Nate e Lucio andavam pela floresta. Eles haviam escutado o grito de Laila sobre o reservatório, e como estavam no alto, conseguiam vê-lo ao longe. Nate não possuía nenhum tipo de machucado, mas ainda estava abalado. Portanto, Lucio ofereceu carregá-lo até que se sentisse melhor.
“Valeu por dar essa força, Lucio. Ainda acho que isso é um pouco demais.”
“Não precisa agradecer, Nate. Relaxa e aproveite a viagem.”
Na cabeça de Lucio, ele tinha certeza que já havia garantido a confiança do garoto. Sem ninguém por perto, pegar o livro sem que o garoto percebesse seria fácil também, mas ele esperava ter apenas que pedir.
Os dois desciam o morro e tentavam ir em direção que tinham avistado o reservatório, ainda alerta para caso vissem algum tipo de monstro como os Penumcães ou aqueles mais humanos.
“Diz aí Nate, quantos desses bichos tem por aí? Eles são muito diferentes ou não mudam nada? – Perguntava sinceramente Lucio.
“Bom, de acordo com o meu manual, os mais comuns são os cachorros e os zumbis. Os zumbis têm algumas variações, alguns são um pouco maiores com 3 ou 4 braços e duas cabeças, outros tem só duas cabeças e por aí vai.”
“Mais algum que eu devia saber?”
Nate parecia meio aflito em dizer, e depois que Lucio percebeu seu hesito, ele tomou coragem e resolveu contar.
“Eu vi uma vez um penumcão de 3 cabeças, chamei ele de Cérbero Penumbroso. E tem talvez o pior deles, que é o que a Mika disse ter visto: O Penum-Gorila.”
“Penum-Gorila? Não é um nome tão bom.”
“Sim. Ele é um ser enorme, todo coberto daquela gosma dos outros seres da penumbra, muito forte e anda que nem um gorila. Eu perguntei a Capuz e mesmo ela não sabe dizer muito sobre ele. Mika disse que viu e enfrentou ele. Ela conseguiu despistar e acabou encontrando com a gente. Mas desde esse momento que ela viu até agora, nunca cheguei a ver. Sinceramente, não sei se é real.”
Lucio percebeu que Nate duvidava de Mika, mostrando que ele não era de todo inocente. Afinal, uma criatura com aquela descrição que apenas ela enfrentou e nem a Ceifadora conhece? Mesmo assim, Nate ainda acreditava na sua amiga, nem que ainda tivesse um pé atrás nessa conversa.
— Parece que a princesa séria não tem muito moral nisso, deve ser mentira mesmo então.
Antes da noite cair, os dois conseguiam escutar o grito de Laila vindo de longe. Então escureceu, isso se algo do tipo fosse possível naquele mundo, como de quando estavam em cima do morro descansando. A passagem de tempo era estranhamente rápida, logo não dava para enxergar um palmo adiante na floresta. Quando começava a ficar escuro perto deles, Nate puxou alguns bastões luminosos e os fez brilhar, dando mais luz ao local. Eles decidiram então parar e descansar, pelo menos até poderem enxergar novamente.
Nate pôs os bastões no meio como se fosse uma fogueira, e eles sentaram um do lado do outro. Uma pequena brecha nas árvores dava a visão de estrelas no céu, dando aquela pequena oportunidade de descanso, um também pequeno entretenimento. Os dois admiravam e olhavam para cima, Lucio permanecia alerta.
“Você se lembra?”
“Ah? Do que você está falando?” – Perguntava Lucio, intrigado com a repentina curiosidade.
“Você se lembra do que fazia antes de chegar aqui? Dos seus pais, da sua escola…. de alguma coisa?”
“Eu me lembro de algumas coisas. Lembro que eu era muito chegado na minha mãe, meu pai era muito rígido. Eles sempre brigavam porque minha mãe achava que ele era sempre frio comigo, e ele era. Nunca me abraçou direito, não conversava sem abaixar a cabeça…. Lembro de uma vez que eu joguei num torneio de futebol pela minha escola e fiz um gol pelo time. Eu me virei pra arquibancada e só vi minha mãe. Ele ficou no escritório dele, já que achava futebol uma perda de tempo.”
“Nossa, isso é ruim… bem ruim.”
“Descobri alguns anos que meu pai pagava alguns outros pais para que os filhos deles fossem meus amigos. Eu puxava briga com eles pra que eles parassem, e o dinheiro do meu velho fosse pro esgoto.” – Lucio esfregava os olhos com o braço, tirando algumas lágrimas que escorriam – “Eu nunca precisei dele, sabe? Eu e minha mãe sempre fomos bem juntos, a dupla imbatível.”
“Eles se separaram?”
“Não. Mesmo sabendo que ele se encontrava com outra mulher, minha mãe sempre quis manter a família unida. Mas eles tinham um ‘acordo de cavaleiros’, onde ele só aparecia em momentos importantes. Mas quer saber alguma coisa? Ele não precisa aparecer pra mais nada pra mim, ele pode ir PRO INFERNO!”
Nate sentia toda raiva acumulada que Lucio tinha enquanto ele gritava e chorava. O garoto arremessava uma pedra enquanto esbravejava seu ódio ao pai, mordia o lábio e tremia um pouco.
“Bom, você tem um amigo aqui, pode ter certeza.”
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