Em uma universidade do interior de Minas, havia um jovem chamado Caio, um excelente estudante universitário que está cursando seu terceiro ano do curso de Engenharia da Computação. Mas ele estava passando por uma situação que considerava desagradável, o termino de um namoro, e não sabia o que fazer, então decidiu faltar uma de suas aulas para descansar. Ele andou pelos corredores por certo tempo, até que achou um lugar vazio perto de uma máquina de refrigerantes e se sentou no chão encostando na máquina com a cabeça enterrada nos braços cruzados em cima das pernas dobradas.
Nessa mesma universidade estudava Dominique, um calouro do curso de Engenharia da Computação, ele tinha um horário vago e decidiu ir comprar uma bebida, então foi até a máquina de refrigerantes para pegar algo. Chegando lá encontra um estudante que parecia estar chorando, sentado ao lado máquina, ele não sabia o que fazer e pensou em ir embora dali, porém percebeu que o estudante usava a camisete dos seus veteranos e por isso decidiu se aproximar.
– Olá! – Disse Dominique sem saber como deveria agir ou o que falar. – Está tudo bem com você? – Caio ficou sem lá parado parecendo tentar esconder o rosto e ignorar, mas Dominique pensou em tentar mais uma vez. – Eu sou o Dominique... ah... um calouro do seu curso. Não sei o que aconteceu, mas se estiver com algum problema e quiser conversar, pode me falar, eu costumo ser um ótimo ouvinte... ah... eu acho.
Um silencie pendurou durante alguns minutos, Dominique deu uma risadinha constrangida pensando que deveria ter ido embora, mas não conseguiu pensar bem sobre o que fazer e quando estava se virando para dizer que lhe daria privacidade ele escutou algo e virou para ver o garoto começar a falar.
– Eu... – Disse Caio levantando a cabeça, então Dominique pôde reconhecer seu veterano e perceber uma expressão triste em seu rosto, mas não havia nenhum sinal de que estivesse chorando. – Estou bem calouro, só estava um pouco cansado, então faltei uma aula para descansar aqui. Muito obrigado por ser atencioso e me perguntar se estou bem. – Disse ele com um sorriso que parecia meio forçado, logo em seguida fez uma cara triste e voltou a baixar o rosto, deixando Dominique um pouco preocupado e, talvez, curioso.
– Está certo então, bom descanso. – Disse ele indo embora.
Após ele ir Caio começou a murmurar algumas reclamações e frustrações, porém falou muito baixo para que ele pudesse escutar algo, enquanto isso Dominique percebeu que esqueceu de pegar alguma bebida e teve que voltar para lá, assim que chegou encarou um veterano reclamando com o vento, quando Caio percebeu Dominique, ficou envergonhado e se calou. Dominique pensou em pegar uma bebida rapidamente e sair, mas lembrou o quanto seus veteranos haviam sido bem receptivo com os calouros e meio que isso o inspirou a tentar uma última vez.
– Desculpe por me intrometer, mas quando nossa turma ingressou no começo do ano vocês foram muito receptivos com a gente e ofereceram apoio, mesmo para coisas de fora da graduação. – Divagou Dominique, enquanto isso Caio levantou a cabeça e o encarou. – E eu fui um dos alunos que mais devo ter procurado vocês, basicamente, eu estou tentando dizer que... – Fez uma pausa procurando algum raciocínio em sua fala antes de prosseguir. – Se quiser desabafar com alguém que não seja o ar, pode me falar qualquer coisa, prometo guardar segredo. – Caio ficou um pouco surpreso com a reação de seu calouro e quando se deu conta deu um meio sorriso.
– Certo. – Disse Caio e logo depois riu um pouco deixando Dominique meio sem graça. – Eu estava realmente desabafando com o ar, né!? Se quiser escutar minha história chata, prometo te poupar de detalhes irritantes. – Disse ele rindo de novo e dessa vez Dominique parecia ter gostado da reação dele.
– Eu quero sim... – Dominique falou rápido pensando ter sido meio direto. – Quer dizer, se você quiser desabafar. – Disse tentando disfarçar a curiosidade.
Nisso os dois passaram algum tempo conversando e Caio conseguiu extravasar alguns sentimentos para fora do peito. Dominique ficou lá só ouvindo o que ele tinha para dizer e demonstrando interesse. Caio havia realmente poupado alguns detalhes mais pessoais.
Durante os meses seguintes Dominique se manteve aberto a Caio como um tipo de ouvinte de problemas e por causa da quantidade de tempo que passavam juntos acabaram fazendo alguns passatempos juntos, inclusive Dominique recorria a Caio quando tinha dificuldades no curso. Com o passar do tempo Dominique foi se tornando próximo de Caio e começaram a ter diálogos mais profundos, atualmente Dominique também tinha momentos de desabafo, mais do que curiosidade começou a se preocupar e sentir confiança em Caio.
Nos dois anos seguintes a esse encontro inesperado, Caio e Dominique construíram uma amizade aparentemente muito forte. Certa vez em uma de suas férias, os dois viajaram até a cidade natal de Caio, assim Dominique acabou conhecendo os pais e a irmã mais velha do amigo. Durante alguns fins de semanas mais tranquilos eles costumam revezar dormindo na casa um do outro para jogarem conversa fora até tarde da noite. Eles acabaram combinando de fazer uma de suas disciplinas optativas juntos e começaram a ver que tinham gostos em comuns para pesquisa e quem sabe até planejassem algum mestrado no mesmo lugar no futuro.
Atualmente os dois passam a maior parte do tempo livre na universidade juntos, algumas vezes fofocando, outras vezes batendo papos aleatórios ou até mesmo estudando, ou ainda, reclamando dos estudos um para o outro. Com o passar do tempo os dois criaram uma certa rotina para fazerem no semestre, sempre pegavam o dia menos cansativo para irem a algum barzinho após as aulas. Nesse semestre eles faziam isso as terças-feiras, mas justamente hoje era terça, então enquanto Dominique acaba sua última aula do dia, que estava demorando mais do que de costume, Caio ficou batendo papo na porta da universidade com um colega esperando sua carona.
– Então, a minha vizinha me perguntou do processo para entrar por cota, mas já faz cinco anos que eu entrei então não lembro direito, minha memória pode ser horrível às vezes. – Falou Caio para o colega.
– Entendo, eu posso te mandar depois, entrei ano passado, está melhor na minha memória que na sua. – Disse o colega solicito.
– Nossa, valeu mesmo Bernardo. Eu estava pensando em ir na coordenação, mas não tive tempo de... – Estava falando quando a carona do amigo buzinou em uma moto. – Acho que é sua carona cara. Até amanhã, nos falamos depois.
– É a minha carona mesmo, até depois. Bom barzinho para vocês. – Bernardo se despediu e subiu em uma moto indo embora.
Nesse momento Caio já estava parado lá fazia um tempo, então decidiu entrar novamente na universidade para procurar Dominique, já era quase seis e meia da noite e ele ainda não havia saído. Quando estava chegando perto do bloco onde Dominique estava tendo aula, viu de longe o amigo andar de um lado para o outro parecendo preocupado. Então ele caminhou até lá para poder entender o que estava acontecendo, chegando ele tocou o ombro de Dominique para poder chamar a sua atenção, o que fez o amigo dar um pequeno salto, espantado com o toque repentino enquanto estava distraído.
– Ei, cara, está tudo bem? – Perguntou Caio apreensivo quanto ao amigo. – Aconteceu algo de ruim na aula?
– Como? – Perguntou ele meio aéreo ainda. – Não aconteceu nada... ah... você não ia me esperar lá de fora, aconteceu algum imprevisto?
– Dom, então, é que já faz uns trinta minutos que estou te esperando, você disse que ia demorar, mas não achei que fosse tanto. – Comentou Caio deixando Dominique com uma expressão assustada parecendo que não se deu conta da hora.
– Foi mal cara, acabei me distraindo aqui e nem vi o tempo passar. – Explicou Dominique com uma expressão meio vaga e, talvez, preocupada.
– O que aconteceu? – Perguntou Caio, mas nessa hora muitas pessoas começaram a aparecer para as aulas noturnas e o lugar foi ficando meio cheio, o que deixou Dominique meio tímido.
– Vamos conversar em outro lugar. – Disse Dominique e Caio assentiu.
Então os dois caminharam durante algum tempo procurando algum canto mais isolado da universidade para poderem conversar, Dominique pareceu constrangido para falar sobre isso no meio de tantas pessoas. Finalmente depois de andarem um pouco acharam um lugar que estava meio deserto, apesar de terem algumas poucas pessoas virando o final do corredor.
– Caio, eu não sei como dizer isso, sou horrível fazendo coisas do tipo, mas... eu gosto de você! – Falou Dominique, com uma pequena pausa, ficando envergonhado e extremamente tímido nesse momento. – Eu quero que você seja meu namorado, quero ser seu namorado. E quero muito saber se você sente o mesmo. Enquanto conversamos e passamos o tempo me sinto muito próximo de você, então, você quer namorar comigo? – Perguntou finalmente, nem conseguia acreditar que disse sem quase nenhum erro de roteiro, apesar de pensar internamente que aquilo havia sido um desastre total.
– Dom, eu... – Começou Caio fazendo um momento de silêncio com olhos arregalados e sem saber o que dizer, mas logo depois esse silencio foi interrompido por Dominique.
– Espere, por favor. Pense pelo menos um pouco no que eu disse antes de responder. – Disse Dominique quando sentiu o peso da possibilidade de ser rejeitado friamente, logo em seguida saiu do local em uma espécie de onda de medo.
Caio viu o amigo saindo e ficou ali, parado olhando ele deixar o local. Ele ficou lá parado algum tempo, sentiu um pouco de raiva e chutou uma lata de refrigerante jogada no chão, ele começou a ir embora com uma carranca se formando em seu rosto, mas voltou e jogou a lata no lixo, para então ir embora para sua casa pensar sobre o que acabara de ocorrer. Ele passou a noite pensando o que deveria fazer, se ele agir como de costume terá que se afastar de Dominique, mas se ele tentar agir diferente, será que algo mudará?
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