Lucio olhava para o Nate, que olhava para ele com um belo sorriso. Mesmo sem conhecê-lo direito, o garoto realmente queria ser amigo dele, diferente daqueles que havia citado. Vendo aquele sorriso sincero, Lucio voltou a se sentar, sorrindo também.
“Tenho certeza que encontrei o melhor dos amigos aqui.” – Nate sorria ainda mais com a resposta. – “E você? Sei que a Legolas mandou não falar, mas…”
“Eu também não tinha muitos amigos. Acho que por ser muito baixo e gordinho, eles me zoavam. Eu moro com os meus avós, nunca conheci meus pais. Eles foram embora há alguns anos, também não quiseram me conhecer.”
“Foram embora? Mas…. por que?”
“Meus avós nunca me contaram, mas já escutei escondido que eles me consideram um acidente. Não era pra eu ter nascido, e quando nasci, não me queriam. Simplesmente me deixaram com eles e foram embora. Meus avós me ensinaram tudo o que eu sei, me deram amor e, pra mim, é o que importa.”
Lucio sentia um aperto no coração. Mesmo que a sua história fosse triste, a de Nate batia pesado. E o remorso de pensar em pegar escondido o manual dele, pesava ainda mais.
“E agora, eu tenho um bom amigo também, bem aqui” – Nate dizia meio bocejando, logo encostando sua cabeça e dormindo do lado de Lucio.
Lucio olhava para ele, dormindo. Reformulou o plano naquele instante. Não pegaria mais o manual para se sentir a frente da Ceifadora e desmanchar a farsa daquilo tudo, ele ajudaria os dois a saírem dali. Esse era o principal objetivo agora. Mas ele ainda queria o manual.
Ele hesitava, ia e voltava com a mão no ar, por várias vezes. A confiança que havia ganhado de Nate não era mais algo banal, ele se importava. Ele aproximava sua mão da bolsa, enquanto se esforçava para não o acordar. Sentia a mão suar, mas não conseguia. Ele não sabia se tinha mais coragem de fazer aquilo.
— O que eu faço? O que eu faço…
O local ficava mais claro, Lucio estava observando a brecha das florestas, observando o “amanhecer”. Ele cutucava Nate para que acordasse, este se espreguiçava tentando se manter acordado após o bom cochilo. Lucio ria dele ainda sonolento. Logo os dois se arrumaram e continuaram a caminhada para o reservatório.
“Ainda sabe se estamos indo pro caminho certo?” – Perguntava Lucio.
“Bom, acho que não nos perdemos desde que descemos da parte alta da floresta, então acho que se continuarmos indo pra essa direção, vamos encontrá-los sem problemas.”
Os dois caminhavam até ouvirem alguns sons. Os dois se esconderam atrás de uma árvore e perceberam alguns penumbrantes espalhados. Eles tinham variadas formas, como pessoas que haviam sido deformadas e forçadas a ficarem unidas. Lucio e Nate se preparam e foram derrubando um por um, sem alarmar outros.
“Bom golpe, Luci!”
“Atrás de você!” – Gritava Lucio, arremessando sua pá na criatura que estava se aproximando por trás de Nate. O garoto levou um susto ao virar de costas e tropeçou no chão. A pá acertou em cheio a criatura que cambaleou e caiu. Lucio pegou sua arma de volta e a bolsa de Nate que havia se separado dele na queda.
“Obrigado Luci, tenho que prestar mais atenção, e proteger melhor essa bolsa.”
“É, melhor mesmo.” – A fala de Lucio não parecia certa. Logo ele se lembrou da noite passada.
Lucio estava indeciso e pensativo. Não sabia se tinha coragem de pegar o manual de seu amigo. Mas a curiosidade deu forças para fazê-lo. Ele tirava da bolsa o caderno e foleava as suas páginas, em silêncio para que não fosse escutado.
Muitas delas tinham receitas de bombinhas e instruções de escoteiros. Aquilo não parecia interessante ou relevante, então vendo que não valia a pena, pensou em fechar e devolver. Porém, quanto mais lia, mais percebia importantes coisas que Nate havia anotado.
Coisas que ele tinha certeza que os outros não sabiam. Foleava mais e mais e seus olhos espantados denunciavam algo horrendo. Lucio decidiu então ficar com o caderno e por uma pedra no lugar, para não suspeitar da falta. Lucio voltava ao presente, parado olhando a criatura desmanchada.
“Algum problema, Luci? Posso…. te chamar de Luci né?” – Sorria meio de lado, tentando convencê-lo do apelido.
“Ah, o que? Não, não, nada de errado.” – Lucio dizia, coçando sua cabeça, claramente distraído em seus pensamentos. “Você pode me chamar assim, os outros não.”
Nate ria enquanto Lucio ia em sua direção, ainda abalado pelo que descobriu. Ele apertava o cabo da pá que segurava, com raiva, e por pouco, escondia sua frustração e raiva. Ele havia decidido o que faria com aquilo, enquanto caminhavam para se encontrar com o resto do grupo.
Lucio botava mão para atrás e ajeitava o manual de Nate, escondido nas costas para que ele não percebesse. Lucio encarava o menino com desprezo pelo que sabia e não repartia com os outros.
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