Sheila se vê em frente a um prédio.

Dentro dele havia todo tipo de jogo, e a música alta junto das risadas de pessoas se divertindo chegava até o lado de fora.

Confusão.

Ela não estava no parque, agora mesmo?

"Parece bem cheio, mas até que a fila não tá ruim."

Uma voz familiar, era o menino que andava com Yuki.

Os dois estavam a alguns passos dela, entrando no estabelecimento.

Ela sentia uma sensação leve de zonzidão, bem mais fraca que quando ela acordou a primeira vez. 

Talvez isso esteja relacionado com o que aconteceu?

Afinal, o que está acontecendo? 

Algum fenômeno sobrenatural, certamente. E a chave para entendê-lo deve ser…

Aqueles dois.

Observando-os de fora do estabelecimento, Yuki tinha uma cara diferente da desse tempo todo.

Ele parecia inquieto, ansioso.

Porque?

A curiosidade, ela está chegando a um certo pico.

É difícil ficar parada nesse tipo de situação, no primeiro tipo de situação realmente misteriosa.

"Sim, isso é algo que precisa ser feito."

Ela pensa, enquanto vai em direção a deles.

Continuar do mesmo jeito, mesmo entendendo a seriedade da situação, é coragem ou pura falta de bom senso?

Provavelmente os dois.

...Mas não é algo que faria diferente, mesmo se pudesse voltar e nunca vir a este lugar.

Porém, ela não estava sozinha.

No mesmo momento que ela abriu seus olhos, não muito longe dali, ele também abriu seus olhos.

"-merda é essa?!"

Kyouichirou se viu de repente numa quieta rua movimentada.

Ela não era tão movimentada a ponto de ser cheia, mas continha um fluxo constante de pessoas passando.

Uma rua comercial sem carros passando no meio do dia.

Junto da mudança súbita de ambiente, mais uma vez uma sensação incômoda na cabeça.

Se antes foi algo próximo a levar um soco na mandíbula, dessa vez é o equivalente a alguém te pegar pelo colarinho e te chacoalhar de leve.

Olhando em volta, diferente do parque, ele não conhecia aquela área.

Era cheio de lojas que nunca viu, nem as propagandas nos outdoors e cartazes eram familiares. 

Como procurar aqueles dois se nem sabe onde tá?

Ele não gosta muito de fazer isso, mas decide perguntar a alguma das pessoas passando.

Ele vai em direção a alguém andando mais devagar e...

"Com licença, podia me dizer onde é aqui?"

A pessoa continua andando, ignorando ele.

"..."

Vai ver aquela pessoa tava com pressa?

"Com licença..."

Uma tentativa, duas tentativas, três tentativas…

Silêncio.

"....."

A paciência de Kyouichirou não aguentava mais que isso.

Ele vai até um dos transeuntes e o para, pegando em seu ombro.

"Oi, podia me dizer onde..."

Ele fica surpreso.

"...estamos?"

A pessoa que ele parou era um pouco mais alta que ele.

Esse tempo todo, ele não encarou a cara de uma das pessoas passando de tão perto e por tanto tempo.

Estava borrada.

Era como um vídeo em 144p.

A pessoa sendo segurada não dizia nada, e estranhamente não tinha peso, agora que ele presta mais atenção.

Segurar aquela pessoa é como segurar uma folha de papel contra o vento.

E assim que ele a solta, a pessoa continua andando.

Como se nada tivesse acontecido.

Kyouichirou sente arrepios.

Aquelas pessoas... Eram mesmo "pessoas"?

Ele faz um quieto "tch".

"O jeito é procurar às cegas."

Ele sente um pouco de suor frio começando a se formar na sua testa e costas.

Ele precisa achar os outros e sair dali o mais rápido possível.

Após andar por poucos minutos, música alta e barulho de pessoas.

Ao ouvir isso se percebe, o quão quieto era longe dali.

Kyouichirou corre na direção dos sons, enquanto desvia das "pessoas".

O barulho vinha de um… arcade?

Ainda tá um pouco longe, mas parece um arcade...

Aquela pessoa, na frente...?!

Era Sheila?!

Finalmente, alguém além dele.

Ela tava entrando naquele lugar.

"Sheila!"

Ele grita, mas ela não parece ouvir.

...Ou talvez só ignorou ele.

Aquela obcecada pelo oculto… 

Apertando o passo, ele chega até lá e para na frente para recobrir o fôlego.

Ele olha em volta procurando por Sheila, mas ela já entrou.

Lá dentro, ela continua andando lentamente até… alguém que ele reconhece.

É aquele menino de antes, provavelmente o motivo de estarem lá. 

Ele não precisa nem de três segundos para saber o que ela pretende, e corre novamente.

Do ponto de vista de Sheila...

Yuki e o outro menino estão sentados na frente de máquinas de jogo, Yuki segura os controles mas não se mexe.

Seu amigo consegue vitórias fáceis e continua jogando.

Parecia um jogo de luta.

Enquanto andava à eles, ela observava tanto os meninos quanto o ambiente.

Ela percebeu algumas coisas.

O que a fez questionar outras coisas.

Ela ponderava sobre isso a cada passo, eventualmente chegando ao lado das cadeiras de jogo.

Ela estendeu sua mão em direção a Yuki.

"Sheila, não!"

Ela pôde ouvir uma voz familiar gritando de perto, mas não parou.

A mão estendida é colocada no ombro dele.

"Yo, jovem!"

Kyouichirou viu uma repetição. 

Um ato que se encaixa na definição de insanidade.

O menino fez que nem no começo, e olhou na direção dela.

Ele chegou tarde demais novamente.

"Quem?"

Uma voz que, diferente de antes, não estava distante.

...Mas nada aconteceu.

"Huh? Quem é ela, Yuki?"

A pessoa respondeu?

Ele olhava a cena confuso.

Os dois meninos que falavam levantaram das cadeiras que tavam, e encaravam a Sheila.

Pareciam do fundamental, o menino que viram antes, ele era um bocado mais baixo que o outro. 

Enquanto esse novo menino chegava quase até seu ombro, o outro provavelmente está um pouco abaixo de seu cotovelo.

Os dois pareciam normais.

Depois de seu choque de alguns segundos, Kyouichirou volta a andar e alcança eles.

"Sheila… O que pensa que tá fazendo?"

Sua irritação era aparente.

"Kyou."

Mas para Sheila, isso não importava, tendo um objetivo em mente naquele momento.

Ela olha nos olhos de Kyou, que imediatamente mudam de irritação a surpresa.

Enquanto ela sorria, seus olhos mostravam uma seriedade inesperada.

Ela vira de volta aos meninos, e olha Yuki com os mesmo olhos.

"Seu nome é Yuki, não é?"

Ele relutantemente balança a cabeça que sim.

"Já olhou as pessoas em volta?"

Ele pareceu confuso ao ouvir isso.

"Ei, qual é o problema dessa menina?"

Sheila vai em direção ao outro menino, e põe sua mão em seu ombro do mesmo jeito que fez com Yuki.

"Olá a você também!"

Ela pisca algumas vezes, e dá alguns tapas no ombro dele.

Por algum motivo, algo sobre ele estava diferente que Yuki.

Todos olham para ela, confusos.

Estava extremamente quieto.

Desde que a conversa começou, o único barulho eram suas vozes.

"Sheila… o que… tá acontecendo?"

Ela sorri, e olha diretamente nos olhos dele. Seus olhos tem um brilho especial ao responder.

"Não tenho ideia."

A frustração de Kyou era palpável.

"Mas… certamente é algo sobrenatural!"

Aquela era a gota d'água, pensou.

A paciência de Kyouichirou para as loucuras dessa obcecada pelo oculto tava no limite.

Ele tava prestes a dizer algo.

"Quem… são vocês?"

Mas alguém o fez antes disso.

Yuki, que tava olhando em volta o tempo todo, parecia estar mal.

Ele segurava a cabeça, como se estivesse doendo muito.

E o outro menino, porque ele parecia feliz com isso? 

Ele tava sorrindo.

E a Sheila, que tipo de cara era aquela?

Porque ela parecia tão chocada do nada?

E então, a cara do menino que Sheila tinha a mão no ombro ainda.

Ela lentamente ficou desfigurada.

Era diferente de antes, não era um grande borrão.

Era algo… nauseante.

De algum jeito, parece que ele tá se desintegrando.

O Yuki, ele tá com os olhos fechados e balançando a cabeça enquanto isso.

E, do nada, denovo.

Um lugar diferente denovo.

O outro menino sumiu.

Agora na frente do que parece um complexo de apartamentos, só três pessoas estão.

O tal de Yuki abre a porta e entra no complexo, todos seguem ele.

O que diabos tá acontecendo?

Acho que nenhum de nos realmente sabe.

A essa altura, todos provavelmente só tão seguindo o fluxo, sem questionar muito as coisas.

Mas todos os três tão soando frio.

E ao abrir a porta do apartamento…

"Bem vindos!"

Uma voz amigável. Uma pessoa que parece não muito mais velha dá boas vindas de mais pra dentro.

Ele usa roupas coloridas e vibrantes, e tá parado no meio da sala.

"Chegaram bem na hora do jantar!"

Kyouichirou ia tirar os sapatos, quando...

Sheila casualmente entra com sapatos e tudo e passa pelo homem, pra mais a fundo da casa. 

Foi então que ao olhar pro lado...

Ele tava tremendo.

Aquele menino tava tremendo, suando frio, branco como leite.

Parece que ele vai desmaiar a qualquer segundo.

"Oh? Não vai entrar?"

Kyouichirou vira para o homem, que tem um sorriso mais radiante ainda.

"Tem certeza?"

"Oh olá, você é uma amiga do Yuki também?"

Uma voz vinda de outro quarto da casa, de uma senhora de meia idade.

O menino sai correndo pra dentro depois de ouvir isso.

O único ainda na entrada, ele desiste de tirar os sapatos.

"Não vai entrar?"

Kyouichirou segue os outros, e para pouco depois de passar pelo homem sorridente.

Ele percebeu.

Algo que ele só presenciou poucas vezes, durante brigas com pessoas perigosas.

Vontade de matar que dava arrepios.

Mas apenas por um segundo.

Ele vira para trás, e só tinha um sorridente homem amigável.

"Oh? Algum problema?"

O homem pergunta, com uma expressão curiosa.

"Não… nada."

Assim que chega na cozinha, uma surpresa.

Makoto sentado na cadeira, cabisbaixo.

Pelo menos os três tavam reunidos...

Sheila parece distraída vendo o menino abraçar uma senhora de meia idade.

A senhora parece confusa, não para de piscar e gentilmente acariciar a cabeça dele.

Ninguém dizia uma só palavra, por algum motivo.

Tinha algo estranho no ar, talvez seja por isso.

Mas isso não vai impedir Kyouichirou de ver se seu amigo tá bem.

"Makoto? Tudo bem com você cara?"

Silêncio.

Ele lentamente levanta a cabeça e olha na direção da sala com seus olhos.

"Yo, Kyou."

Ele tá pálido, e seus olhos tão tremendo.

Makoto cuidadosamente põe o dedo na frente dos lábios, pedindo silêncio.

O motivo dele pedir isso ficaria óbvio em breve.