Mika voltava a prender sua respiração, mas já podia ouvir os passos lentos do cachorro atrás dela. Ele baforava alto junto do seu rosnado. Estava salivando, quanto mais chegava perto dela, parecia até que gostava daquela sensação. Ela tremia inteiro, sentindo sua presença cada vez mais perto. Ele parou de frente para árvore, onde sua sombra deixava ainda mais escuro o lado que Mika estava, apenas com a luz natural envolvendo seu véu sombrio e seus pelos desgrenhados.
O rosnado era ensurdecedor. Mika não se movia de jeito nenhum, tentava conter suas pernas que tremiam muito. Algumas lágrimas rolavam de seus olhos, não conseguia abri-los. Quando teve coragem para abrir, ela escutou um som de algo caindo logo atrás dela, junto com o choro do cachorro. Algo o tinha acertado, ela só não sabia o que foi. Ela foi se virando devagar para trás da árvore quando viu ninguém menos que Sophia, em cima do animal.
“Pode sair daí, Mika. Ele não vai te machucar mais.” – Falava em tom sereno a pequena menina.
“M-Mas, como? Onde você estava?!”
“Quando a gente fugiu, eles me ignoraram e foram atrás de você. Eu fiquei te seguindo de longe, pra poder te ajudar quando fosse preciso.”
“Como que você desceu? E você tocou nele…”
“Eu pulei num galho de árvore e fui descendo, quando o vi indo pra onde você estava. Esperei pelo momento certo e me joguei nele com a adaga que me deram.”
Mika olhava espantada para o ar destemido e indiferente de Sophia, que sempre mostrou estar triste com seus olhos. A menina limpava seu sapato no chão e guardava sua adaga, pegando em seguida a bússola tinha e alguma espécie de faixa enrolada.
“Sobre ter tocado neles, não se preocupa. Se você tocar com algum pedaço de roupa ou por pouco tempo, não tem problema. Foi o que a Capuz me disse.”
“Eu-eu não sabia disso.”
“A Laila disse que é do lado esquerdo. Não estamos muito longe do reservatório. Eu lembro de ter visto ele quando estava lá em cima, é só irmos naquela direção. Aqui, pode enfaixar seus braços com isso, acho que vai diminuir um pouco a ardência.” – Mika pegava as faixas e cobria seus machucados, fazendo pequenos barulhos quando tocava neles.
“Obrigado Sophia, eu te devo uma.”
“Não por isso.”
Sophia andava na frente, seguindo sua bússola como orientação. Mika não conhecia muito da menina, apenas que sempre pareceu ser triste e sempre que a Ceifadora estava lá, andava ao seu lado e segurando sua mão. De todos, Sophia parecia a que tinha mais “intimidade” com ela, e aparentemente esse sentimento era mútuo.
“Acho que nunca chegamos a conversar direito antes, não é?” – Mika tentava puxar assunto enquanto a seguia pela mata.
“Acho que nunca precisamos conversar antes, nunca estivemos nessa situação.”
O clima era estranho, Mika não tinha muito espaço para poder conversar com ela, já que era tão fria e direta. Ela coçava a cabeça e checava seu arco, enquanto andavam em repleto silêncio. Apenas os passos podiam e o vento nas árvores podia ser escutado.
“Eu…. Eu gosto do roxo no seu cabelo, fica bonito.”
Mika estava surpresa com o repentino elogio e ria. Talvez fosse a primeira risada sincera dela a algum tempo. Aquilo deixava Sophia confusa, que virava discretamente para trás para olhar a garota rindo.
— É uma risada fofa…. – Pensava Sophia.
“Acho que somos meio ruins puxando assunto, não é? E obrigada, eu gosto do seu laço. Acho que ele combina e fica muito bem em você.”
Sophia virou rápido para frente. Ela cruzava os braços, se retraindo um pouco. Mika ainda ria e secava os olhos pelas risadas. Ela observava a menina se retraindo e mesmo sem saber como ela era, via que era uma boa pessoa, mesmo sendo meio solitária.
As duas caminhavam em direção ao reservatório, agora Mika tentava manter o passo para ficar do lado dela enquanto caminhavam juntas para encontrar o resto do grupo. Sem saber, elas haviam se tornado uma boa dupla.
“Sim, somos bem ruins nisso.” - Sophia dava um leve sorriso, feliz pelo elogio que recebia.
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