O tempo continuou sem pausa para Makoto, desde que eles sumiram.
"...Pronto!"
O homem sorridente pediu para ele esperar naquela mesma cadeira enquanto "preparava tudo".
"Eu gostei de você, então vou te mostrar algo especial!"
Makoto permanecia quieto.
"Você já pode vir."
...Ele levanta lentamente, e se vira à sala.
Havia vários tipos de lâminas e instrumentos desconhecidos no chão.
Os três membros da família de antes estavam sorridentes no fundo.
"Você pode se sentar no sofá."
Makoto relutantemente segue a ordem.
O sofá havia sido movido para o canto da sala, e virado de de frente à TV para de frente ao corredor, onde ficam os quartos.
"Esses são os três assistentes da vez, senhor Papa, senhora Mama, e a pequenina!"
Makoto encara silenciosamente.
"Não esqueça de bater palmas para o show."
Ele bate palmas com um sorriso, que mais deve parecer a cara de alguém morrendo.
"Vamos começar com o número mais simples, a pequenina e o corte rápido!"
Ela anda até o lado do homem sorridente e faz a mesma reverência que um ator no começo de uma peça.
O homem se agacha e pega uma das várias lâminas no chão ao seu lado, e no próximo momento, ela está no chão do outro lado.
Nada aconteceu.
"Voilà!"
Em seguida, o homem sorridente põe as mãos ao lado da cabeça dela, abanando-as como se dissesse "veja só!".
É então que finas linhas de sangue aparecem em seu pescoço.
Os olhos da menina não tinham mais luz, e ela cai de joelhos, sua cabeça caindo para o lado após, e rolando até os pés dele.
Uma pequena fonte de sangue jorra de seu pescoço antes do resto do corpo cair.
Nesse momento, os olhos daquele homem brilham.
Makoto sabe que essa é a deixa para as palmas, e é obrigado a aplaudir com um sorriso, igual antes.
"Não é lindo? Como a cor vermelha se sobrepõe a todas as outras?"
Era por isso que ele estava vestido daquele jeito?
Makoto permanece em silêncio.
"E agora para o próximo show..."
Dessa vez era a senhora de meia idade com aparência gentil.
Ele joga os restos mortais da menininha para o lado, e pega uma cadeira que estava separada, a senhora se senta logo após.
"O último show foi algo rápido que aperfeiçoei depois de muito treino. Obviamente, esse também."
Ele pega uma lâmina curvada.
"Eu chamo esse de Mama e a perseverança!"
Ele enfia a lâmina curvada no abdômen dela, o que a faz dar gritos de agonia.
Makoto não consegue evitar olhar para o senhor, que provavelmente é marido dela, nessa hora…
O senhor continua sorridente, mas parecem ter lágrimas formando nos seus olhos.
"Olhos no show, Makoto."
Ele imediatamente voltou sua atenção ao homem quando ouviu seu nome.
Usando outra faca agora, ele estava abrindo o estômago da mulher, e os intestinos expostos começaram a sair.
"Eu na verdade queria mostrar isso para o Yuki, mas não acho que ele aguenta, ainda..."
O sangue jorrava, mas a mulher não parava de gritar.
Era como se ele cortasse perfeitamente de um jeito não letal, para maximizar o sofrimento das vítimas.
Ele pega um tipo de instrumento médico e para o sangramento, e começa a remover os intestinos dela pouco a pouco.
Em seguida, ele remove as pernas parte por parte, começando pelos dedos dos pés.
Eram vários pedaços pequenos.
O mais incrível era a velocidade que ele fazia isso, e os cortes tão precisos quanto os de um cirurgião.
Quando as pernas da mulher foram completamente removidas até o mínimo necessário para ela se manter sentada, ele fez o mesmo com os braços.
Os pedaços removidos dos braços eram ainda menores, cada um do tamanho de um feijão.
A mulher esse tempo todo não parou de gritar.
A voz dela começou a ficar rouca.
"Opa, preciso me apressar!"
Ele foi ainda mais rápido.
Braço esquerdo, braço direito, nariz, ouvidos... ele até removeu o peitoral dela.
Só sobrava um coração e pulmão expostos, e o necessário para alguém gritar.
Naquele momento, a voz da mulher sumiu, e uma adaga foi apunhalada em seu coração.
"Finale."
Ele se curva como um ator no fim de uma peça.
Makoto consegue bater palmas enquanto faz um sorriso falso, mas lágrimas caem de seus olhos.
O homem sorridente pareceu tomar isso de forma positiva.
"Para o último show… teremos Papa, o carne viva!"
As lágrimas não paravam, em conjunto com o sorriso falso.
A cadeira em que a mulher estava é jogada para o lado.
Mas os pedaços continuavam no chão.
O senhor de meia idade fica parado.
No próximo segundo, o homem segurava um pedaço de pele.
E alguma área do corpo do senhor começava a ficar com as roupas encharcadas de sangue.
"Eu na verdade não conseguia fazer isso antes, mas este lugar maravilhoso ensina várias coisas."
Eventualmente, o senhor era puro vermelho.
A pele havia sido tirada perfeitamente, e só sobrava o rosto, que logo foi removido.
Ao tirar isso, os olhos do senhor caem, e logo o senhor cai de joelhos.
"Ah, eu sempre removo os olhos junto sem querer, peço desculpas pela falha!"
Ele tremia.
A sensação que o senhor deve estar sentindo era inimaginável.
"E com seu número terminado, dizemos adeus!"
Ele enfia uma faca longa na parte de trás do pescoço do homem, acabando com seu sofrimento.
Isso era misericórdia ou uma crueldade maior?
Makoto faz o mesmo de antes, e bate palmas.
Ele logo para, e não consegue mais sorrir.
Nem suas lágrimas permaneciam.
"Você me lembra o Yuki um pouco."
Ele coloca o rosto do senhor na cara de Makoto.
"Uma lembrancinha."
Era como se ele ouvisse "desculpe" na hora, logo após ele pode ver algo.
Parecia a memória de alguém, um senhor chega em casa depois de um dia de trabalho e sua esposa e filha estão na frente de uma pessoa.
Ele corre e tenta parar a pessoa, mas acaba sendo derrubado e obrigado a ver sua filha menor e esposa brutalmente assassinadas.
O senhor consegue clamar, quase rezar, para que Yuki não venha para casa hoje nos seus últimos suspiros.
"Então ele se chama Yuki?", ele percebe que fazer isso foi um erro.
Durma na casa de um amigo, saia por aí vadiando, não importa o que for.
Só se salve.
O homem logo vem acabar o serviço, e o senhor de repente se vê no meio do corredor do lado de fora.
Yuki estava vindo, mas ele não consegue para-ló.
Makoto volta a si, confuso.
O homem sorridente estava olhando para ele de um jeito diferente.
Parecia ter afeto.
"Você também… A partir de agora, você também é meu irmãozinho menor."
Ele parecia feliz, por algum motivo aquela cara indiferente parecia mais feliz que seus sorrisos.
"Agora tenho dois irmãozinhos."
Logo ele volta ao sorriso.
Naquele momento, o homem virou para a porta, como se soubesse o que ia acontecer.
Ela foi derrubada por um chute.
"Makoto!"
Imediatamente o homem acaba olhando nos olhos daquele menino, que fica refletido nos olhos dele, parece que ele se chamava Yuki.
Yuki viu a cena de seus pesadelos.
Dessa vez, o assassino tinha uma face.
"Olá irmãozinho."
Aquilo era a realidade.
Não havia mais como fugir.
"Obrigado pelo paraíso."
Uma cara indiferente, e olhos sorridentes.
Era como se o mundo quebrasse.
Como acordando de um longo sonho, Sheila, Kyou e Yuki estavam na estação.
O primeiro a voltar a si foi Kyou.
Ele olha em volta, e Makoto descia as escadas da estação.
"...Pessoal!"
Tendo acabado de abrir seus olhos, Kyouichirou ainda tava meio zonzo.
"Makoto, tu tá bem cara?!"
O grito acordou os outros dois.
"Estamos… fora?"
Ela disse, confusa sobre o porque disso.
Ela em seguida se levanta do chão, e logo Kyou faz o mesmo, enquanto Makoto corria na direção deles, que estavam no meio da estação.
"Realmente acordamos aqui."
Sheila parecia pensativa, enquanto Kyou abraçava Makoto.
"Mano, achei que tu fosse morrer..."
Os três eram amigos de infância próximos, e Sheila se sentia do mesmo jeito.
Alívio.
Ela quase se sentiu culpada por propor essa excursão investigativa do clube, quase.
...Mas já que todos estão bem no fim das contas, esse sentimento dura pouco.
Ela então percebe a outra pessoa no chão, com a mão massageando a cabeça.
Um jovem com cabelo preto desalinhado e longo que parece que não foi cortado a muito tempo, usando um uniforme de verão da mesma escola que eles.
Ele se levanta devagar, e é um pouco mais alto que Kyou, parecendo ser da idade deles.
"Yuki?"
Sheila pergunta.
O jovem parece responder a esse nome.
"Como você sabe meu nome?"
Ela faz um "aha" com suas mãos, batendo o punho em sua palma.
"Eu estava certa! Um verdadeiro fenômeno sobrenatural!!"
Kyou e Makoto, que estavam num ciclo infinito de "Você tá mesmo bem? Tu não parece nada bem!" e "Estou cara, pode relaxar." ficam sem acreditar no que acabaram de ouvir.
"Ah, sim."
A cara sorridente e sem culpa ou arrependimento de Sheila muda para uma séria.
"Manabu pediu desculpas por não notar antes."
Ao ouvir isso, foi como se Yuki realmente tivesse acordado.
Ele sentia sentimentos complicados no momento.
"Manabu… Não, eu que devia ter acordado antes..."
"E estamos em 2021, também."
Yuki não tem certeza se ele ouviu direito.
"Desculpe, o que? Não consigo lembrar como acabei aqui, mas esse ano só chega em mais de 30-"
A jovem balança a cabeça para os lados.
"Esse povo viu, olha, você fez alguma coisa que criou um tipo de geladeira sobrenatural e agora está em 2021. Só aceita."
Todos ficam pasmos com a falta de sensibilidade dela.
"Isso não é nada bom", pensava Makoto.
Para tentar melhorar o clima antes de Kyou perder completamente a paciência, ele muda de assunto.
"N-nossas mochilas e lanternas estão no parque! Não sei porque, mas só nos acabamos naquele lugar."
Os outros dois pareciam confusos ao ouvir isso, eles não estavam usando elas esse tempo todo?
...Eles não estavam.
Yuki só continuava confuso.
"Não consigo lembrar direito de nada desde que o Manabu..."
Makoto ouviu isso.
Enquanto Sheila e Kyou estavam distraídos com o fato de suas mochilas de fato não estarem lá, ele foi falar com Yuki.
"É melhor assim, acredite."
Quando voltaram, o sangue que havia espirrado nele e a máscara de pele sumiram, mas as memórias não.
Era graças ao amuleto?
Tudo aconteceu tão rápido que felizmente os outros não notaram a situação em que ele estava antes de chegarem lá.
...Era suficiente que só ele tivesse pesadelos sobre aquilo.
E ele não quer ter de explicar, também.
Quando Makoto acordou, estava sentado e apoiado em uma árvore, com as coisas de todos organizadas do seu lado.
Quase como se alguém tivesse deixado elas lá para ele.
...Porém, ele não quer pensar sobre isso.
Era melhor só tentar esquecer.
"Mas então, já que parece que você é alguém do passado, como fica a coisa?"
Depois de Makoto dizer isso, todos ali perceberam que a situação de Yuki era complicada.
"...Por enquanto ele pode ir pra minha casa, vemos o resto depois."
Kyou, que morava numa grande casa japonesa tradicional, salvou o dia.
Tantas coisas absurdas aconteceram nas últimas horas que ninguém questionava o que Sheila disse mais cedo sobre geladeiras sobrenaturais, pelo menos por enquanto.
Makoto foi junto passar a noite na casa do amigo, mas antes eles levaram Sheila para a casa dela, depois de pegarem suas coisas que ficaram no parque.
Assim que chegou, ela foi direto à sua mesa escrever algo por algum tempo.
Na mesinha dela, agora estava um relatório de investigação inacabado.
「Investigação sobre o fenômeno "Crianças da Estação"
Membros participantes: Yamazaki Sheila, Yamamoto Makoto, Nagato Kyouichirou.
Área investigada: Parque da estação em questão.
Fundos disponibilizados pela escola: 10.000¥.
Resultados: Atividade sobrenatural confirmada.
Causa do fenômeno: Desconhecida.
Detalhes da operação: Nos encontramos um fenômeno do tipo espaço alternativo, e...」
Sheila dormia pacificamente, cansada demais para acaba-lo naquele dia.
Aquele foi o primeiro verdadeiro fenômeno sobrenatural que o clube encontrou desde sua entrada nele no começo daquele ano, seu primeiro ano do ensino médio.
...Talvez o primeiro de muitos.
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