham que ser independentes e conseguir se defender. Era a lei mais antiga da humanidade: Sobrevivência é a do mais forte.
Lucio então se dirigiu as outras crianças que estavam esperando por ele. A menina de macacão estava agachada olhando alguns objetos que ele poderia escolher como sua arma. Ela tinha cara de brava, alguém que não era muito convidativa.
“Tem algumas coisas aqui que você pode usar, rapaz. A propósito, meu nome é Laila.” Dizia já estendendo o punho para que ele pudesse cumprimentá-la.
No chão havia alguns objetos que ajudariam que ele pudesse sair melhor do que foi com o cachorro. Umas facas, cabos de vassoura e até algumas frigideiras. Também havia uma pá, um pouco enferrujada, mas bem afiada. Lucio então, pegou este por parecer, talvez, mais “letal”.
“Boa escolha, eu acho.” Dizia Laila.
“Você acha?”
“Galera, venham, a Ceifadora quer falar com a gente.” Dizia a garota pequena, chamando por todos.
Todos foram ao encontro da Morte, que estava parada no meio da rua. Eles então se reuniram perto dela, enquanto está apenas olhava em direção da rua. Os jovens ficaram meio inquietos e confusos, começando a ficar se entreolhar sobre o que poderia se tratar o chamado. Antes que pudessem falar alguma coisa, a Morte apontou para frente, ainda sem falar nada. Logo quando todos olharam na direção que apontava, ela começou a falar.
“Devemos ir naquela direção, temos mais uma parada antes de irmos para a saída. Mas para ganharmos tempo, cortaremos caminho pelo museu.”
“Parar? O que precisamos fazer que ainda não podemos sair desse lugar?” Lucio falava já tentando tomar a frente do grupo, enquanto os outros olhavam para ele.
“Não sabemos. Ela tem os seus motivos e, sinceramente, eu não ligo. O capuz vai tirar a gente daqui, então não me importo se temos que parar mais vezes.”
Lucio não poderia discutir com aquilo. Eles tinham total confiança naquele ser que se dizia a própria “Morte”. E se ele duvidasse ou confrontasse eles? E se acabasse sendo expulso? Essa não era uma aposta que ele ousaria fazer, pelo menos não naquele momento. Junto aos outros, Lucio ganhava um pouco de arrogância e confiança que talvez, não deveria ter.
“Vamos, não podemos perder tempo.”
Todos seguiam a Ceifadora, sempre com muita cautela. O local continua cinzento e o clima assustador, a pele sempre arrepiada pelo frio que passava por ela, junto ao suor que o calor fazia. A Cidade Penumbra era tudo o que haviam dito, e talvez ainda mais. Lucio ficava muito intrigado com todos seguirem a Morte tão cegamente em busca da tal saída que lhes foi prometida, mas também não duvidava da promessa.
— Será que ela é tão confiável quanto diz ser?
Os pensamentos rondavam a cabeça de Lucio. A Ceifadora por um momento, olhou sobre os ombros para trás do grupo, exatamente na direção em que Lucio estava. Ele pode sentir a brisa fria tocando sua pele, mexendo seus cabelos e o arrepio na espinha. O garoto começou a engolir seco, e suava frio, enquanto olhava diretamente para ela.
— Ela…. Ela pode realmente me ouvir pensar?
Depois de alguns minutos, voltou a olhar para frente. Lucio então respirou fundo, sem alarmar sua preocupação aos outros sobre a sua guia e protetora. Ele achava fielmente que devia questionar tudo que a “Morte” dizia para eles. Como poderia confiar nela? Ela era, literalmente, a morte. Ela havia o levado para aquele lugar. Quanto mais pensava, mais Lucio tinha certeza que devia ficar com o pé atrás com ela, sempre dois passos à frente de seu inimigo.
Lucio também começava a observar as outras crianças, principalmente Mikaela e Gabe, quem ele achava que eram os líderes depois da Ceifadora. Sua mente estratégica o fazia imaginar o que poderia fazer caso eles estivessem muito dependentes da Morte e o acusassem de alguma coisa. Lucio não sentia preocupação vindo do resto do grupo, apenas que eles poderiam também ser facilmente manipulados pelos outros.
No
fim, Lucio havia encontrado outras pessoas para poder voltar, mas
ainda estava sozinho.
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