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Claryssa, a Trancadora Yin

Reino de Tinta

Reino de Tinta

Dec 28, 2021

Narrado por mim

 

Era 22 de agosto de 1753, e a senhora Chin Muniz estava muito velha para longas viagens. Senhora Chin possuía três filhas, a mais velha se chamava Miranda, a do meio Amélia, e caçula era Claryssa.

Suas filhas eram todas agradáveis, cada uma a seu modo. Miranda tinha 42 anos. Ela era a mais responsável das três. A filha do meio, Amélia, já era diferente. 38 anos, exibia confiança e rebeldia. Ela apoiava o Partido Novo, e mantinha os cabelos curtos sempre curtos.

Agora a mais jovem, Claryssa, 13 anos. Vamos deixar claro que Claryssa é adotada, mas isso não faz diferença em suas relações familiares. Ela destaca-se pelos cabelos vermelhos e sua paixão por diários de bordo, sejam eles fictícios ou não.

Como eu disse no começo, senhora Chin estava muito velha para longas viagens, então ela enviou as filhas em seu lugar. Miranda e Amélia tinham o dever de apresentarem-se ao rei Arthur IV e fazer o que quer que ele as pedisse para fazer. Já Claryssa entregaria uma carta de sua mãe para um grande amigo dela, Simon Frey.

Agora estavam entrando em uma carruagem, ansiosas com o que viria a seguir.

Quero que saiba que a viagem foi tediosa e demorada, um total 7 dias de duração. Primeiro saíram de sua cidade natal, Montes do Sul, depois atravessaram a fronteira da Província Amazona e enfim chegaram na Província Capital, onde estava Capital.

Compreenda, a capital da Província Capital chama-se Capital.

Finalmente no dia 29, chegaram na Capital. Claryssa deixou seus livros, tragos para diverti-la, de lado e enfiou a cabeça para fora da carruagem. A cidade era tão movimentada, cheia de casarões de nobres e grandes burgueses, muitos deles comercializam café, trigo, uma incrível diversidade de frutas, e não vendiam apenas alimento, mas também animais, tanto para fazendas quanto para serem maravilhados em casa, a arara-azul é um bom exemplo. Haviam cavalos robustos por todo canto, mantinham um galope, ferraduras fazendo som. Além, claro, de lojas luxuosas. Muitas de vestidos, apresentando saias longas de cores variadas, outras com chapéus com laços, outras com sapatinhos. E altos postes no meio das calçadas. Como esperado, a cidade ao redor do palácio da família real era riquíssima.

Claryssa cutucou a irmã Amélia, que dormia em uma posição desconfortável, para que ela também pudesse ver tudo aquilo. Amélia bufou e virou-se para lá, querendo dormir só mais um pouquinho.

O cocheiro parou os cavalos diante do portão das muralhas do palácio. Portão de madeira com a parte superior arredondada, paredes feitas pelo sobreposição de blocos de pedra, havia um musgo aqui e ali.

Guardas inspecionaram toda a carruagem. Assim que entraram elas saíram da carruagem e foram guiadas até o rei.

̶ Majestade. ̶ Disse o guia velho e gorducho. ̶ As irmãs Muniz então aqui.  

O rei estava detrás de uma mesa cheia de papeis, penas e um tinteiro. O rei era grande, ombros largos e barba marrom. Olhos miúdos também. Ele levantou-se e calou o guia com um simples sinal de mão.

̶ Deixe-nos a sós. ̶ Rei Arthur IV mandou.

Claryssa ficou tensa, aquele homem era estranho e reconhecia seu poder sobre as pessoas. Ela olhou para Miranda, séria, e depois para Amélia, indiferente. Só ela se sentia desconfortável com aquele sujeito grande e bem arrumado.

Arthur IV deu um sorriso aberto e abriu os braços, receptivo.

̶ Bem-vindas, senhoritas. ̶ Ele disse apertado a mão de Miranda e Amélia ao mesmo tempo. ̶ Suponho que a viagem tenha sido longa e cansativa.

̶ Oh, não, Majestade. Foi tudo esplêndido. ̶ Disse Miranda.

̶ Não chato, não tinha nada para fazer. ̶ Claryssa retrucou.

Arthur IV deu uma gargalhada alta, aproximou-se da menina e bagunçou seus cabelos.

̶ Crianças, sempre tão sinceras! ̶ Disse ele. ̶ Como se chama, pequenina?

̶ Claryssa. Escreve "Y", não com “I”.

Arthur IV deu uma gargalhada mais alta ainda.

̶ Não se preocupe, criança, nunca vou escrever seu nome errado.

̶ Brigada. ̶ Aquele homem grande e bem arrumado não era tão ruim assim.

̶ Bom, agora vamos tratar dos negócios. ̶ Disse Arthur IV um pouco mais sério. ̶ Senhoras Muniz, vou ser simples e direto, preciso que usem da influência de vocês para retirar os civis que vivem em áreas próximas às fronteiras da Província Wiles sem causar pânico. Uma semana atrás o Território de Matake nos acusou de atacar o vilarejo Brilhantíssima, situado na divisão Monarquia Constitucional.

Miranda e Amélia estavam coladas na mesa, ambas olhando para onde Arthur IV apontava no mapa. Claryssa procurou um cantinho para poder olhar também.

Amélia ousou perguntar:

̶ E atacamos?

̶ Esse é o problema. Não. ̶ Respondeu o rei.

̶ Uma acusação falsa. ̶ Disse Miranda. ̶ Mas não faz sentido. Tudo anda bem desde o fim da Grande Guerra, por que querer recomeçar outra guerra...?

̶ Mas a guerra nem terminou. ̶ Quem disse foi Claryssa, no canto, com o corpo pendendo para frente para poder olhar o mapa. Miranda a encarou feio, desgostosa com a petulância.

̶ Bom, isso é verdade. ̶ Rei Arthur sorriu. ̶ A Grande Guerra não foi finalizada oficialmente, não houve rendição ou acordo de paz.

̶ Claryssa, querida, você não iria fazer um pedido ao rei? ̶ Miranda conseguia deixar tudo mais chato.

̶ É, eu vou. Mas, sabe, eu quero ver o que está acontecendo.

̶ O que quer me pedir, criança?

̶ Falar com Simon Frey. ̶ Respondeu Claryssa. ̶ Mamãe pediu para entregar uma carta. Mas posso entregar depois, não tem problema.

̶ América! ̶ Chamou o rei. Uma mulher entrou na sala. Era uma adulta velha, ainda não chega a ser velha velha, entende? Apenas uma adulta velha.  ̶ Pode levar essa menininha para ver Simon Frey? Temos assuntos pesados demais para uma criança ficar escutando.

Claryssa olhou para as irmãs, pedindo amparo, e seus olhares apenas disseram “vai lá, te vemos depois”. Deste modo, a menininha foi, bem frustrada, com a silenciosa América.

Chegaram a um belo jardim. Adiante tinha um caminhozinho de pedras lisas que ia até lá no fundo. Lá no fundo tinha um casebre. América apontou para o casebre, Claryssa agradeceu a ajuda e foi pelo caminhozinho.

No jardim e aos redores do casebre haviam uma infinidade de plantas, ipês-amarelos e ipês-rosas. Também cicas, ervas-doces lá no cantinho. Ipê-mirim, girassol e mais um bocado que Claryssa não sabia o nome. Ela chegou no fim da trilha, diante do casebre. Se quer saber, as paredes da casa eram feitas de pau-tinta, as telhas eram marrons, e abelhas voavam sobre arbustos postos ao lado da portinhola.

Claryssa bateu naquela portinhola estranha, que dificultava qualquer pessoa mais alta que ela passar, além de ser oca. De tudo, aquela porta era a menos receptiva. Alguém abriu a porta.

Este alguém era Simon Frey.

Ele era altão, barbudo, cintura larga e usava óculos. Seus olhos eram miúdos, cinzas e amigáveis. Ele deu um sorriso comprido.

̶ Suponho que seja Claryssa. Venha, entre. Seja bem-vinda. ̶ Disse Simon. Ao contrário do castelo aquele lugar era... simplório, aconchegante, lembrava Claryssa a sua própria casinha em Montes do Sul.

Tudo ali cheirava a chá, retratos decoravam as paredes. Retratos estes com fotos velhas e com marcas de amassados; fotos de soldados sorridentes e destemidos. A mesa à esquerda da menina era circular, coberta por uma toalhinha feita de alpaca. Havia uma cesta no centro com tabascos e canela, bem ao lado de um bule fumegando. Caso queira saber, a canela é uma especiaria originada na divisão Hindu, Território Vermelho, e começou a ser plantada em Tinta séculos atrás.

Simon pegou o bule e serviu a si e a menina com chá.

Claryssa sentou-se na cadeira.

̶ Você foi para a guerra? ̶ Claryssa perguntou sem muito interesse na resposta, sem ousar sequer aproximar-se daquele chá fervente. E quando digo fervente, é fervente, o vapor ardia.

̶ Fui sim um soldado. Momentos horríveis aqueles.

Simon deu um gole no chá, Claryssa ficou olhando-o com os olhinhos arregalados.

̶ Mas estavam sorrindo nas fotos. ̶ Ela disse pausadamente. ̶ Ninguém sorri em um momento horrível. Senão não seria horrível.

̶ Está certíssima. ̶ Simon deu mais um gole no chá fervente. ̶ Mas era só o começo da guerra quando tiramos a foto eu e meus companheiros. Éramos jovens esperançosos, acreditávamos fielmente que a guerra não duraria mais de um mês.

̶ Durou cinco anos.

̶ Sim, durou. Não vai tomar o chá? Pensei que gostasse.

̶ Está quente. ̶ Respondeu a menina. ̶ Ah! Mamãe me pediu para te entregar isso!

Claryssa meteu a mão no bolso do vestido e dele retirou uma carta. Simon abriu a carta com seus dedos curtos e rechonchudos, ele ficou ali alguns segundos lendo.

As feições do velho bondoso fecharam-se gradativamente, o que alimentou a imaginação fértil de Claryssa. Era óbvio que ela queria saber o que se tratava, mamãe não pediria a ela para ir até a capital levar uma carta dessimportante. A menina pendeu o corpo para frente, com as pontas dos dedos pegou a xícara e soprou, os olhos sem deixar a carta por um único milésimo.

̶ E então... ̶ Ela começou casualmente.

̶ Você leu?

̶ Não li, não.

Simon levantou-se, ficou uns instantes relendo a carta até que enfim notou seu comportamento estranho.

̶ Ah, sabe, problemas de adultos. ̶ Deu um sorriso doce ̶ Você veio com mais alguém?

̶ Vim com minhas irmãs.

̶ Fique com elas. Tenho de ir ali, não sei se volto rápido.

̶ Tá bom. ̶ Disse Claryssa, ela acompanhou com os olhos Simon se encurvando um pouco mais passar pela porta e ir embora. 

jujuliamribeiro
Ju Marri

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