O sol se escondia atrás do oceano delta e como combinado Odilon e Frella esperavam a feiticeira na estalagem.
Estavam sentados na mesa mais afastada do estabelecimento, bebiam uma cidra e conversavam. Odilon fazia careta ao degustar a bebida, para ele o líquido tinha gosto amargo, mas para Frella era algo completamente delicioso e refrescante.
Frella viu quando Mikae entrou pela porta lateral e sondou o local para tentar encontrar seus amigos, por isso fez um gesto com a mão estendida para cima. Mikaela viu sua irmã e foi se sentar com ela.
– Onde está a Polipedes? – Perguntou a recém chegada.
– Me pergunto o mesmo. – Respondeu Odilon, bebendo de uma só golada o restante de sua bebida amarga. – Vai fazer duas horas que estamos aqui esperando e até agora nada.
– Se me lembro ela disse que o imperador e a governadora eram seus irmãos, devem estar conversando algo de importância. – Falou Frella, logo depois de ter pedido ao garçom outra bebida.
– Não. Eles devem estar negociando algo. – Disse Odilon. – Ela sempre negocia. Não, obrigado! Traga-me outra bebida por favor! Essa cidra é horrível.
– Não temos muito o que fazer, resta-nos apenas esperar. Essa é aquela cidra que bebíamos antigamente, Frella? Deixe aqui. Isso é muito bom! – Falou Mikae.
– Vocês tem um gosto estranho. – Odilon meneou a cabeça negativamente.
– Acham que ela vai deixar a gente? – Disse Mikaela. – Será que se o imperador lhe oferecer algum cargo ela aceita?
– Acho improvável. – Disse Odilon. – Se fosse para trabalhar para Menetuf ela já teria ido a muito tempo.
– Nunca se sabe. – Falou a jovem de mechas roxas.
Fiorella mais uma vez gesticulou a mão, ao ver Polipedes entrar no local. A feiticeira não esboçava um rosto feliz. Puxou uma cadeira e sentou, ficou alguns minutos em silencio até que bufou longamente.
– Cruzes! Já vi essa cara antes. Parece até que meu pai te deu uma daquelas ordens sem sentido. – Disse Odilon.
– O imperador quis fazer negócios. Garçom, traga-me uma bebida, mas não essa cidra, essa amarga minha boca. Como sempre foi persuasivo o bastante para me convencer.
– Sabia! – Gritou Odilon. Percebendo que todos o olhavam se aquietou novamente. – Vou adivinhar; ele quer que entreguemos a ele seja lá o que for que estamos buscando. Não é isso?
– Sim. Menetuf nos ofereceu tudo o quer for necessário para encontrarmos a caixa. Esse suco está muito bom. Não pude dizer não a sua proposta.
– Ótimo, agora trabalhamos para o imperador.
– Não, Odilon. O plano será realizado do mesmo jeito, a caixa só será entregue a ele depois que tivermos resgatado Sotrel.
– E o que essa caixa tem de especial? – Perguntou Mikaela.
– Bem… já que estamos todos aqui vamos começar as explicações. A caixa que vamos buscar não é algo comum, ela tem um poder, um dom, ela realiza qualquer desejo de seu portador.
– Mas isso é maravilhoso. – Falou Frella. – Imagina quantas coisas podem ser feitas a partir desse poder.
– Não apenas imagino, como também sei o que ela pode fazer. Essa caixa foi a responsável por criar os gigantes de gelo e muitas outras coisas no passado. Seu poder e intitulado ilimitado e por isso muitos querem a caixa. A última vez que ela foi vista foi quando eu e meus irmãos entregamos ela para ser trancada e esquecida.
– Então você sabe onde ela está? – Perguntou Mikae.
– A localização da caixa sim, mas não sei como abrir os portões que a protegem.
– Foi por isso que os gigantes de gelo foram atrás de você no castelo. – Disse Odilon. – Eles sabiam que você servia a meu pai, eles queriam que você encontrasse a caixa para eles.
– Correto.
– Mas você disse que não fazia ideia do motivo que levaram eles a invadirem o castelo.
– Não, eu disse que não tinha as respostas para o que eles procuravam. Muitos sabem onde a caixa esta guardada, mas poucos sabem como abrir os portões.
– E o que tem nesses portões? – Perguntou a jovem de cabelo azul.
– Eles possuem fechaduras magicas, que só podem ser abertas por seu próprio selo. Ao total são quatro portas. – A feiticeira foi interrompida.
– Então são quatro selos. – Disse Odilon. Então qual é o plano? Cada um vai buscar um selo?
– Seria impossível. – Falou a feiticeira. – Ninguém sabe onde estão escondidos esses selos. Pode ter um em cada canto do planeta e ao mesmo tempo os quatro podem estar juntos na mesma sala.
– Então para que viemos aqui, uma vez que você não sabe onde estão os selos?
– Aqui frequenta o capitão de um navio explorador. Dizem que seus homens já encontraram um lugar que parecia ter algo importante guardado.
– E como sabem disso?
– Pois o lugar era protegido por um ser extremamente poderoso; os homens tentaram enfrentar a criatura, a fim de conseguir o tesouro, mas o capitão foi o único que sobreviveu, pois fugiu do local.
Mikaela, Fiorella e Odilon se entre olharam.
– Então tudo o que temos que fazer aqui é sondar o capitão para saber onde encontrar esse selo. – Disse Frella. – Depois de ter a resposta vamos partir para o esconderijo desse tal selo, enfrentar uma criatura super poderosa e se… se vencermos pegar a recompensa.
– Basicamente é isso.
– E isso vai se repetir quatro vezes? – Continuou Frella.
– Isso. Precisamos encontrar as chaves, sem elas não temos chance de pegar a caixa.
– Não poderíamos simplesmente abrir um portar até o lado de dentro do esconderijo? – Perguntou Mikaela.
– Poderíamos, mas iria dar errado. As criaturas que criaram esse esconderijo são de uma raça além do tempo e a magia deles é muito poderosa; nossos portais seriam distorcidos e acabaríamos mortos ou perdidos entre mundos. No momento essa é a nossa melhor opção. – Polipedes levantou da cadeira. – Fiquem aqui, vou ver o que o capitão tem a me dizer.
Polipedes foi para a bancada, onde o capitão estava sentado sozinho bebendo uma cerveja.
A feiticeira se aproximou, sentou-se do lado do navegador e jogou sobre o balcão uma pequena bolsa de couro cheia de florim de prata. O capitão olhou para os lados, lambeu as gengivas e soltou um leve arroto.
– O que você quer?
– Sei que o senhor e sua tripulação acharam o esconderijo de algo de valor. Preciso saber onde fica.
– Quer saber onde fica? Vá ao mundo dos mortos e pergunte para meus homens. – O capitão abaixou a cabeça em sinal de luto. – Acha que esse dinheiro vai trazer meus homens de volta?
– Não estou pagando para trazer seus homens de volta, estou dando o dinheiro para me dizer onde fica o local.
– Thalia.
– Em qual parte?
– Ao norte. – A voz do capitão estava rouca. – Nas montanhas perto do mar éspio. Se eu eu fosse você não iria até la menina.
“Menina”, pensou Polipedes. “ Sou mais velha do que você imagina”.
– E quanto a criatura que sua tripulação enfrentou?
– Criatura? Antes fosse uma criatura. Aquela mulher era medonha. Jamais tocava o chão, seu cetro emitia uma luz esbranquiçada. Uma hora ela brilhava tanto que cegava os rapazes, outra hora era tão escura que parecia ser invisível. Estou dizendo que o melhor a fazer é não ir.
– Não tenho isso como uma opção senhor.
– Bem… você quem sabe. Se está disposta a desperdiçar seus homens nessa tarefa sem sentido. Como pretende chegar lá? Tem um navio?
– Não. O senhor estaria disposto em me guiar até la novamente?
– Pelos deuses! Claro que não! Jamais voltarei aquele lugar horrível. – O velho capitão tossiu. – Se quiser posso lhe indicar alguém.
– Não será necessário, acredito que o imperador ficara feliz em me emprestar um navio de sua frota.
O navegador deu de ombros, pegou seu dinheiro e saiu.
Fiorella chegou perto de Polipedes, estava trocando as palavras e seu tom de voz estava oscilando.
– O que aconteceu, Frella?
– Ela experimentou um pouco da cerveja de Odilon. – Explicou Mikaela, segurando o braço de sua irmã.
– E um gole só foi suficiente para deixa-la assim?
– Aparentemente sim. Diga, o que descobriu a respeito da pedra?
– Vamos ter de voltar ao imperador e pedir um navio; tropas também… se possível. Hoje não. Já está tarde e… Fiorella está fora de si, mas amanhã irei falar com Menetuf novamente.
– Pensei que fossemos dormir no castelo, já que a governadora e o imperador são seus irmãos. – Falou Odilon.
– Acredito que esta pousada está muito boa para passarmos a noite. O dono do estabelecimento é meu amigo e nos permitiu ficar aqui sem custo algum. Frella, Mikae e eu vamos dormir em um quarto. Odilon, você ficará em outro separado.
Todos subiram para seus aposentos. Mikaela continuava apoiando Frella, que andava desconcertada e dizia palavras sem sentido.
…
O vento gelado balançava os longos e lisos cabelos pretos de Adanhael. O general dos gigantes de gelo estava de pé, na sacada do forte Kazhir, a capital de Névoa, país onde os gigantes moravam.
Pressionava seu elmo entre o quadril e seu braço direito. Sua mão esquerda segurava seu majestoso cetro, cujo a ponta tinha uma esfera de energia azul que brilhava constantemente.
Adanhael observava Eiron preparar os soldados no pátio principal da fortaleza.
– Vejo que ordenou o preparo de tropas. – Disse Bantar entrando no salão.
– Meu rei! – Adanhael se ajoelhou. – Que bom que saiu de seu isolamento.
– Levante-se general. – A capa vermelha do rei balançava devido ao vento. – Decidi que temos que agir. Conseguiu descobrir o que a feiticeira está fazendo?
– Está acompanhada por mais duas jovens, além do príncipe que já estava com ela. Foram para Aurora. Yavel conversou com o imperador, em seguida se reuniu com seus seguidores em uma estalagem e conversou com um velho.
– E qual foi o teor desses encontros? – Bantar olhava a formação dos soldados atentamente com as mãos juntas para trás.
– Não sei senhor. A feiticeira usou um feitiço de bloqueio tanto na reunião com o imperador quanto na conversa com o homem do bar.
“O que você está tramando Yavel?”, pensou o rei. “Será que devemos nos preocupar com isso? Não. Deve ser apenas mais uma coisa ridícula. Será que eu fechei a porta do meu quarto? Melhor ir conferir.”
– Descubra quais são os planos de Yavel.
– Como quiser, meu rei.
Bantar caminhou em direção a porta, seus passos eram firmes, porém sua mente estava extremamente incomodada com algo que vira no pátio segundos atrás.
– Adanhael. – O rei virou de frente para o general mais uma vez.
– Sim.
– Avise Eiron que o sétimo soldado da terceira fileira está três passos fora da formação.
– Avisarei imediatamente majestade.
Adanhael vestiu seu elmo e desapareceu no meio de um flash de luz azul.
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